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Clima

A Ilíada: o que épico da literatura grega nos ensina sobre mudanças climáticas e masculinidade atual

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Um dos dois grandes poemas épicos de Homero que sobreviveram, A Ilíada, se desenrola ao longo de dois meses no último ano da Guerra da Tróia

Os gregos – liderados por Agamenon e tendo Aquiles como seu maior guerreiro – tentam capturar a poderosa cidade de Troia. Os troianos – cujo líder era Heitor – resistem durante 10 anos.

Neste combate mortal escrito por Homero, que se tornou um dos maiores clássicos da literatura mundial, há também um elenco de coadjuvantes formado por deuses e deusas que frequentam o campo de batalha para influenciar os acontecimentos da guerra.

Enquanto os deuses discutem e os homens lutam, as mulheres de Troia são limitadas a observar a guerra a partir das muralhas da cidade e a esperar que os seus maridos e filhos regressem para casa.

Cada geração interpreta A Ilíada de uma maneira diferente. A obra acaba representando um espelho dos tempos em que é lida, mas esse espelho também reflete o período em que foi escrita.

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Em texto publicado pela BBC Culture, a tradutora Emily Wilson – a primeira mulher a traduzir a Odisseia de Homero para o inglês, edição lançada recentemente no Reino Unido – conversa com a classicista e escritora Natalie Haynes, cujo último livro, Divine Might, explora as histórias das deusas gregas envolvidas com a guerra, mas também como os sentimentos de honra e reputação, tão presentes no poema, falam sobre padrões de masculinidade.

Para elas, a obra também aborda outros temas da atualidade: as mudanças climáticas e como a natureza reage à intervenção do homem.

Como A Ilíada é um ‘filme de ação’

Natalie Haynes – Seu novo livro é uma leitura propulsiva. Vai arrastar as pessoas, porque parece um filme de ação. E a Ilíada é um pouco isso, em partes, não é? As coisas realmente acontecem em um ritmo acelerado.

Emily Wilson – Muitas coisas acontecem rapidamente. Quero dizer, tanto coisas materiais quanto emocionais, e elas acontecem de forma muito intensa e muito rápida o tempo todo. E muitas vezes é muito, muito barulhento e intenso. E você tem que sentir tudo isso e querer que continue, mesmo que seja horrível.

Haynes – Muitos personagens morrem em combate. Me perguntei se foi doloroso escrever essas partes depois de um tempo. Porque muitas das mortes são incrivelmente violentas e explícitas.

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Não há sensação de que a câmera está se afastando, parece que a imagem está realmente perto. Já escrevi antes que não há vencedor no combate corpo a corpo, há apenas um sobrevivente. Mas você realmente sente isso na Ilíada, foi difícil?

Wilson – Foi difícil, porque sempre há muita compaixão também. Há um tipo horrível de excitação. Eu senti que, às vezes, estava em contato com partes realmente desagradáveis ​​de mim mesmo que estavam gostando da violência e saboreando isso. Há uma espécie de emoção visceral ao contemplar cenas de massacre, e eu certamente senti essa emoção e então pensei ‘o que eu tenho feito?, como estou acreditando nisso?

E, no entanto, ao mesmo tempo, há tanta compaixão e você sente a dor de uma forma que não necessariamente sentiria se fosse um filme de ação de Hollywood, onde os personagens existem apenas para explodir.

Acho que isso acontece até mesmo com personagens que aparecem em apenas uma linha do poema, por exemplo: ‘Então a lança atravessa seu fígado’. E nós sabemos apenas o nome de seu pai ou o nome de sua terra natal.

Andrômaca interceptando Heitor, em pintura de Fernando Castelli, 1811

CRÉDITO,GETTY IMAGES – Legenda da foto,Andrômaca interceptando Heitor, em pintura de Fernando Castelli, 1811

Fama e glória eterna para homens

Haynes – Eu queria falar rapidamente sobre a busca pela glória e fama de imortal, porque eles parecem tão essenciais para aquela sociedade, e também para nós. É realmente difícil encontrar uma linguagem que não faça isso parecer essencialmente trivial.

E você tem que parar e lembrar a si mesmo, e lembrar aos leitores ou ouvintes, que aquela era uma sociedade sem os mesmos registros que temos agora. Esta é a sua chance – se você se tornar famoso o suficiente para ser imortalizado na música, é isso que significa viver além do seu tempo de vida. Há algo muito mais elementar na busca pela fama na Ilíada do que em nosso mundo, por exemplo.

