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Agropecuária

Produzir cerveja, uma arte milenar

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Por Décio Luiz Gazzoni, enólogo, engenheiro agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja e membro do Conselho Científico Agro Sustentável (CCAS) e da Academia Brasileira de Ciência Agronômica

Autores apontam os primeiros registros de cerveja na Europa Neolítica (bit.ly/40jJoYo), algo como 5.000 anos a.C. Escritos mesopotâmicos descreviam rações diárias de cerveja e pão para os trabalhadores, com produção caseira de cerveja vez que assar e fermentar eram vistos como “trabalho de mulher” (bit.ly/3WncDYU).

A migração do lar para a fabricação comercial de cerveja iniciou em, aproximadamente, 2.500 a.C. (bit.ly/42cSh8C), na antiga Mesopotâmia. Os cervejeiros dispunham não apenas de aprovação social, mas da proteção divina da deusa Ninkasi (bit.ly/3PENXYi). Também são encontrados registros milenares de monastérios dedicando-se à produção de cerveja, sendo que um deles, a Weltenburg Abbey, data de 1040 a.C., e produz cerveja até o presente momento.

Matéria prima e maltagem

Diversos cereais, como cevada, trigo, milho, arroz e são usados para produzir cerveja. O tipo de cereal usado afeta o sabor e a cor da cerveja. O cereal mais usado, no mundo ocidental, é a cevada. O trigo possui maior teor de proteína, e pode ser maltado, produzindo cervejas de sabor agradável. O milho adiciona uma doçura suave e neutra à cerveja, sendo utilizado para clarear as lagers americanas. Já o arroz é usado principalmente na Ásia, mas, também, nos EUA, conferindo cor mais clara e um sabor mais delicado, além de permitir a produção de cerveja sem glúten. Outros cereais, como centeio, sorgo, milheto, triticale, aveia, trigo sarraceno e quinoa também são utilizados em alguns países.

Selecionada a matéria prima, é necessário promover a maltagem, que envolve a maceração, germinação e secagem, para obter as enzimas (amilases), que convertem o amido em açúcares, como a maltose, e em polímeros da glicose, como maltotriose e maltodextinas.

O grão recebido na maltaria é analisado para assegurar o atendimento às características necessárias, entre elas a umidade de 13%. Após a limpeza, e atingida umidade adequada, o cereal pode ser armazenado sem alterações por mais de um ano, permitindo abastecer a indústria no período de entressafra. Durante o armazenamento, é importante manter a temperatura da massa de grãos abaixo de 18º C, para evitar o desenvolvimento de insetos, o que também pode exigir o uso de produtos químicos.

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Para iniciar a maltagem, os grãos dispostos em um ambiente apropriado, recebem água até cobrir a lâmina de grãos, aumentando a sua umidade de 13 para perto de 50%. Durante o processo de maceração, ocorre uma aeração da massa úmida de grãos, para maximizar o seu crescimento, mantendo-se uma temperatura entre 10 e 15º C. O ar ambiente deve ser ventilado, para remover o excesso de gás carbônico e manter a concentração ideal de oxigênio. Em instalações industriais modernas, os grãos são submersos e drenados por três ciclos, o que demora cerca de 40 horas, até atingir a umidade desejada, e ter início a germinação, sinalizada pelo surgimento das radículas nos grãos.

Durante a germinação, que dura em torno de cinco dias, há a formação de enzimas de malte, que rompem as paredes celulares e modificam o endosperma do grão. Esse processo é altamente exotérmico, o que demanda controle da temperatura, para evitar que o malte queime e se torne inaproveitável. A temperatura é mantida entre 10 e 16 °C por aeração, e a massa de grãos é movimentada mecanicamente, para evitar a formação de bolsas de alta temperatura, mantendo a uniformidade da mesma.

Quando o processo de germinação dos grãos atinge o estágio determinado pelo mestre cervejeiro, ocorre a secagem, que interrompe a germinação. No início, a secagem é efetuada com a mesma temperatura da germinação, para não prejudicar as enzimas. Porém, à medida que a umidade da massa diminui, é possível utilizar secagem forçando ar quente e seco, até que a umidade atinja 5%.

