Comportamento
Os países surpreendentes nos quais felicidade está aumentando entre os jovens
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Foi publicada em março de 2024 a edição anual do Relatório Mundial da Felicidade.
Os países escandinavos, como a Finlândia, Dinamarca, Islândia e Suécia, continuam no topo da lista. Até aí, nenhuma surpresa. Mas um novo grupo de países tem subido no ranking da felicidade, de forma silenciosa, mas constante.
A pesquisa indica que, nos últimos três anos, países da Europa central e oriental ultrapassaram alguns dos seus vizinhos da Europa ocidental, em termos de felicidade geral.
Em 2024, a República Checa e a Lituânia atingiram pela primeira vez o top 20. Elas estão em 18º e 19º lugar, respectivamente, seguidas de perto pela Eslovênia, em 21º.
O mais interessante é que, em muitos desses países, o avanço pode ser diretamente atribuído ao aumento da felicidade dos moradores mais jovens.
A Lituânia, por exemplo, ocupa o primeiro lugar entre a Felicidade dos Jovens do mesmo relatório, avaliada entre pessoas com menos de 30 anos de idade. A Sérvia ocupa a 3ª posição, a Romênia vem em 8º, a República Checa é a 10ª e a Eslovênia ocupa o 15º lugar. O Brasil é o 60º da lista.
Os números da Europa central e oriental não surpreendem os moradores locais, nem as pessoas que viajam frequentemente para aquela região.
“Existem mais empregos decentes no país, de forma que [agora] os jovens não estão se mudando para trabalhar em outros lugares da Europa”, afirma Tim Leffel, autor do livro The World’s Cheapest Destinations (“Os destinos mais baratos do mundo”, em tradução livre).
“Na primeira vez em que visitei a Romênia e a Bulgária, uma década atrás, algumas aldeias estavam repletas de idosos”, ele conta. “Agora, você vê muito mais mistura entre as idades. Quando os jovens permanecem, aumenta a esperança de todos no futuro.”
Com seu PIB per capita em franco crescimento desde o início dos anos 2000, muitos moradores da Europa central e oriental agora percebem que têm iguais chances de serem felizes — o que é um importante indicador do bem-estar em geral. De fato, o relatório concluiu que a desigualdade do bem-estar tem efeito ainda maior sobre a felicidade geral do que a desigualdade de renda.
Além do crescimento econômico, esses países estão investindo em infraestrutura, promovendo cenários culturais vibrantes e capitalizando sua estonteante beleza natural — desde as dunas de areia formadas pelo mar no istmo da Curlândia, que se estende pela Lituânia e pela Rússia, até a biodiversidade dos montes Cárpatos, na Romênia.
Para entender melhor esse novo senso de felicidade, conversamos com moradores e viajantes recentes sobre suas experiências em alguns desses países e descobrimos onde os visitantes podem desfrutar sua própria experiência dessa sensação.
Lituânia
Ocupando o 19º lugar no índice geral e a primeira posição entre os moradores com menos de 30 anos de idade, a Lituânia observou notáveis melhorias da qualidade de vida nas últimas décadas, segundo seus moradores.
“A maioria das pessoas da Lituânia se sente muito feliz, especialmente as gerações mais jovens”, afirma a lituana Jurga Rubinovaite, fundadora e CEO (diretora-executiva) do blog de viagens Full Suitcase.
“Mesmo com a guerra na Ucrânia e os comentários constantes no noticiário sobre a crescente possibilidade de expansão da guerra para os Estados bálticos, as pessoas parecem estar apreciando e aproveitando a vida como nunca antes”, ela conta.
Ela atribui esta sensação ao fato de que as pessoas são livres para estudar, trabalhar e viajar para onde quiserem desde 1990, quando a Lituânia conseguiu a independência da União Soviética.
“Minha mãe sempre diz, ‘minha vida nunca foi tão boa quanto agora’”, conta Rubinovaite.
“As gerações mais novas nunca souberam o que era a vida antes que a Lituânia recuperasse a independência, mas todos eles conhecem as histórias dos seus pais e avós. Acho que esta é uma das razões por que as pessoas estão mais felizes agora, porque elas reconhecem o que elas têm, mais do que nunca.”
Ela também menciona as políticas de maternidade e paternidade do país, que estão entre as mais longas do planeta (até 126 dias remunerados para as mães e 30 dias para os pais), além de grandes redes familiares para ajudar a cuidar das crianças.
Raminta Lilaitė-Sbalbi, moradora da Lituânia, encontra sua felicidade no vibrante cenário cultural da capital lituana, Vilnius. Ela gosta particularmente da proximidade da natureza, do seu espírito comunitário inclusivo e das oportunidades de expressão criativa e crescimento pessoal.