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Wilson – Sim, acho que está certo. Acho que os leitores modernos às vezes têm a tendência de banalizar a busca central da Ilíada, aquela escolha dos guerreiros de arriscar suas vidas pela fama ou para evitar a vergonha, tanto nesta vida quanto depois, tendo um legado no próprio poema como nome e também legado na paisagem, como ter um monumento em sua homenagem.

Há uma ótima passagem onde Heitor fala sobre a esperança de deixar sua marca na paisagem ao ter um túmulo para uma de suas vítimas. Então alguém, passando por ali em algum momento futuro, pode falar: ‘aquele túmulo é de alguém morto pelo grande Heitor’ .

Acho que você está absolutamente certa de dizer que é um salto imaginativo que temos que dar para estar no mundo deste poema.

Para entender que isso realmente importa. E que também o poema apresenta essa imagem como um caso de sucesso.

O poema existe para falar sobre o sucesso, mas também apresenta o fracasso.

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Os deuses Apolo e Poseidon deixam acontecer um desastre ambiental, com toda a planície de Troia sendo destruída.

Ilíada como metáfora ambiental e apocalíptica

Haynes – A ideia da Ilíada como uma espécie de metáfora ambiental e apocalíptica é algo que considero uma forma relativamente nova de olhar para o poema.

Mesmo a ideia da Guerra de Tróia, pelo menos em algumas das suas versões, é que há demasiadas pessoas e que nos tornamos demasiado pesados, e a Terra está gemendo sob o nosso peso. E eles têm os conflitos tebanos, e isso livra algumas pessoas, mas não o suficiente. E assim eles provocam a Guerra de Tróia. É uma metáfora de ansiedade da população?

Wilson – É verdade, sim, e sabemos pelas notas antigas do início da Ilíada, e por um poema que não sobreviveu inteiramente, chamado The Cypria, que um mito antigo, o ‘plano de Zeus’ (referido no início da Ilíada), implicou a dizimação da população humana porque eles são um fardo para a Terra.

Não creio que essa seja a única maneira de ler a Ilíada agora, mas acho que em épocas anteriores, as pessoas muitas vezes queriam conectá-la a uma guerra específica que estava acontecendo naquela época.

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Por exemplo, ‘a Ilíada é como a Guerra Civil Inglesa, ou a Ilíada é como o Vietnã ou a Ilíada é como a Segunda Guerra Mundial?’ Acho que ao ler A Ilíada em 2024, poderíamos conectá-la a qualquer um dos muitos conflitos e tipos de violência humana que estão acontecendo no mundo, mas acho que também ressoa realmente com a ideia de que a maioria de nós vive em lugares que não podem ser habitada por humanos por muito mais tempo.

E nesse sentido, estamos repetindo a posição daqueles que vivem tanto no acampamento grego quanto na cidade de Tróia: não haverá humanos lá por muito mais tempo depois que este poema terminar.

Aquiles contra a natureza
Disputa entre Aquiles e Agamenon, em pintura de de Felice Giani (1758-1823),

CRÉDITO,GETTY IMAGES – Legenda da foto,Disputa entre Aquiles e Agamenon, em pintura de de Felice Giani (1758-1823),

Haynes – Às vezes, a natureza até se levanta para protestar contra as ações dos personagens, como no momento em que Aquiles sufoca os rios com corpos. Talvez haja uma metáfora melhor para a terrível futilidade da vida humana e da guerra, e também para os terríveis danos causados ​​à natureza.

Wilson – Absolutamente – e é incrível, porque nunca vimos um humano lutando com a própria paisagem antes, da maneira que Aquiles faz ao sufocar o rio com corpos, o [rio] Scamander subindo e dizendo a ele para parar de fazer isso, e ainda assim ele quer seguir em frente.

Depois terminamos com a luta contra o fogo e a água, com o rio se voltando contra o deus do fogo.

Certamente, isso ressoa com os incêndios florestais e inundações em todo o mundo hoje.

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Há esta sensação de que os humanos foram longe demais e causaram um dano ao mundo, e o fogo e a água estão se levantando contra nós e tentando nos dizer para parar, e ainda assim queremos continuar.

