Ligue-se a nós

Comportamento

República da vida adulta: a nova tendência que leva pessoas a morarem com desconhecidos

Publicado

no

Morar com estranhos? Banheiros sempre ocupados, pratos sem lavar na cozinha e pessoas tocando música alto no quarto ao lado na sua hora de dormir?

Bem, talvez não precise ser desta forma.

Os custos de compra e aluguel de imóveis continuam altos. E a Organização Mundial da Saúde declarou recentemente que a solidão é uma preocupação de saúde global.

Estes fatores fizeram com que morar em comunidade começasse a chamar a atenção dos meios de comunicação – e o número de pessoas que adotam este tipo de moradia está aumentando.

Morar com outras pessoas pode trazer mais benefícios do que prejuízos. A grande questão é se a sociedade está pronta para isso.

Anúncio

Rosie Kellett tem 30 anos de idade, mora em Londres e é escritora especializada em alimentação.

Em 2020, ela passou por uma separação e precisou encontrar um novo lugar para morar. Kellett soube pelas redes sociais que havia vagas em um armazém – uma velha construção de uso industrial, adaptada para moradia.

Ela calcula que existam em Hackney Wick – o bairro da zona leste de Londres onde ela mora – cerca de 100 comunidades morando em armazéns. Mas a sua comunidade é diferente das demais.

“Nós nos estabelecemos de forma um pouco diferente”, ela conta.

Kellett mora com mais seis pessoas, com idades variando em torno dos 30 anos. Todas as semanas, cada uma delas deposita 25 libras (cerca de R$ 160) em uma conta bancária compartilhada, para cobrir os custos de material de manutenção e cozinha, sacos de lixo, produtos de limpeza e o jantar de todos os moradores.

Todas as noites, uma pessoa cozinha. Em um grupo de bate-papo comunitário, as pessoas confirmam se estarão em casa para jantar, se querem ter seu prato guardado para quando chegarem mais tarde ou se irão trazer algum convidado.

Anúncio

Existem as tarefas domésticas – e as reuniões da comunidade.

“É preciso fazer diversas enquetes no WhatsApp para conseguir uma janela de meia hora em que todos possam comparecer”, conta Kellett à BBC. “Mas tentamos fazer as reuniões com a maior regularidade possível. Assim, se alguém não estiver satisfeito com suas tarefas ou quiser discutir qualquer assunto, essa situação não chega a se agravar.”

Para ela, o melhor de viver em comunidade é que sempre há alguém em casa. E os moradores se sentem como uma família. “Nunca me senti assim, de verdade, com as pessoas com quem morei antes.”

Kellett conta que é muito difícil encontrar uma casa em Londres, devido à crise de moradia. “Acho que está ficando impraticável viver bem aqui… para mim, é como se nós tivéssemos caído por uma pequena rachadura no sistema.”

É claro que também há desvantagens. Kellett tem dificuldade para ter um tempo para si própria.

“Pode ser muito difícil me separar da mesa grande, cheia de gente”, ela conta. “E, mesmo se você decidir não participar de uma festa, você ainda irá ouvi-la.”

Anúncio

“Temos dois chuveiros e dois banheiros, que são compartilhados pelos moradores sem grandes problemas. Mas uma máquina de lavar simplesmente não dá conta.”

‘Associação condominial’

As pessoas que moram no armazém comunitário costumam permanecer ali por alguns anos. Mas existem outras habitações comuns criadas para pessoas que pretendem morar no mesmo local de forma permanente.

Creal Zearing tem 36 anos e mora com seu marido e uma filha de três anos de idade em uma moradia comunitária em Madison, no Estado norte-americano de Wisconsin.

“Meu marido comprou a primeira unidade onde nós moramos”, conta ela à BBC. “Ele começou a procurar quando estávamos namorando por cerca de três meses.”

“Eu sabia o que era a moradia comunitária e achava bom. Se ficarmos juntos, posso realmente acabar gostando disso. E, com certeza, tudo deu certo entre nós.”

Eles vivem na moradia compartilhada Arbco, que inclui dois blocos de apartamentos e algumas casas familiares. Cada unidade tem seu próprio dormitório, banheiro e cozinha.

Cerca de 100 pessoas moram ali, incluindo famílias com filhos e pessoas idosas solteiras.

Anúncio

“Tecnicamente, a nossa coabitação é uma associação condominial – é assim que ela é estruturada legalmente”, explica Zearing.