Lilaitė-Sbalbi indica eventos culturais importantes, como o Festival Lituano da Música, que faz parte do Patrimônio Mundial da Unesco e comemora seu 100º aniversário este ano, entre junho e julho.
“É uma oportunidade de presenciar, uma vez a cada quatro anos, um enorme concerto com centenas de corais e milhares de pessoas cantando juntas em um enorme palco ao ar livre”, explica ela.
“O festival tem profunda importância para todos nós, devido ao seu papel na preservação da identidade nacional lituana durante os tempos da ocupação soviética. Por isso, ele foi chamado de ‘revolução do canto’.”
A proximidade do país com a natureza também oferece um claro caminho para a felicidade, com melhor equilíbrio entre a vida pessoal e o trabalho.
“Os lituanos adoram sair ao ar livre”, afirma Rubinovaite. “Eles aproveitam todas as oportunidades que têm para sair da cidade e visitar as florestas, os lagos e seu belo litoral.”
Lilaitė-Sbalbi recomenda aos visitantes conhecer as trilhas de caminhada perto de Vilnius, como a Trilha Verde Strėva.
“Seu morro das fontes [abriga nascentes que] não congelam nem mesmo no inverno e há uma plantação de orquídeas lituanas em um pequeno morro”, ela conta. Lilaitė-Sbalbi também indica a Trilha Natural Karmazinai, um local fascinante de ritos pagãos e antigos cemitérios.
Romênia
Embora ocupe apenas a 32ª posição geral, a Romênia observou um dos maiores saltos do mundo em termos de felicidade na última década.
O país ocupava o 90º lugar no Relatório Mundial da Felicidade de 2013. E, também aqui, o salto foi impulsionado principalmente pelos jovens, que colocaram a Romênia na oitava posição entre as pessoas com menos de 30 anos de idade.
Especialistas atribuem este otimismo ao aumento da liberdade e das oportunidades.
Em março de 2024, a Bulgária e a Romênia se tornaram os mais novos Estados membros da área Schengen da União Europeia, que garante o livre movimento de cidadãos e visitantes sem controles nas fronteiras. A Romênia também recebeu grandes investimentos em infraestrutura, que melhoraram a qualidade de vida dos seus moradores e visitantes.
“As principais autoestradas e todas as cidades que você visitar – até lugares pequenos, como [a cidade de] Targu Mures – parecem estar em construção”, afirma Daniel Herszberg, fundador do website Travel Insighter.
Com um orçamento de infraestrutura já aprovado de 17 bilhões de euros (cerca de R$ 95 bilhões) para o período 2021-2027, a Romênia vem sistematicamente implementando melhorias, incluindo a construção de 1,7 mil quilômetros de estradas, em velocidade muito maior do que o esperado originalmente.
Mesmo em meio à modernidade do progresso, as tradições romenas ainda atraem moradores e visitantes.
“A Romênia se orgulha da sua rica diversidade cultural, desde os saxões e os sículos [e outras minorias húngaras] até as culturas romenas e romanis”, explica Alexandra Nima, atual moradora do país.
“A Transilvânia, especificamente, é um lugar que vale a pena considerar se você estiver em busca de ambientes acessíveis, calmos e bucólicos, repletos de arte e belas vistas.”
Herszberg concorda. Ele sugere viajar de carro pela Transilvânia para observar o melhor daquela região.
Comece por Cluj-Napoca, a segunda cidade mais populosa do país, para conhecer seus castelos medievais — incluindo o Castelo Bonțida Bánffy, conhecido como o “Versalhes da Transilvânia”, 30 km ao norte da cidade.
Em seguida, siga para o sul por 270 km, até a pequena cidade de Brasov, rodeada pelos montes Cárpatos. Lá, você pode conhecer suas muralhas saxônias medievais e a dinâmica cultura das suas cafeterias.
República Checa
Ocupando o 18º lugar na felicidade geral e a 10ª posição entre os menores de 30 anos, a República Checa vivencia um ressurgimento da sua comunidade e cultura nos últimos anos, que causou o aumento dos seus níveis de felicidade.
“Os apartamentos e outras moradias costumam ser menores por aqui, o que aumenta a importância do acesso aos ‘espaços terceirizados’, como parques, bares e cafés”, afirma Michael Rozenblit, fundador do site de viagens The World Was Here First. Ele mora na capital checa, Praga, há dois anos.
