Saúde
Entenda o motivo por trás de diabéticos terem a pele mais ressecada
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2 semanas atrásno
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Para Beatriz Scher, diagnosticada com diabetes tipo 1 desde os 6 anos, a rotina de cuidados é essencial para evitar os quadros de desidratação
O Brasil possui, aproximadamente, 20 milhões de diabéticos, de acordo com o levantamento recentemente divulgado pelo IBGE, através dos resultados concluídos pelo Censo 2022. Já a IDF (Federação internacional de Diabetes), entidade que reúne mais de 240 associações de diabetes em mais de 161 países e territórios, afirma que o Brasil está em 5º lugar no ranking mundial de países com mais pessoas com diabetes no geral e o 3º lugar quando se fala em diabetes Tipo 1. A patologia que provoca diferentes comorbidades no dia a dia, tem como uma das principais consequência o ressecamento da pele.
Beatriz Scher, diabética, criadora do e-commerce Biabética e do canal de educação em diabetes com conteúdos científicos sobre rotina, conta que é comum que os diagnosticados com a patologia tenham a pele mais desidratada, com rachaduras e às vezes até mais esbranquiçada. Outro sinal, esse mais grave, é o surgimento de machucados em alguns locais por conta do alto ressecamento.
“Há alguns estudos que explicam os motivos para que esses sintomas sejam comuns na rotina de diabéticos. As principais causas para o ressecamento da pele, por exemplo, são as hiperglicemias. Isso porque os diabéticos podem ter os níveis de açúcar no sangue mais altos que o normal em alguns momentos mesmo seguindo o tratamento correto. Vale ressaltar que os episódios de hiperglicemia podem ocorrer por diversos fatores, os diabéticos sempre estarão sujeitos a eles”, pontua Bia.
Para a criadora do perfil @biabetica, quando o nível do açúcar no sangue fica muito elevado, o corpo tende a perder mais água para tentar manter o equilíbrio. Uma das principais consequências dessa ação natural do organismo, é a desidratação da pele, já que também reflete na maneira que o órgão produz seus óleos naturais. Além disso, com uma maior frequência dos episódios de hiperglicemia, mais o tecido poderá ficar ressecado.
“Sem a produção dos óleos naturais, a pele também pode perder a sua barreira de proteção, ficando mais vulnerável e assim permitindo que a água saia dela. Outro fator importante, é que o diabetes pode prejudicar a circulação sanguínea, especialmente nos vasos sanguíneos menores. Quando o sangue não circula corretamente, também provoca uma dificuldade maior na cicatrização de feridas, aumento o risco de infecções”, alerta Scher.
Bia, que é formanda em Biomedicina, explica que o diabetes também afeta na produção do colágeno, a proteína responsável por promover uma maior firmeza e elasticidade da pele. Com o tempo, ele pode ficar mais ressecado e rígido, também sendo um dos fatores que pode provocar o ressecamento da pele, especialmente em locais que possuem mais atrito, como pés e cotovelos.
Como reverter os quadros de ressecamento:
1. Beba mais água: com uma maior quantidade de água ingerida é possível manter a pele mais hidratada.
2. Evite tomar banho muito quente: a água numa temperatura elevada pode agravar o quadro de ressecamento.
3. Use protetor solar: os raios solares, principalmente em dias mais quentes e horários de pico, podem desidratar a pele.
4. Use hidratantes: o produto além de hidratar, também pode retirar o aspecto de aspereza, o uso deve ser diário.
Sobre Beatriz Scher (@biabetica):
Conhecida como a “influencer da diabetes”, a carioca de 30 anos começou a se aventurar na produção de conteúdo sobre a condição, em 2016. Diagnosticada aos seis anos com diabetes tipo 1, hoje seu objetivo é ser uma porta-voz em prol da conscientização da doença. Através do @biabetica, que conta com mais de 50 mil seguidores no Instagram, Beatriz Scher compartilha a rotina de uma pessoa com a condição, além de educar sobre tratamentos, aparelhos e tudo relacionado ao universo da diabetes. O projeto rendeu, inclusive, uma nova empreitada: a loja Biabética, e-commerce especializado em acessórios alegres e divertidos para pessoas com a condição.
