Comportamento
As faces do despertar: entenda as polêmicas por trás do “movimento woke”
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Onda que pretende combater injustiças e valorizar minorias políticas é criticada tanto por conservadores quanto por setores da esquerda; saiba mais
No ano em que cerca de 2 bilhões de pessoas em dezenas de países irão às urnas, e com a atenção voltada principalmente para o que acontecerá no pleito à presidência dos Estados Unidos, uma palavra do vocabulário norte-americano merece atenção: ser ou estar “woke”. Em tradução livre “desperto”, o termo é usado para denominar pessoas que querem combater injustiças e valorizar minorias políticas, especialmente negros, mulheres e a comunidade LGBTQIA+. E tem gerado embates nas redes sociais, entre intelectuais e, principalmente, na política — um caso emblemático é o do atual governador da Flórida, o conservador Ron DeSantis, que se orgulha de promover uma cruzada contra os “despertos”. “Lutamos contra os woke no legislativo. Lutamos contra os woke nas escolas. Lutamos contra os woke nas corporações. Nunca, jamais nos renderemos à multidão woke. A Flórida é onde o [movimento] woke vai morrer”, declarou em seu discurso de vitória nas eleições de 2022.
Mas o incômodo não está restrito a conservadores ou políticos de direita. No recém-lançado A esquerda não é woke (Editora yiné, 2024), a filósofa Susan Neiman — declaradamente de esquerda — critica o movimento. Para a autora, os woke trocaram o ideal de universalismo (isto é, uma consideração mais ampla da sociedade, que abriga culturas e valores diversos) e se aprisionaram em um modo de pensar tribalista que limita as batalhas políticas. Até Barack Obama, ex-presidente dos Estados Unidos considerado progressista, reclamou em 2019 que a geração atual parece mais concentrada em verificar o grau de “wokeness” (ser desperto) de cada pessoa nas redes sociais do que em lutar por mudanças concretas.
Ao contrário de movimentos sociais ou ideologias que têm suas causas e formas de atuação bem definidas, o movimento woke tem atuação mais difusa, muito focada nas redes sociais, e pode parecer uma versão mais sofisticada do politicamente correto. “Existe uma disputa verbal pela designação das coisas, que é uma disputa incessante. A disputa pelo pronome, pela qualificação. É uma polêmica perpétua, uma guerra sem fim”, aponta o professor de comunicação Wilson Gomes, da Universidade Federal da Bahia (UFBA), autor de Crônica de uma tragédia anunciada: como a extrema-direita chegou ao poder (Sagga Editora, 2020). Para o professor, essa luta sem caráter universalista faz com que, eventualmente, os grupos comecem a lutar entre si, como se criassem minorias dentro das minorias ou escalas de opressão. “Não tem projeto para depois, o plano é para agora; são todos contra todos e o outro é opressor. Para sustentar isso, é necessário patrulhar a sociedade o tempo inteiro para encontrar opressões ou ‘micro’ opressões”, completa.
Um exemplo recente que pôs os woke em pauta foi o da cantora Ludmilla: ela foi acusada de intolerância religiosa por exibir a frase “Só Jesus expulsa o Tranca Ruas das pessoas” no telão de seu show no festival Coachella, que ocorreu em abril deste ano na Califórnia (espírito cultuado nas religiões de matriz africanas, Tranca Ruas é associado à proteção e à abertura de caminhos). O fato de ser uma mulher negra, LGBTQIA+ e criada em uma favela do Rio de Janeiro — todos marcadores das minorias que os woke afirmam defender — não poupou a artista das críticas. “Quando eu disse que vocês teriam que se esforçar para falar mal de mim, eu não achei que iriam tão longe. Hoje tiraram do contexto uma das imagens do vídeo do telão do show em ‘Rainha da Favela’, que traz diversos registros de espaços e realidades a qual [sic] eu cresci e vivi por muitos anos, querendo reescrever o significado dele, e me colocando em uma posição que é completamente contrária a minha”, reclamou, no X. “Respeito todas as pessoas como elas são, e independente de qualquer fé, raça, gênero, sexualidade ou qualquer particularidade de que façam elas únicas”, concluiu.
