O Ministério da Defesa e as Forças Armadas do Brasil anunciaram o cancelamento da Operação Formosa 2025, principal exercício militar da Marinha previsto para ocorrer entre setembro e outubro em Formosa (GO), com a participação dos Estados Unidos. A decisão, tomada após reunião entre os comandantes das Forças Armadas e o ministro José Múcio, é uma resposta direta ao crescente desalinhamento estratégico entre os dois países.
A medida foi adotada após os EUA cancelarem unilateralmente, em 23 de julho, a Conferência Espacial das Américas, evento conjunto com a Força Aérea Brasileira (FAB) que seria realizado em Brasília. A ausência de justificativa oficial e a falta de diálogo prévio foram interpretadas como um sinal de desrespeito à soberania brasileira.
Escalada de tensões no campo militar e comercial
O rompimento ocorre em um contexto de intensificação das tensões em múltiplos fronts:
- Comercial: com a política de “tarifaço” de Donald Trump, que impôs sobretaxas de 50% sobre parte das exportações brasileiras;
- Militar: com o envio de três destróieres norte-americanos, equipados com mísseis guiados, e quatro mil fuzileiros navais para águas do Caribe próximas à Venezuela, sob a justificativa de “combate ao narcotráfico”;
- Diplomático: o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, respondeu com a mobilização de mais de 4 milhões de milicianos, denunciando uma ameaça à soberania nacional.
O Brasil tem manifestado preocupação com a militarização da região, reforçando que ações unilaterais no hemisfério podem desestabilizar a América do Sul.
Pouso suspeito de aeronave da CIA em Porto Alegre
Outro episódio agravou o clima de desconfiança: no dia 19 de agosto, uma aeronave norte-americana sem identificação pousou no aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre (RS). O modelo é comumente utilizado em missões da CIA, e o pouso não foi previamente informado às autoridades brasileiras — uma violação clara aos protocolos de soberania aérea.
Cancelamento da Operação Core e reorientação estratégica
Além da Formosa 2025, também foi cancelada a segunda fase da Operação Core, que envolveria o Comando Militar do Nordeste. Outros países como China, França, Bolívia, Paraguai, Namíbia, Chile e Reino Unido, que participariam como observadores ou com tropas, foram informados da suspensão.
O governo brasileiro justificou o cancelamento com o “corte de gastos”, mas fontes do Ministério da Defesa indicam que a decisão é estratégica, não financeira. O foco agora está em iniciativas nacionais e regionais, como:
- COP30, em Belém (PA), com investimentos em segurança ambiental e logística;
- Operação Atlas 2025, um exercício integrado da Marinha, Exército e Aeronáutica na região amazônica, com meios terrestres, aéreos e fluviais, para testar a capacidade operacional em territórios desafiadores.
Um recado claro: soberania em primeiro lugar
O cancelamento dos exercícios com os EUA envia um sinal inequívoco: o Brasil não aceitará ações que comprometam sua autonomia estratégica ou a estabilidade da América do Sul.
Enquanto os EUA intensificam sua presença militar no hemisfério, o Brasil reafirma seu compromisso com a cooperação multilateral, a não intervenção e a defesa da soberania regional.
Com informações: O Estado de S. Paulo / Revista Fórum