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Mundo

‘Meu ciclo acabou’, diz Pepe Mujica ao anunciar que câncer se espalhou para o fígado

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Ex-presidente do Uruguai revelou que não continuará tratamento pois seu corpo ‘não aguenta’ e se despediu: ‘guerreiro tem direito a seu descanso’

Ex-presidente do Uruguai e uma das principais lideranças de esquerda da América Latina, José Pepe Mujica revelou nesta quinta-feira (09/01) que o câncer de esôfago que vem tratando no último ano se espalhou para o fígado.

Mujica afirmou ao jornal uruguaio Búsqueda que está enfrentando o estágio terminal de sua batalha contra a doença, diagnosticada em abril de 2024, e que decidiu não continuar com tratamentos médicos.

“O câncer no esôfago está colonizando meu fígado. Não parou com nada. Por quê? Porque sou um ancião e porque tenho duas doenças crônicas”, afirmou o ex-presidente, que está com 89 anos.

Mujica disse ainda que não suportaria os tratamentos disponíveis. “Não me cabe nem um tratamento bioquímico nem a cirurgia porque meu corpo não aguenta.”

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Em um tom de despedida, Mujica pediu privacidade: “o que peço é que me deixem tranquilo. Que não me peçam mais entrevistas nem nada mais. Já terminou meu ciclo. Sinceramente, estou morrendo. E o guerreiro tem direito a seu descanso”.

No final de 2024, Mujica passou por uma cirurgia, realizada em um hospital de Montevidéu, no qual foi colocado um stent no esôfago, um dispositivo metálico que se adere às paredes do tubo digestivo e se auto expande para permitir a passagem de alimentos.

O procedimento ocorreu de forma tranquila e após cirurgia o ex-presidente se recuperava “calmo e tranquilo”, segundo sua médica, Raquel Pannone.

Emocionado, Mujica fez questão de se despedir de seus compatriotas. “Sou um velho no final da vida que quer se despedir de seus compatriotas e simpatizantes. É fácil ter respeito por quem pensa parecido, mas o fundamento da democracia é respeitar quem pensa diferente. Por isso, a primeira categoria são meus compatriotas, e deles me despeço. Dou um abraço a todos. Segundo, me despeço de meus companheiros e simpatizantes. A única coisa que quero agora é me despedir”.

Ex-guerrilheiro, presidente do Uruguai de 2010 a 2015 e uma das figuras mais emblemáticas da esquerda na América Latina, Mujica, passou 13 anos preso em condições desumanas, grande parte durante a ditadura militar (1973-1985).

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Em novembro, celebrou a vitória de seu aliado Yamandú Orsi nas eleições presidenciais do Uruguai pelo partido de esquerda Frente Ampla.


(*) Com Revista Fórum e Brasil de Fato.

Mundo

Incêndios na Califórnia geram rastro de destruição e afetam 180 mil pessoas

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Fogo provocou pelo menos cinco mortes em estado no oeste dos EUA e quase 2 mil imóveis foram destruídos

Bombeiros ainda batalhavam nesta quinta-feira (09/01) contra as chamas que há dois dias varrem partes de Los Angeles, no estado norte-americano da Califórnia, provocando ao menos cinco mortes, arrasando comunidades e desalojando mais de 180 mil pessoas forçadas a abandonarem suas casas.

Impulsionados pelo tempo seco e por ventos fortes, focos de incêndio persistiam na região, sendo o maior no bairro litorâneo de Pacific Palisades, área nobre de Los Angeles que já perdeu quase 70 quilômetros quadrados em florestas e imóveis residenciais de estrelas de Hollywood.

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, emitiu uma Declaração Presidencial de Grande Desastre sobre os incêndios. O ato permite que governos estaduais, tribais e locais tenham assistência financeira para apagar os incêndios, abatendo pelo menos 75% das despesas do governo californiano com o combate às chamas.

