O “tarifaço” promovido pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, contra parceiros comerciais, incluindo o Brasil, é uma política ineficaz e potencialmente autodestrutiva, segundo o renomado economista Dani Rodrik, professor da Universidade de Harvard.
Durante o seminário Globalização, Desenvolvimento e Democracia, realizado pelo BNDES e a Open Society Foundations no Rio de Janeiro, Rodrik afirmou que as tarifas de importação, uma das principais bandeiras de Trump, não cumprem os objetivos alegados, como reconstruir a indústria americana ou melhorar os salários da classe média.
“Há uma boa chance de que, no final das contas, isso seja autodestrutivo”, alertou.
Tarifas não garantem inovação nem bons empregos
Rodrik destacou que, embora as tarifas possam aumentar a lucratividade de setores protegidos, isso não se traduz automaticamente em mais empregos, inovação ou investimentos em trabalhadores.
“Quando empresas se tornam mais lucrativas, elas necessariamente inovam mais? Contratam mais? Investem em seus funcionários? Ou apenas repassam os lucros para acionistas e gestores? Essas tarifas não garantem os resultados prometidos.”
Para o economista, as tarifas devem ser usadas apenas como medida temporária de proteção, sempre acompanhadas de políticas internas — como incentivos à inovação, políticas industriais e fortalecimento do mercado de trabalho.
“As tarifas são um escudo temporário, não o principal instrumento para alcançar desenvolvimento. No máximo, são um complemento a uma estratégia doméstica bem planejada.”
China como exemplo de política nacional eficaz
Rodrik citou a China como exemplo de país que adotou políticas econômicas claramente voltadas para seus interesses nacionais, com foco em crescimento estrutural, industrialização e inovação.
“A China promove seus próprios interesses acima de tudo. Mas, como resultado, suas políticas foram, em sua maioria, bem planejadas em termos de crescimento econômico.”
Brasil entre os alvos do tarifaço
Os produtos brasileiros estão entre os afetados pela nova rodada de tarifas. Desde 6 de agosto, uma sobretaxa de 50% incide sobre parte das exportações do Brasil para os EUA, impactando 35,9% dos produtos enviados, o equivalente a 4% do total das exportações brasileiras.
Em resposta, o governo brasileiro lançou o Plano Brasil Soberano, no dia 13 de agosto, com medidas para mitigar os efeitos da medida protecionista.
Cortes na ajuda externa e impacto global
Também presente no seminário, Alex Soros, presidente do Conselho da Open Society Foundations, criticou o fechamento da USAID — principal agência de ajuda externa dos EUA — durante o governo Trump.
“As ações humanitárias sofreram os cortes mais dolorosos. Hoje se sabe que pessoas morreram ao redor do mundo por conta desses cortes. Isso não é um interesse americano”, afirmou.
A Open Society anunciou um plano de investimento de oito anos para apoiar populações marginalizadas na América Latina, com foco em Brasil, Colômbia e México, fortalecendo direitos de povos indígenas, comunidades afrodescendentes e mulheres.
Alerta para o futuro da cooperação internacional
Para Tereza Campello, diretora socioambiental do BNDES, os retrocessos na cooperação internacional afetam principalmente os países mais pobres.
“Não podemos enfrentar as desigualdades no mundo de forma isolada. É urgente que atores comprometidos com a democracia ampliem seu olhar além da agenda comercial e defendam o que está em risco: vidas, direitos e desenvolvimento sustentável.”
Com informações: Agência Brasil