“Nós somos os donos da nossa casa, mas pagamos uma taxa de condomínio todos os meses, que ajuda a custear os espaços comunitários que utilizamos e inclui uma certa cobertura de seguro da nossa casa.”

Cada morador prepara as refeições em intervalos de poucas semanas e existem eventos sociais, como festas e um encontro mensal onde todos cantam. Também há as reuniões quinzenais de condomínio e as reuniões dos comitês e da administração.

“Eu trabalho em tempo integral”, explica Zearing. “Mas existe um grupo de pessoas que são aposentadas e, provavelmente, eles fazem juntos mais tarefas regulares que eu não consigo.” Mas o grupo espera que cada morador contribua com quatro horas de trabalho por mês.

“O que eu valorizo muito, muito mesmo, é que temos uma grande comunidade de pais e mães”, ela conta. “Como mãe recente, consegui realmente contar com esses pais para ter orientações.”

Zearing também adora chegar do trabalho, cansada, e simplesmente levar sua filha para brincar no quintal com outras crianças. Ela sempre tem amigos e companhia à disposição.

Anúncio

Mas nem tudo funciona perfeitamente bem. A comunidade acaba de ter uma grande reunião sobre participação.

“Muitos de nós, que somos ativamente engajados, sentimos que estamos fazendo todo o possível. Mas você ainda vê algumas pessoas que provavelmente não estão fazendo nada”, ela conta.

“E existe muito trabalho invisível acontecendo.” O marido dela recebeu críticas algumas vezes, depois de sugerir novas formas de fazer as coisas e encontrar resistência.

‘Comunidades intencionais’

Existe uma enorme variedade de configurações de moradia comunitária no mundo ocidental, criadas por diversos motivos.

No Reino Unido, a pandemia de covid-19 colaborou para o aumento do interesse pelas moradias comunitárias. Os membros de um bem sucedido centro em Suffolk, na Inglaterra, contaram à BBC News em 2023 que a moradia comunitária os ajudava a enfrentar a crise do custo de vida.

“Pode ser muito confuso”, afirma Penny Clark, uma das diretoras da organização britânica de moradia comunitária Diggers and Dreamers. Clark é especialista em “comunidades intencionais” – residências nas quais, segundo a definição acadêmica, cinco ou mais pessoas sem relação entre si moram juntas voluntariamente.

Ela explica que existe também a coabitação, em que as pessoas têm suas próprias casas independentes, espaços comunitários definidos e a comunidade é autogerenciada.

Anúncio

Já nas cooperativas de habitação, a propriedade é compartilhada, mas o imóvel nem sempre funciona como uma comunidade intencional.

Existe também um setor relativamente novo, que é a moradia conjunta. É nela que Clark trabalha como consultora.

Aqui, uma empresa cria um edifício com apartamentos ou estúdios independentes, além de áreas comuns. Mas estas também não são comunidades intencionais.

“E, por fim, existem as comunas, que são muito raras no Reino Unido atualmente”, explica ela.

“Segundo as definições acadêmicas, o que diferencia as comunas dos outros tipos de comunidade é que existe um alto grau de compartilhamento da renda. As receitas vão para o pote e as pessoas só gastam coisas juntas.”

E sobre o armazém de Rosie Kellett e as pessoas que moram em casas compartilhadas integradas, com pessoas que elas consideram amigos próximos ou até familiares? Bem, estas podem ser consideradas comunidades intencionais, segundo Clark; talvez sejam apenas menos organizadas e mais orgânicas, porque a quantidade de membros é menor.

Anúncio

Clark acredita que muitas pessoas podem estar se voltando para a moradia comunitária porque o mercado imobiliário está muito pressionado. Outras pessoas procuram este tipo de habitação porque querem ser ambientalmente mais sustentáveis.

E, é claro, na sociedade atomizada atual, com os familiares morando em locais distantes da cidade onde nasceram, a conexão social é um fator importante. De fato, pesquisas indicam que as pessoas que moram em comunidades intencionais têm a mesma qualidade de vida das pessoas mais felizes da sociedade.

Mas será que esta forma de viver é boa para todos?

“Certamente, existem comprometimentos”, segundo Clark. “O trabalho na vida comunitária pode ser considerável – às vezes, funciona muito mal e as pessoas saem muito abaladas.”