Washington enviou ainda cinco aviões-tanque de grande porte, dez helicópteros e dezenas de veículos para ajudar na luta contra o fogo. “Estamos fazendo tudo e qualquer coisa, pelo tempo que for preciso, para conter esses incêndios […] para garantir que vocês voltem ao normal”, declarou Biden.

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Um dos piores desastres da história de Los Angeles

Os incêndios na Califórnia já destruíram cerca 2 mil imóveis e ainda colocam outras tantas construções em risco, sobretudo no sul do estado norte-americano. Mais de 425 mil residências, empresas e outros chegaram a ficar sem eletricidade, e cerca de 13 mil casas encontram-se em áreas já destruídas ou ameaçadas pelas chamas.

Segundo a polícia, o desastre em Palisades é um dos piores da história de Los Angeles, tendo consumido mais de mil habitações.

Autoridades locais informaram que houve danos à infraestrutura de fornecimento de luz, água e saneamento, e reportaram a detenção de 20 suspeitos de promoverem saques em meio ao caos.

Ao menos 180 mil pessoas receberam ordem para deixar suas casas no condado de Los Angeles, e outros 200 mil estão de sobreaviso.

O fogo não poupou astros de Hollywood residentes no luxuoso bairro litorâneo, como Ben Affleck, Mark Hamill e James Woods, que tiveram que abandonar suas casas. Tom Hanks, Adam Sandler e Reese Witherspoon contam também entre os moradores ilustres de Pacific Palisades.

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Segundo o G1, o desastre forçou ainda o cancelamento de um evento em torno do filme brasileiro Ainda estou aqui, pelo qual Fernanda Torres recebeu um Globo de Ouro. Além da atriz, a sessão contaria com a presença do diretor Walter Salles, e seria apresentado por Guillermo del Toro.

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Mundo

Premiê do Canadá diz que deixará cargo após nomeação de novo líder

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Trump ameaçou impor tarifas que prejudicariam a economia do país

O primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, anunciou nesta segunda-feira (6) que pretende renunciar à liderança dos liberais, após nove anos no cargo, mas permanecerá no posto até que o partido escolha um substituto.

Trudeau, sob forte pressão dos parlamentares liberais para renunciar em meio a pesquisas que mostram que o partido será esmagado na próxima eleição, disse em uma coletiva de imprensa que o Parlamento estará suspenso até março.

Isso significa que Trudeau ainda será o primeiro-ministro em 20 de janeiro, quando o presidente eleito dos EUA, Donald Trump, assumir o cargo. Trump ameaçou impor tarifas que prejudicariam a economia do Canadá.

“Pretendo renunciar como líder do partido, como primeiro-ministro depois que o partido selecionar seu próximo líder por meio de um processo competitivo robusto e de âmbito nacional”, disse Trudeau. “Este país merece uma escolha real na próxima eleição, e ficou claro para mim que, se eu tiver que travar batalhas internas, não poderei ser a melhor opção nessa eleição.”

Trudeau, de 53 anos, assumiu o cargo em novembro de 2015 e foi reeleito duas vezes, tornando-se um dos primeiros-ministros mais longevos do Canadá.

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Mas sua popularidade começou a cair há dois anos em meio à raiva do público em relação aos preços altos e à escassez de moradias, e nunca se recuperou.

As pesquisas mostram que os liberais perderão com folga para os conservadores da oposição oficial em uma eleição que deve ser realizada até o final de outubro, independentemente de quem seja o líder.

O Parlamento deveria retornar em 27 de janeiro e os partidos de oposição prometeram derrubar o governo assim que pudessem, provavelmente no final de março. Mas se o Parlamento não retornar até 24 de março, o mais cedo que eles poderiam apresentar uma moção de desconfiança seria em algum momento de maio.

Até recentemente, Trudeau havia conseguido afastar os parlamentares liberais preocupados com o fraco desempenho nas pesquisas e com a perda de cadeiras seguras em duas eleições especiais no ano passado.

Mas os apelos para que ele se afastasse aumentaram muito desde o mês passado, quando ele tentou rebaixar a ministra das Finanças, Chrystia Freeland, uma de suas aliadas mais próximas no gabinete, depois que ela se opôs às suas propostas de mais gastos.