“Quando o dia de trabalho termina, você vê famílias, casais e grupos de amigos descendo para os espaços verdes da cidade, como se fossem para um quintal comunitário”, ele conta. E, mesmo no tempo frio, Rozenblit afirma que o convívio em bares e cafés é essencial para a cultura checa.
Este equilíbrio entre o trabalho e a vida pessoal é apoiado pelas políticas governamentais, que incluem dias de férias garantidos por lei, assistência médica abrangente e licença-maternidade e paternidade.
“A maior parte dos programas de benefícios aos empregados inclui acesso a esportes, atividades físicas e até regalias, como massagens e bem-estar”, explica a norte-americana Mariko Amekodommo, que agora mora em Praga, onde conduz seu próprio negócio de culinária, Mariko Presents. “As pessoas são muito felizes aqui porque têm um ótimo padrão de vida.”
Amekodommo e Leffel recomendam ao visitante que se aventure fora de Praga, para ter a verdadeira sensação da cultura e da paisagem local.
“Uma pequena viagem de 30 minutos de trem para fora da cidade pode levar você a belos castelos, um monastério criado com ossos humanos e à natureza intocada”, afirma Amekodommo. “Uma caminhada de 15 minutos a partir do centro da cidade pode levar você a um ambiente mais tranquilo, entre moradores locais.”
Leffel visitou recentemente as regiões checas de Plzeň e do Triângulo dos Spas. Ele recomenda aos viajantes visitar cidades pequenas, como Olomouc, Brno e Plzeň. “Elas oferecem uma visão diferente da forma de viver na República Checa”, segundo ele.
Particularmente para os amantes da cerveja, não pode faltar uma visita à cervejaria Pilsner Urquell, em Plzeň. Para Leffel, “é uma peregrinação, como visitar Bordeaux [França] para um amante dos vinhos ou uma viagem para a Etiópia, para um amante do café”.
O enorme legado checo no setor da cerveja foi recentemente reconhecido internacionalmente. A cidade de Žatec foi inscrita na lista do Patrimônio Mundial da Unesco, devido à sua longa tradição de cultivo e processamento de lúpulo, um ingrediente essencial da fabricação de cerveja hoje em dia.
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Conheça 5 mitos e verdades sobre alimentação e enxaqueca
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2 semanas atrásno
25 de agosto de 2024Por
Fato novo
Neurologista explica que a causa da enxaqueca não está no prato. A alimentação pode desencadear ou piorar as crises
Cerca de 30 milhões de pessoas sofrem de enxaqueca no Brasil (aproximadamente 15% da população total). Ao contrário do que muita gente pensa, a alimentação não é motivadora da doença; a enxaqueca tem causa hereditária. Porém, substâncias presentes em alguns alimentos podem desencadear ou piorar uma crise.
A neurologista Thaís Villa, especialista no diagnóstico e tratamento das dores de cabeça e da enxaqueca, lista 5 mitos e 5 verdades sobre a ligação entre os alimentos e a enxaqueca. Confira:
- É mito! A enxaqueca pode ser causada pela alimentação. Nenhum alimento causa enxaqueca, essa é uma doença crônica do cérebro de causa hereditária. A enxaqueca não tem cura, o tratamento correto vai ajudar a controlar os sintomas, que podem ser muitos e variados;
- Verdade: alimentos estimulantes podem piorar uma crise de enxaqueca. Alguns alimentos contêm substâncias que são estimulantes para o cérebro e podem tanto ser um gatilho para as crises de enxaqueca como também podem cronificar a doença, aumentando a frequência de crises, a intensidade e a duração delas. Exemplos: café, cacau (chocolate), cupuaçu, fruto do guaraná e a erva mate. A cafeína presente nesses alimentos possui efeito estimulante e analgésico, mascarando os sintomas e cronificando a doença;
- Verdade: alimentos termogênicos, como pimentas mais fortes, gengibre, canela, cúrcuma devem ser evitados porque também são estimulantes;
- Mito: refrigerantes estão liberados! A cola e o guaraná são estimulantes e devem ser evitados;
- Verdade: cuidado em restaurantes de comida japonesa. O problema está no consumo do molho shoyu que contém glutamato monossódico, um estimulante cerebral;
- Verdade: temperos prontos (em pó), biscoitos e salgadinhos com sal são inimigos da enxaqueca, porque contém glutamato monossódico. É importante verificar a existência de mais esse estimulante do cérebro na tabela nutricional do alimento;
- Verdade: a cafeína está na maioria dos analgésicos utilizados para dor de cabeça, sintoma mais conhecido da enxaqueca (mas não o único!). O uso excessivo desses medicamentos pode desencadear sérias consequências para o estômago e o intestino, além de cronificar a enxaqueca e provocar mais crises de dor de cabeça;
- É mito que o glúten presente no trigo e na cevada – e também a lactose do leite – causa enxaqueca. Nenhum alimento causa a doença, que é hereditária. Algumas pessoas possuem outras predisposições ou mesmo intolerância a alguns alimentos e o corpo pode reagir de maneira exacerbada, mas não são gatilhos para a doença;
- Mito: a pessoa com enxaqueca não deve comer doces. O açúcar não precisa ser retirado da dieta do paciente, não é causa de enxaqueca. O período que antecede a doença, chamado de pródromo, vem associado à compulsão por produtos açucarados que são fonte de energia para o cérebro, mas não têm estimulante suficiente para cronificar o cérebro excitado durante uma crise;
- Mito: cortar alimentos estimulantes é a única coisa a ser feita. Faz parte do processo de um plano de tratamento identificar na dieta do paciente a ingestão desses alimentos estimulantes e retirá-los, mas não adianta fazer isso sozinho porque a enxaqueca não é uma doença de causa alimentar, os gatilhos alimentares não são os únicos. A Nutrição está dentro de um contexto de tratamento.
