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Agropecuária

Plantar ou produzir? A escolha invisível que pode salvar o clima

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Artigo de Luís Rangel (CCAS) mostra que aumentar a produtividade florestal é mais eficaz que expandir áreas plantadas para remover CO₂. Dados indicam que Brasil deve focar em qualidade, não só em quantidade

No Brasil, quando se fala em reflorestamento, a pergunta é sempre a mesma: quantos hectares foram plantados? Quantos milhões estão previstos no Plano ABC+? Mas e se estivéssemos fazendo a pergunta errada?

E se o verdadeiro motor da remoção de carbono não for apenas a quantidade de terra coberta por árvores, mas a capacidade dessas árvores de crescer mais rápido, acumular mais biomassa e sequestrar mais CO₂ por hectare?

Em outras palavras: não é só plantar mais — é plantar melhor.

A produtividade explica mais que a área

Um estudo recente do Departamento de Produção Sustentável do Ministério da Agricultura, com base em dados da Embrapa, IBGE, IBÁ e IMAFLORA, traz uma conclusão estratégica: a produtividade florestal é mais determinante para a mitigação climática do que a simples expansão da área plantada.

Cenários com menor área, mas maior produtividade, alcançam níveis semelhantes de remoção de carbono — com menor custo fundiário, menos pressão sobre o uso da terra e maior eficiência econômica e ambiental.

O custo de não fazer a conta certa

Hoje, o Brasil tem cerca de 10 milhões de hectares de florestas plantadas, principalmente de eucalipto. Embora essa área tenha crescido nas últimas décadas, a produtividade média nem sempre acompanhou esse ritmo.

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Se o país continuar focando apenas em plantar mais, corre o risco de esgotar sua disponibilidade de terras antes mesmo de atingir as metas de sequestro de carbono. Por outro lado, investir em genética, manejo silvicultural e tecnologias de precisão pode multiplicar a produtividade sem expandir a área.

Um dado revelador: cada aumento de uma tonelada por hectare por ano na produtividade florestal pode remover mais de 1,3 milhão de toneladas de CO₂ a mais no total nacional, segundo simulações do estudo.

A silvicultura de alta performance já existe

Não é teoria. Já temos:

  • Clones de eucalipto com produtividade acima de 70 m³/ha.ano em áreas otimizadas
  • Modelos de gestão que definem o ponto ótimo de corte para maximizar a captura de carbono
  • Softwares de simulação que projetam o crescimento individual de árvores com base em solo, clima e genética

O problema não é técnico. É político e regulatório.

Metas desatualizadas no Plano ABC+

As metas do Plano ABC+ ainda são baseadas na lógica tradicional de “meta de área”, ignorando os avanços reais do setor florestal. Isso envia um sinal errado: premia quem ocupa mais terra, não quem produz mais por hectare.

Com isso, desestimula-se a inovação e subutiliza-se o potencial climático das florestas plantadas.

Idade técnica de corte: um fator crítico negligenciado

Outro achado do estudo é que cortar a floresta antes do tempo ideal — prática comum no setor — pode reduzir até 28% da produtividade. Isso compromete não só a rentabilidade, mas também as estimativas oficiais de remoção de carbono.

A idade técnica de corte, entre 6 e 8 anos, deve ser integrada às metas climáticas. Um corte antecipado em apenas 8 meses pode reduzir a eficiência de captura de carbono em 11%.

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Carbono como ativo financeiro

Com a implantação do Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões (SBCE), os ativos florestais passam a ter valor de mercado além da matéria-prima. A madeira deixa de ser apenas celulose ou carvão e se torna:

  • Material de construção sustentável
  • Fonte de biocombustíveis
  • Crédito de carbono negociável

Cada metro cúbico passa a ser uma moeda climática.

Mas para isso funcionar, é essencial ter sistemas robustos de MRV (Medição, Relato e Verificação). O estudo propõe dois novos indicadores como pilares do planejamento climático:

  • Área × Produtividade
  • tCO₂/ha.ano

Esses indicadores permitem uma gestão climática mais precisa, baseada em dados reais, não em projeções simplistas.