Eventualmente, porém, a equipe da cantora pediu desculpas a quem possa ter ofendido com o deslize. “Ludmilla não pode negar ter errado, alegar outra intenção, reivindicar outra interpretação, declarar que foi sem querer ou mostrar por sua história que é uma boa pessoa. Só a mortificação é aceitável: pequei e me arrependo, mereço todas as punições, nunca mais faço de novo”, escreveu o professor da UFBA em sua coluna no jornal Folha de S. Paulo, no dia 30 de abril. É aí que mora uma das maiores contradições de um movimento que diz querer combater as injustiças: na ânsia por demonstrar consciência por temas sociais, estariam os woke se fechando cada vez mais para o diálogo e perdendo a capacidade de lutar por mudanças concretas? E quais são os efeitos disso não só em ano de eleições, mas a longo prazo?
Evolução de uma palavra
Embora só recentemente venha se tornando mais conhecido mundo afora, o termo woke não é novo para a comunidade negra dos Estados Unidos — a ponto de, em 1962, o escritor William Melvin Kelley incluí-lo em um ensaio publicado no The New York Times sobre as gírias usadas por pessoas negras no país. Um dos primeiros registros da frase “stay woke” (fique desperto, em tradução livre) é de 1938, quando o músico Huddie “Lead Belly” Ledbetter encerrou a canção “Scottsboro Boys” aconselhando as pessoas negras que viajassem pelo Alabama a “ficarem despertas e manterem os olhos abertos”. A composição faz referência a um infame caso jurídico de 1931 em que nove jovens negros foram falsamente acusados de estuprar duas mulheres brancas em um trem que passava pelo Sul dos Estados Unidos.
A conotação política do termo woke e outros relacionados se consolidou em 1959, quando, em um discurso para os formandos do Morehouse College, faculdade historicamente negra do Sul dos Estados Unidos, o reverendo Martin Luther King Jr. aconselhou os estudantes a “permanecerem despertos, alertas e criativos”. Proferido no auge do Movimento Pelos Direitos Civis e intitulado “Remaining Awake Through a Great Revolution” (“Permanecendo Desperto em uma Grande Revolução”, em tradução livre), o discurso de Luther King alertava que “nada poderia ser mais trágico nesse período de mudança social do que permitir que nossas atitudes mentais e morais durmam”. O líder do Movimento pelos Direitos Civis repetiu o texto outras vezes e com novas versões. Uma delas, mais longa do que seus famosos discursos “Eu Tenho um Sonho” e “Eu Estive no Alto da Montanha” juntos, foi proferida quatro dias antes de ele morrer baleado em 1968.
Já em 2020, a frase voltou a ganhar expressão após o assassinato de George Floyd, homem negro estrangulado por um policial branco em Minneapolis durante uma abordagem por supostamente ter usado uma nota falsificada de 20 dólares em um supermercado. “O movimento Black Lives Matter [Vidas Negras Importam, em tradução livre] problematizou essa morte, e esse movimento de despertar trouxe a ideia de que não é possível ficar imune, sem reagir, frente a um conjunto de injustiças sociais e problemas sociais”, explica a socióloga Flavia Mateus Rios, professora adjunta da Universidade Federal Fluminense (UFF) e diretora do Instituto de Ciências Humanas e Filosofia da mesma instituição. “[Estar desperto] é um movimento de conscientização das populações em relação a diferentes formas de opressão da vida contemporânea, com destaque para as pautas raciais, para as questões LGBTQIA+, de gênero, as que envolvem migrações e opressões de grupos diversos na sociedade.”
Para o filósofo Francisco Bosco, autor de O diálogo possível: Por uma reconstrução do debate público brasileiro (Editora Todavia, 2022), o que os estadunidenses chamam de woke é o que no Brasil é considerado identitarismo. Criado nos anos 1970 por um grupo de feministas que não se sentiam representadas pelo movimento pelos direitos das mulheres da época, a ideologia busca colocar as dimensões de raça e gênero no centro da discussão política. “Dos anos 1970 para cá, esse processo foi mudando bastante, adicionando novas leituras da sociedade. E, com a emergência das redes sociais, foi se reproduzindo também no debate público. Até que, em meados da década de 2010, podemos mapear um movimento com características bem definidas”, pontua o filósofo.
Wilson Gomes também coloca meados da década de 2010 como período fundamental para a consolidação do movimento identitário — no Brasil, mais precisamente, o ano de 2013. “Foi um momento de extrema politização. Mas jogamos dentro do sistema político um conjunto de pessoas que não vieram das formas tradicionais de participação”, explica. Esses indivíduos elegeram as redes sociais não só para se informar sobre política, mas também para fazer política — e, para muitos deles, isso significou se agrupar de acordo com suas identidades de raça, gênero e sexualidade.