No final da secagem, que é chamada de cura, a temperatura ultrapassa 80º C, para evitar a formação de metiltiometano (DMS), um composto indesejado nas cervejas. O DMS provoca um inconfundível sabor de legumes cozidos, como milho em conserva ou repolho na sua cerveja. Nesse ambiente de alta temperatura, a reação de Maillard ocorre entre açúcares redutores e aminoácidos, criando melanoidinas, que são os compostos que dão cor dourada e sabor característico a diversos alimentos, entre eles a cerveja.

Após a secagem ocorre a torrefação, e diferentes tempos e temperaturas de torrefação são usados para produzir uma diversidade de cores de malte, a partir do mesmo grão. Maltes mais escuros produzirão cervejas mais escuras. Finalizada a torrefação, as raízes que se formaram na germinação são removidas e destinadas a outros usos (como ração animal), os grãos que formam o malte são moídos ou esmagados, visando expor o endosperma, que contém a maioria dos carboidratos e açúcares, permitindo a sua extração durante a brassagem.

Brassagem

Também denominada mosturação, é a etapa que dura uma a duas horas, durante a qual os amidos que foram liberados na malteação são convertidos em açúcares fermentáveis. Os grãos moídos são misturados com água quente (70º C), na tina de mostura, permitindo que as enzimas (amilases) presentes no mosto promovam a sacarificação, que converte o amido em açúcares como monossacarídeos (glicose ou frutose), dissacarídeos (sacarose) ou trissacarídeos (rafinose ou melizitose), porém o principal açúcar obtido é a maltose, composto por duas moléculas de glicose.

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Durante a brasagem a temperatura é aumentada em “degraus”, para permitir a atuação de diferentes enzimas, de acordo com o produto que se pretende obter. Por exemplo, com o mosto na faixa de 50º C, ocorre a ativação de proteases, de decompõem proteínas, cuja presença no produto final pode turvar a cerveja. Já a 60° C é otimizada a ação da β-glucanase, que decompõe os β-glucanos, que são gomas presentes no mosto, fazendo com que os açúcares fluam mais livremente.

Temperaturas superiores a 65º C representam o ideal para converter os amidos em açúcar. Mas, existem detalhes a considerar: temperatura próxima a 65º C, favorece a β-amilase, produzindo mais maltotriose, maltose e glicose, que são mais fermentáveis, e que darão origem a uma cerveja com menos corpo e mais álcool. No limite superior, de 70o C, é otimizada a ação da α-amilase, produzindo mais açúcares complexos e dextrinas, que são menos fermentáveis, resultando em uma cerveja mais encorpada e com menos álcool. As variações de duração e pH também afetam a composição de açúcar do mosto resultante da brasagem.

Ao final do processo, a temperatura é aumentada a 75-80º C, para liberar mais amido e reduzir a viscosidade, bem como pode ser adicionada água ao mosto, para extrair mais açucares, após o que o mosto é retirado pelo fundo da tina, separado da fração sólida.

Filtragem e fervura

A filtração é a separação do mosto da parte sólida, normalmente executada em duas etapas. Na primeira delas, o mosto escorre livremente, por gravidade, do recipiente onde foi executada a brassagem. Na segunda fase, o resíduo sólido, contendo os grãos, é enxaguado com água quente. O fundo da tina contém orifícios de pequeno diâmetro, que permitem a passagem do mosto, mas não da massa sólida, que contém os grãos.

Para que seja extraído o máximo de mosto possível, é necessário movimentar a massa sólida, permitindo que o líquido escorra pelos orifícios do fundo. Porém, uma parte da fase líquida ainda é retida na massa sólida, razão pela qual ela é submetida a um filtro -prensa de placas. Aplicada a pressão, o restante do líquido ainda retido na massa sólida é retirado.

