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Nações Unidas pedem ação global contra violência baseada na religião ou crença

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Organização reitera combate a todas as formas de intolerância e discriminação para marcar o Dia Internacional em Memória das Vítimas de Atos de Violência Baseados em Religião ou Crença

As Nações Unidas assinalam neste 22 de agosto o Dia Internacional em Memória das Vítimas de Atos de Violência Baseados em Religião ou Crença.

A data é marcada por debates sobre temas centrais na Declaração Universal dos Direitos Humanos que estão associados às liberdades de religião ou crença, de opinião e expressão e ainda os direitos à reunião pacífica e liberdade de associação.

Formas de intolerância e discriminação

A organização defende que essas questões incorporadas entre os artigos 18º e 20º desta carta de princípios são interdependentes, interrelacionadas e se reforçam mutuamente.

Para as Nações Unidas é importante abordar e tratar desses direitos para que sejam combatidas todas as formas de intolerância e discriminação com base na religião ou crença.

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A ONU enfatiza ainda que a democracia e o combate à intolerância religiosa são mais fortes quando exercidos os direitos à liberdade de opinião e expressão, além do pleno respeito pela liberdade de buscar, receber e transmitir informações.

Atos de terrorismo contra minorias religiosas

A resolução que estabeleceu o Dia Internacional em Memória das Vítimas de Atos de Violência Baseados em Religião ou Crença condena abusos e atos de terrorismo contra “minorias religiosas, com base ou em nome de religião ou crença”.

No documento, os Estados-membros da ONU também reprovam de forma inequívoca “todos os atos, métodos e práticas de terrorismo e extremismo violento conducentes ao terrorismo”.

A Assembleia Geral enfatiza ainda que essas práticas “em todas as formas as várias manifestações não podem e não devem ser associados a nenhuma religião, nacionalidade, civilização ou grupo étnico”.

Entrevista

‘Em 2050, não vai haver nenhuma economia europeia entre as 10 mais importantes do mundo’

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Diplomata espanhol Jorge Dezcallar explica porque avalia que a “Europa está claramente em decadência”

Com a economia estagnada e uma crescente fragilidade política na França e na Alemanha, a Europa enfrenta momentos difíceis.

Somam-se a isso a guerra na Ucrânia e o regresso de Donald Trump à Casa Branca, que já ameaçou impor tarifas às indústrias europeias, o que poderia desencadear uma guerra comercial extremamente prejudicial para os exportadores da região.

“Temos o melhor sistema de saúde, a melhor educação, as melhores estradas, mas isso custa muito caro. Até quando podemos sustentar isso?”, questiona Jorge Dezcallar de Mazarredo, embaixador e ex-diretor dos serviços de inteligência da Espanha.

“A Europa está em decadência, e com a perda de sua influência também desaparecerá o altíssimo padrão de vida”, afirma o diplomata espanhol em entrevista à BBC News Mundo, serviço de notícias em espanhol da BBC.

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Em sua avaliação, o mundo está testemunhando o fim de uma era geopolítica, visão que ele explora em seu último livro, O fim de uma era. Ucrânia: a guerra que acelera tudo, no qual aborda como o conflito está precipitando o declínio do domínio ocidental.

“A guerra vai muito além de uma disputa territorial para assegurar áreas estratégicas. Ela reflete forças profundas de mudança na geopolítica que rege o mundo desde o fim da Segunda Guerra Mundial. Hoje, o Ocidente perde força, enquanto o Sul global ganha peso”, destaca.

A fragilidade política da Europa ocorre em um momento de estagnação econômica: a previsão para 2024 é de um crescimento tímido de 0,9%, deixando uma região que representa um quinto do PIB global atrás de outras partes do globo.

Analistas apontam diversas razões para explicar esse cenário, como a perda de competitividade, o aumento da concorrência internacional e as políticas de austeridade.

A Europa precisa de inúmeras reformas: ampliar sua capacidade militar, reconfigurar seu sistema de energia, reinventar sua indústria tecnológica e repensar sua postura em relação à Rússia e à China. Tudo isso enquanto o descontentamento de seus cidadãos fortalece partidos populistas e de extrema direita em diversos países do continente.

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Nesta entrevista com Jorge Dezcallar de Mazarredo, analisamos os fatores que levaram o Velho Continente à sua atual crise geopolítica.

Por que a Europa atravessa momentos tão turbulentos?

Em pleno século XXI, testemunhamos um conflito bélico no coração do continente que mais parece uma guerra absurda de expansão territorial em estilo napoleônico.