Debate inflamado
Na política tradicional, o espaço encontrado por esses grupos foi dentro da esquerda. “Faz parte da definição de ser progressista ou ser de esquerda ter sensibilidade a esses temas. Mas o discurso e a prática identitária não são exatamente isso. [Os woke] convenceram a esquerda de que não é possível lutar por direitos e estima social de minorias a não ser por meio das categorias identitárias”, observa o professor da UFBA. O filósofo Francisco Bosco completa que o “wokismo” ou identitarismo pode até partir de reivindicações que parecem justas para pessoas de esquerda ou progressistas, mas contém algumas deformações que, no fundo, prejudicam a própria esquerda.
Um dos traços fundamentais do identitarismo, segundo Bosco, é a essencialização do sujeito. Isso significa reduzir as pessoas a seus marcadores de origem, sobretudo raça e gênero. Ao contrário das classes sociais — centrais para as demandas da esquerda —, esses marcadores são inatos, intrínsecos e irredutíveis. “E aí vem o passo político decisivo: ao considerar que o sujeito é essencialmente isso, entende-se que ele vai agir no espaço público de maneira a defender os interesses de seu grupo de origem. Ou seja, o sujeito que é branco, heterossexual e cisgênero estará condenado a agir no espaço público de forma a reproduzir os interesses dessa condição”, aponta Bosco. “Quando você dá esse passo, você simplesmente anula a dimensão moral do sujeito, retira das pessoas a capacidade de transcender o seu lugar de origem. E, com isso, não existe mais a esquerda.”
Uma das consequências dessa essencialização é o conceito de lugar de fala, na visão do filósofo. “Ele tem duas faces. Na face cara, é bem pertinente, porque destaca que a dimensão empírica da vivência é capaz de descortinar aspectos dos problemas sociais que a dimensão teórica dificilmente consegue”, explica. “Mas aí tem outra dimensão, que deforma essa premissa para dizer que pessoas que não têm inscrição de origem minoritária não devem participar do debate.” Para Gomes, a tática citada por Bosco não atrai simpatia de pessoas fora do próprio grupo, dificultando o surgimento de novos combinados sociais e, eventualmente, a aprovação de novas leis. “Não há conciliação possível, a possibilidade de outras pessoas se tornarem solidárias e participarem da luta”, opina.
Ainda mais perigoso é o justiçamento sumário — ou, no linguajar do mundo digital, o cancelamento. “Uma das características [do wokismo] é que o próprio movimento é o tribunal. Ele faz o inquérito, julga e aplica a sentença. Não tem o devido processo, não tem escuta do outro, não ouve o outro lado”, aponta Gomes.
Não faltam exemplos disso. Um caso que ficou conhecido — e que combina as ideias de lugar de fala e justiçamento sumário — foi o da historiadora e antropóloga Lilia Schwarcz. Em 2020, ela fez uma resenha do filme musical de Beyoncé, Black Is King, que embora tivesse alguns elogios, reclamava do fato de a cantora recorrer a “imagens estereotipadas e criar uma África caricata”. Schwarcz, que é branca, foi tachada de racista e duramente criticada nas redes sociais, e só contornou a polêmica pedindo desculpas publicamente.
Esse caso tem também traços de outro risco atrelado ao identitarismo, segundo Bosco: a confusão entre culpa e responsabilidade, além da produção permanente de pessoas culpadas. De acordo com o filósofo, isso serve principalmente para as questões raciais e para a noção de branquitude — que, assim como o lugar de fala, tem duas faces. “Tem o lado pertinente, que é o de que a branquitude designa condições sociais de origem da pessoa branca”, ele explica. “Mas isso não significa que todas as pessoas brancas vão deixar de combater e transformar seus privilégios universais.”
O filósofo retoma os conceitos de teóricos como Hannah Arendt, conhecida por seus estudos sobre regimes totalitários. Segundo a alemã, indivíduos só podem ser considerados culpados por atos que cometeram, mas devem ser responsáveis por questões relativas à sua comunidade. Ao misturar os conceitos — por exemplo, exigindo reparação pelos danos cometidos por antepassados ou parentes de alguém —, cria-se resistência; quem é “condenado” se sente menos inclinado a apoiar uma causa. “Ninguém gosta de ser culpabilizado sem ter culpa, porque é injusto. Em vez de convocar a dimensão moral da pessoa, que é o que a torna capaz de transcender, essa pessoa é reduzida a um grupo”, completa Bosco, que também destaca que a prática é muito usada por nacionalistas de extrema-direita. “Em todos os piores momentos da humanidade, vimos indivíduos desaparecerem em nome de um grupo”, conclui.