COP30: uma oportunidade para liderar com inovação

A COP30, em Belém (PA), em 2025, será um momento-chave. O mundo olhará para o Brasil esperando liderança climática.

E se o país apresentasse, já na COP30, uma revisão das metas florestais com foco em produtividade e idade técnica de corte? Isso posicionaria o Brasil na vanguarda da gestão climática baseada em evidência científica.

Além disso, é urgente diversificar as espécies e os usos da madeira. O cimento e o aço são grandes emissores de CO₂. A madeira, por outro lado, sequestra carbono.

Precisamos mudar a polaridade: impulsionar uma revolução sustentável pela demanda de produtos florestais na construção civil e na energia. Já.

Conclusão: ser mais do que metas de papel

O Brasil tem a ciência, a tecnologia e a capacidade produtiva para liderar essa transformação. Basta parar de contar só hectares e começar a medir o que realmente importa: quantas toneladas de carbono estamos removendo por hectare, e com que eficiência.

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Afinal, salvar o clima não é só plantar árvores — é plantar inteligência.

Sobre o CCAS

O Conselho Científico Agro Sustentável (CCAS) é uma organização da sociedade civil, sem fins lucrativos, fundada em 2011, com o objetivo de promover o debate sobre a sustentabilidade da agricultura brasileira com base em evidência científica. Reúne especialistas de diversas áreas que defendem práticas agrícolas sustentáveis e inovadoras.


Informações para a imprensa: Alfapress Comunicações

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Logística: Ferrovia de Mato Grosso Atinge 73% de Conclusão e Promete Reduzir Custo de Frete de Grãos

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🛤️ Ferrovia de Mato Grosso (FMT), descrita como o maior projeto ferroviário em construção no país, alcançou 73% de avanço e terá 211 km em operação até 2026. Com investimento total estimado em R$ 15 bilhões, a malha de 743 km visa otimizar o escoamento de grãos do Mato Grosso, com potencial de reduzir custos de transporte de commodities em até 50%.


Avanço da FMT e Metas de Entrega

O projeto da Ferrovia de Mato Grosso (FMT), considerado o maior empreendimento ferroviário atualmente em construção no Brasil pela Associação Nacional das Empresas de Transporte de Cargas (ANATC), atingiu a marca de 73% de completude em novembro. A primeira etapa da obra, que prevê 211 quilômetros de malhas, tem previsão de ser concluída e entrar em operação até o ano de 2026.

A ferrovia é um investimento integralmente financiado por capital privado, somando um aporte atual de cerca de R$ 5 bilhões, com o custo total estimado em R$ 15 bilhões ao final de todas as fases. O projeto conta com apoio institucional, incluindo um aporte de R$ 467,2 milhões do Fundo de Desenvolvimento do Centro-Oeste (FDCO), via Superintendência de Desenvolvimento do Centro-Oeste (SUDERCO).

Impacto na Produção Agrícola do Mato Grosso

O Mato Grosso é o maior produtor de grãos do Brasil, responsável por aproximadamente 31,5% da produção nacional total. A safra 2024-2025 atingiu o volume de 111,9 milhões de toneladas, com uma área destinada ao cultivo de cerca de 22,3 milhões de hectares. Os principais cultivos do estado são soja (27,2% da produção nacional), milho (24,9% da produção nacional), algodão e arroz. Mais de 60% da soja e metade do milho produzidos no estado são destinados à exportação, servindo em grande parte para a produção de ração animal em escala global.

A FMT terá um total de 743 quilômetros de trilhos e é crucial para o escoamento dessa produção.

Fases da Obra e Redução de Custos Logísticos

O projeto da ferrovia foi formalizado em 2021, após a aprovação da proposta apresentada pela Rumo S.A., a principal operadora ferroviária do país e especialista no transporte de commodities agrícolas. As obras tiveram início em 2022 e estão divididas em três etapas.