A invasão da Ucrânia reflete o descontentamento da Rússia com a arquitetura de segurança europeia herdada da Segunda Guerra Mundial.

No entanto, este é um fenômeno muito mais amplo, de alcance global: grande parte dos países do mundo está questionando a distribuição de poder e as regras estabelecidas pelas potências vencedoras após 1945.

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Isso significa que estamos diante do fim de uma era geopolítica.

Naquele ano, algumas potências ocidentais criaram as Nações Unidas, o Conselho de Segurança, o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional, ou seja, repartiram o poder entre si.

Agora, quase 80 anos depois, vemos que França e Reino Unido ainda têm assento permanente no Conselho de Segurança, enquanto países como a Índia, com 1,4 bilhão de habitantes e status de potência nuclear, ficam de fora.

A África não tem nenhum representante, e o mesmo ocorre com a América Latina.

Os Estados Unidos não abrem mão do controle sobre o Fundo Monetário Internacional, e a Itália possui tantos votos quanto a China no Banco Mundial.

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E onde a China se encaixa nesse sistema?

A China afirma: “Somos um Estado civilizacional, estamos acima do bem e do mal”. Os Estados Unidos não dizem isso abertamente, mas sempre agiram dessa forma — basta olhar para o que aconteceu no Iraque e em outros lugares.

A Europa hoje reflete o que está ocorrendo no mundo, mas nos surpreende mais porque temos uma visão um tanto pretensiosa sobre ela.

Quando há conflitos mortais na África, isso nos parece quase natural. Mas quando acontecem na Europa, encaramos como um escândalo. Essa perspectiva não deixa de carregar um certo racismo.

Você acredita que a Europa ainda olha para o resto do mundo de forma pretensiosa?

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Não tenho dúvida disso. A Europa dominou o mundo por muitos anos, graças à máquina a vapor inventada na Inglaterra, ao domínio dos mares e, em grande parte, à escravidão.

Essa visão de superioridade ainda persiste, mas a Europa está equivocada e perderá relevância.

Atualmente, 62% do PIB mundial e 65% da população estão na região do Indo-Pacífico.

Os mapas costumam colocar a Europa no centro, mas o continente olha para um oceano onde cada vez menos coisas acontecem, enquanto o centro de gravidade econômica do mundo se deslocou do Atlântico para o Indo-Pacífico.

A Europa está claramente em decadência.

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Já ouvi você dizer que a Europa tem 6% da população mundial, mas representa 50% do gasto social global. Esse modelo é insustentável? Foi longe demais com o ‘Estado de Bem-Estar’?

Sim, fomos longe demais. Em 1900, a Europa tinha 25% da população mundial, e hoje mal chega a 6%. Mesmo assim, ainda retém 17% do PIB global.

Temos o melhor sistema de saúde, a melhor educação, as melhores estradas, mas isso custa caro. Por quanto tempo conseguiremos sustentar isso?

Causamos inveja no mundo. Mantivemos esse sistema por tanto tempo porque dominávamos o cenário internacional. Mas a realidade é que, em 2050, nenhuma economia europeia estará entre as 10 maiores do mundo.

A Índia acaba de ultrapassar o Reino Unido em Produto Interno Bruto.

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Outro fator que aponta para a decadência da Europa é sua população envelhecida e, além disso, cada vez mais reduzida, pois morrem mais pessoas do que nascem.

Em que se traduz essa decadência?

Em uma perda de influência. A Europa não tem uma política externa comum, nem uma capacidade de projeção militar compartilhada, e também não possui uma política energética ou migratória comum.

A Europa precisa se integrar mais se quisermos continuar a ter relevância no mundo.

Em seu livro, o senhor afirma que a guerra na Ucrânia uniu mais a Europa, mas com o Reino Unido fora da União Europeia devido ao Brexit e a provável relutância da Alemanha em continuar a contribuir com tantos recursos devido à sua fraqueza econômica, parece que o que espera a Europa é mais desunião. Qual a sua opinião sobre isso?

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É verdade que o Brexit enfraqueceu a Europa, e a fragilidade da Alemanha e da França neste momento também não ajuda. Não acredito que o presidente francês, Emmanuel Macron, complete seu mandato, francamente. Mas o apoio à Ucrânia é inabalável.

