Nova temporada da série da HBO aprofunda disputas femininas e revela tensões sociais com temperança e sufrágio como pano de fundo
Estreou neste domingo (22), na HBO e HBO Max, a terceira temporada da série A Era Dourada (The Gilded Age, no original). Criada por Julian Fellowes (Downton Abbey), a produção segue investindo em um retrato sofisticado e crítico da Nova York do final do século XIX, período marcado pela ascensão dos novos ricos, pela decadência da velha aristocracia e por profundas mudanças sociais.
No centro da trama está o embate entre tradição e modernidade — mais especificamente, entre os representantes do “velho dinheiro”, como a família van Rhijn, e os recém-enriquecidos pela industrialização, como os Russells. Essa tensão simbólica revela os conflitos entre os valores herdados da aristocracia e a pujança do capitalismo financeiro e industrial emergente.
As mulheres protagonizam os principais embates da série, em um momento da história dos Estados Unidos marcado pelo surgimento de movimentos por autonomia, participação política e reforma social. Marian Brook (Louisa Jacobson), filha de Meryl Streep, representa a juventude idealista que desafia convenções, enquanto Peggy Scott (Denée Benton) enfrenta o racismo e o sexismo estruturais como uma escritora negra em ascensão.
A série, além de retratar bailes, alianças e casamentos estratégicos, aprofunda um subtexto político: o prestígio da elite é mostrado como uma construção frágil, sustentada por aparências e exclusão social.
Crítica social disfarçada de glamour
O título original da série, The Gilded Age (A Era Dourada), não é apenas uma referência histórica, mas uma crítica mordaz cunhada pelos escritores Mark Twain e Charles Dudley Warner no livro satírico The Gilded Age: A Tale of Today (1873). Em vez de usar a palavra golden (dourado de verdade), os autores preferiram gilded — termo que significa “dourado por fora”, sugerindo uma camada superficial de riqueza que encobre uma base frágil ou corrompida.
A expressão virou sinônimo de um dos períodos mais contraditórios da história dos Estados Unidos, entre aproximadamente 1870 e 1900. Foi uma era de intensa industrialização, expansão ferroviária e concentração de riqueza nas mãos de magnatas como Rockefeller, Carnegie e Vanderbilt — ao mesmo tempo em que cresciam as desigualdades sociais, a corrupção política e a exploração dos trabalhadores, imigrantes e da população negra recém-liberta da escravidão.
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A série da HBO parte dessa ironia: retrata os salões luxuosos da elite nova-iorquina, mas revela as tensões de fundo — o conflito entre o “velho” e o “novo dinheiro”, o racismo estrutural, o papel limitado das mulheres e a emergência de movimentos sociais como o sufrágio feminino e a temperança. Ao fazer isso, A Era Dourada não só revive o brilho opulento do passado, como denuncia as rachaduras do sistema que o sustentava — numa crítica que ressoa com as desigualdades e contradições do mundo atual.
O que esperar da nova temporada
A terceira temporada de A Era Dourada contará com oito episódios lançados semanalmente, aos domingos, e já no episódio de estreia introduz dois temas históricos centrais para a virada do século nos EUA: o movimento pela temperança e o sufrágio feminino.
Essas causas, fortemente lideradas por mulheres da classe média e da elite, abrem novas frentes de conflito — tanto entre os personagens quanto com o status quo da época.
O movimento pela temperança
A cruzada contra o álcool, que mais tarde culminaria na Lei Seca, começa a emergir como tema dramático. Na série, isso ocorre por meio de personagens femininas ligadas a igrejas protestantes e instituições de caridade, que se tornam defensoras da sobriedade. A disputa se acirra com os bailes extravagantes da elite, onde o vinho e o champanhe simbolizam poder e decadência.
Por trás da cruzada moral, estão questões concretas: violência doméstica, desordem urbana, alcoolismo entre operários. A narrativa sugere que o moralismo da elite pode, em parte, refletir ansiedade diante das transformações sociais em curso.
O sufrágio feminino
Já o movimento sufragista — que na vida real ganhava força com figuras como Susan B. Anthony e Elizabeth Cady Stanton — é apresentado como um embate interno entre mulheres. Algumas desejam permanecer no papel tradicional da boa esposa; outras, como Peggy Scott ou mesmo Ada Brook (Cynthia Nixon), buscam novos espaços na esfera pública.
A série antecipa os dilemas do feminismo do século XX ao mostrar as contradições da elite: enquanto as mulheres pleiteiam mais voz, parte delas ainda vê no casamento com nobres europeus a principal forma de ascensão.
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O olhar de Julian Fellowes
Lord Julian Fellowes, autor britânico premiado com Oscar (Gosford Park) e Emmy (Downton Abbey), aplica sua experiência em dramas históricos à aristocracia dos EUA. Nascido no Egito e membro da Câmara dos Lordes, Fellowes articula com precisão rigor histórico, comentário social e construção dramática.
Seus roteiros revelam o que há por trás da pompa: um sistema social que se moderniza, mas mantém vícios como o racismo, o machismo e a desigualdade. Em A Era Dourada, ele reconstrói a Nova York de 1880 com cenários opulentos e personagens inspirados em figuras como Alva e Consuelo Vanderbilt, Jay Gould e o influente Ward McAllister.
Com a chegada dos movimentos sociais ao centro da narrativa, a terceira temporada amplia o escopo da série. A Era Dourada não é apenas uma crônica de costumes, mas também um espelho das forças que moldaram os Estados Unidos modernos — e que continuam em disputa.
TUĞBA
25/06/2025 at 22:17
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