Ainda que não sejam exatamente causa ou consequência, é inegável que todas essas características do wokismo contribuem para inflamar ainda mais o debate público já bastante polarizado. “Não há mais possibilidade de você se identificar com um lugar no espectro ideológico e considerar que, em determinadas circunstâncias, o adversário pode ter razão”, opina Bosco, que considera isso um dos efeitos da produção de uma identidade coesa em comunidades consideradas woke. “Há um conjunto de recompensas narcísicas quando se é parte da lógica de um grupo. Desativar essa tendência é difícil, porque mexe na economia de gozo”. Segundo o conceito — que combina a psicanálise com o marxismo para investigar como o prazer é organizado e regulamentado em uma sociedade —, existem normas culturais, leis, tabus e práticas sociais que definem e limitam as formas aceitáveis de gozo. Nesse sentido, ter o aval de um grupo de que determinada atividade é aceitável seria uma espécie de recompensa.
Talvez o mais curioso seja que, ao se fechar dentro de seus próprios grupos, o identitarismo acaba tendo o efeito de fortalecer justamente quem ele pretende combater. “A direita está ótima nesse conflito, porque esse é um discurso contra a própria esquerda. Quanto mais tiver pauta identitária de esquerda no Congresso, mais vamos ter respostas identitárias de direita”, opina Gomes. A lógica do professor da UFBA é que somente pessoas que se importam ou simpatizam com causas como o combate ao racismo, igualdade de gênero ou direitos da comunidade LGBTQIA+ se sentirão ofendidas quando acusadas de racistas, machistas ou homo/transfóbicas. E mais: o movimento woke vira uma espécie de “inimigo” de quem conservadores precisam se proteger. “O discurso de que vamos precisar de todo mundo para banir do planeta a opressão sempre foi mais eficiente do que discursos identitários”, considera.
Síntese de conscientização
Apesar de ser um forte crítico da ideologia identitária (como prefere chamar) ou do movimento woke, o próprio pesquisador da UFBA reconhece que esse é um fenômeno “de nicho”, distante da base da sociedade. Além disso, o sociólogo Musa al-Gharbi, autor de We have never been woke (“Nunca fomos woke”, em tradução livre), que deve ser lançado em outubro deste ano na América do Norte, argumenta que a “onda woke” pode ter atingido o pico de atividade e estar no início de um declínio. Pesquisador na Universidade Columbia, al-Gharbi identificou que o número de estudos sobre discriminação de raça e gênero está em declínio, depois de mais de 20 anos de crescimento.
Outro levantamento, este realizado pela Fundação para os Direitos Individuais e Expressão (FIRE, na sigla em inglês), que monitora a liberdade de expressão em universidades dos Estados Unidos, identificou que houve uma queda nos casos de cancelamento e nos ataques a professores por motivos ideológicos em 2022 — na série histórica, a esquerda lidera as tentativas de punições (52% desde o ano 2000). No jornal The New York Times, um dos maiores cânones do jornalismo estadunidense e global, os termos associados ao identitarismo também deixaram de ser tão empregados. Depois de um pico nos anos 2010, palavras e expressões como raça, racismo, sexismo, misoginia e privilégio branco passaram a ser menos utilizados na publicação, de acordo com um levantamento divulgado pelo cientista de dados David Rozado, doutor em ciência da computação pela Universidade Autônoma de Madri, em fevereiro de 2023.
Por motivos diferentes, o sociólogo Luiz Augusto Campos, professor de sociologia e ciência política no Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IESP-UERJ), levanta dúvidas se de fato há um movimento woke. “Não é algo muito sistemático, é simplesmente uma palavra que passou a ser incorporada pelos movimentos sociais, daí pelo mercado e depois passou a ser utilizada como categoria de acusação”, opina. Essa acusação vem tanto da direita, que considera ter seus valores ameaçados pelo discurso woke, quanto da esquerda, que se incomoda com pautas que não tenham a ver com as reivindicações históricas da esquerda.