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Em vez disso, Freeland pediu demissão e escreveu uma carta acusando Trudeau de “artifícios políticos” em vez de se concentrar no que é melhor para o país.

Os conservadores são liderados por Pierre Poilievre, um político de carreira que ganhou destaque no início de 2022 quando apoiou os motoristas de caminhão que tomaram o centro de Ottawa como parte de um protesto contra os mandatos de vacina contra a Covid-19.


*Agência Brasil e Reuters

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Entrevista

‘Em 2050, não vai haver nenhuma economia europeia entre as 10 mais importantes do mundo’

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Diplomata espanhol Jorge Dezcallar explica porque avalia que a “Europa está claramente em decadência”

Com a economia estagnada e uma crescente fragilidade política na França e na Alemanha, a Europa enfrenta momentos difíceis.

Somam-se a isso a guerra na Ucrânia e o regresso de Donald Trump à Casa Branca, que já ameaçou impor tarifas às indústrias europeias, o que poderia desencadear uma guerra comercial extremamente prejudicial para os exportadores da região.

“Temos o melhor sistema de saúde, a melhor educação, as melhores estradas, mas isso custa muito caro. Até quando podemos sustentar isso?”, questiona Jorge Dezcallar de Mazarredo, embaixador e ex-diretor dos serviços de inteligência da Espanha.

“A Europa está em decadência, e com a perda de sua influência também desaparecerá o altíssimo padrão de vida”, afirma o diplomata espanhol em entrevista à BBC News Mundo, serviço de notícias em espanhol da BBC.

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Em sua avaliação, o mundo está testemunhando o fim de uma era geopolítica, visão que ele explora em seu último livro, O fim de uma era. Ucrânia: a guerra que acelera tudo, no qual aborda como o conflito está precipitando o declínio do domínio ocidental.

“A guerra vai muito além de uma disputa territorial para assegurar áreas estratégicas. Ela reflete forças profundas de mudança na geopolítica que rege o mundo desde o fim da Segunda Guerra Mundial. Hoje, o Ocidente perde força, enquanto o Sul global ganha peso”, destaca.

A fragilidade política da Europa ocorre em um momento de estagnação econômica: a previsão para 2024 é de um crescimento tímido de 0,9%, deixando uma região que representa um quinto do PIB global atrás de outras partes do globo.

Analistas apontam diversas razões para explicar esse cenário, como a perda de competitividade, o aumento da concorrência internacional e as políticas de austeridade.

A Europa precisa de inúmeras reformas: ampliar sua capacidade militar, reconfigurar seu sistema de energia, reinventar sua indústria tecnológica e repensar sua postura em relação à Rússia e à China. Tudo isso enquanto o descontentamento de seus cidadãos fortalece partidos populistas e de extrema direita em diversos países do continente.

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Nesta entrevista com Jorge Dezcallar de Mazarredo, analisamos os fatores que levaram o Velho Continente à sua atual crise geopolítica.

Por que a Europa atravessa momentos tão turbulentos?

Em pleno século XXI, testemunhamos um conflito bélico no coração do continente que mais parece uma guerra absurda de expansão territorial em estilo napoleônico.

A invasão da Ucrânia reflete o descontentamento da Rússia com a arquitetura de segurança europeia herdada da Segunda Guerra Mundial.

No entanto, este é um fenômeno muito mais amplo, de alcance global: grande parte dos países do mundo está questionando a distribuição de poder e as regras estabelecidas pelas potências vencedoras após 1945.

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Isso significa que estamos diante do fim de uma era geopolítica.

Naquele ano, algumas potências ocidentais criaram as Nações Unidas, o Conselho de Segurança, o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional, ou seja, repartiram o poder entre si.

Agora, quase 80 anos depois, vemos que França e Reino Unido ainda têm assento permanente no Conselho de Segurança, enquanto países como a Índia, com 1,4 bilhão de habitantes e status de potência nuclear, ficam de fora.

A África não tem nenhum representante, e o mesmo ocorre com a América Latina.

Os Estados Unidos não abrem mão do controle sobre o Fundo Monetário Internacional, e a Itália possui tantos votos quanto a China no Banco Mundial.

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E onde a China se encaixa nesse sistema?

A China afirma: “Somos um Estado civilizacional, estamos acima do bem e do mal”. Os Estados Unidos não dizem isso abertamente, mas sempre agiram dessa forma — basta olhar para o que aconteceu no Iraque e em outros lugares.

A Europa hoje reflete o que está ocorrendo no mundo, mas nos surpreende mais porque temos uma visão um tanto pretensiosa sobre ela.

Quando há conflitos mortais na África, isso nos parece quase natural. Mas quando acontecem na Europa, encaramos como um escândalo. Essa perspectiva não deixa de carregar um certo racismo.

Você acredita que a Europa ainda olha para o resto do mundo de forma pretensiosa?

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Não tenho dúvida disso. A Europa dominou o mundo por muitos anos, graças à máquina a vapor inventada na Inglaterra, ao domínio dos mares e, em grande parte, à escravidão.

Essa visão de superioridade ainda persiste, mas a Europa está equivocada e perderá relevância.

Atualmente, 62% do PIB mundial e 65% da população estão na região do Indo-Pacífico.

Os mapas costumam colocar a Europa no centro, mas o continente olha para um oceano onde cada vez menos coisas acontecem, enquanto o centro de gravidade econômica do mundo se deslocou do Atlântico para o Indo-Pacífico.

A Europa está claramente em decadência.

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Já ouvi você dizer que a Europa tem 6% da população mundial, mas representa 50% do gasto social global. Esse modelo é insustentável? Foi longe demais com o ‘Estado de Bem-Estar’?

Sim, fomos longe demais. Em 1900, a Europa tinha 25% da população mundial, e hoje mal chega a 6%. Mesmo assim, ainda retém 17% do PIB global.

Temos o melhor sistema de saúde, a melhor educação, as melhores estradas, mas isso custa caro. Por quanto tempo conseguiremos sustentar isso?

Causamos inveja no mundo. Mantivemos esse sistema por tanto tempo porque dominávamos o cenário internacional. Mas a realidade é que, em 2050, nenhuma economia europeia estará entre as 10 maiores do mundo.

A Índia acaba de ultrapassar o Reino Unido em Produto Interno Bruto.

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Outro fator que aponta para a decadência da Europa é sua população envelhecida e, além disso, cada vez mais reduzida, pois morrem mais pessoas do que nascem.

Em que se traduz essa decadência?

Em uma perda de influência. A Europa não tem uma política externa comum, nem uma capacidade de projeção militar compartilhada, e também não possui uma política energética ou migratória comum.

A Europa precisa se integrar mais se quisermos continuar a ter relevância no mundo.

Em seu livro, o senhor afirma que a guerra na Ucrânia uniu mais a Europa, mas com o Reino Unido fora da União Europeia devido ao Brexit e a provável relutância da Alemanha em continuar a contribuir com tantos recursos devido à sua fraqueza econômica, parece que o que espera a Europa é mais desunião. Qual a sua opinião sobre isso?

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É verdade que o Brexit enfraqueceu a Europa, e a fragilidade da Alemanha e da França neste momento também não ajuda. Não acredito que o presidente francês, Emmanuel Macron, complete seu mandato, francamente. Mas o apoio à Ucrânia é inabalável.

Putin quer recuperar para a Rússia a influência global que a União Soviética teve em seu auge. Esse é o seu objetivo. E ele não percebe que não pode. Não pode fazer parte da elite internacional quando não tem o PIB necessário, quando sua população é envelhecida e quando só produz matérias-primas.

E então, com força de vontade e sua potência nuclear, ele tenta se impor. E isso é muito perigoso. Quando a Europa defende a Ucrânia, está, na verdade, se defendendo.