E também não é fácil criar uma nova comunidade de moradia conjunta a partir do zero. Os terrenos disponíveis são poucos, os riscos financeiros são grandes e os bancos hesitam em emprestar dinheiro.

“Estamos em um sistema que tem certas premissas sobre o que é uma boa vida e uma boa casa”, afirma Clark. “E a moradia comunitária não se enquadra nessas premissas. Temos na sociedade essa mentalidade de que a privacidade é algo bom, que ter as coisas é algo bom.”

Anúncio

Compartilhar seu espaço de moradia não é uma aspiração, explica ela. “A ideia de uma boa casa é uma casa grande, cujo proprietário é você.”

Mas as comunidades existentes, como a Arbco, frequentemente recebem consultas de pessoas que querem se mudar para lá.

Em Londres, Rosie Kellett compartilhou no Instagram dois vídeos sobre seu estilo de vida. Muitas pessoas entraram em contato com ela, perguntando se também poderiam se mudar para o armazém.

“Eu me senti muito mal porque não estamos aceitando novos moradores”, ela conta. “Certamente, existe o desejo de mais espaços como este, mas você meio que precisa organizar isso por si próprio.”

Dicas para viver em moradia comunitária

– Promova reuniões regulares entre os moradores, para resolver eventuais problemas.

– Prepare-se para trabalhar de alguma forma. Todos precisam colaborar.

Anúncio

– Reserve algum tempo longe dos colegas.


Fato Novo com imagem e informações: BBC

Continuar Lendo
Anúncio
1 Comentário

1 Comentário

  1. Paglikha ng Binance Account

    25 de setembro de 2024 no 23:42

    Your article helped me a lot, is there any more related content? Thanks! https://www.binance.com/ph/register?ref=B4EPR6J0

Deixe uma Resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Comportamento

Padrões alimentares pouco saudáveis geram US$ 8 trilhões em custos ocultos

Publicado

no

Por

Relatório da FAO revela que 70% desses custos são causados por impactos de saúde associados a doenças crônicas, especialmente nos sistemas agroalimentares mais sofisticados; baixa ingestão de cereais, frutas e vegetais e alto consumo de carnes processadas e sódios estão entre maiores riscos

A Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, FAO, lançou na semana passada um relatório sobre os custos ocultos para sistemas agroalimentares em todo o mundo.

As perdas são de US$ 12 trilhões por ano. E 70% desses gastos são gerados por padrões pouco saudáveis de dieta.

Desigualdades sociais e degradação ambiental

A pesquisa da FAO ouviu pessoas de 156 países. No caso das dietas ruins, o maior problema é a associação com doenças crônicas, em níveis alarmantes, incluindo doenças coronárias, diabetes e derrames, o que excede os gastos relacionados às desigualdades sociais e à degradação ambiental.

O Estado da Alimentação e Agricultura 2024, Sofa na sigla em inglês, aproveita os dados da edição de 2023 com mais análises de pano de fundo e o custo real que expõe a escala completa de custo e benefício associada à produção de alimentos, distribuição e consumo incluindo os que não aparecem nos preços de mercado.

Anúncio
Comunidade em Madagáscar quer proteger-se da degradação

UN News/Daniel Dickinson

Mudanças transformadoras

O relatório atualiza as estimativas de custo com uma divisão entre tipos de sistemas agroalimentares e propõe uma via para mudança transformadora nos sistemas agroalimentares como um todo.

O estudo também detalha como os custos ocultos globais são grandemente puxados pelos custos não declarados de saúde, seguidos por gastos ambientais em sistemas agroalimentares mais industrializados em países de renda média alta e de renda alta.

A FAO examinou os impactos para a saúde e identificou 13 fatores de risco em dietas que incluem insuficiência de frutas, cereais e vegetais. Dietas com excesso de sódio e de carnes processadas com diferenças notáveis entre vários sistemas agroalimentares.

Políticas sob medida, desafios e oportunidades

A pesquisa também introduz uma tipologia que caracteriza os sistemas em seis grupos: crises prolongadas, tradicional, expansão, diversificada, formal e industrial. Esse quadro permite um conhecimento mais específico dos desafios e oportunidades próprios de cada sistema e que permite políticas de desenvolvimento mais sob medida.