“O discurso de fundo é que essa nova esquerda só estaria preocupada em ‘lacrar’ ou com elementos que são fúteis, como a identidade, e que inúmeras demandas particularistas prejudicariam a unidade”, explica. “É óbvio que [demandas particularistas] existem, mas a questão é: esses movimentos estão realmente demandando tudo isso?” Na opinião de Carneiro, a resposta é não, e o wokismo parece ser mais uma moda das redes sociais. “O grande problema é que as pessoas fazem parecer que uma hashtag é um movimento. Mas tirando alguns exemplos folclóricos, no Brasil de hoje, esse é um problema com o qual temos que lidar? É um fenômeno relevante?”, pontua.
No fundo, destaca o professor da UERJ, a discussão de identidade faz parte da luta política — a diferença é que as pessoas que estão no poder não precisam fazer esse debate. “Todos os movimentos sociais precisam discutir suas identidades. Se você vai se juntar para lutar por algo, precisa discutir que algo é esse”, aponta. “Mas houve uma complexificação do campo político. Tradicionalmente, nos anos 1990, ser de esquerda era defender maior igualdade de classes, focar nas pautas socioeconômicas. A partir sobretudo dos anos 2000, isso se complexificou com a emergência de pessoas que passaram a destacar outras desigualdades.”
Na visão de Flavia Mateus Rios, o movimento woke é justamente uma síntese da conscientização sobre esse conjunto de dinâmicas sociais e injustiças. Um exemplo é o #MeToo. O movimento de combate ao assédio sexual na indústria cinematográfica começou em 2006, ganhou força de forma espontânea pelas redes sociais e teve resultados práticos, como a prisão do produtor de cinema Harvey Weinstein — cofundador da Miramax, ele atualmente cumpre pena de 16 anos na Califórnia por estupro. Também há desdobramentos na política, com iniciativas para lidar com o tema de forma institucional. No Brasil, alguns exemplos são a criação do Ministério dos Povos Indígenas e a recriação do Ministério da Igualdade Racial, ambas ações de 2023.
“Ele [o movimento woke] expressa muitas tensões, é como se fosse a ponta de um iceberg. Basicamente, é um movimento contra a indiferença, contra a normalização das desigualdades, contra a ideia de que as opressões só têm uma dimensão”, pontua Rios. Inclusive, para a socióloga, embora o termo mais usado como sinônimo no Brasil seja o identitarismo, esse é um caminho perigoso, pois leva à desqualificação — tanto pela esquerda quanto pela direita. “É óbvio que, como todos os movimentos, ele aparece com duplas ou múltiplas faces. Essa face das identidades, na verdade, não é a causa, nem o ponto de partida, nem o ponto de chegada”, opina. Mais do que engajar na queda de braço ou nas batalhas de cancelamento das redes sociais, talvez o caminho para a conciliação seja entender o que motiva — e o que de fato desejam — as novas gerações nesse despertar.
Comportamento
Padrões alimentares pouco saudáveis geram US$ 8 trilhões em custos ocultos
Publicado
3 semanas atrásno
14 de novembro de 2024Por
Fato novo
Relatório da FAO revela que 70% desses custos são causados por impactos de saúde associados a doenças crônicas, especialmente nos sistemas agroalimentares mais sofisticados; baixa ingestão de cereais, frutas e vegetais e alto consumo de carnes processadas e sódios estão entre maiores riscos
A Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, FAO, lançou na semana passada um relatório sobre os custos ocultos para sistemas agroalimentares em todo o mundo.
As perdas são de US$ 12 trilhões por ano. E 70% desses gastos são gerados por padrões pouco saudáveis de dieta.
Desigualdades sociais e degradação ambiental
A pesquisa da FAO ouviu pessoas de 156 países. No caso das dietas ruins, o maior problema é a associação com doenças crônicas, em níveis alarmantes, incluindo doenças coronárias, diabetes e derrames, o que excede os gastos relacionados às desigualdades sociais e à degradação ambiental.
O Estado da Alimentação e Agricultura 2024, Sofa na sigla em inglês, aproveita os dados da edição de 2023 com mais análises de pano de fundo e o custo real que expõe a escala completa de custo e benefício associada à produção de alimentos, distribuição e consumo incluindo os que não aparecem nos preços de mercado.
Mudanças transformadoras
O relatório atualiza as estimativas de custo com uma divisão entre tipos de sistemas agroalimentares e propõe uma via para mudança transformadora nos sistemas agroalimentares como um todo.