Na sequência, promove-se a fervura do mosto, a qual tem como objetivos permitir a ocorrência de reações químicas, esterilizar o mosto, extrair o sabor do lúpulo (que é adicionado antes do início da fervura), finalizar os processos enzimáticos, precipitar as proteínas e concentrar o mosto.

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A fervura dura entre 45 e 90 minutos, até que atinja o volume desejado pelo mestre cervejeiro. Durante a fervura os sabores estranhos são eliminados, incluindo o sulfeto de dimetila, que é evaporado.

Ao final da fervura, as partículas sólidas que se encontram em suspensão no mosto lupulado são separadas, em um tanque de decantação ou sedimentação, chamado de Whirlpool, onde o mosto é turbilhonado, formando um redemoinho no centro, para extrair proteínas coaguladas e restos do lúpulo adicionado antes da fervura. Ao girar o mosto dentro do tanque, cria-se uma força centrípeta, forçando os resíduos sólidos para um cone central, que termina no fundo do tanque, de onde os resíduos separados são removidos.

O efeito descrito acima também pode ser obtido através do Hop Back, utilizando um recipiente onde o mosto fervido – ao qual não foi ainda adicionado lúpulo – é colocado ainda quente, seguindo-se a adição de lúpulo. O resultado final é semelhante ao processo anterior, pois os aromas e sabores característicos do lúpulo são, então, transferidos para o mosto.

Mestres cervejeiros experimentados afirmam preferir o Hop Back pois, além de maior extração dos óleos essenciais do lúpulo, também contribui para a preservação dos aromas e sabores, resultando em uma cerveja mais aromática e saborosa.

Em ambos os casos, o mosto, com os sabores do lúpulo incorporados, é resfriado a 20 – 26º C, e segue para a fermentação.

Fermentação

Na preparação para a fermentação o mosto é aerado, e colocado em vasilhames ou cubas, onde recebe a adição de leveduras de culturas puras. As leveduras convertem os açúcares desdobrados do amido, durante a maltagem, em etanol e dióxido de carbono, sendo este o gás que vai borbulhar na cerveja.

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A fermentação pode ser realizada em recipientes fechados ou abertos. Existem diferentes métodos de fermentação, conhecidos como a) quente; b) fria; e c) espontânea.  A elas estão associadas as leveduras, sendo classificadas de cultura superior (Saccharomyces cerevisiae), usadas em fermentações quentes, um processo mais rápido, normalmente em temperaturas de 15 – 20º C, mas que podem chegar a 24º C; e cultura inferior (S. pastorianus), para processos fermentativos mais lentos, e que possui a particularidade de desdobrar a melibiose, ao contrário da S. cerevisiae. Em ambos os casos, a levedura está bem distribuída no seio do mosto, aglomerando-se e precipitando para o fundo do recipiente, ao término da fermentação.

As cervejas obtidas por fermentação quente costumam ser chamadas de “ale, e podem ser consumidas em cerca de três semanas após a fermentação, dependendo do mestre cervejeiro, porque, em alguns casos, eles preferem maturação por alguns meses para atingir o sabor desejado.

Na fermentação fria, a temperatura durante o processo é em média, de 10º C, sendo armazenadas por semanas ou meses em baixas temperaturas, sendo chamada de lager. Assim, a diferenciação do tipo de cerveja se dá pela levedura utilizada, pela temperatura de fermentação, e pelo período de armazenamento (maturação) após a fermentação.

A fermentação espontânea é pouco utilizada, restrita a algumas marcas e em alguns países. Sua característica é não haver inoculação de leveduras, sendo a fermentação conduzida em cubas abertas, permitindo que as leveduras presentes no ambiente se estabeleçam no mosto, produzindo a fermentação.

A fermentação quente ou fria pode ocorrer em recipientes abertos ou fechados. Ainda pode haver uma fermentação secundária na cervejaria, barril ou garrafa. Quando se encerra a fermentação, as leveduras e outros sólidos são separados do líquido, que é a cerveja semi-acabada.

