Ciência
Vacina contra HIV produz anticorpos para reconhecer e neutralizar o vírus
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Vacina produz quantidade de anticorpos capaz de reconhecer e neutralizar variantes do vírus
Uma vacina apontada como meio capaz de combater o HIV, desenvolvida pelo Duke Human Vaccine Institute, nos Estados Unidos, gerou a produção de uma pequena quantidade de anticorpos amplamente neutralizantes — um tipo específico de anticorpo capaz de reconhecer e neutralizar uma ampla gama de variantes de um vírus. O ensaio clínico foi realizado com um pequeno grupo de participantes e os resultados foram publicados na revista Cell.
O estudo mostra que a vacina testada pode gerar anticorpos para combater diversas variantes do vírus e iniciar esse processo em semanas, desencadeando uma resposta imune crucial. A droga mira uma área do envelope externo do HIV-1 chamada região proximal externa da membrana (MPER), que se mantém estável mesmo quando o patógeno sofre mutações. Os anticorpos contra essa área estável podem bloquear a infecção por várias cepas.
“Esse estudo é um avanço significativo, demonstrando a possibilidade de induzir anticorpos através de imunizações que neutralizam as cepas mais difíceis do HIV”, comemorou, em nota, Barton F. Haynes, diretor do Duke Human Vaccine Institute. “Os próximos passos incluem induzir anticorpos mais potentes contra outras partes do HIV para evitar a fuga do vírus. Ainda não chegamos lá, mas o caminho está mais claro.”
Voluntários
Vinte pessoas saudáveis e sem o vírus participaram do ensaio clínico avaliado pelos cientistas. Quinze receberam duas das quatro doses planejadas da vacina experimental e cinco receberam três doses. Após duas imunizações, a vacina teve uma taxa de resposta sérica de 95% e uma taxa de resposta de células T CD4 no sangue de 100% —duas medidas que indicam forte ativação imunitária. A maioria das respostas séricas estava direcionada à parte do vírus alvo da vacina.
Apesar de a resposta à vacina ocorrer com apenas duas doses, o ensaio foi interrompido quando um participante teve uma reação alérgica não fatal. Similar às raras situações vistas em vacinações contra a covid-19. A equipe investigou a causa e acredita que o problema foi provavelmente causado por um aditivo.
“Para obter um anticorpo amplamente neutralizante, vários eventos precisam ocorrer, geralmente ao longo de anos após a infecção”, frisou Wilton Williams, membro do Duke Human Vaccine Institute. “O desafio sempre foi replicar esses eventos em menos tempo com uma vacina. Foi emocionante ver que, com essa vacina, pudemos induzir anticorpos neutralizantes em poucas semanas.”
Grande potencial
Hemerson Luz, infectologista e chefe da Clínica de Infectologia do Hospital Naval Marcílio Dias, no Rio de Janeiro, afirma que o desenvolvimento de uma vacina contra o HIV certamente vai impulsionar o avanço da ciência e da medicina.
“Com a capacidade do Brasil em desenvolver e fabricar vacinas com tecnologias nacionais, temos um dos melhores programas de imunização do mundo, com acesso universal da população, isso facilitará a implementação do imunizante em um futuro não muito distante, mas os desafios ainda são enormes”, ressalta Luz.
Segundo o especialista, uma vacina contra o HIV reduz os custos da saúde. “Menos pessoas infectadas significa um menor gasto com tratamentos, muitas vezes caros e de longo prazo resultando assim em um impacto econômico significativo.” Para ele, o imunizante pode ajudar a reduzir o estigma em torno da Aids, doença provocada pelo HIV.
Como características promissoras da droga, os pesquisadores apontam a permanência de células imunológicas cruciais em um estado que lhes permite adquirir mutações, evoluindo junto com o vírus. Os pesquisadores afirmam que ainda há trabalho a ser feito para criar uma resposta mais robusta e atingir mais regiões do envelope do vírus. Uma vacina eficaz contra o HIV provavelmente terá pelo menos três componentes, cada um mirando diferentes áreas do vírus.
Werciley Vieira Júnior, infectologista do Hospital Santa Lúcia, em Brasília, pontua que a primeira função da vacina seria controlar os quadros infecciosos, reduzir complicações e condições mais graves. “O vírus pode atingir qualquer pessoa, está em todos os continentes e causa um grande agravo social, psicológico e orgânico. O grande impacto é sair de uma doença que não tem cura, que é apenas controlável, e conseguir fazer com que ela não evolua.”