O estudo também detalha como os custos ocultos globais são grandemente puxados pelos custos não declarados de saúde, seguidos por gastos ambientais em sistemas agroalimentares mais industrializados em países de renda média alta e de renda alta.
A FAO examinou os impactos para a saúde e identificou 13 fatores de risco em dietas que incluem insuficiência de frutas, cereais e vegetais. Dietas com excesso de sódio e de carnes processadas com diferenças notáveis entre vários sistemas agroalimentares.
Políticas sob medida, desafios e oportunidades
A pesquisa também introduz uma tipologia que caracteriza os sistemas em seis grupos: crises prolongadas, tradicional, expansão, diversificada, formal e industrial. Esse quadro permite um conhecimento mais específico dos desafios e oportunidades próprios de cada sistema e que permite políticas de desenvolvimento mais sob medida.
As dietas baixas em grãos são um dos maiores fatores de risco entre os sistemas agroalimentares em crises prolongadas como em conflitos associados à insegurança alimentar. Também em sistemas tradicionais que são típicos de baixa produtividade, tecnologia limitada e cadeias de valor mais curtas. E a principal preocupação é a baixa ingestão de frutas e vegetais.
Já a dieta rica em sódio está mais presente em sistemas tradicionais e formais assim como padrões alimentares que incluem alto consumo de carnes processadas que tendem a passar de sistemas tradicionais para industrializados.
Emissões de CO2 e poluição da água
Além dos riscos de padrões de dieta pouco saudáveis, a FAO analisou o impacto ambiental de práticas agrícolas insustentáveis.
Custos associados a emissões de CO2 e poluição de águas entre outros fatores são mais altos em países com sistemas diversificados de agricultura chegando a US$ 720 bilhões.
Em países com conflitos prolongados, as perdas ambientais podem chegar a 20% do Produto Interno Bruto, PIB.
Brasil, Austrália e Índia
Os custos sociais incluindo pobreza e subnutrição são mais prevalentes em sistemas agroalimentares tradicionais e representam de 8% a 18% do PIB, respectivamente.
O relatório da FAO recomenda adaptar os contextos locais e focalizar nas prioridades das partes em jogo.
O documento analisa casos em países como Austrália, Brasil, Colômbia, Etiópia, Índia e Reino Unido.
Dietas mais saudáveis, inovações e sustentabilidade
Dentre as recomendações estão: incentivos financeiros e regulatórios para práticas sustentáveis de produção, promoção de dietas mais saudáveis, redução de emissões de CO2 e nitrogênio, dar autonomia aos consumidores sobre impactos em suas escolhas alimentares.
Outras propostas são assegurar a transformação rural e inclusiva, fortalecimento da governança e da sociedade civil, acelerar inovações e criar sistemas mais sustentáveis.
Fonte: ONU
Comportamento
Proibição de celular: escolas focam na formação e no apoio familiar
Publicado
1 mês atrásno
27 de outubro de 2024Por
Fato novo
Do exercício da autonomia ao desenvolvimento de habilidades para o uso consciente da tecnologia digital, instituições de ensino em SP compartilham como têm atuado diante do dilema do uso de celular
A proibição de celular na escola foi defendida por 83% dos brasileiros (de um total de 10 mil pessoas) que participaram de uma consulta pública realizada pela Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro. Já 6% foram contra e 11% parcialmente favoráveis.
Essa consulta destaca que há uma crescente preocupação com o impacto das telas no aprendizado e na saúde mental de crianças e adolescentes. Tanto que diferentes escolas têm adotado abordagens que vão além de regras rígidas, investindo na construção de uma cultura de uso consciente e na formação de estudantes mais autônomos e saudáveis.
Uso consciente
No Colégio Nossa Senhora das Graças (Gracinha), na cidade de SP, a restrição ao uso de celulares entre os estudantes do fundamental 2 foi acompanhada pelo lançamento do movimento Gracinha Offline, em agosto, promovido pela Organização das Famílias do Gracinha (OFAG).
“Queremos resgatar atividades que envolvam as crianças e afastem a atenção das telas”, explica Claudia Taddei, mãe e integrante da OFAG.
Segundo Claudia, a parceria entre escola e famílias tem sido essencial, com a realização de uma pesquisa comunitária e a organização de vivências práticas voltadas ao desenvolvimento da consciência sobre o uso equilibrado de dispositivos.