Fonte: Broto Comunicação – Beatriz de Mello
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Distrito Federal
Está com sintomas de dengue? Saiba quando procurar uma UBS ou uma UPA
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9 minutos atrásno
11 de novembro de 2024Por
Fato novo
Aos primeiros indícios da doença, a orientação é ir até a unidade básica de saúde mais próxima da sua residência; já a unidade de pronto atendimento deve ser buscada ao apresentar sinais graves
O período chuvoso estabelecido no Distrito Federal nas últimas semanas acende o alerta em relação a possíveis criadouros do mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue, que se reproduz em focos de água parada. Mais do que atuar de forma a prevenir e combater a reprodução do mosquito, é importante que a população esteja atenta aos primeiros sinais da doença para já dar início ao tratamento.
A porta preferencial de atendimento é a Atenção Primária. O paciente deve procurar o atendimento na unidade básica de saúde (UBS) mais próxima da sua residência ao sentir sintomas como dor de cabeça, dores no corpo e nas articulações, mal-estar, fadiga, perda de apetite e náuseas associados a febre de 38 graus e manchas avermelhadas pelo corpo. “Esses sinais são considerados leves, portanto, o paciente deve procurar uma UBS”, orienta a coordenadora de Atenção Primária à Saúde da Secretaria de Saúde (SES-DF), Sandra Araújo de França.
Na unidade básica, o usuário será recepcionado por um profissional da enfermagem que fará a avaliação dos sintomas e o teste PCR que identifica o tipo de vírus – até hoje, o DF só teve contato com os DENVs 1 e 2, sorotipos mais conhecidos da dengue. “Após o atendimento, verificou que é dengue, o paciente vai ser notificado e vai receber um cartão de acompanhamento com orientações, sinais de alerta e a data que ele deve voltar para uma segunda avaliação”, explica Sandra. Em caso de necessidade, o paciente pode iniciar a hidratação venosa em uma das 176 unidades básicas e receber um pacote de hidratação oral para a continuidade em casa.
“Nossa intenção neste período de chuva propriamente dito é trazer sempre uma reflexão para que as pessoas deixem que os agentes comunitários adentrem os lares para fazer as orientações” afirma Sandra Araújo de França, coordenadora de Atenção Primária à Saúde
“Quando a gente faz a notificação também acionamos um agente comunitário de saúde para fazer a visita ao domicílio para verificar se naquela região há focos do mosquito. O objetivo é mitigar o mais rápido possível para evitar novos diagnósticos de dengue”, diz a coordenadora.
É importante que os moradores recepcionem os profissionais e sigam as orientações de prevenção que envolvem a destinação adequada de resíduos e a eliminação de pontos de água armazenada. “Nossa intenção neste período de chuva propriamente dito é trazer sempre uma reflexão para que as pessoas deixem que os agentes comunitários adentrem os lares para fazer as orientações. Precisamos a cada dia aumentar a nossa prevenção. Todo mundo tem que fazer a cada dia mais”, acrescenta.
Casos considerados mais graves são direcionados para a unidade de pronto atendimento (UPA). O paciente pode ser encaminhado pela própria UBS que assume a transferência de responsabilidade, ou ele mesmo procurar uma das 13 unidades do DF quando tiver sintomas como dores intensas na barriga, vômitos persistentes, sangramentos no nariz, na boca ou nas fezes, tonturas e cansaço extremo. “Esses são sinais clássicos que vão ser recepcionados nas UPAs na perspectiva de uma avaliação e uma consulta mais direcionada”, revela.
A empresária Mariana Ângelo, 38 anos, foi diagnosticada com dengue há pouco tempo. Ela conta que fez o acompanhamento na UBS de Vicente Pires. “Fui atendida rapidamente, com solicitação de exame de sangue e, por estar desidratada, recebi soro e vitaminas. Retornei a cada três dias para reavaliação das plaquetas e acompanhamento dos exames. O atendimento foi ágil e extremamente cuidadoso, com medicação intravenosa para minha recuperação”, afirma.
Fonte: Agência Brasília
Mundo
ONU quer reforço da vacinação contra sarampo nas Américas para evitar surtos
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1 semana atrásno
4 de novembro de 2024Por
Fato novo
Boletim da agência regional de saúde indica 14 mil casos suspeitos da doença até outubro, com 376 confirmados em oito países; 57% deles ocorreram em não-imunizados e 28% em pessoas com status de imunização desconhecido
A Organização Pan-Americana da Saúde, Opas, lançou um alerta epidemiológico devido à identificação de novos focos de sarampo nas Américas.
A agência apela aos países da região que intensifiquem seus esforços de vacinação e vigilância.