As dietas baixas em grãos são um dos maiores fatores de risco entre os sistemas agroalimentares em crises prolongadas como em conflitos associados à insegurança alimentar. Também em sistemas tradicionais que são típicos de baixa produtividade, tecnologia limitada e cadeias de valor mais curtas. E a principal preocupação é a baixa ingestão de frutas e vegetais.

Já a dieta rica em sódio está mais presente em sistemas tradicionais e formais assim como padrões alimentares que incluem alto consumo de carnes processadas que tendem a passar de sistemas tradicionais para industrializados.

Anúncio
Consumo de alimentos processados é um fator de risco

© UNICEF/Zhanara Karimova

Emissões de CO2 e poluição da água

Além dos riscos de padrões de dieta pouco saudáveis, a FAO analisou o impacto ambiental de práticas agrícolas insustentáveis.

Custos associados a emissões de CO2 e poluição de águas entre outros fatores são mais altos em países com sistemas diversificados de agricultura chegando a US$ 720 bilhões.

Em países com conflitos prolongados, as perdas ambientais podem chegar a 20% do Produto Interno Bruto, PIB.

Brasil, Austrália e Índia

Os custos sociais incluindo pobreza e subnutrição são mais prevalentes em sistemas agroalimentares tradicionais e representam de 8% a 18% do PIB, respectivamente.
O relatório da FAO recomenda adaptar os contextos locais e focalizar nas prioridades das partes em jogo.

O documento analisa casos em países como Austrália, Brasil, Colômbia, Etiópia, Índia e Reino Unido.

Custo de dietas saudáveis tem aumentado no mundo

© Unsplash/Mariana Medvedeva

Dietas mais saudáveis, inovações e sustentabilidade

Dentre as recomendações estão: incentivos financeiros e regulatórios para práticas sustentáveis de produção, promoção de dietas mais saudáveis, redução de emissões de CO2 e nitrogênio, dar autonomia aos consumidores sobre impactos em suas escolhas alimentares.

Outras propostas são assegurar a transformação rural e inclusiva, fortalecimento  da governança e da sociedade civil, acelerar inovações e criar sistemas mais sustentáveis.

Anúncio

Fonte: ONU

Continuar Lendo

Comportamento

Proibição de celular: escolas focam na formação e no apoio familiar

Publicado

no

Por

Do exercício da autonomia ao desenvolvimento de habilidades para o uso consciente da tecnologia digital, instituições de ensino em SP compartilham como têm atuado diante do dilema do uso de celular

A proibição de celular na escola foi defendida por 83% dos brasileiros (de um total de 10 mil pessoas) que participaram de uma consulta pública realizada pela Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro. Já 6% foram contra e 11% parcialmente favoráveis.

Essa consulta destaca que há uma crescente preocupação com o impacto das telas no aprendizado e na saúde mental de crianças e adolescentes. Tanto que diferentes escolas têm adotado abordagens que vão além de regras rígidas, investindo na construção de uma cultura de uso consciente e na formação de estudantes mais autônomos e saudáveis.

Uso consciente

No Colégio Nossa Senhora das Graças (Gracinha), na cidade de SP, a restrição ao uso de celulares entre os estudantes do fundamental 2 foi acompanhada pelo lançamento do movimento Gracinha Offline, em agosto, promovido pela Organização das Famílias do Gracinha (OFAG).

“Queremos resgatar atividades que envolvam as crianças e afastem a atenção das telas”, explica Claudia Taddei, mãe e integrante da OFAG.

Segundo Claudia, a parceria entre escola e famílias tem sido essencial, com a realização de uma pesquisa comunitária e a organização de vivências práticas voltadas ao desenvolvimento da consciência sobre o uso equilibrado de dispositivos.

Anúncio

Sandra Cirillo, orientadora educacional da escola, destaca que a dependência dos dispositivos aumentou significativamente após a pandemia, exigindo mudanças profundas. “Identificamos situações em que alunos apresentavam sofrimento emocional quando seus celulares eram retirados, o que evidenciou a gravidade do problema e a necessidade de intervenções estratégicas.”

A escola proibiu o uso dos aparelhos durante as aulas e uniu forças com as famílias para promover diálogos e encontros com especialistas, buscando fomentar um uso mais consciente da tecnologia. “Nosso objetivo é que as soluções sejam construídas em conjunto, respeitando a realidade de cada família”, enfatiza Sandra.

