Tão antigo quanto o cinema, o gênero de terror se adapta às ansiedades contemporâneas. De monstros grotescos que personificavam a ciência descontrolada aos slashers que invadiram a segurança suburbana, o horror permite um “laboratório emocional” para confrontar medos sociais
O cinema de terror, que remonta a 1896 com “A Mansão do Diabo” (Le Manoir du diable) de Georges Méliès, não é apenas entretenimento: é um reflexo dos medos e anseios da sociedade em cada época.
A professora universitária Lara López Millán explica que cada geração encontrou seu monstro nas telas, citando “Nosferatu” (1922), que personificava a Europa do período entre guerras, uma “ameaça externa que ameaçava destruir uma ordem social já em ruínas”.
De Monstros Grotescos à Paranoia Tecnológica
Ao longo das décadas, o terror espelhou a evolução das inseguranças globais:
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Ciência Descontrolada (Anos 1930/1940): Filmes da Universal como “Drácula” (1931) e “Frankenstein” (1931) personificavam medos contemporâneos como o corpo debilitado e a ciência sem controle.
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Paranoia Nuclear e Científica (Pós-Guerra): As ameaças passaram a vir do espaço sideral ou de laboratórios. Filmes como “Godzilla” (1954) e “Eles!” (1954) deram “forma grotesca à ameaça nuclear com formigas gigantes e criaturas nascidas da radiação”.
O Terror no Cotidiano e nos Subúrbios
Na década de 1960, o terror se tornou mais íntimo e perturbador. “Psicose” (1960), de Alfred Hitchcock, mostrou que o perigo podia vir de um “homem comum, tímido e gentil”, refletindo a erosão da confiança nas instituições e as tensões sociais da época.
A professora Michelle Martinez destaca que a ascensão dos filmes slasher nos anos 1970 e 1980, como “Halloween” (1978) e “Sexta-Feira 13” (1980), explorou a ideia da violência invadindo espaços seguros.
“Nos anos 1980, os subúrbios eram vistos como um lugar seguro… mas, neste ciclo de filmes de terror, esse é o campo de caça onde assassinos em série perseguem suas vítimas,” explica Martinez.
Reflexões Sociais e Empoderamento Feminino
O professor Matthew Lawrence destaca o crescimento expressivo de filmes que abordam questões de raça, etnia, dificuldades socioeconômicas e identidade sexual ou de gênero, mostrando que o público anseia por diferentes pontos de vista no gênero.
Martinez aponta a mudança na representação das mulheres, subvertendo o arquétipo explorado e dando origem a personagens mais empoderadas, como a “garota final”. Em “Alien” (1979), a personagem de Sigourney Weaver é a única sobrevivente e é “durona, capaz”, refletindo a mudança de papéis na vida real.
Lara López Millán conclui que o cinema de terror continua se adaptando e, ao nos permitir “ensaiar o medo sem consequências”, funciona como um laboratório emocional seguro para confrontar o que mais nos perturba.
Com informações: Revista Fórum