57% dos casos em pessoas não vacinadas
Até 5 de outubro, foram registrados mais de 14 mil casos suspeitos da doença, com 376 confirmados em oito países. Os Estados Unidos lideram a lista com 267 notificações, seguido por Canadá, com 82, e Argentina, com 11.
A faixa etária mais afetada inclui crianças de um a nove anos e jovens de 20 a 29 anos. A agência informa que 57% dos casos confirmados ocorreram em pessoas que não foram vacinadas e 28% naquelas cujo status de vacinação é desconhecido.
O sarampo é uma doença viral altamente contagiosa que afeta principalmente crianças e pode causar complicações perigosas, incluindo diarreia grave, infecções de ouvido, cegueira, pneumonia e uma inflamação do cérebro conhecida como encefalite. Algumas dessas complicações podem ser fatais.
A agência da ONU identificou um aumento de casos, desde fevereiro deste ano, mas houve uma tendência geral de diminuição no começo de abril. No entanto, as notificações seguem sendo confirmadas nos meses seguintes.
Lacunas de imunidade
Ao longo do ano, a Opas alertou sobre o declínio da cobertura vacinal contra sarampo, rubéola e caxumba, prevenidas com o imunizante conhecido como tríplice viral.
Em 2023, a cobertura regional para a primeira dose desta vacina foi de 87% e de 76% para a segunda dose, ambos os valores abaixo do limite ideal de 95% recomendado para prevenir surtos.
Em resposta à situação, a Opas insta os Estados-membros a implementar estratégias de busca ativa para detectar casos, bem como realizar atividades complementares de vacinação para fechar as lacunas de imunidade existentes.
Resposta coordenada a surtos
Os viajantes também são aconselhados a se vacinar antes de visitar áreas onde a transmissão do sarampo foi documentada.
Globalmente, a doença continua sendo uma das principais causas de morte entre crianças pequenas, apesar da existência de uma vacina segura e eficaz para preveni-la.
A Opas está apoiando os países na implementação de medidas para controlar a propagação do vírus e proteger as populações mais vulneráveis, além de incentivar a colaboração para garantir uma resposta coordenada a surtos.
Ciência
O que são os “químicos eternos”, e por que eles estão em todo lugar – até no sangue
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2 semanas atrásno
26 de outubro de 2024Por
Fato novo
Os compostos PFAS são muito usados pela indústria em embalagens, produtos impermeáveis e anti-aderentes. Mas podem causar danos graves à saúde. Entenda as marcas dessa contaminação invisível
Algo estranho aconteceu com o gado do americano Wilbur Tennant depois que a indústria química DuPont construiu um aterro próximo à sua fazenda na Virgínia Ocidental, no fim dos anos 1990. Sem motivo aparente, o rebanho desenvolveu feridas no corpo e começou a se comportar de maneira agressiva. Quase metade dos animais morreu. Após gravar vídeos mostrando a presença de sujeira e espuma no riacho (antes cristalino) que corria pela fazenda, Tennant procurou veterinários, políticos, jornalistas e até a polícia. Ninguém deu bola. Decidiu, então, pedir ajuda para o neto de uma vizinha que, supostamente, era um importante advogado ambiental de Ohio.
Mesmo não sendo o tipo de advogado que Tennant buscava – na verdade, ele trabalhava em um escritório focado em defender a indústria química –, Robert Bilott aceitou representar o fazendeiro. A ação foi o início de uma longa batalha contra a DuPont. O advogado descobriu que a empresa vinha enchendo o aterro com uma substância da qual nunca tinha ouvido falar: PFOA. Sigla para ácido perfluoro-octanoico, a combinação de carbono e flúor era usada na fabricação do teflon de panelas antiaderentes – e é altamente tóxica.
O PFOA faz parte de uma categoria de substâncias chamada PFAS – ou “químicos eternos”. Elas são compostos orgânicos sintéticos (isto é, produzidos em laboratório) cuja principal característica são as ligações entre carbono e flúor. Enquanto a maioria das ligações químicas em compostos orgânicos envolve átomos de carbono e hidrogênio, nos PFAS o hidrogênio dá lugar ao flúor.
No caso dos perfluoralquilados, todos os átomos que seriam de hidrogênio são substituídos pelo flúor; já nos “poli”, nem todos. Se a ligação entre carbono e hidrogênio é considerada fraca, a combinação com flúor é forte, e permite que os compostos tenham cadeias mais longas. E ter cadeias de átomos mais compridas torna as substâncias mais resistentes à biodegradação. O apelido “químicos eternos”, portanto, não é exagero.
