Cientistas registraram um evento celeste incomum nos confins da Via Láctea: um pulsar, uma estrela de nêutrons que gira rapidamente, está em fuga dos restos da explosão de uma supernova. O sistema, batizado de Calvera, impressionou a comunidade astronômica por sua localização, a 6,5 mil anos-luz acima do disco de nossa galáxia, uma região onde populações estelares são escassas. A denominação do sistema é uma referência a um vilão de filme, refletindo a natureza “fora da lei” da descoberta em uma área aparentemente vazia do espaço.
Os restos da supernova foram identificados em 2022 pelo telescópio Low-Frequency Array (LOFAR). A análise da trajetória do pulsar, que também recebeu o nome de Calvera, revelou que ele está se afastando do centro da explosão. Esse movimento sugere que o pulsar e os destroços de gás e poeira estão conectados, ambos originários da morte de uma estrela massiva, há milhões de anos. A descoberta levanta novas questões sobre a formação de estrelas e as dinâmicas de explosões de supernovas em regiões isoladas do universo.
Análises e o mistério de Calvera
Uma nova pesquisa, publicada na revista científica Astronomy & Astrophysics, aprofundou-se nas características do sistema. Com a ajuda do telescópio espacial XMM-Newton, da Agência Espacial Europeia (ESA), os pesquisadores analisaram o sistema Calvera. Os dados permitiram estimar a distância, a idade e as características da estrela que deu origem ao pulsar.
A equipe calculou, com base na análise do gás quente e no movimento da estrela, que a explosão que formou o pulsar ocorreu entre 10 e 20 mil anos atrás. Além disso, a distância de Calvera em relação à Terra foi estimada entre 13 e 16,5 mil anos-luz. Os resultados desafiam a teoria de que emissões de raios gama de supernovas só ocorrem em regiões com alta densidade de partículas, pois a explosão de Calvera ocorreu em um ambiente rarefeito.
Emanuele Greco, o líder do estudo, explicou que a descoberta demonstra que o mecanismo que lança raios gama das supernovas também pode ocorrer em ambientes de baixa densidade. Ele afirmou que, mesmo em condições raras, o plasma expelido pela explosão pode ser gerado se a onda de choque colidir com aglomerados de matéria, revelando novas informações sobre a evolução das estrelas. A descoberta de Calvera também sugere que estrelas massivas podem existir longe do disco galáctico e explodir em áreas remotas.
O estudo nos convida a repensar as periferias da Via Láctea, mostrando que mesmo as regiões mais silenciosas e aparentemente vazias podem abrigar processos extremos. A descoberta de Calvera abre novas possibilidades de estudo para a astronomia e reforça a necessidade de explorar as áreas menos conhecidas de nossa galáxia.
Com informações: NASA/JPL-Caltech/ESO/R. Hurt/ Olhar Digital