Desafios e medidas para enfrentá-los

No Colégio Magno, também localizado na cidade de São Paulo, a diretora Claudia Tricate relata os desafios em encontrar um equilíbrio entre tecnologia digital e ambiente escolar.

“Acreditávamos que permitir o uso consciente dos celulares para fins pedagógicos seria o caminho ideal, mas percebemos que os adolescentes ainda enfrentam dificuldades em se autorregular. O apoio das famílias foi fundamental para estabelecer um controle mais eficaz, sem recorrer a medidas drásticas, como o confisco”, conta a diretora Claudia Tricate.

A escola limitou o acesso ao Wi-Fi para redes sociais durante as aulas, preservando espaços para que os estudantes desenvolvam autonomia no gerenciamento do próprio tempo, preparando-os para a vida adulta.

Já a paulistana Escola Tarsila do Amaral adota uma abordagem focada nas interações offline, especialmente com as crianças mais novas. De acordo com Patrícia Bignardi, coordenadora pedagógica, a proposta da escola valoriza as experiências lúdicas e as conexões sociais sem o uso de dispositivos.

“Procuramos estimular brincadeiras e atividades sem tecnologia desde cedo, promovendo uma introdução gradual ao mundo digital.” Patrícia alerta para os riscos de iniciar o uso excessivo de telas na infância, quando vídeos são frequentemente utilizados para entreter as crianças em situações como refeições fora de casa ou viagens, substituindo interações mais ricas, como conversas ou brincadeiras.

Anúncio

Ela também reconhece que, com adolescentes, o desafio de regular o uso dos dispositivos se intensifica conforme aumentam sua autonomia e acesso à tecnologia.

A Escola Vera Cruz, em SP, por sua vez, decidiu implementar uma medida experimental: dias inteiros sem celulares e smartwatches, tanto para alunos quanto para profissionais. Daniel Helene, coordenador pedagógico do fundamental 2, explica que a proposta foi desenvolvida em conjunto com os estudantes, envolvendo-os ativamente nas decisões.


“Com essa iniciativa, queremos que os alunos percebam os benefícios de um tempo desconectado e aprimorem habilidades sociais e emocionais que vão além do universo digital.” Daniel ressalta que a participação das famílias tem sido essencial para que essa experiência se consolide, abrindo espaço para discussões sobre como equilibrar o uso da tecnologia na rotina escolar e familiar.  


Essas experiências mostram que, como indicado no início desta matéria, a questão do celular vai muito além de proibições e regras rígidas. Como observa Sandra, do Gracinha, o desafio envolve também a saúde mental e o desenvolvimento socioemocional dos alunos: “a formação de vínculos sociais e a capacidade de lidar com frustrações e conflitos são essenciais para o crescimento. A escola precisa ir além do ensino de conteúdos, ajudando os alunos a desenvolverem habilidades para interagir com o mundo, o que inclui a adoção de um uso responsável da tecnologia.”


Fonte: Revista Educação

Anúncio

Continuar Lendo

Comportamento

Oito em cada 10 brasileiros de nove a 17 anos que usam internet têm celular próprio

Publicado

no

Por

Número é da pesquisa TIC Kids Online Brasil 2024, que mapeia hábitos e riscos da presença de crianças e adolescentes no ambiente virtual; dados também mostram que, em geral, quanto maior a faixa etária, maior assiduidade no uso de redes sociais

O uso frequente de celular por crianças e adolescentes tem levantado uma série de debates — incluindo a discussão sobre a proibição da utilização dos dispositivos em sala de aula. Números da pesquisa TIC Kids Online Brasil 2024, que mapeia hábitos e riscos dessa população no ambiente virtual, demonstram que essa presença digital tem sido, de fato, ampla: hoje, 93% das crianças e jovens de nove a 17 anos são usuários de internet no país, e 81% deles possuem celular próprio.

A desigualdade entre classes socioeconômicas, porém, continua: enquanto nas classes AB quase a totalidade da população dessa faixa etária possui aparelho celular (97%), o número cai para 80% na classe C e 77% nas D e E. A pesquisa TIC Kids Online foi divulgada ontem, 23, no 9º Simpósio Crianças e Adolescentes na Internet, realizado em São Paulo. O levantamento é realizado desde 2012.

