Um vagão de maria-fumaça da década de 1960, originalmente utilizado na rota ferroviária entre Três Lagoas (MS) e Santa Cruz de la Sierra (Bolívia), foi restaurado pela Associação Brasileira de Preservação Ferroviária (ABPF) e voltará a operar — agora em um trajeto turístico no interior de São Paulo.
O carro, que fez sua primeira viagem há 58 anos, em agosto de 1967, fazia parte da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, uma das principais vias de integração entre São Paulo, Mato Grosso do Sul e a Bolívia no século XX. O trem era usado no transporte de passageiros e cargas, desempenhando papel estratégico na ocupação e desenvolvimento da região Centro-Oeste.
O legado do “Trem da Morte”
O trecho que ligava Puerto Quijarro (fronteira com o Brasil) a Santa Cruz de la Sierra ficou conhecido como “Trem da Morte”, devido às duras condições da viagem: jornadas de até sete dias, vagões precários, longas paradas, calor intenso e desafios logísticos. O apelido também era associado ao trecho brasileiro, que atravessava o Pantanal mato-grossense, região de difícil acesso, com alagamentos frequentes e vegetação densa.
Apesar do nome sombrio, o trajeto era marcado por paisagens deslumbrantes, especialmente nas áreas preservadas do Pantanal, um dos maiores biomas úmidos do mundo.
Abandono e privatização
Na década de 1990, com a privatização da malha ferroviária brasileira, o transporte de passageiros foi gradativamente desativado. O foco passou a ser o transporte de cargas, e as linhas de passageiros foram abandonadas. O vagão agora restaurado permaneceu inativo por décadas, até ser recuperado pela ABPF, organização sem fins lucrativos dedicada à preservação da memória ferroviária nacional.
Nova vida como atração turística
O vagão restaurado não retornará à rota original, mas entrará em operação na linha turística entre Campinas e Jaguariúna (SP), um dos principais circuitos ferroviários do país. Com 48 quilômetros de extensão e passagem por cinco estações, a rota é a mais extensa do estado de São Paulo voltada ao turismo ferroviário.
O trajeto valoriza o patrimônio histórico, a arquitetura das antigas estações e a experiência de viagem em trens a vapor, atraindo turistas interessados em história, cultura e paisagens rurais.
Preservação do patrimônio ferroviário
A ABPF destaca que a restauração não é apenas técnica, mas simbólica: representa a recuperação da memória ferroviária brasileira e a valorização de um modo de transporte que moldou o desenvolvimento do país. A iniciativa também contribui para o turismo sustentável e a educação patrimonial.
A volta à operação do vagão reforça o papel das ferrovias como espaços de memória e cultura, além de promover a economia local por meio do turismo.
Com informações: Associação Brasileira de Preservação Ferroviária (ABPF) / Revista Fórum