Maturação e filtração

Nesta etapa, diferentes abordagens podem ser utilizadas. O método Kräusening preconiza adicionar uma pequena quantidade de mosto ainda em fermentação, em cervejas onde a fermentação já acabou, propiciando condição para uma segunda fermentação, cujo objetivo principal é a formação de gás carbônico, que estará presente na cerveja quando pronta para consumo.

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Para o envelhecimento, as cervejas tipo lager são armazenadas em baixa temperatura por 1 a 6 meses, sendo o processo denominado “lagering“, que pode ser aplicado também à produção de cerveja tipo ale, promovendo a eliminação de substâncias químicas não desejadas.  Em alguns casos, é promovida uma segunda fermentação na própria garrafa destinada a consumo, com o mesmo objetivo de produção de dióxido de carbono que fica dissolvido na cerveja.

A filtração consolida o sabor da cerveja, ao eliminar leveduras e outras substâncias indesejadas, o que poderia levar à formação de substâncias com sabor desagradável. Igualmente, a filtração confere um aspecto mais claro, com aspecto dourado, que é visualmente muito agradável, em especial quando combinado com a espuma na parte superior do copo.

Completada a sequência de fabricação, a cerveja está pronta para consumo, variando a temperatura ideal de acordo com o tipo de cerveja e o clima do local onde está sendo consumida. Salute!


*O autor é enólogo, engenheiro agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja e membro do Conselho Científico Agro Sustentável e da Academia Brasileira de Ciência Agronômica.

*Alfapress Comunicações – Mariana Cremasco

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1 comentário

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    14/07/2025 em 18:50

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Agropecuária

Logística: Ferrovia de Mato Grosso Atinge 73% de Conclusão e Promete Reduzir Custo de Frete de Grãos

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🛤️ Ferrovia de Mato Grosso (FMT), descrita como o maior projeto ferroviário em construção no país, alcançou 73% de avanço e terá 211 km em operação até 2026. Com investimento total estimado em R$ 15 bilhões, a malha de 743 km visa otimizar o escoamento de grãos do Mato Grosso, com potencial de reduzir custos de transporte de commodities em até 50%.


Avanço da FMT e Metas de Entrega

O projeto da Ferrovia de Mato Grosso (FMT), considerado o maior empreendimento ferroviário atualmente em construção no Brasil pela Associação Nacional das Empresas de Transporte de Cargas (ANATC), atingiu a marca de 73% de completude em novembro. A primeira etapa da obra, que prevê 211 quilômetros de malhas, tem previsão de ser concluída e entrar em operação até o ano de 2026.

A ferrovia é um investimento integralmente financiado por capital privado, somando um aporte atual de cerca de R$ 5 bilhões, com o custo total estimado em R$ 15 bilhões ao final de todas as fases. O projeto conta com apoio institucional, incluindo um aporte de R$ 467,2 milhões do Fundo de Desenvolvimento do Centro-Oeste (FDCO), via Superintendência de Desenvolvimento do Centro-Oeste (SUDERCO).

Impacto na Produção Agrícola do Mato Grosso

O Mato Grosso é o maior produtor de grãos do Brasil, responsável por aproximadamente 31,5% da produção nacional total. A safra 2024-2025 atingiu o volume de 111,9 milhões de toneladas, com uma área destinada ao cultivo de cerca de 22,3 milhões de hectares. Os principais cultivos do estado são soja (27,2% da produção nacional), milho (24,9% da produção nacional), algodão e arroz. Mais de 60% da soja e metade do milho produzidos no estado são destinados à exportação, servindo em grande parte para a produção de ração animal em escala global.

A FMT terá um total de 743 quilômetros de trilhos e é crucial para o escoamento dessa produção.

Fases da Obra e Redução de Custos Logísticos

O projeto da ferrovia foi formalizado em 2021, após a aprovação da proposta apresentada pela Rumo S.A., a principal operadora ferroviária do país e especialista no transporte de commodities agrícolas. As obras tiveram início em 2022 e estão divididas em três etapas.