O que a Ilíada significa hoje

Haynes – Temos que continuar redescobrindo Homero, não é? Por quê?

Wilson – Sim, definitivamente. Penso que novas traduções são um convite a uma releitura em um momento cultural diferente e com sensibilidades literárias, estéticas e culturais distintas. As perguntas que os estudiosos de Homero fazem agora aos poemas originais são diferentes daquelas que as pessoas faziam no início do século 20.

Já falei sobre a Odisseia como um poema sobre a colonização e da Ilíada como uma obra em parte sobre um desastre climático e também sobre a cultura das celebridades.

Todas essas coisas que nos preocupam nesse momento, tipo, ‘qual é a relação entre humanos e tecnologia?’ A Ilíada fala sobre isso tudo. E, claro, Ilíada tem formas diferentes de falar sobre cada uma dessas coisas.

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Por que Ilíada é sobre masculinidade
Chiron e Aquiles, pintura de de artista desconhecido, do século I

CRÉDITO,GETTY IMAGES – Legenda da foto,Chiron e Aquiles, pintura de de artista desconhecido, do século I

Haynes – Pensei por muito tempo e argumentei que Ilíada também é sobre o que significa ser um homem e diferentes tipos de masculinidade.

Modelos desses diferentes tipos de masculinidade estão disponíveis ao longo do poema, a cada momento, na vida de um homem.

A raiva de Aquiles; a toxicidade de Agamenon; o carinho, a cura de Pátroclo; a devoção de Heitor; a inteligência de Odisseu; o idoso e medroso patriarca de Príamo. Você acha que é por isso que o poema ainda ressoa tão fortemente: ele tem muito a nos dizer sobre a masculinidade?

Wilson – Acho que tem muito a nos dizer sobre ser homem e, como você diz, sobre as variedades de masculinidade e como elas estão ligadas a todos tipos de vulnerabilidade. Quero dizer, há no poema muitas maneiras de ser homem e muitas compulsões sociais diferentes que esses homens carregam.

Há uma frase famosa sobre ensinar Aquiles a ser ‘um orador e guerreiro habilidoso’. E para ser um homem neste poema, você tem que ser o melhor em pelo menos duas características completamente diferentes.

Você tem que ser habilidoso para reunir o máximo de apoio e riqueza, como Agamenon reunir o máximo de riqueza, e você tem que ser o melhor em falar monotonamente nas reuniões do conselho, como Nestor – há muitas categorias diferentes disso.

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E, no entanto, há também muita consciência de que ser homem está ligado a um tipo de orgulho e senso de identidade que pode isolar a pessoa, e ser o melhor significa estar à frente de todos os outros.

E é esta a questão que está no cerne do poema: pode haver uma comunidade de homens? Se a masculinidade tem tudo a ver com ser melhor do que qualquer outro homem, então como os homens podem ficar juntos sem se matarem? O poema explora a possibilidade de os homens algum dia pertencerem a uma comunidade que não envolve apenas cortar os olhos uns dos outros.

E temos um pouco de vislumbre de como isso pode ser.

Acontece nos jogos funerários, quando os homens ainda estão hábeis em áreas totalmente diferentes. Um homem é bom em corridas de carruagem e outro homem é bom na corrida a pé, mas há prêmios suficientes para que todos sejam contemplados sem que haja uma matança.

Muito do poema está focado nisso.

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No grego, os termos com os quais eu realmente lutei são cognatos com a palavra ‘homem’, mas sugerem um excesso de masculinidade, e o poema está explorando: ‘Você pode ser um homem?’ É isso que mata Heitor? Ele é tanto um homem que está sempre à frente dos outros. É isso que causa a raiva de Aquiles. Ele tem um desejo mais do que humano de ferir Heitor, mas também deseja replicar sua honra em um grau infinito.

Outro ponto inteligente do poema versa sobre o entrelaçamento de zombaria e medo da vergonha desonrosa. Eles estão sempre entrelaçados.

O campo de batalha é um lugar onde você ganha honra, mas também onde as pessoas lançam insultos um para o outro. O que é ser o melhor no campo de batalha? É apenas jogar lanças? Não, é também insultar o inimigo da maneira mais cruel.


