Conecte-se conosco

Nerd

Skeleton Crew devolve magia infantil a Star Wars, mas será o suficiente? | Crítica

Publicado a

em

Série oferece bom entretenimento em jornada lúdica e divertida pela galáxia muito, muito distante

Em termos náuticos, uma “tripulação esqueleto” é quando uma embarcação opera com o número mínimo absoluto de tripulantes necessários para seguir viagem. A escolha do nome é bastante apropriada para Star Wars: Skeleton Crew, já que, no papel, a série do Disney+ preenche os requisitos mínimos para uma boa história da saga espacial, mas acaba enfrentando alguns mares revoltos ao longo dos oito episódios, justamente pela falta de um ou outro elemento além do básico.

A trama acompanha o grupinho infantil Wim (Ravi Cabot-Conyers), Fern (Ryan Kiera Armstrong), Neel (Robert Timothy Smith) e KB (Kyriana Kratter). Habitantes do pacato planeta At Attin, o quarteto descobre que o universo é mais estranho e perigoso do que nos livros da escola, quando se deparam com um antigo mistério que os leva aos confins da galáxia muito, muito distante. Com a ajuda do malandro Jod (Jude Law), os jovens devem encontrar o caminho de casa enquanto se metem em confusões pelo espaço.

Se, ao trazer crianças para o centro, Skeleton Crew consegue elevar à enésima potência o apelo infantil que sempre deveria existir em Star Wars, sem cair na armadilha da condescendência (afinal, infantil não quer dizer bobo), por outro, peca por uma história altamente derivativa. E isso se explica com dois nomes importantes de bastidores.

A série foi criada e produzida pela dupla Jon Watts e Christopher Ford, parceiros de longa data que levaram Homem-Aranha: De Volta ao Lar (2017) às telas. Se o filme da Marvel já era uma carta de amor à década de 1980, Skeleton Crew parte para o mesmo caminho, bebendo de fontes como Os Goonies (1985), E.T. – O Extraterrestre (1982) e, por que não, Stranger Things (2016-), que bebeu dessas mesmas fontes numa aula de como atualizar elementos para o público atual.

Anúncio

Não que haja algo fundamentalmente errado em deixar as inspirações transbordarem por todos os lados, mas era de se esperar que uma galáxia tão vasta, e ainda por cima longe das obrigações de SkywalkersSithsImpérios e mais, tivesse ao menos um tantinho a mais de originalidade.

Foto da série Star Wars: Skeleton Crew

Elenco infantil é o grande destaque da série. (Lucasfilm/Divulgação)

Nesse ponto, a trama se contenta em ser uma aventurinha curta e divertida, sem maiores pretensões, mas que mesmo consciente dessas limitações, parece sempre hesitar em atingir o potencial máximo mesmo no que se propõe, se restringindo, tal qual a tripulação de esqueletos, a cumprir o mínimo possível, ainda que com competência.

Perdidos no espaço

O destaque claro é o quarteto infantil, que segura os oito episódios da série equilibrando o senso de maravilha infantil com o pavor não só de uma galáxia completamente desconhecida, mas, pior ainda, da vida simples e lúdica de criança indo embora cada vez mais rápido.

Os astros mirins se provam uma boa adição à franquia fugindo do clichê de pequenos gênios que conseguem resolver tudo na base da esperteza, subvertendo essa expectativa ao mostrar que quatro crianças perdidas no espaço não têm a menor chance de sobrevivência.

Cena de Jude Law em Star Wars: Skeleton Crew

Jude Law usa de malandragem e boa pinta para se dar bem. (Lucasfilm/Divulgação)

É nesse contexto que conhecemos a figura de Jod Na Nawood (Law), um misterioso usuário da Força, que pode ser um Jedi, um aproveitador, ou até ambos.

Embora obviamente esteja anos-luz à frente dos colegas baixinhos, o astro de O Talentoso Ripley (1999) entrega uma excelente química com o quarteto, variando de divertidas picuinhas a um afeto genuíno pelos jovens, equilibrado com um egoísmo descarado de um bom cafajeste à la Lando Calrissian.

Essas variáveis fornecem a Jude Law a base para transformar Jod num dos personagens mais interessantes e complexos da safra recente de produções de Star Wars, imprimindo a dualidade moral do personagem ao ponto de o espectador realmente se dividir entre amar ou odiar o homem.

Anúncio

Pesando os dois lados da balança, temos um elenco primoroso genuinamente se divertindo na franquia espacial, inseridos numa trama que não arrisca sair do piloto automático, ainda que o caminho mais seguro não seja necessariamente ruim. Mas, então, qual seria o saldo final de Skeleton Crew?

Bom, em primeiro lugar, é um alívio assistir a uma série que não parece um degrau em direção a outro lugar. Apesar de se situar no mesmo período temporal, a série tem zero conexões com The MandalorianAhsoka e derivados. Também não espere que Pedro Pascal sequestre dois episódios inteiros da trama, como aconteceu com o pobre O Livro de Boba Fett (2021-2022).

Se isso já garante algumas boas notas no exame final da série, há de se reconhecer que, por mais que Skeleton Crew seja um pastiche de dezenas de filmes e séries que já vimos antes, isso aproxima a franquia da Disney às origens do próprio George Lucas, que concebeu a saga exatamente como um revival das aventurinhas das décadas de 1940 e 1950.

Quarteto mirim busca o caminho de casa. (Lucasfilm/Divulgação)

É bem possível que a série não caia nas graças dos fãs da franquia no longo prazo justamente pela natureza “esquecível” com que foi apresentada. Mas, talvez o problema real sejam os nossos calejados olhos adultos, ainda mais sofridos depois de produções recentes como The Acolyte (2024) e Star Wars: A Ascensão Skywalker (2019).

Se a vida real já é complicada o suficiente, Star Wars merece um passe de escapismo pelos serviços prestados ao longo de quase 50 anos. Assim, que mal há em voltar a ser criança, ainda que por alguns minutinhos, ao longo de oito semanas?


Anúncio
Continuar lendo
Anúncio
Clique para comentar

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *