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O país que desafiou o PIB e criou uma métrica diferente de desenvolvimento

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A criação desse medidor incluiu também a criação de um ministério específico, que planeja políticas de bem-estar e os critérios para o desenvolvimento econômico sustentável

Em 1972, um pequeno país da Ásia Meridional, fronteiriço com a China ao norte e com a Índia ao sul, inaugurou um novo indicador social, um conceito abstrato nascido de uma política real.

O Butão, da região montanhosa do extremo leste himalaio, cuja história está intricada num passado religioso budista e feudal, e que permaneceu praticamente isolado do resto do mundo até o início da década de 1960, foi o criador do conceito de felicidade interna bruta (FIB). Quem o formulou foi o rei butanês Jigme Singye Wangchuck, o quarto líder real do país, que ascendeu ao trono com apenas 17 anos de idade, após a morte do pai.

A criação desse indicador, cujo objetivo era contrastar com o PIB (produto interno bruto, que mede a soma de todos os bens e serviços produzidos por um país durante um período de tempo determinado), foi uma resposta de Wangchuck às críticas recebidas acerca do desenvolvimento do Butão.

Sob as métricas de um desenvolvimento pautado em valores econômicos ocidentais — ou mesmo em comparação aos gigantes que o cercam (China e Índia) —, o ritmo de crescimento do Butão, que é diminuto e quase não tem ligações comerciais com o resto do mundo, de fato parece parco.

Com quase 800 mil habitantes e um PIB per capita de cerca de US$ 3.718, o país só se abriu de fato à influência estrangeira em 1974, depois de séculos de conflitos regionais com a Índia (com quem disputava direitos comerciais sobre terras férteis nas fronteiras) e de invasões mongóis e tibetanas.

A religião do Estado monarquista do Butão, que passou de monarquia absoluta para monarquia constitucional em 2008, é o budismo vajrayana, também chamado de “esotérico” ou “tântrico”, uma variação originária do Tibete (e também praticada no norte da Índia, na Mongólia, no Nepal e em partes da China), cuja tradição usa técnicas do tantra para o desenvolvimento espiritual e esotérico.

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Na raiz cultural do país surge uma forma distinta da usual para se medir o sucesso socioeconômico de uma nação: o da felicidade, isto é, de uma riqueza que não se concentra simplesmente no aspecto quantitativo ou material da produção e do ganho econômico.

A riqueza, de acordo com o medidor FIB, é a integração entre desenvolvimento material, cultural e espiritual, num ideal de harmonia com os recursos e a Terra, que promove igualmente:

  • O desenvolvimento educacional com inclusão social;
  • A promoção de valores culturais;
  • Princípios ecológicos e de desenvolvimento sustentável;
  • Boa governança;
  • Valores que garantam a vitalidade comunitária;
  • A saúde e a garantia da vida;
  • A potencialização dos padrões de vida sob métricas de desenvolvimento sustentável e inclusivo;
  • Uma jornada de trabalho reduzida, com enfoque maior em tempo livre e lazer;
  • O estímulo à prática esportiva;
  • A igualdade de gênero e a liberdade de pensamento.

A criação desse medidor incluiu também a criação de um ministério específico: o Ministério da Felicidade, que planeja políticas de bem-estar e os critérios para o desenvolvimento econômico sustentável.

“É função do governo criar as condições para a felicidade”, diria, durante uma reunião do Conselho Constitutivo Internacional da FDC (Fundação Dom Cabral), Tshering Tobgay, primeiro-ministro do Butão entre 2013 e 2018 pelo Partido Popular Democrata.

“Educação e saúde são gratuitas, e a economia cresce lentamente, mas de forma sustentável.” O Butão privilegia os aspectos de desenvolvimento sustentável e equilibrado, com redução da pobreza e acesso público à infraestrutura do Estado.

A agricultura e a agropecuária são principalmente de subsistência, e a produção alimentícia do país pretende se tornar 100% orgânica. A extração florestal e a geração de energia hidrelétrica, que compõem a segunda maior parte das rendas do país (com energia exportada principalmente à Índia), são feitas de maneira sustentável, e grande parte do ambiente natural do país permanece intocado.

A intenção dos butaneses é compor o “Último Shangri-La”, a utopia paradisíaca que estaria nas montanhas himalaias: um lugar em que reina uma vida harmônica, feliz e saudável — a promessa de um “mundo novo possível” criada pela literatura de James Hilton, em seu Horizonte Perdido (Lost Horizon).


Fonte: Revista Fórum

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