“São ligações muito difíceis de serem rompidas e degradadas no ambiente”, diz a professora do Instituto de Química da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Cassiana Carolina Montagner, especialista em química ambiental e segurança hídrica.
Essa união é o que proporciona características físico-químicas que tornam as substâncias tão especiais para a indústria: alta resistência e capacidade de repelir gordura e água ao mesmo tempo, e a temperaturas elevadas. Presentes em panelas antiaderentes e embalagens de papel para fast food, itens de higiene como fio dental, roupas impermeáveis, tintas, cosméticos diversos, ceras, revestimentos e até mesmo espumas para combate a incêndios, as PFAS se tornaram onipresentes.
Só que quase ninguém sabe disso. “Você não vai encontrá-las identificadas em rótulos ou na lista de ingredientes de um produto. Mas você pode procurar por palavras-chave como ‘à prova de água ou gordura’, ‘antiaderente’, ‘resistente a manchas’”, aponta Bilott, em entrevista exclusiva a GALILEU.
A onipresença em produtos comuns da vida moderna, no entanto, representa um empecilho. “A princípio, acreditava-se que eram uma solução barata e prática para problemas do dia a dia. E, cada vez mais, fomos nos acostumando com essa modernidade. Mas, na verdade, são soluções preparadas ou pensadas a partir desses compostos”, explica Montagner. Para completar, os PFAS são invisíveis, ao contrário da poluição plástica, por exemplo, que conseguimos enxergar. “A população não vê os PFAS, não sabe onde estão. Então, é muito difícil pedir que evitem usá-los”, opina.
Linha do tempo
- 1934
Precursor dos PFAS, o policlorotrifluoroetileno (PCTFE) é descoberto pela química alemã IG Farben. O termoplástico só chegou ao mercado em 1950, com o nome de Kel-F. Hoje, é conhecido como Neofl on PCTFE, e usado em componentes eletrônicos. - 1938
Na DuPont, cientistas criavam novos gases refrigerantes a base de fluorocarbono. Descobriram o politetrafluoretileno (PTFE) por acidente, quando uma amostra de fluorocarbono tetrafluoretileno formou uma cera branca. - 1945
A DuPont registra o “teflon”. Um dos primeiros usos do material foi no Projeto Manhattan, que criou a bomba atômica: o PTFE era usado para revestir válvulas e juntas dos canos que transportavam urânio na fábrica de Oak Ridge. - ANOS 1950
Produtos fluorocarbonados começam a ser produzidos em massa nos EUA. A DuPont monta uma fábrica de Teflon na Virgínia Ocidental e a 3M, que havia adquirido a patente para fabricar outros tipos de PFAS, inaugura duas plantas em Minnesota. - 1953
Uma amostra de ácido perfluoro-octanossulfônico (PFOS) produzida pela 3M cai no sapato de um químico, e cria um revestimento que repele óleo e água. Nascia o impermeabilizador Scotchgard, um dos produtos de maior sucesso da empresa. - 1954
O engenheiro francês Marc Grégoire decide revestir as panelas de sua esposa, Colette, com a substância PFTE, que usava para evitar o emaranhamento de sua linha de pesca. Nascia a primeira frigideira antiaderente do mundo, a “Tefal” (teflon e alumínio). - 1963
A Marinha americana começa a trabalhar com cientistas da química 3M no desenvolvimento de uma espuma sintética feita de PFAS para combater incêndios. O produto foi patenteado em 1967, com o nome AFFF (sigla em inglês para espuma aquosa formadora de filme). - 1998
O advogado Robert Billot, de Ohio, aceita representar o fazendeiro Wilbur Tennant, da Virgínia Ocidental, em um processo contra a DuPont pelo envenenamento do rebanho com produtos despejados da fábrica de sua cidade. - 2000
A 3M anuncia o fim da produção de PFOS e derivados, reconhecendo os riscos da substância para humanos e o meio ambiente. - 2012
Ação conjunta de 70 mil pessoas é movida contra a DuPont. Para embasar o processo, cientistas conduzem uma pesquisa na população americana. O resultado mostrou relação entre PFOA e o desenvolvimento de doenças como câncer e colesterol alto. - 2017
A DuPont faz um acordo coletivo de US$ 671 milhões para encerrar os cerca de 3500 processos individuais movidos por pessoas que tiveram contato com PFOA. - 2019
Documentos descobertos pela jornalista Sharon Lerner, revelam que a 3M já sabia, desde os anos 1970, que os PFAS se acumulavam no sangue humano e poderiam ser tóxicos para a saúde. - 2024
A agência ambiental americana determina que as companhias de saneamento providenciem a remoção de PFAS no tratamento de água no país.
