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Cliques, Tempo em Reunião e Tela ao Vivo: Os Programas que vigiam funcionários em Home Office

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A demissão em massa no Itaú reacendeu o debate sobre o nível de vigilância no trabalho remoto. Programas como Teramind e XOne permitem monitoramento de tela em tempo real, rankings de produtividade e alertas de comportamento, levantando questões sobre a LGPD e o clima de pressão no trabalho

O recente anúncio da demissão de mais de mil funcionários em regime remoto ou híbrido pelo Itaú revelou o quão detalhada pode ser a vigilância digital no home office. O banco afirmou ter medido a atividade dos colaboradores por meses, analisando o uso de mouse, teclado, chamadas de vídeo e outras métricas.

A BBC News Brasil testou e analisou softwares de monitoramento como o XOne e o Teramind, que exemplificam a capacidade dessas ferramentas de ir muito além do registro de horas.

O Poder da Vigilância em Tempo Real

Os testes demonstraram que esses programas podem fornecer uma visão granular das atividades do funcionário:

  • Visão em Tempo Real: A Teramind oferece um recurso que mostra as telas dos funcionários ao vivo (live activity overview).
  • Controle de Produtividade: Ambos os softwares monitoram o tempo de inatividade (ocioso) e o tempo gasto em cada site ou aplicativo, gerando rankings de colaboradores com menor aderência à jornada. Essa métrica foi um dos motivos alegados pelo Itaú para as demissões.
  • Alertas Comportamentais: As plataformas podem identificar, de forma automatizada, ações que violem políticas, como entrar em sites de busca de emprego, usar a aba anônima ou enviar e-mails com dados sensíveis.
  • Geolocalização: O XOne, software citado pela imprensa como o utilizado pelo Itaú, também permite a geolocalização dos computadores monitorados.

Embora o Itaú tenha negado a captura de telas, áudio ou vídeo (por possível violação da LGPD), o Ministério Público do Trabalho (MPT) instaurou um procedimento investigatório para obter esclarecimentos sobre o episódio das demissões.

Clima de Pressão e Questões Legais

O uso desses softwares tem um impacto psicológico direto no ambiente de trabalho. Ex-funcionários do Itaú relataram que os colegas que permaneceram estão se sentindo pressionados, chegando a levar o computador “até para beber água” por medo de serem considerados inativos pelo sistema.

O monitoramento também tem sido contestado na Justiça. A Teramind foi citada em ações trabalhistas em São Paulo, onde trabalhadores alegavam que a plataforma transformava o controle de dados em um rígido controle de jornada, registrando horários online/offline e tempo ocioso.

A LGPD e a Transparência

Pedro Henrique Santos, pesquisador da Data Privacy Brasil, explica que a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) não proíbe o monitoramento, pois ele é um direito do empregador na relação trabalhista. No entanto, ele deve ser:

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  1. Consentido e Comunicado: O empregador precisa informar o funcionário sobre a vigilância de forma clara e transparente, preferencialmente no momento da contratação.
  2. Proporcional: As empresas devem avaliar se a coleta de tantos dados é, de fato, indispensável para a gestão ou se o mesmo resultado pode ser alcançado com menos invasão à privacidade.

Ainda que as equações de produtividade dos softwares funcionem, a forma como os dados são coletados e comunicados é o ponto crucial para a legalidade e a ética no trabalho remoto.


Fonte:BBC News Brasil

 

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