Sandra Cirillo, orientadora educacional da escola, destaca que a dependência dos dispositivos aumentou significativamente após a pandemia, exigindo mudanças profundas. “Identificamos situações em que alunos apresentavam sofrimento emocional quando seus celulares eram retirados, o que evidenciou a gravidade do problema e a necessidade de intervenções estratégicas.”
A escola proibiu o uso dos aparelhos durante as aulas e uniu forças com as famílias para promover diálogos e encontros com especialistas, buscando fomentar um uso mais consciente da tecnologia. “Nosso objetivo é que as soluções sejam construídas em conjunto, respeitando a realidade de cada família”, enfatiza Sandra.
Desafios e medidas para enfrentá-los
No Colégio Magno, também localizado na cidade de São Paulo, a diretora Claudia Tricate relata os desafios em encontrar um equilíbrio entre tecnologia digital e ambiente escolar.
“Acreditávamos que permitir o uso consciente dos celulares para fins pedagógicos seria o caminho ideal, mas percebemos que os adolescentes ainda enfrentam dificuldades em se autorregular. O apoio das famílias foi fundamental para estabelecer um controle mais eficaz, sem recorrer a medidas drásticas, como o confisco”, conta a diretora Claudia Tricate.
A escola limitou o acesso ao Wi-Fi para redes sociais durante as aulas, preservando espaços para que os estudantes desenvolvam autonomia no gerenciamento do próprio tempo, preparando-os para a vida adulta.
Já a paulistana Escola Tarsila do Amaral adota uma abordagem focada nas interações offline, especialmente com as crianças mais novas. De acordo com Patrícia Bignardi, coordenadora pedagógica, a proposta da escola valoriza as experiências lúdicas e as conexões sociais sem o uso de dispositivos.
“Procuramos estimular brincadeiras e atividades sem tecnologia desde cedo, promovendo uma introdução gradual ao mundo digital.” Patrícia alerta para os riscos de iniciar o uso excessivo de telas na infância, quando vídeos são frequentemente utilizados para entreter as crianças em situações como refeições fora de casa ou viagens, substituindo interações mais ricas, como conversas ou brincadeiras.
Ela também reconhece que, com adolescentes, o desafio de regular o uso dos dispositivos se intensifica conforme aumentam sua autonomia e acesso à tecnologia.
A Escola Vera Cruz, em SP, por sua vez, decidiu implementar uma medida experimental: dias inteiros sem celulares e smartwatches, tanto para alunos quanto para profissionais. Daniel Helene, coordenador pedagógico do fundamental 2, explica que a proposta foi desenvolvida em conjunto com os estudantes, envolvendo-os ativamente nas decisões.
“Com essa iniciativa, queremos que os alunos percebam os benefícios de um tempo desconectado e aprimorem habilidades sociais e emocionais que vão além do universo digital.” Daniel ressalta que a participação das famílias tem sido essencial para que essa experiência se consolide, abrindo espaço para discussões sobre como equilibrar o uso da tecnologia na rotina escolar e familiar.
Essas experiências mostram que, como indicado no início desta matéria, a questão do celular vai muito além de proibições e regras rígidas. Como observa Sandra, do Gracinha, o desafio envolve também a saúde mental e o desenvolvimento socioemocional dos alunos: “a formação de vínculos sociais e a capacidade de lidar com frustrações e conflitos são essenciais para o crescimento. A escola precisa ir além do ensino de conteúdos, ajudando os alunos a desenvolverem habilidades para interagir com o mundo, o que inclui a adoção de um uso responsável da tecnologia.”
Fonte: Revista Educação
Comportamento
Oito em cada 10 brasileiros de nove a 17 anos que usam internet têm celular próprio
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1 mês atrásno
27 de outubro de 2024Por
Fato novo
Número é da pesquisa TIC Kids Online Brasil 2024, que mapeia hábitos e riscos da presença de crianças e adolescentes no ambiente virtual; dados também mostram que, em geral, quanto maior a faixa etária, maior assiduidade no uso de redes sociais
O uso frequente de celular por crianças e adolescentes tem levantado uma série de debates — incluindo a discussão sobre a proibição da utilização dos dispositivos em sala de aula. Números da pesquisa TIC Kids Online Brasil 2024, que mapeia hábitos e riscos dessa população no ambiente virtual, demonstram que essa presença digital tem sido, de fato, ampla: hoje, 93% das crianças e jovens de nove a 17 anos são usuários de internet no país, e 81% deles possuem celular próprio.