As marcas visíveis dos PFAs
Desde os anos 1960, cerca de uma década depois da criação do PFOA, documentos da própria DuPont diziam que ela não deveria ser despejada na água, e apontavam relação entre o contato com o composto e o desenvolvimento de doenças como câncer de testículo, pâncreas e fígado, além do aumento da chance de problemas congênitos. Ainda assim, a empresa chegou a despejar mais de 7 mil toneladas de dejetos em tanques abertos, com contato direto com o solo.
Após quase dois anos de disputa, a multinacional americana chegou a um acordo com o fazendeiro no ano 2000. Mas Bilott não ficou satisfeito. Além de elaborar uma ação pública que resultou em uma multa de US$ 16,5 milhões à DuPont – o equivalente a 1,65% do lucro anual da empresa com a produção de PFOA, estimado em US$ 1 bilhão –, o advogado representou uma ação conjunta que motivou uma das maiores pesquisas epidemiológicas da história dos EUA. Cerca de 70 mil pessoas tiveram o sangue analisado para a presença de PFOA e os riscos associados à substância. Em 2012, o estudo determinou que havia um vínculo provável entre o contato com PFOA e o desenvolvimento de câncer de testículo e rim, doença da tireoide, colite ulcerativa, colesterol alto e pré-eclâmpsia (hipertensão arterial na gravidez).
Em 2017, a DuPont fez um acordo coletivo de US$ 671 milhões para encerrar os cerca de 3.500 processos individuais movidos por pessoas afetadas pela PFOA. Em abril de 2024, a história – que virou o filme O Preço da Verdade, de 2019, recém-incluído no catálogo brasileiro da Netflix – ganhou um novo capítulo. A agência ambiental americana determinou que os PFAS devem ser removidos da água nos Estados Unidos. Estima-se que indústrias dos EUA que se destacaram pela produção de PFAS, como DuPont, 3M e Chemours (uma subsidiária da DuPont), podem pagar até US$ 15 bilhões para ajudar a financiar melhorias em sistemas municipais para limpeza da água no país.
“É praticamente um consenso global que essas são ameaças para a saúde e o meio ambiente. E a rota mais direta para essas substâncias entrarem em nossos corpos é pela água”, afirma Bilott. “Mas demorou quase 25 anos para começarmos a regular substâncias como PFOA, e há pouco estamos falando sobre as outras. A batalha definitivamente não acabou.”
Se há sintomas, pode ser tarde demais
Uma vez que são difíceis de quebrar e estão em produtos que usamos todos os dias, é natural que tais moléculas deixem marcas em nossos corpos: em 2007, um estudo publicado na revista Environmental Health Perspectives analisou amostras da população americana com mais de 12 anos e identificou a presença dessas substâncias em mais de 98% delas.
“Acho que nunca vimos uma ameaça ambiental com a abrangência e escala como a que estamos lidando com PFAS. Esses compostos nunca estiveram no planeta e, agora, por causa do ser humano, contaminam, potencialmente, todos os setores”, diz Bilott.
Em um estudo feito em 2020, cientistas do Environmental Working Group estimaram a presença de PFAS na água de mais de 200 milhões de americanos. E, em 2024, pesquisadores da Universidade de Birmingham, na Inglaterra, revelaram que os compostos fluorados podem ser absorvidos pela pele. Eles usaram tecidos humanos artificiais para analisar o comportamento de 17 tipos de PFAS. 11 deles penetraram a pele em até 36 horas.
A lista de problemas para a saúde humana é longa. Começa com a batizada “gripe do Teflon”: nos anos 1950, trabalhadores das fábricas da DuPont que inalavam gases provenientes do aquecimento do PFTE (politetrafluoretileno, comercialmente conhecido como Teflon) eram acometidos por sintomas semelhantes ao de uma gripe: febre, dor de cabeça, calafrios, tosse seca, aperto no peito e, ocasionalmente, lesões pulmonares severas. Em 2016, um estudo da Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (IARC) associou o PFOA como um possível cancerígeno, com base em evidências de câncer de testículo e rins. E, a cada ano, o corpo de pesquisas sobre os efeitos da exposição a PFAS aumenta.