Putin quer recuperar para a Rússia a influência global que a União Soviética teve em seu auge. Esse é o seu objetivo. E ele não percebe que não pode. Não pode fazer parte da elite internacional quando não tem o PIB necessário, quando sua população é envelhecida e quando só produz matérias-primas.

E então, com força de vontade e sua potência nuclear, ele tenta se impor. E isso é muito perigoso. Quando a Europa defende a Ucrânia, está, na verdade, se defendendo.

O grande fracasso de todos os europeus foi não ter sido capaz de incorporar a Rússia pós-soviética a uma estrutura de segurança que nos unisse a todos.

Mas é verdade que a Rússia não facilitou isso, pois, em vez de abraçar a democracia, se afastou cada vez mais para formas autoritárias.

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Talvez a expansão da OTAN devesse ter sido feita de forma mais gradual, com mais cautela ou com outro tipo de compensações.

Em 8 de dezembro, Donald Trump reiterou que estava disposto a permanecer na OTAN apenas enquanto os europeus “pagarem suas contas”. O que aconteceria se, como ameaçou Trump, os Estados Unidos se retirassem da OTAN?

Os Estados Unidos não podem sair da OTAN, pois, embora Trump tenha ameaçado fazer isso, seria necessário o apoio de dois terços do Senado, o que ele não tem.

O que ele pode fazer, no entanto, é esvaziar a aliança de conteúdo, ou seja, reduzir os fundos, diminuir o número de tropas ou até renunciar à aplicação automática do artigo 5º de defesa coletiva.

Se isso acontecer, a Europa ficará sem dinheiro, sem armas e sem proteção nuclear, estando sozinha diante da Rússia e sem capacidade militar, pois não tem uma defesa comum.

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As balas feitas pelos belgas não se encaixam nos fuzis produzidos pelos checos. Os tanques fabricados pelos franceses não são compatíveis com os feitos pelos alemães. Não temos uma indústria unificada.

Porém, de acordo com o Instituto Internacional de Estocolmo para Pesquisa da Paz, o gasto militar da Europa superou o da China.

Os Estados Unidos gastam mais de US$ 900 bilhões em defesa, a China, US$ 296 bilhões, e a Rússia, US$ 109 bilhões.

Já os 27 países da União Europeia gastam juntos US$ 321 bilhões, efetivamente mais do que a China. Mas não de forma unificada. Cada um por conta própria.

A Europa precisa se unir e, se não o fizer, perderá sua influência no mundo. E, com essa perda de influência, também se perderá seu elevado nível de vida.

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E no plano econômico, o que pode acontecer na Europa com a chegada de Trump?

Alguns aumentos de tarifas, entre 10% e 20%, prejudicarão a economia europeia, mas há mais.

Trump não acredita no aquecimento global. Consequentemente, é provável que ele diminua a redução das emissões de gases de efeito estufa.

Se isso ocorrer, os europeus estaremos em desvantagem para competir economicamente com as empresas americanas, porque teremos que pagar muito mais pela nossa contribuição na carbonização da atmosfera do que os americanos.

Isso nos colocará em desvantagem na hora de competir nos mercados internacionais.

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E isso interessa a Trump?

Sim. Trump também não acredita na Europa. Ele acredita em países europeus como Alemanha, França, Itália ou Espanha, mas não enxerga a União Europeia como um todo.

Sempre se disse que os Estados Unidos não queriam uma Europa forte, e isso é verdade. No entanto, também não é do interesse deles uma Europa excessivamente fraca, como está agora.

Eu o ouvi dizer que a Europa cometeu três erros ao colocar sua segurança nas mãos dos EUA, a energia nas mãos da Rússia e o comércio nas mãos da China. Há alguma forma de reverter essas realidades?

O relatório de Draghi foi muito claro sobre isso. A Europa precisa investir 800 bilhões de euros por ano e criar uma estrutura industrial para salvar sua economia.

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Além disso, pela primeira vez, há um comissário responsável por assuntos de defesa, que tentará harmonizar e promover economias de escala na indústria militar europeia.

Estão sendo feitas algumas ações, mas é necessário acelerar o processo. Acredito que este é o momento de dar um grande passo, e talvez a chegada de Donald Trump seja o estímulo de que a Europa precisa para, finalmente, tomar as decisões que sabe que tem que tomar.

Mais união, mais integração, mais Europa. Quanto menos Europa houver, menos influência mundial teremos e mais rapidamente nossa decadência se acelerará. A única forma de evitá-la é nos integrarmos.