“O problema não está no prato, porque as pessoas que não têm enxaqueca toleram muito melhor os alimentos estimulantes. Importante ressaltar: a enxaqueca não é doença de causa alimentar! A alimentação pode ser um gatilho ou ‘piorador’ das crises, porém, a enxaqueca não é só crise de dor de cabeça. É uma doença neurológica com dezenas de sintomas e a crise é o ápice dessa doença em que o paciente apresenta não somente a dor de cabeça severa, como também náuseas, vômitos, tonturas, auras visuais, zumbidos, pode ter também muito desânimo, alteração de humor ou mesmo alterações no funcionamento do intestino, entre outros sintomas”, explica Thaís Villa.
Tratamento
A neurologista orienta: “toda pessoa com enxaqueca deve procurar um neurologista, de preferência especialista em enxaqueca para o diagnóstico correto, e iniciar o tratamento da doença, que é complexa e tem muitas repercussões na vida do paciente. Inclusive complicações vasculares (como risco aumentado para AVC e infarto), além de perdas na qualidade de vida, como alterações do sono e de humor, tendência à ansiedade, a problemas cognitivos e outros. O tratamento integrado visa o controle dos sintomas e da doença”.
De acordo com a médica, o tratamento deve ser realizado de forma integrada e multidisciplinar, com foco no paciente como um todo. O tratamento individualizado deve combinar terapias com medicamentos de ponta e ajustes no estilo de vida, com o objetivo de proporcionar bem-estar ao paciente por meio do controle da dor.
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Comportamento
“Eu fui demitido por conta da minha doença rara” relata paciente com Doença de Pompe
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2 semanas atrásno
25 de agosto de 2024Por
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Vinicius ainda enfrentou desafios em seguir o tratamento após perder o emprego
Vinicius, 47 anos, vive em São Caetano do Sul com sua esposa e o filho. Assim como muitos brasileiros, viveu uma realidade difícil em meados de 2023: foi demitido de seu trabalho. Porém, diferente do cenário mais comum que levam a desligamentos, ele acredita que sua condição de saúde, a Doença de Pompe, diagnosticada em julho de 2019, foi o principal motivo para a dispensa. A demissão teve um impacto significativo, especialmente porque durante o período de desemprego, ele encontrou dificuldades para manter o tratamento adequado, o que resultou em uma piora na fraqueza muscular, uma das sequelas de sua doença rara.
Mesmo diante dessa adversidade, Vinicius não se deixou abater. Com dificuldade para se reinserir no mercado de trabalho, ele decidiu abrir seu próprio negócio, determinado a buscar sucesso nessa nova empreitada. Hoje, ele realiza acompanhamento médico semestral e exames periódicos para monitorar o pulmão, já que a Doença de Pompe pode afetar os músculos respiratórios de forma progressiva. Ele também faz sessões semanais de fonoaudiologia e fisioterapia para manter sua qualidade de vida. Vinicius teve sua jornada com a Doença de Pompe retratada na segunda temporada da série “Viver é Raro”, e afirma: “Eu vou buscando o meu limite”. A série já está disponível no Globoplay, inclusive para não assinantes, e compartilha em sete episódios a história e a jornada de pessoas que foram diagnosticadas com condições raras.
História e diagnóstico
Nascido e criado em São Paulo, Vinicius teve uma infância ativa, sempre envolvido em esportes, jogando futebol com amigos nas ruas do bairro. No entanto, desde pequeno, seu pai notava uma leve dificuldade em correr, mas isso nunca foi investigado profundamente. Aos 32 anos, durante uma partida de futebol, ele percebeu que suas pernas não tinham a mesma agilidade de antes. Inicialmente, ele acreditava que isso era apenas uma consequência do envelhecimento. Decidido a manter-se ativo, ele migrou para o tênis, mas logo começou a notar outros sintomas incomuns, como a queda de sua pálpebra, conhecida como ptose.
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Preocupado, Vinicius procurou a orientação de uma colega oftalmologista, que recomendou uma investigação mais profunda. A partir daí, ele iniciou uma longa jornada de consultas com neurologistas e diversos exames, mas sem um diagnóstico claro. Havia suspeitas de uma doença neuromuscular, mas a condição específica ainda precisava ser identificada. Após meses de incertezas, ele foi encaminhado ao Dr. André Macedo, Coordenador Neuromuscular da Academia Brasileira de Neurologia. Durante a consulta, Dr. André notou que a língua de Vinicius também estava comprometida, um sinal distintivo da Doença de Pompe. Embora a biópsia muscular fosse necessária para a confirmação, o médico já tinha fortes suspeitas sobre o diagnóstico.
A biópsia confirmou a suspeita, e um teste genético reforçou o diagnóstico: ele tinha a Doença de Pompe, uma condição causada pela deficiência da enzima alfa-glicosidase ácida, que leva ao acúmulo de glicogênio nos músculos, provocando fraqueza muscular progressiva e comprometimento respiratório. O diagnóstico trouxe um misto de alívio e preocupação para Vinícius e sua família. Embora soubesse que a doença tinha tratamento, o custo elevado da terapia enzimática substitutiva apresentava um novo desafio.
Tratamento e Desafios Adicionais
Após obter acesso ao medicamento, ele começou a realizar infusões intravenosas regulares em um centro de tratamento especializado. Ele logo sentiu uma melhora na força muscular, embora soubesse que o que já havia sido perdido não poderia ser recuperado. O tratamento ajudou a estabilizar sua condição, e até recuperou parte de sua fala e da deglutição. No entanto, a chegada da pandemia de Covid-19 trouxe novos obstáculos quando ele contraiu o vírus e precisou ser internado por 32 dias na UTI, a maior parte do tempo entubado devido ao comprometimento dos pulmões.
Surpreendendo a todos, Vinicius superou a Covid-19 e iniciou um longo processo de reabilitação, que durou quase um ano, no qual ele teve que reaprender a respirar e a falar. Esse período foi extremamente desafiador, mas ele se mostrou resiliente e determinado a seguir em frente.
Sobre a Doença de Pompe
A Doença de Pompe, também conhecida como glicogenose tipo II, é uma doença hereditária rara que pode se manifestar em qualquer fase da vida. É um transtorno neurovascular causado por um defeito na enzima alfa-glicosidase ácida, que provoca o acúmulo de glicogênio nos músculos. Esse acúmulo leva a fraqueza muscular progressiva, comprometimento respiratório, dores de cabeça e outros sintomas debilitantes. A doença afeta um indivíduo a cada 50 mil nascidos, e no Brasil, estima-se que existam cerca de 2,5 mil pessoas nessa condição. O diagnóstico precoce é fundamental para o tratamento eficaz, que pode retardar a progressão da doença e melhorar a qualidade de vida do paciente.
Sobre a série “Viver é Raro”
“Viver é Raro” é uma série documental que estreou sua segunda temporada no Globoplay. Produzida pela Casa Hunter, em parceria com a Cinegroup e Vbrand, a série traz histórias inspiradoras de pessoas com doenças raras. Cada episódio destaca a luta e a coragem dessas pessoas e suas famílias, mostrando que, apesar dos desafios, elas continuam a sonhar e a perseguir seus objetivos. A série tem como missão desmistificar a jornada das doenças raras, gerar conscientização sobre a causa e contribuir para a construção de políticas públicas mais inclusivas e efetivas.
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Comportamento
O Brasil enfrenta uma epidemia de ‘burnout’?
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2 semanas atrásno
25 de agosto de 2024Por
Fato novo
A jornada de trabalho que chegava a durar 16 horas por dia, o excesso de responsabilidades e o sentimento de viver em função do emprego foram cruciais para que Juliana Ramos de Castro, de 41 anos, desenvolvesse uma síndrome de burnout.
Os primeiros sinais apareceram, em 2020, quando a nutricionista trabalhava como autônoma.
“Na época, acreditava que o que estava sentido era crise de ansiedade e fui levando o consultório até conseguir um trabalho em uma empresa em meados de 2022”, conta Juliana.