Em 2018, pesquisadores da Universidade Harvard e da Universidade do Sul da Dinamarca examinaram o sangue de mulheres americanas e identificaram a relação entre a concentração de PFAS no sangue e o surgimento de diabetes tipo 2. Em 2020, uma pesquisa do Instituto Nacional do Câncer, nos EUA, concluiu que há uma correlação entre a exposição ao PFOA e o risco de tumores em células renais. No mesmo ano, a Universidade de Indiana, nos EUA, encontrou evidências de que múltiplos compostos PFAS podem induzir estresse oxidativo (bagunçando a atuação dos sistemas de defesa antioxidante), são imunossupressores (“barram” a ação do sistema imune), podem induzir alterações epigenéticas (mudanças em vida no DNA) e influenciar a proliferação de células. Todas essas características aparecem em substâncias carcinogênicas.
Uma análise de 2022 que considerou estudos com roedores e pesquisas epidemiológicas da população dos EUA apontou evidências da relação entre PFAS e doenças no fígado. Outra pesquisa, publicada em 2023, associou a exposição a PFAS ao aumento de risco de câncer de tireoide. Em setembro do mesmo ano, um estudo feito com meninas de Ohio e da Califórnia mostrou que PFAS podem afetar hormônios reprodutivos e retardar o início da puberdade. Outro estudo com adolescentes, de março deste ano, identificou que a exposição a PFOS pode gerar problemas ósseos, como a osteoporose. E as vias pelas quais esses químicos chegam ao corpo humano vão além da água que bebemos. Também em 2024, uma pesquisa da Escola de Medicina de Dartmouth, nos EUA, identificou a presença de PFAS no plasma e no leite materno de mulheres grávidas do estado de New Hampshire que incluíram frutos do mar, ovos, café e arroz na dieta.
A grande quantidade de evidências científicas sobre PFAS reunidas nos EUA motivou uma abordagem mais restritiva no país. O estado de Minnesota, onde a gigante química 3M tem sua sede, passou a proibir o uso em embalagens de comida – algo que a Dinamarca faz desde 2019 –, e vai banir o uso de PFAS em 11 produtos, incluindo panelas, tapetes, fio dental, cosméticos e roupas de cama, já a partir do ano que vem. A ideia é vetar compostos do tipo por completo no estado até 2032. Em Massachusetts e Connecticut, o banimento total virá antes, em 2027 e 2028, respectivamente.
O movimento anti-PFAS nos EUA vem na esteira da “Lei Amara”, batizada em referência a Amara Strande. A jovem de 20 anos vivia no subúrbio de Oakdale, em Minnesota, e morreu em 2023 após 5 anos lutando contra um câncer raro no fígado. Ela defendia que a causa para sua doença tinha sido a exposição a PFAS.
Esses compostos nunca estiveram no planeta e, agora, por causa do ser humano, contaminaram potencialmente todos os setores — Robert Bilott, advogado americano especialista em causas ambientais
Brasil ainda engatinha
Em contraste com os EUA, o cenário no Brasil é marcado pela falta de informação. Embora seja signatário da Convenção de Estocolmo – tratado que busca regular os chamados Poluentes Orgânicos Persistentes (POPs), assinado por 186 países e em vigor desde 2004 –, o país enfrenta desafios no monitoramento e controle de químicos nocivos.
Um deles envolve o uso da sulfluramida. Desde 1993, o Brasil usa o agrotóxico como formicida. A degradação desse composto, no entanto, gera PFOS (ácido perfluorooctanoico sulfônico), que também está no guarda-chuva das PFAS. Entre 2004 e 2013, a média anual de produção de sulfluramida foi algo em torno de 30 toneladas – de 2003 a 2008, chegamos a ser um dos cinco maiores produtores de compostos precursores de PFOS e o terceiro em uso, atrás apenas da China e Bulgária.
Além da sulfluramida, outra fonte de PFAS no Brasil são misturas que contêm surfactantes, como o PFOA, usadas para extinguir incêndios que envolvem líquidos altamente inflamáveis – comuns em aeroportos, refinarias e portos. Publicada em 2022, uma análise detectou a presença de PFOA em sete das oito marcas de espuma extintora utilizadas para combater um incêndio no Porto de Santos. Apesar de a PFOA aparecer como um dos 30 POPs a serem banidos, informações sobre o uso no Brasil são praticamente inexistentes.