*BBC

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Mundo

Presidenta de Honduras diz que país está prestes a erradicar o analfabetismo com apoio de Cuba

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Método cubano conta com mais de 120 educadores e já ensionou mais de 370 mil hondurenhos a ler e a escrever

A presidenta de Honduras, Xiomara Castro, anunciou que nos próximos meses o país centro-americano finalmente acabará com o analfabetismo. O anúncio foi feito na quarta-feira (1) durante uma breve transmissão nacional em que a presidenta analisou as conquistas de seu governo, que em 2025 entra em seu último ano.

“O plano do meu governo de socialismo democrático está se cumprindo. Em apenas alguns meses, terei a honra de anunciar a derrota do flagelo do analfabetismo, graças ao programa cubano ‘Yo sí puedo’” (“Sim, eu posso”, em tradução livre), afirmou.

A luta contra o analfabetismo tem sido uma prioridade para Xiomara Castro desde seu primeiro ano no cargo em 2022, quando estabeleceu um acordo com Cuba com o objetivo de erradicar o analfabetismo. Durante décadas, Honduras tem sido um dos países com as maiores taxas de analfabetismo e abandono do ensino médio. No momento de assinar o convênio com Cuba, 12% da população não sabia ler nem escrever, segundo o Instituto Nacional de Estatística de Honduras (INE).

Cuba mantém uma brigada de mais de 120 educadores em Honduras, para assessorar a alfabetização de adultos por meio do método “Yo sí puedo”, responsável pela alfabetização de milhões de pessoas em cerca de 30 países. Graças a este método, países como Venezuela e Bolívia têm sido reconhecidos pela UNESCO como “países livres do analfabetismo”.

Até novembro deste ano, o Programa Nacional de Alfabetização “José Manuel Flores” em Honduras declarou 245 municípios do país centro-americano como territórios livres do analfabetismo. Estima-se que, nestes dois anos, mais de 370 mil hondurenhos aprenderam a ler e escrever.

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Resposta a Trump

A presidenta Xiomara Castro também utilizou a cadeia nacional para advertir o presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, dizendo que espera que seu governo “esteja aberto a um diálogo construtivo e amistoso, que não tome represálias desnecessárias contra nossos migrantes, que, via de regra, fazem uma grande contribuição para a economia norte-americana”.

No entanto, advertiu que, se Trump levar adiante sua intenção de expulsar em massa os migrantes hondurenhos nos Estados Unidos, Honduras terá que mudar suas políticas de cooperação com Washington, declarando que retiraria as bases militares que os estadunidenses mantêm em territórios hondurenhos.

Estima-se que mais de um milhão de hondurenhos vivam atualmente nos EUA, a maioria dos quais trabalha na agricultura e em serviços, como o setor hoteleiro. Ao mesmo tempo, esses migrantes fazem uma enorme contribuição para a economia do país centro-americano. Estima-se que 25% do PIB de Honduras se deva às remessas familiares enviadas por parentes que moram no exterior.

“Frente a uma atitude hostil de expulsão em massa de nossos irmãos, teríamos que considerar uma mudança em nossas políticas de cooperação com os EUA, especialmente no campo militar, onde sem pagar um centavo por décadas eles mantêm bases militares em nosso território, que nesse caso perderiam toda a razão de existir em Honduras”, afirmou.

Desde o início da década de 1980, os EUA mantêm uma base militar em Palmerola, na região central de Honduras, onde cerca de 400 militares estão atualmente estacionados. Trata-se de uma das principais bases usadas por Washington na sua luta contra os processos revolucionários da América Central durante aquela década.

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Como presidente pró-tempore da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), Xiomara Castro anunciou que, junto com a presidente do México, Claudia Sheinbaum, convocará uma reunião de ministros das Relações Exteriores em janeiro deste ano para tratar da questão da migração.

“Convocaremos uma reunião de ministros das Relações Exteriores em janeiro para tratar da questão da migração, apoiar a república irmã do Haiti e expressar nossa solidariedade ao povo e ao governo de Cuba”, afirmou.


