Um novo capítulo na arquitetura financeira global está sendo escrito. O BRICS Pay, iniciativa dos países do BRICS — Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul —, surge como uma alternativa estratégica ao sistema financeiro dominado pelo dólar e por redes como o SWIFT. Mais do que uma plataforma de pagamentos, o projeto representa um movimento concreto rumo a uma ordem financeira multipolar, com menor dependência das estruturas ocidentais.
O que é o BRICS Pay?
Lançado em 2018 pelo Conselho de Negócios do BRICS, o BRICS Pay é um sistema de mensageria de pagamentos descentralizado e independente, projetado para permitir que transações internacionais sejam realizadas diretamente em moedas locais, eliminando a necessidade de conversão em dólar.
O objetivo é tornar os pagamentos entre os países do bloco mais seguros, rápidos, baratos e soberanos, fomentando o comércio e a cooperação econômica entre nações que, juntas, representam mais de 40% da população mundial e cerca de 37% do PIB global.
Tecnologia por trás: o DCMS
O coração do BRICS Pay é o DCMS (Decentralized Cross-Border Messaging System), desenvolvido por cientistas da Universidade Estadual de São Petersburgo (Rússia). Diferente de sistemas centralizados, o DCMS opera sem um servidor ou hub central — cada participante gerencia seu próprio nó, aumentando a resistência a censura, interferência externa ou bloqueios.
Principais características técnicas:
- Ausência de taxas obrigatórias: os participantes decidem se cobram ou não por transações;
- Roteamento automático: conecta usuários mesmo sem ligação direta;
- Alta capacidade: até 20 mil mensagens por segundo;
- Criptografia e assinatura digital: garantem segurança e transparência;
- Código aberto (open source): previsto após fase de testes, para fomentar confiança e adoção.
Por que o BRICS Pay importa?
O contexto geopolítico impulsiona o projeto. Países como Rússia e Irã, alvo de sanções econômicas dos EUA, veem no BRICS Pay uma forma de contornar o bloqueio ao SWIFT e manter operações financeiras internacionais. A Rússia tem sido uma das maiores defensoras do sistema.
Mas o projeto vai além das sanções. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva já defendeu a necessidade de um sistema financeiro mais justo e multipolar, chegando a propor uma moeda comum do BRICS — ideia ainda em discussão, mas não adotada oficialmente, conforme a Declaração de Kazan (2024).
Complemento, não substituto
O BRICS Pay não pretende substituir o SWIFT, o CIPS (China) ou o Pix (Brasil), mas sim integrá-los. Ele atua como um gateway que conecta sistemas nacionais, criando uma rede interoperável e resiliente.
Testes realizados no Fórum de Negócios do BRICS em Moscou (2024) mostraram engajamento significativo, indicando que a plataforma já está em fase avançada de desenvolvimento.
Um passo rumo à desdolarização
O BRICS Pay é mais do que uma inovação técnica: é uma declaração geopolítica. Ele reflete a determinação das economias emergentes de construir infraestruturas financeiras soberanas, adaptadas aos seus interesses e menos vulneráveis à volatilidade e ao poder de veto do Ocidente.
Com previsão de operacionalização plena ao longo de 2025, o sistema pode acelerar a desdolarização do comércio internacional e reconfigurar o equilíbrio de poder no sistema financeiro global.
Com informações: BRICS Business Council, fontes acadêmicas e Revista Fórum