Durante os estudos para atualizar o Plano Nacional de Implementação da Convenção de Estocolmo (NIP, na sigla em inglês), publicado em 2023, o Ministério do Meio Ambiente (MMA) enviou ofícios a 1.368 empresas e associações questionando o uso da substância, mas não obteve resposta de nenhuma delas. Na base de dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), não há informações sobre importação ou exportação.
“Falta uma regulação no Brasil para a gestão de substâncias químicas. A gente não consegue ter a noção exata do que está sendo importado, exportado e muito menos produzido”, explica a coordenadora da atualização do NIP brasileiro, Thaianne Resende Henriques Fábio. Ela espera que parte dessa dificuldade seja resolvida com o Projeto de Lei 6.120/2019, aprovado no último dia 11 de setembro na Comissão de Meio Ambiente (CMA) do Senado. O texto cria o Inventário Nacional de Substâncias Químicas, para padronizar a nomenclatura dos mais de 16 mil compostos nas diversas bases de dados do país. “O [fato de o] Brasil ainda não ter uma regulação fere muito o setor frente aos outros países”, completa.
Mais grave ainda é a falta de estudos sobre o tema. “O Brasil está bem atrasado nos dados, e o motivo é financeiro. Temos poucos pontos de monitoramento e não temos programas nacionais [para pesquisa sobre PFAS]”, destaca a oceanóloga Juliana Leonel, professora da UFSC que assina um estudo de 2023 sobre a ameaça de compostos perfluorados ao oceano.
A ausência de informações sobre a ocorrência de PFAS em produtos no Brasil é notável — Trecho da conclusão de estudo publicado em 2022 por pesquisadores da UFRJ
Do pouco que se sabe, destaca-se o monitoramento do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente feito entre 2017 e 2018 na América Latina e no Caribe para determinar a eficácia da Convenção de Estocolmo na proteção da saúde humana e do meio ambiente. Publicado em 2021, o relatório identificou níveis altos de PFOS e PFOA em amostras coletadas no canal de São Vicente, no litoral paulista (a segunda maior concentração das substâncias dentre os 6 pontos analisados no continente), e em quantidades menores no Rio Amazonas.
Em 2022, uma revisão de 6 mil estudos globais feita por cientistas da UFRJ encontrou apenas dez pesquisas que investigaram a ocorrência de PFAS no Brasil. Destas, sete identificaram a substância em amostras biológicas (humanos, animais marinhos e eucaliptos) e três em amostras de água (em torneiras do Rio de Janeiro e Porto Alegre e na água superficial da Baía de Todos os Santos, na Bahia). Em 2023, cientistas da Unicamp identificaram, pela primeira vez, a presença de sete tipos de PFAS também nas bacias dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí, que se estende por 76 municípios e atende mais de 5,8 milhões de pessoas no estado de São Paulo.
Presentes em panelas antia- derentes e embalagens de papel para fast food, itens de higiene como fio dental, roupas impermeáveis, tintas, cosméticos diver- sos, ceras, revestimentos e até mesmo espumas para combate a incêndios, as PFAS se tornaram onipresentes — Foto: Davi Augusto
Presentes em panelas antia- derentes e embalagens de papel para fast food, itens de higiene como fio dental, roupas impermeáveis, tintas, cosméticos diver- sos, ceras, revestimentos e até mesmo espumas para combate a incêndios, as PFAS se tornaram onipresentes — Foto: Davi Augusto
“A ausência de informações sobre a ocorrência de PFAS em produtos no Brasil é notável. Além da falta de engajamento do setor industrial em fornecer informações sobre os usos listados de PFAS além da sulfluramida para a produção de formicidas, essa lacuna de informações é crítica para a conformidade nacional com a Convenção de Estocolmo”, escreveram os pesquisadores da UFRJ.
Se não sabemos ao certo onde os perfluorados estão, fica difícil tentar retirá-los da natureza. Leonel, da UFSC, explica que até existem técnicas para remover PFAS da água, mas somente em modo experimental. Além disso, custam caro: a estimativa da agência ambiental americana é que será necessário cerca de US$1,5 bilhão ao ano para as empresas de saneamento cumprirem a norma que obriga retirar PFAS da água. A soma ganha proporções ainda maiores em um país onde quase metade da população não tem acesso a saneamento básico. “Nossos tratamentos de água já não degradam compostos menos fortes. Não vão degradar os PFAs”, opina Montagner, da Unicamp.
