O francês foi brilhante em seus melhores momentos, mas difícil de lidar quando em baixa. Ele nunca será esquecido no leste de Londres, mas…
Dimitri Payet entrou para a história como um dos jogadores mais habilidosos a vestir a camisa do West Ham. Um armador nato, com uma precisão no passe que poucos têm e a agilidade necessária para desfilar no meio de campo, ele não só foi fundamental para o sucesso dos Hammers sob o comando de Slaven Bilic, mas também ganhou o respeito de toda a Europa.
Durante o período em que esteve no leste de Londres, ele foi o melhor jogador do West Ham e, eventualmente, indicado à Bola de Ouro – recompensando uma ascensão que começou na ilha de Reunião, no Oceano Índico, a 9 mil quilômetros de Paris.
O que poucos sabem é que o astro teve um início de carreira difícil. Tudo começou no Le Havre, que fazia negócios com seu pequeno clube na ilha de Reunião, o Saint-Pierroise. Passados quatro anos na base de lá, retornou à ilha para jogar pelo Excelsior após reclamações do clube por sua falta de motivação e profissionalismo.
No entanto, essa não seria a última vez em que seu comportamento fosse questionado. Apesar de muito talentoso, é fato que ele saiu em turbulência de diversos clubes pelos quais passou. Um gênio com dificuldades externas não apenas valia a pena ser tolerado em um clube, mas sim, valia a pena construir um time inteiro ao seu redor.
O retorno do craque
O próprio Payet admite que seu retorno à Reunião aconteceu porque ele “não era uma pessoa fácil de lidar”, e sentiu que seus sonhos de uma carreira profissional estavam indo por água abaixo. Além de ter dificuldades para se adaptar à vida na França, ele era pequeno, e seus treinadores da base achavam que ele simplesmente era fraco demais para jogar em alto nível.
Quando jogou pelo Excelsior, o melhor time de Reunião, ele se destacou, mas um relatório afirma que foi total acaso que o Nantes o descobriu. Um olheiro visitou a ilha para um seminário e, ocasionalmente, viu Payet jogando enquanto estava lá. Ele insistiu que o jogador fosse levado para a França, e o Nantes fechou um acordo.
Após a mudança, o ainda garoto apareceu em um documentário sobre jovens promessas, e seu tempo no clube francês foi repleto de dificuldades, incluindo uma discussão em público com o lendário Fabien Barthez, do Manchester United, e a incapacidade de salvar seu time do rebaixamento.
O descenso do Nantes permitiu que ele exigisse uma transferência, e o Saint-Étienne se interessou, fechando um acordo por 4 milhões de euros (R$22,1 milhões). No entanto, novamente, quase foram rebaixados para a Ligue 2, com a principal contribuição de Payet sendo uma cabeçada que o jogador deu em Blaise Matuidi, seu companheiro de equipe.
Mas vale lembrar que ele estava jogando no mais alto nível da França, e em 148 aparições pelo clube participou de 57 gols.
‘Novo Eden Hazard’
Depois de uma temporada com 13 gols em 2010/11, Payet foi a nova aposta do Lille. Eles tinham acabado de perder Eden Hazard para o Chelsea, e o francês, tanto como pessoa quanto de ego, encaixou-se perfeitamente como o substituto ideal. Foram 19 gols e 31 assistências, somando 50 participações em gols nas 95 partidas que jogou, com uma média de contribuição a cada 0,52 jogos; a média de Hazard era de uma a cada 0,53 jogos.
Um lance lindo contra o Reims ilustrou a qualidade de Payet para o mundo; ele pegou a bola a 40 metros do gol, carregou por boa parte do campo, driblou o defensor e acertou onde a coruja dorme. Apresentação do talento no seu mais puro estado e a consolidação de um novo astro francês.
Ele foi eleito para o Time da Temporada da Ligue 1, finalmente assumindo o papel de protagonista, e se juntou ao Marseille por uma taxa de cerca de 10 milhões de libras (R$64 milhões) e, a partir daí, eventualmente atingiu auges inesperados ao longo da carreira.
Uma primeira temporada ainda mediana, se adaptando ao nível do Olympique, o levou a 21 assistências e sete gols na seguinte, recompensando os baixos números da inicial. Apenas dois jogadores tiveram tantas assistências naquela temporada nas cinco grandes ligas da Europa: Lionel Messi e Kevin De Bruyne.