Fase Inicial: Rondonópolis a Campo Verde

A etapa inicial, de 211 quilômetros, conecta o município de Rondonópolis – que é um grande polo de esmagamento, refino e envase de óleo de soja – a um terminal de escoamento em construção entre Dom Aquino e Campo Verde.

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  • Terminal BR-070: O terminal de transbordo da primeira fase está projetado para ter uma capacidade de escoamento de até 10 milhões de toneladas por ano.

  • Emprego: A primeira fase mobilizou cerca de cinco mil postos de trabalho, o que representa uma parte significativa das vagas abertas em obras de infraestrutura no estado, com uma média de um quilômetro de malha concluído diariamente.

Vantagem Competitiva

A FMT visa reduzir a dependência do transporte rodoviário, modal que atualmente obriga os grãos a percorrerem cerca de 500 km até o terminal de embarque mais próximo. A expectativa, segundo a Rumo, é que a ferrovia promova uma redução de até 50% no custo do frete em comparação com o modal rodoviário, oferecendo uma vantagem competitiva à produção agrícola.

As fases subsequentes do projeto preveem a expansão da ferrovia para regiões de forte fronteira agrícola, como Lucas do Rio Verde e Nova Mutum, além da inclusão de um ramal projetado para a capital, Cuiabá.


C0m informações da: Revista Fórum

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Agricultura Familiar: Projeto de Lei Define Imóveis de Até 2.000m² como Propriedades Rurais Produtivas

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🚜 Comissão de Agricultura da Câmara aprova PL 918/25, que formaliza como rurais propriedades de 0,2 hectare (2.000 m²). A medida visa conceder acesso a crédito e assistência técnica a pequenos agricultores, reconhecendo a importância da produção de alimentos em áreas antes consideradas minifúndios.


Câmara Avança na Formalização de Pequenas Parcelas Rurais

A Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural (CAPADR) da Câmara dos Deputados aprovou, no início de dezembro, o Projeto de Lei (PL) 918/25. A proposta estabelece um novo marco legal ao definir formalmente imóveis rurais com área de até dois mil metros quadrados (0,2 hectares) como propriedades rurais produtivas.

Esta classificação abrange áreas destinadas à produção agrícola, pecuária ou agropecuária, seja para fins de subsistência ou para comercialização. O projeto segue agora para análise em outras comissões da Câmara, buscando reconhecer legalmente a atividade produtiva em parcelas de terra que historicamente enfrentam dificuldades de enquadramento.

Benefícios Diretos para o Pequeno Produtor

A formalização dessas pequenas áreas como propriedades rurais produtivas é crucial para que os agricultores que as ocupam possam acessar políticas públicas específicas. O PL 918/25 estabelece três grupos principais de benefícios que serão concedidos a essas propriedades, com critérios ainda a serem regulamentados por órgãos competentes:

  1. Acesso a Crédito e Financiamento: Facilita a obtenção de linhas de crédito e financiamentos específicos voltados para pequenos agricultores.

  2. Isenção de Impostos: Concede a isenção de taxas e impostos municipais vinculados à atividade rural.

  3. Capacitação e Assistência Técnica: Garante a disponibilidade de programas de capacitação e assistência técnica oferecidos por órgãos estaduais e federais.

Essas propriedades, com menos de 2 hectares, são frequentemente classificadas como parcelas muito pequenas ou minifúndios, muitas vezes situadas abaixo da Fração Mínima de Parcelamento (FMP) estabelecida pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA). Tal situação, historicamente, impõe restrições ao seu registro como propriedades rurais independentes e ao acesso a benefícios legais.

O Papel Estratégico da Agricultura Familiar

O autor do projeto, Murillo Gouvea (UNIÃO/RJ), destacou a relevância da medida para o reconhecimento da agricultura familiar no cenário nacional. “A definição das chácaras como pequenas propriedades rurais é essencial para reconhecer a importância da agricultura familiar na economia e na preservação ambiental”, afirmou.