Quando assumiu um cargo de gerente, com uma jornada de trabalho extenuante, os sintomas, que até então oscilavam, tornaram-se frequentes.
“Comecei a sentir um cansaço fora do normal, onde mesmo descansando o fim de semana todo, não me recuperava”, diz ela.
“Ao mesmo tempo, eram constantes as dores no peito, tontura, crises de choro, confusão mental e isolamento social. Não havia um gatilho para acontecer, simplesmente vinha, em qualquer lugar e momento.”
Ao procurar ajuda médica, Juliana descobriu que o que acreditava ser ansiedade era, na verdade, burnout.
Essa síndrome ocupacional é causada por um estresse crônico na vida profissional e se caracteriza também, além da exaustão, por um sentimento de negatividade em relação ao trabalho e uma piora do desempenho.
“Fiquei surpresa, fui afastada pelo médico psiquiatra do trabalho por 60 dias. E quando voltei, resolvi pedir demissão e mudar de área”, conta Juliana, que hoje trabalha como analista de um escritório de advocacia, um ambiente de trabalho que ela considera “mais saudável”.
Em 2023, 421 pessoas foram afastadas do trabalho por burnout — é o maior número dos últimos dez anos no Brasil, segundo dados do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), do Ministério da Previdência Social.
O aumento ocorreu, principalmente, durante a pandemia do coronavírus. De 178 afastamentos por burnout, em 2019, o Brasil passou para 421, em 2023, um aumento de 136%.
Em uma década, o número de afastamentos por este motivo cresceu quase 1.000%, como mostra o gráfico abaixo.
Para especialistas ouvidos pela BBC News Brasil, três fatores ajudam a explicar este crescimento de diagnósticos de burnout no país:
- Maior conhecimento da população sobre transtornos e síndromes relacionados ao trabalho, principalmente, a partir do reconhecimento da Organização Mundial da Saúde (OMS) do burnout como uma síndrome ocupacional;
- Maior nível de cobrança sobre trabalhadores no ambiente organizacional, o que culmina em pressão e estresse, desencadeadores de transtornos e síndromes;
- E confusão de especialistas na hora de identificar se o paciente tem burnout ou outros transtornos mentais relacionados ao trabalho.
Hoje, estima-se que 40% das pessoas economicamente ativas sofram de burnout, aponta Alexandrina Meleiro, médica psiquiatra e porta-voz da Associação Nacional de Medicina do Trabalho (ANAMT).
“Mas nem todos os casos são identificados”, diz a especialista.
No Brasil, as únicas estatísticas oficiais disponíveis em relação à síndrome de burnout são contabilizadas pelo Ministério da Previdência Social, que apenas afere os afastamentos do trabalho por mais de 15 dias.
Os afastamentos por burnout por menos tempo não são contabilizados nas estatísticas oficiais.
Além disso, segundo Antônio Geraldo da Silva, presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), atualmente, uma resolução do Conselho Federal de Medicina (CFM) estabelece que o médico é obrigado a provar que há uma relação entre o trabalho e o esgotamento profissional.
“Assim, pelo CFM, o médico psiquiatra somente pode afirmar que o paciente tem burnout se visitar pessoalmente o local de serviço e fizer nexo causal”, diz Silva.
“Atendimentos apenas em consultórios não podem fazer tal diagnóstico.”
O que explica o aumento de diagnósticos?
Bruno Chapadeiro Ribeiro, pesquisador do Laboratório de Pesquisa em Psicologia, Organizações, Saúde, Trabalho e Educação (Laposte) da Universidade Federal Fluminense (UFF), diz que o Brasil enfrenta atualmente uma epidemia não apenas de burnout, mas também de transtornos mentais relacionados ao trabalho — o INSS contabiliza casos de burnout e de transtornos mentais e comportamentais separadamente.
“Nota-se essa maior incidência não só clinicamente, mas também nas pesquisas científicas que fazemos e nas perícias trabalhistas”, afirma Ribeiro.
Dados do Ministério da Previdência Social apontam que, no ano passado, 27 trabalhadores foram afastados por dia devido a transtornos mentais e comportamentais relacionados ao trabalho.
Um total de 10.028 auxílios doenças foram concedidos por este motivo.
Para Ribeiro, o aumento de diagnósticos de burnout e de transtornos mentais relacionados ao trabalho ajuda a explicar um segundo fenômeno que ocorre no Brasil: o do crescimento de pedidos de demissão.
“Temos atravessado um momento histórico em que mais uma vez as relações e formas de trabalho têm sido questionadas, principalmente, por uma juventude de classe média insatisfeita com as formas com que o trabalho se organiza”, afirma Ribeiro.