O grande fracasso de todos os europeus foi não ter sido capaz de incorporar a Rússia pós-soviética a uma estrutura de segurança que nos unisse a todos.

Mas é verdade que a Rússia não facilitou isso, pois, em vez de abraçar a democracia, se afastou cada vez mais para formas autoritárias.

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Talvez a expansão da OTAN devesse ter sido feita de forma mais gradual, com mais cautela ou com outro tipo de compensações.

Em 8 de dezembro, Donald Trump reiterou que estava disposto a permanecer na OTAN apenas enquanto os europeus “pagarem suas contas”. O que aconteceria se, como ameaçou Trump, os Estados Unidos se retirassem da OTAN?

Os Estados Unidos não podem sair da OTAN, pois, embora Trump tenha ameaçado fazer isso, seria necessário o apoio de dois terços do Senado, o que ele não tem.

O que ele pode fazer, no entanto, é esvaziar a aliança de conteúdo, ou seja, reduzir os fundos, diminuir o número de tropas ou até renunciar à aplicação automática do artigo 5º de defesa coletiva.

Se isso acontecer, a Europa ficará sem dinheiro, sem armas e sem proteção nuclear, estando sozinha diante da Rússia e sem capacidade militar, pois não tem uma defesa comum.

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As balas feitas pelos belgas não se encaixam nos fuzis produzidos pelos checos. Os tanques fabricados pelos franceses não são compatíveis com os feitos pelos alemães. Não temos uma indústria unificada.

Porém, de acordo com o Instituto Internacional de Estocolmo para Pesquisa da Paz, o gasto militar da Europa superou o da China.

Os Estados Unidos gastam mais de US$ 900 bilhões em defesa, a China, US$ 296 bilhões, e a Rússia, US$ 109 bilhões.

Já os 27 países da União Europeia gastam juntos US$ 321 bilhões, efetivamente mais do que a China. Mas não de forma unificada. Cada um por conta própria.

A Europa precisa se unir e, se não o fizer, perderá sua influência no mundo. E, com essa perda de influência, também se perderá seu elevado nível de vida.

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E no plano econômico, o que pode acontecer na Europa com a chegada de Trump?

Alguns aumentos de tarifas, entre 10% e 20%, prejudicarão a economia europeia, mas há mais.

Trump não acredita no aquecimento global. Consequentemente, é provável que ele diminua a redução das emissões de gases de efeito estufa.

Se isso ocorrer, os europeus estaremos em desvantagem para competir economicamente com as empresas americanas, porque teremos que pagar muito mais pela nossa contribuição na carbonização da atmosfera do que os americanos.

Isso nos colocará em desvantagem na hora de competir nos mercados internacionais.

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E isso interessa a Trump?

Sim. Trump também não acredita na Europa. Ele acredita em países europeus como Alemanha, França, Itália ou Espanha, mas não enxerga a União Europeia como um todo.

Sempre se disse que os Estados Unidos não queriam uma Europa forte, e isso é verdade. No entanto, também não é do interesse deles uma Europa excessivamente fraca, como está agora.

Eu o ouvi dizer que a Europa cometeu três erros ao colocar sua segurança nas mãos dos EUA, a energia nas mãos da Rússia e o comércio nas mãos da China. Há alguma forma de reverter essas realidades?

O relatório de Draghi foi muito claro sobre isso. A Europa precisa investir 800 bilhões de euros por ano e criar uma estrutura industrial para salvar sua economia.

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Além disso, pela primeira vez, há um comissário responsável por assuntos de defesa, que tentará harmonizar e promover economias de escala na indústria militar europeia.

Estão sendo feitas algumas ações, mas é necessário acelerar o processo. Acredito que este é o momento de dar um grande passo, e talvez a chegada de Donald Trump seja o estímulo de que a Europa precisa para, finalmente, tomar as decisões que sabe que tem que tomar.

Mais união, mais integração, mais Europa. Quanto menos Europa houver, menos influência mundial teremos e mais rapidamente nossa decadência se acelerará. A única forma de evitá-la é nos integrarmos.


*BBC

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