Fase Inicial: Rondonópolis a Campo Verde

A etapa inicial, de 211 quilômetros, conecta o município de Rondonópolis – que é um grande polo de esmagamento, refino e envase de óleo de soja – a um terminal de escoamento em construção entre Dom Aquino e Campo Verde.

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  • Terminal BR-070: O terminal de transbordo da primeira fase está projetado para ter uma capacidade de escoamento de até 10 milhões de toneladas por ano.

  • Emprego: A primeira fase mobilizou cerca de cinco mil postos de trabalho, o que representa uma parte significativa das vagas abertas em obras de infraestrutura no estado, com uma média de um quilômetro de malha concluído diariamente.

Vantagem Competitiva

A FMT visa reduzir a dependência do transporte rodoviário, modal que atualmente obriga os grãos a percorrerem cerca de 500 km até o terminal de embarque mais próximo. A expectativa, segundo a Rumo, é que a ferrovia promova uma redução de até 50% no custo do frete em comparação com o modal rodoviário, oferecendo uma vantagem competitiva à produção agrícola.

As fases subsequentes do projeto preveem a expansão da ferrovia para regiões de forte fronteira agrícola, como Lucas do Rio Verde e Nova Mutum, além da inclusão de um ramal projetado para a capital, Cuiabá.


C0m informações da: Revista Fórum

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Agropecuária

Agricultura Familiar: Projeto de Lei Define Imóveis de Até 2.000m² como Propriedades Rurais Produtivas

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🚜 Comissão de Agricultura da Câmara aprova PL 918/25, que formaliza como rurais propriedades de 0,2 hectare (2.000 m²). A medida visa conceder acesso a crédito e assistência técnica a pequenos agricultores, reconhecendo a importância da produção de alimentos em áreas antes consideradas minifúndios.


Câmara Avança na Formalização de Pequenas Parcelas Rurais

A Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural (CAPADR) da Câmara dos Deputados aprovou, no início de dezembro, o Projeto de Lei (PL) 918/25. A proposta estabelece um novo marco legal ao definir formalmente imóveis rurais com área de até dois mil metros quadrados (0,2 hectares) como propriedades rurais produtivas.

Esta classificação abrange áreas destinadas à produção agrícola, pecuária ou agropecuária, seja para fins de subsistência ou para comercialização. O projeto segue agora para análise em outras comissões da Câmara, buscando reconhecer legalmente a atividade produtiva em parcelas de terra que historicamente enfrentam dificuldades de enquadramento.

Benefícios Diretos para o Pequeno Produtor

A formalização dessas pequenas áreas como propriedades rurais produtivas é crucial para que os agricultores que as ocupam possam acessar políticas públicas específicas. O PL 918/25 estabelece três grupos principais de benefícios que serão concedidos a essas propriedades, com critérios ainda a serem regulamentados por órgãos competentes:

  1. Acesso a Crédito e Financiamento: Facilita a obtenção de linhas de crédito e financiamentos específicos voltados para pequenos agricultores.

  2. Isenção de Impostos: Concede a isenção de taxas e impostos municipais vinculados à atividade rural.

  3. Capacitação e Assistência Técnica: Garante a disponibilidade de programas de capacitação e assistência técnica oferecidos por órgãos estaduais e federais.

Essas propriedades, com menos de 2 hectares, são frequentemente classificadas como parcelas muito pequenas ou minifúndios, muitas vezes situadas abaixo da Fração Mínima de Parcelamento (FMP) estabelecida pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA). Tal situação, historicamente, impõe restrições ao seu registro como propriedades rurais independentes e ao acesso a benefícios legais.

O Papel Estratégico da Agricultura Familiar

O autor do projeto, Murillo Gouvea (UNIÃO/RJ), destacou a relevância da medida para o reconhecimento da agricultura familiar no cenário nacional. “A definição das chácaras como pequenas propriedades rurais é essencial para reconhecer a importância da agricultura familiar na economia e na preservação ambiental”, afirmou.