*Brasil de Fato

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Coreia do Sul: declaração de lei marcial revelou o conspiracionismo da extrema direita

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Como resultado, o presidente Yoon Suk Yeol sofreu uma ampla oposição social

Às 22:23 do dia 3 de dezembro de 2024, em Seul, a sociedade sul-coreana e o mundo foram pegos de surpresa com o anúncio da declaração de lei marcial pelo presidente Yoon Suk Yeol. Realizada às pressas, sem o conhecimento até mesmo de funcionários do gabinete presidencial, em uma transmissão ao vivo sem a presença da imprensa, a declaração, segundo o presidente, visava combater as forças “pró-Coreia do Norte” e “anti-Estado”, as quais estariam ameaçando a ordem constitucional do país. Posteriormente, ficou-se comprovado que um dos principais objetivos da lei marcial seria o lançamento de uma operação de busca para encontrar provas de uma suposta fraude nas eleições parlamentares que deram vitória à oposição em abril do ano passado. Assim, torna-se nítida a semelhança no discurso ideológico do presidente Yoon Suk Yeol e de seus aliados militares — como o então Ministro da Defesa, Kim Yong-hyun, do qual partiu a proposta do plano de declaração da lei marcial, e o então Comandante do Exército e Comandante-em-chefe do Comando de lei marcial, Park An-soo, responsável pela operação militar junto à Comissão Eleitoral Nacional — com os temas do anticomunismo, a defesa da tradição e as acusações de fraudes eleitorais levantados por Bolsonaro, Trump e a extrema direita europeia, que compõem juntos o movimento da nova direita internacional inspirado por Steve Bannon.

Imediatamente após o anúncio presidencial, no dia 3 de dezembro, o regime de lei marcial estabeleceria a proibição de toda política legislativa, nos níveis nacional e local, assim como de qualquer associação política e protestos civis. Cerca de 00:22 da madrugada do dia 4 de dezembro, a Assembleia Nacional seria fechada com barricadas por 280 soldados das forças de segurança. Da mesma forma, a mídia, a veiculação de notícias e a publicação de qualquer conteúdo político também ficariam sob controle e eventuais sanções do regime de lei marcial. Simultaneamente, os comandantes de batalhão e oficiais superiores foram ordenados a ficar de prontidão, as forças aéreas, como caças, foram deslocados para missões de vigilância aérea e patrulha, e todos os funcionários do Ministério da Defesa também foram instruídos a se apresentar imediatamente em seus postos de trabalho. Para a sociedade sul-coreana, a declaração de lei marcial foi vista com enorme gravidade, afinal, a última vez em que ocorrera, em dezembro de 1979, com a ascensão ao poder do General Chun Doo-hwan, significou o início do período ditatorial mais violento da história do país.

Como resultado, o presidente Yoon Suk Yeol sofreu uma ampla oposição social, por ter buscado empregar a lei marcial para além dos seus dispositivos legais. Segundo o Art. 77 da Constituição da Coreia do Sul, a lei marcial pode ser declarada em situação de ameaça de guerra ou de emergência nacional semelhante, contexto o qual não se fazia presente. Além disso, o dispositivo constitucional não permite o fechamento da Assembleia Nacional. Em resposta ao anúncio presidencial e à iniciativa contra o parlamento, a Assembleia Nacional aprovou rapidamente, por 190 votos, sendo 18 destes do partido governista, o fim da lei marcial, em acordo com o Art. 77, V, da Constituição, que impõe ao presidente a suspensão da lei marcial após a sua aprovação pela maioria dos parlamentares presentes. Após a confirmação da resolução da Assembleia Nacional pelo Conselho de Estado, o regime de lei marcial seria suspenso passadas apenas 6 horas da sua instituição. A decisão pela declaração da lei marcial parece ter carecido de maior preparação e articulação dentro do governo, estando o seu conhecimento reduzido ao presidente, o então Comandante do Exército, Park An-soo, e ao Ministro da Defesa, Kim Yong-hyun, seu principal idealizador, e sem ter havido qualquer consulta prévia aos Estados Unidos. Segundo o Coronel Kim Hyun-tae, chefe do 707º Grupo de Missão Especial, responsável pela operação militar contra a Assembleia Nacional, suas tropas foram “vítimas infelizes usadas pelo ex-Ministro da Defesa, Kim Yong-hyun”.

Assim, ao que parece em uma medida desesperada de demonstração de força contra o parlamento controlado pela oposição, em um contexto de alta desaprovação do governo, o presidente Yoon Suk Yeol superestimou tanto o impacto de sua retórica anticomunista quanto os poderes outorgados pela lei marcial. De tal modo que, com a oposição veemente até mesmo de Han Dong-hoon, o líder do partido governista, o The People Power Party, e com a demonstração de “grande preocupação” por parte dos Estados Unidos, as tropas das forças de segurança liberariam imediatamente o prédio da Assembleia Nacional após a votação para suspensão da lei marcial.