“Nesse sentido, assistimos a fenômenos tais com o quiet quitting ou great resignation — termo utilizado para descrever a onda de demissões voluntárias do pós-pandemia — em que jovens altamente escolarizados pedem demissão de seus trabalhos por não verem mais sentido do trabalho e estarem à beira de um colapso por exaustão.”
Meleiro avalia que isso ocorre devido a uma maior demanda por performance sobre os trabalhadores, em um curto espaço de tempo.
“A política econômica globalizada reduz custos com enxugamento de profissionais na empresa, assim, quem fica acaba trabalhando mais”, explica Meleiro.
“Além disso, com a expansão da informatização, sem o funcionário ter tempo de se atualizar, um duplo estresse emocional e físico é gerado no trabalhador. Isso acaba por gerar um aumento de diagnósticos de transtornos mentais relacionados ao trabalho.”
Descrito pela primeira vez em 1974, pelo médico psicanalista alemão-americano Herbert Freudenberger, o termo burnout é oriundo de “burn out”, que, em inglês, significa “queimar por completo” ou “esgotamento”.
Ficou mais conhecido entre os trabalhadores a partir de 2022, quando a síndrome foi incorporada à lista de classificação internacional de doenças da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Entrou na lista como um dos fatores que influenciam o estado de saúde de uma pessoa ou a leva a buscar os serviços de saúde — mas que não são classificados como doenças ou condições de saúde.
Agora, quem é diagnosticado com burnout tem as mesmas garantias trabalhistas e previdenciárias previstas para doenças do trabalho, como lesão por esforço repetitivo (LER) e transtornos de ansiedade.
“Assim, o que anteriormente era entendido com um quadro de ansiedade aguda ou crônica relacionado ao trabalho, hoje, muitas vezes com o reconhecimento oficial da OMS, médicos diagnosticam como burnout”, ressalta Meleiro.
“Isso faz com que tenhamos essa impressão de mais casos.”
Segundo Ana Maria Rossi, presidente da International Stress Management Association no Brasil (Isma-BR), organização dedicada à pesquisa, prevenção e tratamento do estresse, há um segundo fator: os diagnósticos equivocados de burnout.
“É muito comum vermos situações em que o burnout é confundido com a depressão no trabalho. Isso faz com que esse aumento de burnout também seja reflexo desse número de diagnósticos equivocados”, afirma Rossi.
Sintomas e tratamento do ‘burnout’
Rossi explica que, para ser burnout, primeiro, os sintomas precisam estar relacionados ao trabalho.
“Dessa forma, um estudante ou gestante que não esteja no mercado de trabalho, por mais que estejam exaustos ou com sintomas similares aos da síndrome, não podem ter burnout, mas, sim, outros transtornos mentais, como a depressão.”
A especialista explica que, para o burnout ser diagnosticado, o paciente precisa ter ao menos uma das três dimensões que caracterizam a síndrome:
- Exaustão emocional: um cansaço profissional excessivo. Ocorre quando a pessoa percebe não tem mais a energia que seu trabalho requer.
- Despersonalização: uma perda de sentimentos em relação a outras pessoas no trabalho, equipe ou clientes. É uma dimensão típica do burnout que o diferencia do estresse.
- Reduzida realização profissional: sensação de insatisfação que a pessoa passa a ter com ela própria e com a execução de seu trabalho, gerando sentimentos de incompetência e baixa autoestima.
Elton Kanomata, médico psiquiatra do Hospital Israelita Albert Einstein, destaca que essas dimensões podem ser identificadas pelo próprio paciente a partir de sintomas físicos, cognitivos e emocionais.
“Dentre os sintomas físicos, é comum os pacientes com burnout terem fadiga persistente, insônia, tensão e dores musculares, cefaleia, sintomas gastrointestinais e aumento ou perda de apetite”, explica Kanomata.
Com relação aos problemas cognitivos, o psiquiatra ressalta a dificuldade de concentração e raciocínio, sensação de estafa mental e lapsos de memória.
“Já na esfera emocional, é comum o paciente ter esgotamento emocional, baixa autoestima com relação às competências e capacidades, sentimento de fracasso, desânimo, desmotivação, impaciência, irritabilidade, diminuição ou perda de interesses antes prazerosas, sintomas ansiosos e fóbicos em relação ao ambiente de trabalho ou a pessoas e elementos que remetam ao trabalho”, diz Kanomata.
O tratamento da síndrome de burnout é feito com o apoio de profissionais por meio de psicoterapia e medicamentos (antidepressivos e/ou ansiolíticos).