Fato Novo com informações e imagens: BBC

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Clima

Sistema monitora a intensidade das chuvas no DF e auxilia no planejamento de ações preventivas

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A Adasa é a responsável pelo maior número de equipamentos do Sistema de Monitoramento de Chuvas Urbanas Intensas (Simcurb) | Fotos: Matheus H. Souza/Agência Brasília

O acompanhamento das precipitações é feito pelas 62 estações pluviométricas distribuídas em 27 regiões para que o governo faça intervenções efetivas; no próximo ano, novos equipamentos vão ampliar a capacidade de monitoramento

Cada gota de chuva que cai no Distrito Federal não é percebida só pelo cidadão, mas pelo GDF que, para atuar preventivamente na drenagem da cidade, mensura a intensidade da precipitação e a quantidade de água. O acompanhamento é feito pelas 62 estações pluviométricas que integram o Sistema de Monitoramento de Chuvas Urbanas Intensas (Simcurb), coordenado pela Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento Básico do DF (Adasa) em parceria com o Instituto Brasília Ambiental, a Companhia Ambiental de Saneamento do DF (Caesb) e a Universidade de Brasília (UnB).

“Os dados e as informações são um ativo muito importante para a gestão. Nosso objetivo é medir a quantidade de chuva que cai em Brasília, para entender o fenômeno que ela causa na drenagem urbana da cidade”, explica o chefe de Tecnologia da Informação da Adasa, Geraldo Barcellos. “De posse desses resultados conseguimos entregar para o governo as possibilidades de melhorias de drenagem”.

O sistema conta com dados históricos coletados desde a criação em 2020. Este ano, as primeiras chuvas após o período de estiagem foram registradas entre 27 e 28 de setembro nas regiões de Ceilândia e do Sol Nascente/Pôr do Sol. Até agora, o Plano Piloto foi a cidade onde mais choveu: um acumulado de 50 milímetros em uma semana.

Mapa das precipitações

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A Adasa é a responsável pelo maior número de equipamentos do sistema, um total de 40. Os demais são dos outros órgãos: 13 da Caesb, quatro da UnB, três do Brasília Ambiental e dois da Agência Nacional de Águas e Saneamento (ANA). No próximo ano, a Adasa pretende ampliar o sistema com a implantação de 42 novas estações de monitoramento, com 20 substituindo equipamentos existentes nos pontos dos parceiros e 22 sendo instalados em novos pontos, expandindo a cobertura em todo o DF.

Cada uma das estações conta com um pluviógrafo e um transmissor de dados. A chuva é captada num funil que concentra a água em uma báscula. A cada 0,02 milímetros, o dispositivo vira a água no recipiente, e calcula a intensidade e a quantidade de chuva que caiu. Cinco basculadas representam um milímetro. Esses dados são enviados a um datalog que registra data, hora, minuto e segundo e transmite para o servidor Simcurb Web.

“Os dados e as informações são um ativo muito importante para a gestão. Nosso objetivo é medir a quantidade de chuva que cai em Brasília, para entender o fenômeno que ela causa na drenagem urbana da cidade”, explica o chefe de Tecnologia da Informação da Adasa, Geraldo Barcellos


“Pelo sistema temos um mapa de precipitações, que é um mapa de gotas”, explica o coordenador de Monitoramento e Fiscalização da Superintendência de Drenagem Urbana da Adasa, Leonardo Leoi. “No último ano hidrológico – que vai mais ou menos de setembro a agosto do outro ano –, tivemos estações em que choveu em média 1.650 milímetros e outras em que choveu 800 milímetros. Só daí você vê como chove diferente no Distrito Federal”, acrescenta.


Os dados do sistema já apontam que Ceilândia, Taguatinga e Sol Nascente/Pôr do Sol são as regiões onde há mais precipitações, enquanto Varjão e Sobradinho II contam com o menor número de registros de gotas de chuva. Informações como essas são fundamentais para a tomada de decisões do Governo do Distrito Federal (GDF) em relação à drenagem pluvial das cidades.

“O que nós descobrimos até agora é que o DF chove diferente em cada região. Então, quando tivermos uma base histórica e uma massa de dados suficiente poderemos ter curvas de Intensidade, Duração e Frequência (IDFs) regionalizadas. Ou seja, soluções de drenagem para cada região. Isso vai fazer com que não só fique mais acertado o sistema de drenagem, como a economia ao erário, porque poderemos investir no sistema de drenagem das áreas que mais precisam”, destaca o coordenador.

