Para Suely Araújo, coordenadora de Políticas Públicas da organização, a expansão da produção de petróleo, especialmente na Foz do Amazonas, é problemática em meio à crise climática, insegura ambientalmente e baseada em uma lógica equivocada de necessidade de novas reservas
A coordenadora de Políticas Públicas do Observatório do Clima, Suely Araújo, defendeu que o Brasil deveria adotar uma estratégia de contenção da produção de petróleo para preservar reservas futuras, em vez de buscar a expansão em meio à crise climática global. Em entrevista à Rádio Brasil de Fato, Araújo criticou a exploração na Foz do Amazonas e a narrativa que sustenta o aumento da produção de combustíveis fósseis.
Críticas à Expansão Petroleira
Suely Araújo, que também foi presidente do Ibama entre 2016 e 2018, questiona a lógica de necessidade de novas reservas, como é o caso da Foz do Amazonas, citada como alternativa à queda do pré-sal.
“Se nós estamos exportando mais da metade do que nós produzimos, significa que está sobrando petróleo. O país deveria conter a produção agora, até para ter reservas daqui a dez anos, quando precisar, se é que vai precisar”, afirmou.
A especialista lamenta o que chamou de “estratégia deliberada” para sustentar a expansão petroleira em plena emergência climática. Ela lembra que os combustíveis fósseis são os grandes responsáveis pelo aquecimento global e criticou o Brasil por ser um megaprodutor que busca expandir ainda mais sua atuação no mercado global, exportando mais da metade do que produz.
Insegurança e Royalties na Foz do Amazonas
Araújo reforça que a região da Foz do Amazonas é de alta complexidade ambiental e que os riscos de acidentes de exploração ainda não foram devidamente resolvidos.
Além dos riscos ambientais, ela considera “ilusória” a promessa de royalties imediatos para a região com a exploração de novos blocos. A especialista explica que, mesmo que se descubra petróleo no Bloco 59, o processo é longo:
“Royalties na região do Bloco 59, se é que vão achar petróleo, só virão daqui a uma década. Entre a licença de perfuração, se acharem petróleo e se acharem condições suficientes para a produção, a licença de produção, em geral, demora dez anos. Então não vem royalties tão cedo para a região e os problemas sociais já estão lá.”
Transição Energética com Justiça
A coordenadora do Observatório do Clima defende que a transição energética deve ser progressiva e guiada pelos princípios da justiça climática e social.
Para ela, a solução climática não está ligada aos combustíveis fósseis, mas sim no abandono progressivo deles, com um cronograma claro de descarbonização. O foco deve ser a migração para fontes renováveis, como eólica e solar, garantindo que o processo seja acompanhado dos devidos cuidados socioambientais.
Fonte: Brasil de Fato