A Operação Contenção, deflagrada na terça-feira (28 de outubro de 2025) pelo governo do Rio de Janeiro contra a facção Comando Vermelho, provocou forte reação tanto no Brasil quanto no exterior. Com 64 mortes confirmadas — incluindo quatro policiais — e expectativa de que o número supere 100 óbitos, a ação foi classificada como a mais letal da história do estado.
A operação, concentrada nos Complexos do Alemão e da Penha, teve início na madrugada com intensa troca de tiros em áreas densamente povoadas, onde vivem cerca de 300 mil pessoas. Segundo informações preliminares, mais de 50 corpos já foram entregues às autoridades por moradores locais, e o balanço final deve ser atualizado ao longo desta quarta-feira (29).
ONU cobra respeito aos direitos humanos
A Organização das Nações Unidas (ONU) se manifestou oficialmente na noite de terça-feira por meio de seu perfil na rede X (antigo Twitter). Em nota, a entidade expressou “horror” com a operação e reforçou que ela “reforça a tendência de consequências extremamente fatais das ações policiais nas comunidades marginalizadas do Brasil”.
“Relembramos às autoridades suas obrigações sob o direito internacional dos direitos humanos e instamos a realização de investigações rápidas e eficazes”, afirmou a ONU.
A declaração ecoa críticas recorrentes de organismos internacionais sobre o alto índice de letalidade policial no país, especialmente em operações em favelas.
Imprensa internacional destaca gravidade do episódio
Veículos de grande circulação global também deram destaque à operação:
- O britânico The Guardian publicou matéria com o título “Brasil: ao menos 64 mortos no dia mais violento do Rio de Janeiro em meio a batidas policiais”, descrevendo a ação como historicamente letal e destacando que “fotos terríveis com alguns dos jovens homens mortos se espalharam pelas redes sociais”.
- O espanhol El País chamou o dia de “jornada de caos colossal”, ressaltando os “intensos tiroteios” e classificando a operação como a mais letal da história da cidade.
- O francês Le Figaro observou que, apesar da frequência de operações policiais de grande porte no Rio, há “muita contestação sobre sua eficácia”.
- O norte-americano The New York Times relatou que o governador Cláudio Castro definiu a ação como um “ataque aos narcoterroristas”, citando os quatro policiais mortos e o total de vítimas.
- Já o argentino Clarín reproduziu uma frase viralizada nas redes sociais: “Não é Gaza, é o Rio”, ilustrando o choque internacional com a escala da violência urbana.
Contexto e críticas
A operação ocorre em um contexto de crescente pressão por segurança pública no estado, mas também de alertas sobre o impacto desproporcional de ações policiais em comunidades pobres. Dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública indicam que o Rio de Janeiro lidera o país em letalidade policial, com mais de 1.300 mortes em intervenções policiais em 2024.
Organizações de direitos humanos, como a Anistia Internacional e a Conectas Direitos Humanos, já anunciaram que acompanharão de perto as investigações e exigirão transparência sobre as circunstâncias das mortes — especialmente em relação à proporcionalidade do uso da força e à presença de civis entre as vítimas.
Próximos passos
O governo do Rio de Janeiro afirma que a operação faz parte de um plano estratégico de combate ao crime organizado, com base em inteligência e apoio das Forças Armadas. Entretanto, a Defensoria Pública do Estado e o Ministério Público do Rio já anunciaram que atuarão para garantir o acesso a informações e proteger os direitos dos moradores afetados.
Enquanto isso, a cidade permanece em estado de alerta, com escolas fechadas, transporte interrompido e famílias em luto — em um cenário que, segundo observadores internacionais, põe em xeque o equilíbrio entre segurança e direitos humanos.
Com informações: Brasil de Fato, ONU, The Guardian, El País, Le Figaro, The New York Times, Clarín