Brasília – O economista norte-americano Paul Krugman , vencedor do Prêmio Nobel de Economia em 2008 e colunista do The New York Times , criticou duramente a decisão do presidente Donald Trump de impor uma tarifa adicional de 50% sobre produtos brasileiros , anunciada na quarta-feira (9/7). Em postagem no seu blog, Krugman classificou a medida como “diabólica e megalomaníaca” , destacando que ela não tem base econômica e parece ser uma tentativa de proteger o ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro , aliado político de Trump.
“Eu não costumo fazer postagens noturnas, mas a última carta de Trump, impondo tarifas de 50% ao Brasil, merece um boletim especial. Afinal, [a medida] é diabólica e megalomaníaca.”
Sem justificativa comercial
Krugman ressaltou que as tarifas anunciadas por Trump não têm fundamentação comercial ou econômica consistente . Segundo ele, os dados da Organização Mundial do Comércio (OMC) mostram que o Brasil exporta apenas 11,4% de seus produtos para os Estados Unidos , enquanto o principal parceiro comercial do país é a China , responsável por 26,8% das exportações brasileiras .
“Trump realmente imagina que pode usar tarifas para intimidar uma nação gigante, que sequer é muito dependente do mercado dos EUA, para que eles abandonem a democracia?”
Para o economista, a medida faz parte de uma estratégia política mais ampla: pressionar governos estrangeiros para beneficiar líderes autoritários ou simpatizantes ideológicos . Ele comparou a atitude de Trump com episódios semelhantes durante sua gestão anterior, incluindo o apoio a figuras antidemocráticas.
Protegendo aliados políticos
Na carta oficial enviada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva , Trump afirmou que o Brasil estaria tratando o ex-presidente Jair Bolsonaro de forma injusta, referindo-se à investigação no Supremo Tribunal Federal (STF) que apura responsabilidades na tentativa de golpe de Estado após a eleição de 2022.
Krugman lembrou que Bolsonaro tentou manter-se no poder após perder as eleições, em movimento semelhante ao ocorrido nos EUA após a derrota de Trump em 2020 — que resultou na invasão ao Capitólio em janeiro de 2021.
“É o presidente anterior do Brasil, que perdeu a última eleição, mas tentou se manter no poder através de um golpe para reverter aquela eleição. Claro que soa familiar.”
O economista também destacou que Trump já concedeu perdões presidenciais a apoiadores envolvidos no ataque ao Capitólio , sugerindo uma linha contínua de comportamento entre ambos os líderes.
“Agora, Trump está tentando usar tarifas para ajudar outro projeto de ditador. Se você ainda pensa nos EUA como um dos mocinhos do mundo, isso deve te mostrar de qual lado nós estamos atualmente.”
Críticas à diplomacia comercial dos EUA
Krugman chamou atenção para o fato de que Trump está usando instrumentos comerciais para interferir em processos internos de outros países , algo que vai contra as práticas tradicionais da diplomacia econômica norte-americana.
“Note que Trump mal finge que há uma justificativa econômica para sua ação. É sobre punir o Brasil por julgar Jair Bolsonaro.”
Além disso, o economista considerou que a medida pode servir como argumento adicional para o processo de impeachment caso Trump retorne ao cargo. No entanto, ele reconheceu que outras acusações já pesam contra o ex-presidente.
“Como eu disse, diabólico e megalomaníaco. Se ainda temos uma democracia funcional, essa jogada com o Brasil poderia fundamentar o impeachment. Claro, isso deveria esperar na fila, atrás de outros argumentos.”