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Para Park Chang-hwan, professor da Jangan University, a declaração de lei marcial pelo presidente Yoon Suk Yeol reflete um “esforço frenético de última hora” e uma “decisão extrema” frente à queda constante de seu apoio político e o crescente conflito de governabilidade: “O fato de o presidente ter declarado a lei marcial sem consultar seus assessores mostra um aparente estado psicológico de isolamento. Quando as pessoas se sentem encurraladas, elas tendem a tomar decisões absurdas. O crescente isolamento de Yoon dentro de seu próprio partido e a busca incessante da oposição por uma responsabilização o levaram a medidas extremas”.

Ainda que as reais intenções e motivações das ações do presidente Yoon Suk Yeol sejam de difícil confirmação, as investigações que se seguiram ao episódio da declaração de lei marcial acabaram por revelar, na Coreia do Sul, um mundo encoberto do conspiracionismo de extrema direita tão familiar ao bolsonarismo no Brasil. Segundo o parlamentar e ex-líder do People Power Party, o presidente seria “louco por teorias da conspiração”. Conhecido por ser um fervoroso seguidor de canais no YouTube de extrema direita, responsáveis por difundir as teorias de conspiração sobre fraude eleitoral, Yoon Suk Yeol convidou cerca de 30 YouTubers do campo para a cerimônia de posse presidencial, entre eles os canais Lee Bong-gyu TV e Sisa Warehouse, que acumulam, respectivamente, 927 mil e 144 mil inscritos. Em um país com uma infraestrutura de internet altamente desenvolvida e uma população cronicamente conectada online, o YouTube e o X (antigo Twitter) se tornaram ferramentas poderosas de influência e propagação de discursos de extrema direita.

Além disso, as investigações revelaram ainda a possibilidade de existência de planos para prender membros da oposição e de utilizar ações encobertas para incriminar a Coreia do Norte e criar um ambiente favorável à declaração da lei marcial. De acordo com o chefe da Polícia Nacional, o chefe do Comando de Contra-Inteligência, Yeo In-hyung, teria ordenado a entrega de informações a respeito de cerca de 15 políticos, assim como a prisão do juiz Kim Dong-hyun, responsável pela absolvição de Lee Jae-myung, líder da oposição, no julgamento pelo crime de perjúrio. Ao mesmo tempo, o comunicador Kim Ou-joon declarou, em audiência na Assembleia Nacional, ter recebido informações sobre a existência de um suposto plano para o assassinato de Han Dong-hoon, líder do partido governista que se colocou contra a declaração de lei marcial. O plano envolveria ainda uma operação para simular um ataque da Coreia do Norte a políticos e figuras públicas, como Cho Kuk, líder do partido minoritário de oposição, Rebuilding Korea Party, Yang Jung-chul, ex-chefe do Institute for Democracy e o próprio Kim Ou-joon, inclusive com a implantação de uniformes militares norte-coreanos.

Apesar do boicote do partido governista à primeira votação, o partido de oposição, Democratic Party of Korea, conseguiu aprovar, no dia 14 de dezembro, o impeachment do presidente Yoon Suk Yeol. Cabendo agora ao Tribunal Constitucional confirmar a decisão, em até 180 dias, o presidente ainda está sob investigação trilateral, da Polícia Nacional, da procuradoria e do Escritório de Investigação à Corrupção, tendo sido proibido de deixar o país pelo Ministério da Justiça. Da mesma forma, o Ministro da Defesa, Kim Yong-hyun, o Comandante do Exército, Park An-soo, e o chefe do Comando de Contra-Inteligência, Yeo In-hyung, foram todos presos pelos crimes de abuso de poder e de insurreição contra a ordem constitucional. Diferentemente do Brasil, não houve anistia aos militares ao fim da ditadura na Coreia do Sul, com a prisão dos ex-presidentes Chun Doo-hwan e Roh Tae-woo em 1996. E a julgar pela rápida reação das instituições e da sociedade civil à declaração de lei marcial, a democracia sul-coreana não pretende permitir uma nova incursão militar na política.


* Renato Saraiva é fellow researcher na Academy of Korean Studies (AKS), Coreia do Sul. Doutorando em Economia do Desenvolvimento, Mestre em Estudos Estratégicos Internacionais e Bacharel em Relações Internacionais pela UFRGS.

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** Este é um artigo de opinião e não necessariamente representa a linha editorial do Fato Novo.


Fonte: BdF Rio Grande do Sul

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