A desigualdade entre classes socioeconômicas, porém, continua: enquanto nas classes AB quase a totalidade da população dessa faixa etária possui aparelho celular (97%), o número cai para 80% na classe C e 77% nas D e E. A pesquisa TIC Kids Online foi divulgada ontem, 23, no 9º Simpósio Crianças e Adolescentes na Internet, realizado em São Paulo. O levantamento é realizado desde 2012.
A edição deste ano também mostrou que, entre os usuários de internet de nove a 17 anos, 86% utilizam a rede para fazer trabalhos escolares e 76% usam redes sociais. Os números aumentam de acordo com a faixa etária: entre adolescentes de 15 a 17 anos, 90% declaram usar redes sociais; já no caso de crianças de nove e 10 anos, esse número cai para 47%.
Uso excessivo e desafios da mediação
A pesquisa indica uma tendência dos adultos responsáveis em dar mais autonomia na utilização do dispositivo de acordo com o avançar da idade. Ainda assim, a posse do aparelho celular alerta para um maior desafio de mediação. Foi o que afirmou a professora Inês Vitorino, que integra o Grupo de Pesquisa da Relação Infância, Adolescência e Mídia (Grim) da Universidade Federal do Ceará (UFC), durante o painel de exposição dos dados no simpósio em São Paulo.
“Isso significa que essa criança pode estar sozinha no contato também com estranhos; que pode acessar conteúdos inadequados. Claro que podem estar com restrições técnicas feitas pelos pais, mas a gente sabe que essas restrições não são, muitas vezes, nem do conhecimento hegemônico e nem do uso da maioria”, afirmou.
Segundo o estudo, 34% dos responsáveis relatam usar recursos para bloquear ou filtrar alguns tipos de sites. Nesse caso, também há diferenças significativas de acordo com a idade: para crianças de nove e 10 anos, o número é de 45%; 11 e 12 anos, 48%; já para os mais velhos, o número cai, sendo 24% para aqueles de 15 a 17 anos e 26% para aqueles que têm 13 e 14 anos.
Ao longo do painel, a professora Inês Vitorino também alertou para o desafio da curadoria de conteúdos. Isso porque, de acordo com o estudo, além da utilização da internet para fazer trabalhos escolares, crianças e adolescentes também usam a rede amplamente para ouvir música (86%) e assistir a vídeos, programas, filmes ou séries (84%), além de jogar online (78%).
Segundo a professora, em muitos casos, o conteúdo que chega para a criança ou adolescente não é adequado à idade, não tem filtros etários e nem uma política de recomendação colaborativa.
“A política de recomendação que essas crianças recebem é uma curadoria feita de forma empresarial, conforme os interesses que prevalecem em cada uma dessas companhias e dessas plataformas”, afirmou Inês Vitorino.
Sobre o uso excessivo, o estudo mostrou que 24% dos usuários de internet entre 11 e 17 anos declararam ter tentado passar menos tempo na rede, mas que não conseguiram. Além disso, 22% afirmaram que se pegaram navegando sem estar realmente interessados no que viam, e 15% relataram que deixaram de comer ou dormir por causa da internet.
Situações ofensivas
A pesquisa também mapeou a experiência de situações desagradáveis por crianças e adolescentes no ambiente virtual. Segundo o estudo, 29% relataram ter vivenciado situações do tipo (ofensivas, que não gostaram ou chatearam). Em contrapartida, apenas 8% dos responsáveis relataram que acreditam que a criança ou adolescente viveu uma situação incômoda na internet.
Entre os usuários de 11 e 17 anos que relataram ter vivido alguma situação ofensiva, 31% afirmaram que contaram o ocorrido para o pai ou responsável; 29% disseram que o fizeram para amigo ou amiga da mesma idade; já 13% não contaram para ninguém.
Sobre a pesquisa
A TIC Kids Online Brasil 2024 ouviu 2.424 crianças e adolescentes de nove a 17 anos e o mesmo número de responsáveis. Os dados foram coletados entre março e agosto de 2024.
Os resultados foram expostos no 9º Simpósio Crianças e Adolescentes na Internet no dia 23 de outubro, em São Paulo. O evento foi promovido pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br) e o Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br), e correalizado pelo Instituto Alana, pelo Centro de Ensino e Pesquisa em Inovação da FGV Direito SP (CEPI FGV Direito SP) e pela SaferNet Brasil.
Fonte: Revista Educação
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