A edição deste ano também mostrou que, entre os usuários de internet de nove a 17 anos, 86% utilizam a rede para fazer trabalhos escolares e 76% usam redes sociais. Os números aumentam de acordo com a faixa etária: entre adolescentes de 15 a 17 anos, 90% declaram usar redes sociais; já no caso de crianças de nove e 10 anos, esse número cai para 47%.

Uso excessivo e desafios da mediação

A pesquisa indica uma tendência dos adultos responsáveis em dar mais autonomia na utilização do dispositivo de acordo com o avançar da idade. Ainda assim, a posse do aparelho celular alerta para um maior desafio de mediação. Foi o que afirmou a professora Inês Vitorino, que integra o Grupo de Pesquisa da Relação Infância, Adolescência e Mídia (Grim) da Universidade Federal do Ceará (UFC), durante o painel de exposição dos dados no simpósio em São Paulo.

Anúncio

“Isso significa que essa criança pode estar sozinha no contato também com estranhos; que pode acessar conteúdos inadequados. Claro que podem estar com restrições técnicas feitas pelos pais, mas a gente sabe que essas restrições não são, muitas vezes, nem do conhecimento hegemônico e nem do uso da maioria”, afirmou.

 

<em>Painel apresentou resultados da TIC Kids Online no 9º Simpósio Crianças e Adolescentes na Internet (Foto: Juliana Fontoura/revista Educação); posse de celular traz desafio de mediação</em>

Painel apresentou resultados da TIC Kids Online Brasil no 9º Simpósio Crianças e Adolescentes na Internet (Foto: Juliana Fontoura/revista Educação); posse de celular traz desafio de mediação

Segundo o estudo, 34% dos responsáveis relatam usar recursos para bloquear ou filtrar alguns tipos de sites. Nesse caso, também há diferenças significativas de acordo com a idade: para crianças de nove e 10 anos, o número é de 45%; 11 e 12 anos, 48%; já para os mais velhos, o número cai, sendo 24% para aqueles de 15 a 17 anos e 26% para aqueles que têm 13 e 14 anos.

Ao longo do painel, a professora Inês Vitorino também alertou para o desafio da curadoria de conteúdos. Isso porque, de acordo com o estudo, além da utilização da internet para fazer trabalhos escolares, crianças e adolescentes também usam a rede amplamente para ouvir música (86%) e assistir a vídeos, programas, filmes ou séries (84%), além de jogar online (78%).

Segundo a professora, em muitos casos, o conteúdo que chega para a criança ou adolescente não é adequado à idade, não tem filtros etários e nem uma política de recomendação colaborativa.

“A política de recomendação que essas crianças recebem é uma curadoria feita de forma empresarial, conforme os interesses que prevalecem em cada uma dessas companhias e dessas plataformas”, afirmou Inês Vitorino.

Sobre o uso excessivo, o estudo mostrou que 24% dos usuários de internet entre 11 e 17 anos declararam ter tentado passar menos tempo na rede, mas que não conseguiram. Além disso, 22% afirmaram que se pegaram navegando sem estar realmente interessados no que viam, e 15% relataram que deixaram de comer ou dormir por causa da internet.

Situações ofensivas

A pesquisa também mapeou a experiência de situações desagradáveis por crianças e adolescentes no ambiente virtual. Segundo o estudo, 29% relataram ter vivenciado situações do tipo (ofensivas, que não gostaram ou chatearam). Em contrapartida, apenas 8% dos responsáveis relataram que acreditam que a criança ou adolescente viveu uma situação incômoda na internet.

Anúncio

Entre os usuários de 11 e 17 anos que relataram ter vivido alguma situação ofensiva, 31% afirmaram que contaram o ocorrido para o pai ou responsável; 29% disseram que o fizeram para amigo ou amiga da mesma idade; já 13% não contaram para ninguém.

Sobre a pesquisa

A TIC Kids Online Brasil 2024 ouviu 2.424 crianças e adolescentes de nove a 17 anos e o mesmo número de responsáveis. Os dados foram coletados entre março e agosto de 2024.

Os resultados foram expostos no 9º Simpósio Crianças e Adolescentes na Internet no dia 23 de outubro, em São Paulo. O evento foi promovido pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br) e o Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br), e correalizado pelo Instituto Alana, pelo Centro de Ensino e Pesquisa em Inovação da FGV Direito SP (CEPI FGV Direito SP) e pela SaferNet Brasil.


Fonte: Revista Educação

Anúncio
Continuar Lendo

Mais vistas