Os dados do último Censo Agropecuário (2017) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sublinham a importância desse segmento:

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  • Estrutura Rural: O Brasil possuía cerca de 5,07 milhões de estabelecimentos rurais, com a agricultura familiar respondendo por até 76,8% desse total.

  • Produção de Alimentos: O segmento familiar é responsável pela maior parte da produção de alimentos básicos do país, como feijão (70%), arroz (34%) e mandioca (87%).

  • Ocupação de Área: Embora represente a maioria dos estabelecimentos, a agricultura familiar ocupa cerca de 23% da área total destinada à agropecuária.

A Lei 11.326/2006 define o agricultor familiar como aquele que pratica atividades rurais, possui área de até quatro módulos fiscais, utiliza predominantemente mão de obra familiar, gerencia o empreendimento e obtém renda vinculada ao estabelecimento. O PL 918/25 busca, portanto, alinhar a legislação à realidade produtiva das menores propriedades, garantindo-lhes o devido suporte legal e econômico.


Com informações de: Revista Fórum

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Agropecuária

Adaptação e abordagens diferenciadas no enfrentamento à mudança do clima

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A agropecuária brasileira é crucial no enfrentamento à mudança do clima, tendo sofrido perdas de R$ 260 bilhões nos últimos dez anos devido a eventos extremos. O novo Plano Clima do Governo Federal e o Plano ABC+ setorial destacam a urgência da adaptação, com metas e ações precisas para ampliar sistemas produtivos sustentáveis, aprimorar o ZARC e fortalecer a resiliência do setor até 2036

A mudança do clima e seus impactos são cientificamente atestados, sendo a agropecuária um dos setores mais afetados devido à sua forte relação com as condições climáticas. Nos últimos dez anos, eventos climáticos extremos causaram prejuízos de R$ 260 bilhões à agropecuária brasileira. Somente a seca em 2022 resultou em perdas de R$ 57,4 bilhões.

Políticas de enfrentamento e o plano ABC+

O cenário tem acelerado a adoção de políticas públicas, como a elaboração do Plano Clima do Governo Federal. O setor agropecuário, sob coordenação do Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA), já possui um histórico de proatividade.

  • Plano ABC+: Após o sucesso do Plano ABC (criado em 2010), o Plano Setorial para Adaptação à Mudança do Clima e Baixa Emissão de Carbono na Agropecuária (Plano ABC+) foi instituído com metas até 2030. Um de seus diferenciais é a abordagem de paisagem, que conecta sistemas sustentáveis de produção a ambientes naturais.

Foco na adaptação no novo plano clima

A questão da adaptação ganha destaque na 30ª Conferência das Partes (COP 30) e é trabalhada exaustivamente no Plano Clima, com 16 planos setoriais. O Plano Setorial de Adaptação em Agricultura e Pecuária, liderado pelo MAPA, possui 3 objetivos, 8 metas e 18 ações com prazos até 2036.

As principais metas visam fortalecer a capacidade adaptativa do setor:

  • Financiamento: Ampliar em 10% o valor total financiado para sistemas produtivos sustentáveis até 2035.

  • Gestão de Risco: Aprimorar o Zoneamento Agrícola de Risco Climático (ZARC) como instrumento de gestão de risco até 2031 e ampliar os recursos para o Programa de Seguro Rural até 2035.

  • Produção Sustentável: Ampliar em 72,68 milhões de hectares a produção agropecuária com adoção dos Sistemas Produtivos Sustentáveis (SPS) do Plano ABC+ até 2031.

  • Pesquisa e Genética: Ampliar o recurso para pesquisa, desenvolvimento, inovação e transferência de tecnologia, e expandir a diversidade da base genética de culturas e raças com capacidade adaptativa até 2036.

O alto número de contribuições na consulta pública sobre o Plano Clima Adaptação demonstrou o forte interesse setorial, refletindo o papel essencial da agropecuária no combate às mudanças climáticas e na garantia da segurança alimentar e nutricional da população.


Com informações: Kleber Santos, Engenheiro Agrônomo, e CCAS

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