Brilhando no leste de Londres
Foi em 2015, com sua transferência para o West Ham, que Payet explodiu para o futebol mundial, se assumindo como o protagonista de um clube que da principal liga do mundo.
Sua idade – tinha 28 anos quando se mudou para a Inglaterra – significava que os Hammers não enfrentaram a competição que teriam para tê-lo se fosse alguns anos mais jovem, e conseguiram contratá-lo do Marseille por apenas 10 milhões de libras (R$64 milhões). Payet disse, ao chegar, que havia “recebido muita responsabilidade”, e ele retribuiu em grande estilo.
Em 2015/16, o meia foi um dos melhores jogadores da Premier League; ele marcou nove gols e teve 12 assistências em 30 jogos, e alguns deles foram verdadeiramente espetaculares.
Seu gol de falta contra o Crystal Palace é, provavelmente, a melhor cobrança de falta na história da era da Premier League; na entrada da área, ele bateu a bola com tanta força e efeito que parecia que ela iria passar por cima do travessão até quando, de repente, encontrou o ângulo, em um estilo de gols que só ele sabia fazer. Foi como um truque de mágica.
Esse não foi seu único golaço na partida, já que o francês fez outro, após ser lançado em profundidade, deixar o goleiro Wayne Hennessey no chão e encobrir a bola para o fundo da rede.
A temporada terminou com o último jogo do West Ham em Upton Park, e Payet desempenhou um papel fundamental quando os londrinos venceram o Manchester United, com o francês dando a assistência para o gol da vitória de Winston Reid.
História na Euro
Durante seu tempo no West Ham, Payet foi convocado para a seleção da França para jogar a Euro 2016, e seu desempenho foi espetacular. Ele marcou três gols – o destaque foi na abertura do torneio contra a Romênia, quando fez um golaço no ângulo (como de costume), com o pé esquerdo, seu mais fraco – e deu três assistências ajudando Les Bleus chegarem à final em casa.
Jogando mais como um ponta-esquerda, a explosão de Payet e sua ousadia o tornaram indispensável durante todo o torneio, embora tenha terminado em decepção, com os anfitriões sendo derrotados por Portugal na final.
Mais discórdias…
No entanto, esse foi o auge de Payet. Sua segunda temporada no West Ham terminou com apenas oito participações em gols, e os Hammers sentiram os efeitos disso. Depois de terminar em sétimo da Premier League e encerrar sua temporada de estreia com grandes feitos e, consequentemente, com uma aclamação enorme, em seu ano seguinte viu o clube lutar com a mudança para o London Stadium e flertar com o rebaixamento.
Entre o início daquela temporada e o final de janeiro, o West Ham venceu apenas oito jogos, e Payet forçou uma transferência. Ele estava inquieto desde o retorno da Eurocopa e alegou que sua razão para sair era “relacionada à família”, mas não se comportou bem ao deixar o clube. Ele mesmo admite que “sabe como ser um idiota”, e entrou em greve, recusando-se a jogar para o técnico Slaven Bilic.
Ele conseguiu o que queria, e voltou para o Marseille. Os Hammers, por razões óbvias, ficaram indignados, com torcedores acabando com um mural no estádio que havia sido pintado para comemorar o prêmio de Jogador do Ano do francês seis meses antes.
Em fim de carreira
De volta ao Marseille, Payet novamente se tornou um dos melhores jogadores da Ligue 1 após sua transferência de 25 milhões de libras (R$162 milhões), registrando mais de dez participações em gols em todas as temporadas, exceto em 2022-23. Seu melhor gol, provavelmente, foi contra o Guingamp, quando ele pegou um rebote de fora da área e acertou um chute de primeira que foi direto para o ângulo superior (sim, mais uma vez onde a coruja dorme).
Ele quase conquistou um título da Liga Europa, chegando à final com o Marseille em 2018. No entanto, Payet machucou a coxa e foi substituído durante o jogo em lágrimas, enquanto o Atlético de Madrid venceu por 3 a 0.
De fato, o francês nunca conquistou um troféu no futebol europeu, e em 2023 veio para o Vasco conhecer nosso futebol brasileiro, onde continua com as boas manias de driblar e acertar alguns ângulos por aí.
Por alguns anos, Payet foi tão bom quanto qualquer outro jogador no planeta, justamente sendo indicado ao prêmio da Bola de Ouro, e é talvez o melhor jogador do West Ham da era moderna na Premier League. É uma pena que ele tenha passado tão pouco tempo na Terra da Rainha.
Fato Novo com informações e imagens: Goal.com