Na visão da gerente da Divisão de Acordos Multilaterais da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), Lady Virginia Traldi Meneses, a questão não é apenas o monitoramento ambiental, mas a prevenção. “Temos que encontrar alternativas tecnológicas e de produtos, e promover o consumo sustentável”, diz a gerente, que também coordena o Centro Regional da Convenção de Estocolmo para Assistência Técnica e Transferência de Tecnologia para a Região da América Latina e Caribe. O centro funciona dentro da Cetesb, uma das principais referências do Brasil em pesquisas sobre POPs. Em 2021, a instituição iniciou um estudo de coleta, análise, metodologia e monitoramento de PFAS em amostras de solo e água em 10 pontos do Estado, com previsão de publicação em 2025. O objetivo é obter um diagnóstico para embasar ações no estado de São Paulo.
Desafio global
O número de substâncias no grupo das PFAS é grande: são mais de 10 mil compostos, dos quais mil são efetivamente usados em larga escala e 300 em maiores quantidades, segundo estima Leonel. Em 2021, uma pesquisa analisou 4.730 PFAS listados em um relatório de 2018, feito pela OCDE e o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma). A conclusão foi que, do total, somente 256 (menos de 6%) têm relevância comercial a nível mundial. Cabe ressaltar, no entanto, que os pesquisadores que assinam o levantamento eram empregados de companhias que manufaturam compostos perfluorados.
“Quando finalmente chegamos ao ponto de regular algumas das substâncias, as empresas começaram a criar químicos parecidos, que continuam parte da família de PFAS. E, agora que a gente sabe que existem compostos com seis, quatro ou mesmo dez carbonos, os produtores dos compostos dizem ‘toda as pesquisas focam em cadeias de oito carbonos’”, explica o advogado Bilott. “Então, parte do que estamos vendo é uma briga em torno da definição de quais químicos devem ser incluídos nessa família, que deve ser regulada.”
O advogado destaca que a população precisa ser informada sobre o que esses químicos são, como reduzir a exposição e como identificar as possíveis fontes de PFAS no meio ambiente. Isso passa, primeiro, por uma comunicação mais clara, que informe sobre a presença das substâncias e ajude a orientar a escolha de quem usa.
Na visão de especialistas, muitos dos riscos ainda são desconhecidos. “Os efeitos afetam gerações. Pequenas concentrações dessas substâncias permanecem no nosso corpo por longos períodos”, explica Montagner, da Unicamp. “Começar a perceber os problemas que os PFAs trazem para a saúde é só a ponta do iceberg. Se já está afetando a saúde humana, também está afetando muitos outros organismos que nem sabemos ainda.”
Apesar dos desafios — tanto no controle quanto na eliminação de PFAS —, um vislumbre de otimismo vem de quem luta contra as substâncias há quase três décadas. Para Robert Bilott, é possível imaginar um mundo sem PFAS. “Vale lembrar que esses químicos não existiam antes de 1940. O mundo e a sociedade moderna, sim. E em lugares que estão exigindo que essas substâncias sejam eliminadas, as empresas estão encontrando alternativas”, destaca.
“Nossos tratamentos de água já não degradam compostos [químicos] menos fortes. Não vão degradar os PFAS” — Cassiana Carolina Montagner , professora de Química da Unicamp
A coordenadora do NIP brasileiro compartilha do otimismo, ao menos em relação aos POPs. Ela cita avanços no cenário brasileiro desde a assinatura da Convenção de Estocolmo: a eliminação do uso de DDT (um inseticida de baixo custo) e outros agrotóxicos; a campanha de destinação de agrotóxicos obsoletos; o Projeto PCB Responsável, que busca eliminar o bifenilpolicloradol (usado como isolante em transformadores de energia); e a refundação da Comissão Nacional de Segurança Química, extinta durante o governo Bolsonaro.
Embora reconheça que pensar sobre a abrangência e a escala disso tudo possa ser devastador, o advogado considera que sua própria batalha — que começou com a ação do fazendeiro da Virgínia Ocidental e resultou em uma norma de uma agência federal dos EUA — demonstra o impacto da pressão popular. “Nós podemos consertar isso, e estamos vendo mudanças incríveis. Então, é também uma história de muita esperança de que as coisas podem mudar”, conclui Bilott.
Fonte: Revista Galileu
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