Prevenção

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Para além do investimento no sistema de monitoramento para melhorar a drenagem da capital federal, durante as chuvas, é importante que a população colabore com o descarte correto de resíduos sólidos para manter ralos e bocas de lobo desobstruídas, prevenindo alagamentos.

“Por mais que o sistema esteja sendo ampliado para melhor atender a população, nós precisamos muito de todos. Evitando jogar lixo nos lugares errados, porque o descarte incorreto acaba tampando as bocas de lobo e prejudicando toda uma população”, alerta Luciano Leoi.


Fonte: Agência Brasília

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Brasil

Pesquisadores criam modelo que prevê deslizamentos em São Sebastião

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Projeto da USP identificou mil pontos de risco durante as chuvas

Um inventário produzido por pesquisadores dos institutos de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) e de Geociências (IGc) da Universidade de São Paulo (USP) identificou mil pontos de escorregamento de solo na cidade de São Sebastião, no litoral norte paulista. O levantamento foi feito usando imagens aéreas feitas logo após desastre ocorrido por causa das fortes chuvas em fevereiro de 2013, que provocou a morte de 64 pessoas.

O inventário que mapeou os pontos de deslizamento no município foi publicado no Brazilian Journal of Geology e ficarão também disponíveis no Zenodo, um repositório de publicações e informações de acesso aberto criado para facilitar o compartilhamento de dados e software.

Em entrevista à Agência Brasil, o coordenador do projeto e professor do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (IAG/USP), Carlos Henrique Grohmann, disse que a maior parte desses pontos de escorregamento não estão em áreas urbanas, mas são importantes de serem identificados para orientar políticas públicas para a região.

“Em fevereiro do ano passado choveu absurdamente em São Sebastião. Foram 683 milímetros (mm) em menos de 15 horas, o que é mais ou menos metade do que se espera para o verão inteiro. Choveu em uma noite o que se espera para os três meses de verão. Então teve muito escorregamento”, explicou o professor. De acordo com Grohmann, como foi uma chuva muito fora do padrão, não só em volume, mas também muito concentrada, o solo não aguentou, encharcado. “Escorregou em cima das áreas urbanas, das áreas de ocupação regular e teve também muitos escorregamentos fora. Mas esse foi o lado menos pior: a maioria dos escorregamentos estão fora de áreas habitadas”, explicou..

Os deslizamentos são processos geológicos comuns em regiões montanhosas, especialmente com clima tropical, como na Serra do Mar, onde está localizada a cidade de São Sebastião. “Na região [do litoral norte paulista], onde há morros com declividade alta, muito inclinados, a chance de escorregar é grande. E você junta isso a chuvas mais fortes, mais concentradas, de grande volume. Se chover mais, vai escorregar mais. Então, entender onde pode escorregar pode ser importante para os planejamentos [de políticas públicas]”, disse o pesquisador.

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Segundo ele, o projeto que a USP está desenvolvendo procura mapear principalmente essas áreas propensas a escorregamentos que estão em áreas naturais, já que as áreas urbanas já foram mapeadas. “As áreas urbanas já estão mapeadas como áreas de risco. Agora as áreas naturais, as áreas não habitadas, onde será que pode escorregar? Essa é uma análise que a gente chama de suscetibilidade a escorregamento”, falou.

Mapeamento de melhor precisão

As áreas naturais – e não habitadas – só conseguiam ser mapeadas após a ocorrência de um escorregamento. Então, foi preciso uma grande quantidade de escorregamentos para que elas pudessem ser mapeadas. “A gente olha onde aconteceu o escorregamento e olha como é o terreno. E aí, usando essas características, a gente tenta mapear outros lugares com características similares para dizer: ‘esse lugar também é um lugar que pode um dia escorregar se chover bastante’”, explicou o professor.

Mas agora, esse mapeamento poderá ser feito de forma diferente e com maior exatidão. Em uma parceria feita com o Instituto Geográfico e Cartográfico de São Paulo (IGC-SP), com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), a cidade de São Sebastião poderá ser mapeada com uma tecnologia chamada Light Detection and Ranging (LiDAR), feita por meio de um avião ou helicóptero com um sensor laser acoplado. Essa tecnologia usa luz na forma de laser pulsado para medir alcances (distâncias) da Terra, obtendo dados com alta precisão.

