A 110km do Plano Piloto, no distrito de São Gabriel de Goiás, em Planaltina (GO), foliões se uniram esta semana para comemorar a Festa do Divino Espírito Santo, Patrimônio Cultural Imaterial da região e um dos mais importantes eventos católicos do país. Com 142 anos de tradição, o evento homenageia a descida do Espírito Santo sobre os 12 apóstolos de Jesus Cristo, em Pentecostes, 50 dias após a Páscoa.
Na quinta-feira (16/5), o Correio acompanhou de perto o terceiro pouso em uma propriedade rural, responsável por acolher os festeiros, que participam de cortejos, banquetes e cavalgadas. Iniciada no domingo (12/5), a folia de roça percorreu fazendas até chegar em Planaltina (GO) e seguiu em direção à cidade de mesmo nome, no Distrito Federal, para o encontro das bandeiras com as paróquias da localidade e a passagem do mastro ao próximo líder, que conduzirá a comemoração no ano seguinte.
Após atravessar uma estrada de terra, a reportagem chegou à Fazenda São José, no quarto dia da celebração. De longe, já se via cavalos, bandeiras vermelhas e barracas. Era fim de missa e os foliões se preparavam para o momento das cantorias no altar. Todos a caráter — lenço vermelho no pescoço, camisas, cinto de fivela, botas e, claro, chapéus.
Neste ano, o bombeiro e médico veterinário Fernando Almeida Borges, 40 anos, assumiu, ao lado da mulher, Juliana Xavier, a missão de alferes, isto é, de liderar a folia da roça. “Há 26 anos, participo da Festa do Divino, data esperada por mim o ano inteiro. É uma tradição passada de pai para filho, como aconteceu comigo, e que, agora, transfiro ao meu menino”, contou. Ele explicou que o objetivo da peregrinação, desde os primórdios, é levar o homem do campo, com suas tradições e crenças, à cidade, para confraternizarem juntos.
A cada chegada a uma fazenda, os foliões se juntam para fazer o “coração”, no qual se posicionam em frente ao dono da terra e entregam a bandeira do Divino junto às imagens que simbolizam a data e giram com o grupo durante o trajeto. “Em seguida, temos as cantorias de promessas, benzimento de cruzeiros e saudação do altar. Para terminar a noite, dançamos catira e aproveitamos música ao vivo. Encerramos o rito do dia às duas da manhã”, descreveu.
Legado
Na primeira parada, a festa começou com mais de 5 mil foliões acampados para acompanhar os festejos. Na Fazenda São José, estavam cerca de mil pessoas. “Como o trajeto é longo, a gente passa por dentro de fazendas e atravessamos rios, muitos cavaleiros ficam para trás”, disse o alferes. De crianças pequenas a pessoas idosas, famílias inteiras mantêm a tradição e a transmitem a filhos e netos.
Maria Laura Guimarães, 18, acompanha a folia desde os seis meses de vida e quer passar o legado aos filhos. “Minha família sempre gostou muito de participar. Minha avó foi alferes. Na nossa casa, fazemos questão de dedicar um espaço no altar, além de pendurar bandeiras e lenços”, comentou.
Estudante de veterinária, a foliã relatou que tem uma relação de afeto muito forte com cavalos e, por isso, gosta de ‘girar’ nos trajetos acompanhada do animal. “De dois anos para cá, eu me comprometi a cumprir todos os percursos que conseguir a cavalo, porque foi nesta data que recebi muitas graças, então, circular sobre ele (cavalo) é muito especial para mim”, destacou. De São Gabriel de Goiás a Planaltina (DF), são quase 93 km. Por isso, a importância do descanso e alimentação reforçada.
Para Maria Laura, a melhor parte é ver todos os foliões reunidos por um mesmo propósito: honrar e louvar o Espírito Santo. “É muito emocionante ver quando a bandeira sai junto à cavalgada. Chegando ao pouso, a gente faz um espetáculo para os donos da casa, mas para nós também, pois nos sentimos tocados”, disse. Sobre o significado da Folia do Divino para si, a jovem assinalou: “passei por muitas situações difíceis e sempre foi aqui (na festa) que as coisas começaram a melhorar. Eu me sinto abençoada; sinto que o Espírito Santo realmente está aqui. A gente pede e ele escuta”, disse, com lágrimas nos olhos.
Amizades
O planaltinense Manuel de Oliveira, 82, marca presença todos os anos na comemoração. Natural de Unaí (MG), participa desde os 13 anos. “Faço questão de percorrer todos os trajetos a cavalo e, além da folia do Divino, participo das de Reis e de São Sebastião”. Figura conhecida no evento, o aposentado fez várias amizades no decorrer dos anos com os demais foliões. “Não tenho inimizade com ninguém por aqui, sempre sou bem recebido”, reforçou.
Manuel, que foi casado por 55 anos, relembrou que a primeira esposa, falecida, ficava brava quando a folia se aproximava. “Ela tinha ciúmes. Então, um dia, falei para meu filho que deixaria de ir à festa, pois não queria ter problemas. Ele, sabendo que sou um folião fiel, assegurou que conversaria com a mãe. Depois, tudo acalmou”, recordou. Na celebração, gosta de cantar e andar a cavalo. “Vou seguir assim enquanto aguentar”, reforçou, ao lado da atual companheira Sebastiana Carneiro.
Após os foliões almoçarem galinhada e arroz carreteiro, escutou-se a batida na caixa, instrumento que sinaliza momentos importantes da festa. Era hora de partir para o próximo destino. Com as selas devidamente arrumadas, os festeiros subiram em seus cavalos e ergueram a bandeira. Juntos, gritaram “Viva o Divino Espírito Santo!”.
Programação
Sábado (18/5)
» Às 13h, as novenas se reúnem no Encontro das Bandeiras, na Praça da Paróquia São Sebastião, para o Giro da Folia. Nessa ocasião, é servido almoço para os cavaleiros, preparado por voluntários e entusiastas das festividades.
» Barraquinhas, na Praça da Paróquia São Vicente de Paulo, com show da dupla Yago e Matheus.
Domingo (19/5)
» A Procissão da Coroa chega à Igreja Matriz. Após a missa, as tradicionais cantigas da festa são cantadas e tocadas.
» Barraquinhas, na Praça da Paróquia São Vicente de Paulo, com show de Fábio Felipe.
Siga nossas redes sociais: Facebook e Instagram.
Fato Novo com informações e imagens:
binance
20 de setembro de 2024 at 12:24
Your point of view caught my eye and was very interesting. Thanks. I have a question for you.