Os dados do último Censo Agropecuário (2017) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sublinham a importância desse segmento:

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  • Estrutura Rural: O Brasil possuía cerca de 5,07 milhões de estabelecimentos rurais, com a agricultura familiar respondendo por até 76,8% desse total.

  • Produção de Alimentos: O segmento familiar é responsável pela maior parte da produção de alimentos básicos do país, como feijão (70%), arroz (34%) e mandioca (87%).

  • Ocupação de Área: Embora represente a maioria dos estabelecimentos, a agricultura familiar ocupa cerca de 23% da área total destinada à agropecuária.

A Lei 11.326/2006 define o agricultor familiar como aquele que pratica atividades rurais, possui área de até quatro módulos fiscais, utiliza predominantemente mão de obra familiar, gerencia o empreendimento e obtém renda vinculada ao estabelecimento. O PL 918/25 busca, portanto, alinhar a legislação à realidade produtiva das menores propriedades, garantindo-lhes o devido suporte legal e econômico.


Com informações de: Revista Fórum

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Agropecuária

Adaptação e abordagens diferenciadas no enfrentamento à mudança do clima

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A agropecuária brasileira é crucial no enfrentamento à mudança do clima, tendo sofrido perdas de R$ 260 bilhões nos últimos dez anos devido a eventos extremos. O novo Plano Clima do Governo Federal e o Plano ABC+ setorial destacam a urgência da adaptação, com metas e ações precisas para ampliar sistemas produtivos sustentáveis, aprimorar o ZARC e fortalecer a resiliência do setor até 2036

A mudança do clima e seus impactos são cientificamente atestados, sendo a agropecuária um dos setores mais afetados devido à sua forte relação com as condições climáticas. Nos últimos dez anos, eventos climáticos extremos causaram prejuízos de R$ 260 bilhões à agropecuária brasileira. Somente a seca em 2022 resultou em perdas de R$ 57,4 bilhões.

Políticas de enfrentamento e o plano ABC+

O cenário tem acelerado a adoção de políticas públicas, como a elaboração do Plano Clima do Governo Federal. O setor agropecuário, sob coordenação do Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA), já possui um histórico de proatividade.

  • Plano ABC+: Após o sucesso do Plano ABC (criado em 2010), o Plano Setorial para Adaptação à Mudança do Clima e Baixa Emissão de Carbono na Agropecuária (Plano ABC+) foi instituído com metas até 2030. Um de seus diferenciais é a abordagem de paisagem, que conecta sistemas sustentáveis de produção a ambientes naturais.

Foco na adaptação no novo plano clima

A questão da adaptação ganha destaque na 30ª Conferência das Partes (COP 30) e é trabalhada exaustivamente no Plano Clima, com 16 planos setoriais. O Plano Setorial de Adaptação em Agricultura e Pecuária, liderado pelo MAPA, possui 3 objetivos, 8 metas e 18 ações com prazos até 2036.

As principais metas visam fortalecer a capacidade adaptativa do setor:

  • Financiamento: Ampliar em 10% o valor total financiado para sistemas produtivos sustentáveis até 2035.

  • Gestão de Risco: Aprimorar o Zoneamento Agrícola de Risco Climático (ZARC) como instrumento de gestão de risco até 2031 e ampliar os recursos para o Programa de Seguro Rural até 2035.

  • Produção Sustentável: Ampliar em 72,68 milhões de hectares a produção agropecuária com adoção dos Sistemas Produtivos Sustentáveis (SPS) do Plano ABC+ até 2031.

  • Pesquisa e Genética: Ampliar o recurso para pesquisa, desenvolvimento, inovação e transferência de tecnologia, e expandir a diversidade da base genética de culturas e raças com capacidade adaptativa até 2036.

O alto número de contribuições na consulta pública sobre o Plano Clima Adaptação demonstrou o forte interesse setorial, refletindo o papel essencial da agropecuária no combate às mudanças climáticas e na garantia da segurança alimentar e nutricional da população.


Com informações: Kleber Santos, Engenheiro Agrônomo, e CCAS

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