“Você tem uma precisão muito grande, um nível de detalhe muito grande também. E isso a gente não tinha antes. Aí veio o diferencial. Até hoje, a gente só tem dados que mostram como é o relevo, com menos detalhes. Agora, com esse laser, a gente vai conseguir fazer e ver a topografia com pixel na casa de um metro. Quer dizer que ela vai ficar mais precisa, vai melhorar muito o nível de detalhe de como vemos a superfície e o relevo”, disse Grohmann. “E então vamos criar um modelo baseado nos dados do escorregamento de São Sebastião. E como a região da Serra do Mar é muito parecida em termos da própria morfologia, o tipo de morro, a chuva, a vegetação, então será possível expandir esse modelo para outras áreas da Serra do Mar”.

Em São Sebastião, o último levantamento divulgado pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) mostra que o município tinha cerca de 2,2 mil casas em 21 áreas de risco de deslizamento em 2018. O órgão foi contratado em fevereiro deste ano pela prefeitura para atualizar esse mapa de risco após a tragédia.

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Por meio de nota, a prefeitura de São Sebastião disse que não foi procurada ainda pelo grupo de estudo para colaborar com a pesquisa, mas “entende que é de extrema importância uma análise detalhada de um grupo tão importante quando este, formado pela USP” e que está aberta para colaborar, junto com sua Defesa Civil.

A administração municipal também informou que tem realizado ações para evitar novas tragédias, como a que ocorreu no ano passado. “Mas independente dessa análise, desde o começo do ano, o IPT está no município para fazer a atualização das áreas de risco uma vez que a tragédia mudou o perfil registrado anteriormente. Lembrando que a medida faz parte da revisão do Plano Municipal de Redução de Risco (PMRR). Paralela a essas ações, a prefeitura, por meio da Defesa Civil, tem realizado simulados em áreas conhecidas por isso como forma de preparação da comunidade – foram nove em 2013 e sete neste ano”, destacou a prefeitura, em nota.

Além disso, escreveu o município, uma parceria feita com o governo estadual possibilitou a implantação de uma sirene na Vila Sahy, bairro que foi o mais afetado pela catástrofe do ano passado, e a criação de uma estação meteorológica em Ilhabela para melhorar as previsões do tempo na região. Há também uma parceria feita com o governo federal para a implantação do programa Defesa Civil Alerta, que visa acionar os celulares de moradores da cidade sobre como agir na iminência de um desastre climático.

“O município fez a recuperação das áreas atingidas com investimento que ultrapassam os R$ 200 milhões e, por meio da Secretaria de Educação, tem levado a prevenção para dentro das escolas, trabalhando com os alunos sobre riscos e formas de prevenção e evacuação, pois as crianças são multiplicadores dentro de casa”, completou a prefeitura.


Fonte: Agencia Brasil

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Clima

Início da primavera no Distrito Federal será de tempo quente e seco

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De acordo com o Inmet, a capital do país está em alerta laranja para a baixa umidade, que pode chegar a 15% nas horas mais quentes do dia. Chuva pode chegar no fim da semana

Estação de transição do inverno para o verão, a primavera começa neste domingo (22/9) e, no Distrito Federal, a previsão é que o tempo se mantenha quente e seco, pelo menos até o fim desta semana. De acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), a capital está em alerta laranja para a baixa umidade.

Segundo a previsão do instituto, o índice pode chegar a 15% nas horas mais quentes do dia. A temperatura mínima registrada durante a madrugada ficou na casa dos 16ºC, em Planaltina, enquanto a máxima pode chegar a 35ºC. No Plano Piloto, a mínima foi de 22ºC e a máxima deve ficar na casa dos 33ºC.

O especialista do Inmet Cléber Sousa disse que o domingo (22/9) deve ser de poucas nuvens, com uma névoa seca tomando conta do DF. A boa notícia, segundo o meteorologista, é que a nebulosidade pode aumentar durante a semana.

“Com isso, há uma pequena possibilidade de chuva, mais para o fim da semana”, destacou. “Porém, até lá, vamos passar por dias bem quentes e secos”, ponderou Cleber Sousa.

Por causa do alerta laranja para a baixa umidade, alguns cuidados devem ser tomados pela população: beber bastante líquido; atividades físicas não são recomendadas; evitar exposição ao sol nas horas mais quentes do dia; usar hidratante para pele; e umidificar o ambiente.

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Fato Novo com informações e imagens: Correio Braziliense

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