Segundo especialistas, os primeiros efeitos são sentidos pelo paciente, entre um e três meses após o início do tratamento.
“Por isso, o tratamento deve ser individualizado e estruturado após uma avaliação detalhada da saúde física e mental de um profissional da saúde”, diz Elton Kanomata, do Albert Einstein.
Antônio Geraldo da Silva, da ABP, também ressalta quem tão importante quanto a terapia e o uso de medicamentos, é a mudança no estilo de vida do paciente.
“Praticar esportes, desenvolver estratégias para gerenciar o estresse, ter uma boa qualidade de sono, realizar atividades de lazer e ter tempo de qualidade com familiares e amigos é muito importante neste processo”, pontua Silva.
O especialista ressalta que, quando não tratado, o burnout pode levar ao desencadeamento de outros transtornos mentais.
‘Muitos achavam que era frescura’
Além dos sintomas físicos, cognitivos e emocionais, é comum que pessoas com burnout enfrentem durante o tratamento o preconceito contra síndromes e transtornos mentais — a chamada psicofobia.
A pedagoga Kátia Aparecida Mantovani Corrêa, de 45 anos, diz que, quando sentiu os primeiros sintomas de burnout, foi comum enfrentar comentários de pessoas ao seu redor dizendo que ela queria chamar atenção.
“Era difícil para muita gente entender que a Kátia proativa, polivalente sempre pronta e disposta para agir em qualquer situação, de repente deu pane. Muitos achavam que era frescura e que eu queria chamar a atenção”, diz a pedagoga.
O diagnóstico veio em 2023. Acostumada a trabalhar sem parar, no início, ela achou que os sintomas que sentia há cerca de um ano eram devido ao cansaço e estresse diário. Mas, nas férias, percebeu que aquilo não era normal.
“Lembro que não conseguia desligar meus pensamentos, mesmo de férias. Minha cabeça estava a milhão. Foi quando resolvi procurar ajuda”, conta Kátia.
Trabalhando desde os 12 anos de idade, ela diz que, em um primeiro momento, não admitiu ter burnout.
“Levei quase um ano para esse processo de autoconhecimento, aceitação e renovação. Hoje, levo a vida mais tranquila e mais concentrada. Digo que aprendi a importância de dizermos não.”
Outro problema comum são empresas que lidam negativamente com um diagnóstico de burnout, pontuam especialistas.
Isso faz com que muitos trabalhadores procurem ajuda especializada tardiamente, quando os sintomas estão mais graves ou desencadeando outros transtornos mentais, como a depressão.
O gerente de projetos Lucca Zanini, de 26 anos, diz que, quando foi afastado do trabalho pela primeira vez por não estar bem mentalmente, sua preocupação só aumentou.
“Sabia que a empresa não veria isso com bons olhos e meu maior medo era de ser demitido assim que eu voltasse”, diz Lucca.
Temor que se confirmou. Ao voltar ao trabalho, ele conta que os colegas passaram a tratá-lo de forma diferente. “Não demorou para eu ser desligado.”
A demissão fez Lucca procurar ajuda especializada. Hoje, em um novo emprego, ele diz que a vida é outra.
Atualmente, além dos medicamentos e atividades físicas semanais, Lucca diz que separa um tempo somente para família e outro para o trabalho.
“Aprendi a falar não. Não aceito mais atividades que excedam minha capacidade de trabalho. Foco em minhas responsabilidades pessoais e dou a devida importância ao que vale a pena.”
Alexandrina Meleiro, da ANAMT, ressalta que, se for comprovado que a empresa ajudou a desencadear o burnout, pode ser responsabilizada judicialmente.
“O grande desafio é comprovar isso. Algumas empresas já são penalizadas por causarem burnout no funcionário, principalmente na Europa, mas ainda é muito difícil estabelecer o nexo causal”, ressalta Meleiro.
No Brasil, em 2022, uma operadora de turismo foi condenada pela Justiça do trabalho a pagar indenização de R$ 20 mil por danos morais a uma profissional que teve burnout.
De acordo com os autos, a profissional afirmou que se sentia sobrecarregada com o volume excessivo de atividades e pelas cobranças insistentes por parte dos chefes a qualquer momento, o que foi comprovado por meio de mensagens.
Para Bruno Ribeiro, da UFF, é necessário um maior engajamento das empresas brasileiras para prevenir o burnout.
“A prevenção envolve mudanças na cultura da organização do trabalho, estabelecimento de restrições à exploração do desempenho individual, diminuição da intensidade de trabalho, diminuição da competitividade e busca de metas coletivas que incluam o bem-estar de cada um.”
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