Estudo da Fiocruz e UFBA mostra que o Bolsa Família está associado a queda de até 56% na incidência de Aids e 55% na mortalidade entre mulheres em situação de vulnerabilidade. Efeitos são mais fortes entre mães negras, pobres e com maior escolaridade
O Programa Bolsa Família está associado a uma redução significativa nos casos e mortes por Aids entre mulheres em situação de vulnerabilidade social. É o que revela um estudo publicado na prestigiada revista Nature Human Behavior, conduzido pelo projeto DSAIDS — parceria entre a Fiocruz e o Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia (UFBA).
A análise, que avaliou dados de 12,3 milhões de mulheres de baixa renda entre 2007 e 2015, focou em mães e filhas beneficiadas pelo programa e demonstrou impactos profundos na saúde pública.
Quedas expressivas em incidência e mortalidade
Os resultados mostram:
- Entre filhas de beneficiárias:
- 47% de redução na incidência de Aids;
- 55% de queda na mortalidade pela doença.
- Entre mães:
- 42% menos novos casos;
- 43% de redução nas mortes.
Impacto ainda maior em grupos com múltiplas vulnerabilidades
O efeito foi mais acentuado entre mulheres que enfrentam desigualdades acumuladas. Destaque para:
- Mães negras ou pardas, em extrema pobreza, com ensino superior completo;
- Redução de 56% na incidência de Aids nesse grupo.
“O maior impacto foi observado entre mães pardas/pretas, extremamente pobres, mas com ensino superior completo, que apresentaram uma redução de 56% na incidência da doença”, destaca a pesquisadora Andréa Ferreira da Silva, do Cidacs/Fiocruz Bahia, uma das autoras do estudo.
Condicionalidades como fator de prevenção
Os pesquisadores apontam que as condicionalidades do Bolsa Família — como frequência escolar, acompanhamento pré-natal, vacinação, exames de rotina e participação em ações de educação em saúde — foram fundamentais para os resultados.
Ações voltadas à prevenção sexual e reprodutiva, em especial, podem ter contribuído para o aumento do acesso a testes, diagnóstico precoce e tratamento adequado.
Metodologia robusta com dados de 100 milhões de brasileiros
A coorte foi construída a partir do Centro de Integração de Dados e Conhecimento para Saúde (Cidacs/Fiocruz Bahia), com cruzamento de bancos de dados do:
- Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan);
- Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM).
Foram analisadas 1,35 milhão de filhas e 10,9 milhões de mães, considerando diferentes combinações de diagnóstico e status socioeconômico.
Bolsa Família: além da renda, impacto em saúde e equidade
Relançado em 2023 com reajustes e critérios mais inclusivos, o Bolsa Família é o maior programa de transferência de renda do Brasil. Além de garantir proteção financeira, ele articula políticas de saúde, educação e assistência social, promovendo acesso a direitos básicos.
Este estudo reforça que o programa não apenas combate a pobreza, mas também reduz disparidades em saúde, especialmente para populações historicamente marginalizadas.
Com informações: MDS, Fiocruz e UFBA