A doença de Chagas, ou tripanossomíase americana, é uma infecção parasitária causada pelo Trypanosoma cruzi. Transmitida principalmente pelo inseto conhecido como barbeiro (triatomíneo), a doença afeta milhões de pessoas, sobretudo na América Latina, e permanece como um desafio de saúde pública, especialmente em áreas rurais e de baixa renda.
Apesar de muitas vezes silenciosa, a Chagas pode causar danos graves ao coração, sistema digestivo e sistema nervoso, levando a complicações irreversíveis ou até à morte se não for diagnosticada e tratada precocemente.
Transmissão da doença
A principal forma de transmissão ocorre quando o barbeiro pica uma pessoa e defeca próximo ao local da picada. Ao coçar a pele, o indivíduo permite que o parasita entre pelo ferimento ou mucosas.
Outras vias de transmissão incluem:
- Transfusão de sangue contaminado;
- Transplante de órgãos de doadores infectados;
- Transmissão congênita (da mãe para o feto durante a gravidez);
- Ingestão de alimentos contaminados com fezes do barbeiro, como açaí ou caldo de cana mal higienizados.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 6 milhões de pessoas estão infectadas no mundo, sendo a maioria assintomática e sem diagnóstico.
Fases da doença: aguda e crônica
A doença de Chagas se desenvolve em duas fases distintas:
Fase aguda
Ocorre logo após a infecção e dura de semanas a meses. Nesta fase, o parasita circula em alta quantidade no sangue.
Em cerca de 70% dos casos, os sintomas são leves ou ausentes. Quando presentes, podem incluir:
- Febre persistente;
- Mal-estar e fadiga;
- Inchaço no local da picada (sinal de Romaña, quando o olho incha);
- Dor de cabeça;
- Gânglios linfáticos aumentados;
- Náuseas e vômitos.
Em casos graves, especialmente em crianças, pode haver miocardite ou meningoencefalite.
Fase crônica
Se não tratada, a infecção progride para a fase crônica, que pode se manifestar anos ou décadas depois. Cerca de 30% dos infectados desenvolvem complicações graves, divididas em três formas:
Forma cardíaca
A mais comum e séria. O parasita destrói tecidos do músculo cardíaco, provocando:
- Arritmias;
- Cardiomiopatia chagásica (dilatação do coração);
- Insuficiência cardíaca;
- Risco de morte súbita.
Forma digestiva
Resulta da destruição de nervos do sistema gastrointestinal, levando a:
- Megaesôfago: dificuldade para engolir, regurgitação e desnutrição;
- Megacólon: constipação severa, inchaço abdominal e risco de perfuração intestinal.
Forma indeterminada ou mista
Muitos pacientes permanecem assintomáticos por anos, mas com risco de evoluir para as formas cardíaca ou digestiva a qualquer momento.
Como o parasita ataca o corpo
O Trypanosoma cruzi invade células musculares, especialmente do coração e do trato digestivo, causando inflamação, fibrose e morte celular progressiva.
No coração, forma cicatrizes que atrapalham a condução elétrica e reduzem a capacidade de bombeamento. No sistema digestivo, a perda de neurônios compromete o movimento peristáltico, levando à dilatação anormal de órgãos.
Diagnóstico e tratamento
- Na fase aguda, o diagnóstico é feito por exame direto do sangue (microscopia).
- Na fase crônica, são usados testes sorológicos para detectar anticorpos contra o parasita.
O tratamento utiliza dois medicamentos: benznidazol e nifurtimox. São mais eficazes na fase aguda, com taxa de cura acima de 80%. Na fase crônica, o objetivo é reduzir a carga parasitária e retardar a progressão das lesões.
Pacientes com complicações podem precisar de acompanhamento multidisciplinar, incluindo cardiologistas, gastroenterologistas, uso de marcapassos ou cirurgias.
Prevenção: controle do vetor e cuidados com a saúde
Medidas essenciais para prevenir a doença incluem:
- Combate ao barbeiro com uso de inseticidas e melhoria habitacional;
- Triagem obrigatória de sangue e órgãos doados;
- Diagnóstico e tratamento de gestantes para evitar transmissão congênita;
- Cuidado com alimentos em áreas endêmicas, especialmente sucos e frutas não pasteurizadas.
Campanhas educativas são fundamentais para conscientizar populações em regiões de risco.
Importância do diagnóstico precoce
Por permanecer assintomática por décadas, a doença de Chagas exige atenção especial. Pessoas que viveram em áreas endêmicas, receberam transfusão antes dos anos 1990 ou têm sintomas cardíacos inexplicáveis devem fazer exames.
O diagnóstico precoce permite tratamento eficaz e evita danos irreversíveis. Com acompanhamento adequado, é possível controlar a doença e manter qualidade de vida.
Com informações: OMS, Sociedade Brasileira de Medicina Tropical e Olhar Digital