“Precisaremos atingir todos os locais vulneráveis do envelope para que o vírus não possa escapar”, afirmou Haynes. “Mas este estudo mostra que anticorpos amplamente neutralizantes podem ser induzidos em humanos por vacinação. Agora que sabemos que a indução é possível, podemos replicar isso com imunógenos que têm como alvo outras áreas vulneráveis do envelope do vírus.”
Luz detalha que as constantes mutações do vírus e os locais do organismo em que eles se escondem do sistema imunológico, conhecidos como santuários, continuam sendo “os principais desafios para o desenvolvimento de uma vacina eficaz contra o HIV.”
Rastreamento
Uma equipe também do Duke Human Vaccine Institute (DHVI) desenvolveu uma vacina que funciona como um GPS, orientando o sistema imunológico a produzir anticorpos amplamente neutralizantes contra o HIV. Publicado na Cell Host & Microbe, recentemente, o trabalho detalha como fornecer instruções passo a passo para gerar esses anticorpos essenciais. O grupo começou com uma versão inicial de um anticorpo neutralizante, adicionando mutações sequenciais para identificar as que seriam necessárias para neutralizar o HIV. Eles desenvolveram uma vacina que instrui o sistema imunológico a seguir essa rota mutacional. Testada em ratos geneticamente modificados, a abordagem se mostrou eficaz em desencadear a produção desses anticorpos, com potencial para aplicação em outras vacinas. O próximo desafio será testar a estratégia em primatas e humanos.
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Ciência
Jovens para sempre: será mesmo possível evitar o envelhecimento?
Publicado
2 semanas atrásno
24 de agosto de 2024Por
Fato novo
Enquanto a ciência estuda o rejuvenescimento de células, milionários entram em competições para ficar mais novos. Mas estamos mesmo próximos de evitar o envelhecimento?
“Eu sou aquele maluco que está tentando não morrer”, diz Bryan Johnson, com uma dose de orgulho e outra de humor, na bio do seu Instagram. Nas redes sociais, o empresário americano de 46 anos detalha seus esforços para voltar a ter o organismo de alguém com 18. A lista inclui fazer exercícios de “um atleta profissional de rejuvenescimento” (como ele mesmo se define), seguir uma dieta ultrarregrada (com direito a uma “mistura da longevidade” que contém alguns dos seus 111 suplementos diários) e ter uma noite de sono perfeita (o que exige, entre outras condições, encontrar o travesseiro da espessura certa para não bloquear a circulação das veias do pescoço).
Não para por aí. Johnson, que diz investir cerca de US$ 2 milhões por ano na tentativa de rejuvenescer, também teria editado seu DNA “em uma ilha secreta para viver para sempre” e recebido “300 milhões de células-tronco” para ter “articulações super-humanas”, segundo anuncia aos seus mais de 1 milhão de inscritos no YouTube. Todo o esforço é acompanhado por uma equipe que o empresário contratou em 2021 para analisar pesquisas sobre longevidade e monitorar dados sobre os órgãos dele.
Na descrição do seu canal, o americano declara que, graças ao seu “protocolo”, já “alcançou uma saúde metabólica equivalente ao top 1,5% dos jovens de 18 anos, 66% menos inflamação do que a média para uma criança de 10 anos e reduziu sua velocidade de envelhecimento em 31 anos”. Sim, segundo o próprio, foi possível estimar tudo isso com rigor científico. Tanto que, hoje, comemora seu aniversário a cada 19 meses.
O milionário não está sozinho nesse empenho, e chegou a criar o ranking Rejuvenation Olympics (“Olimpíadas do rejuvenescimento”, em tradução livre), para competir com outras pessoas pela menor taxa de envelhecimento. Quem lidera a disputa atualmente é Brooke Paulin — biohacker que vive em Chicago e que, no Instagram, ostenta orgulhosa a ideia de que envelhece só “0,64 ano” a cada 12 meses.
Dados do tipo são calculados por empresas como a TruDiagnostic, sediada nos Estados Unidos, que vende kits de até US$ 957 para os competidores coletarem amostras de sangue e fazerem testes de epigenética — focados em flagrar as marcas que seu estilo de vida deixam no DNA. Os exames prometem determinar quão rapidamente o corpo dos clientes está envelhecendo a nível celular. Mas, afinal, estamos realmente próximos de atingir a juventude eterna?
Busca antiga
Milênios antes de milionários embarcarem em competições contra o envelhecimento, humanos já se preocupavam com os cabelos brancos. “Esse sempre é um tópico que algumas pessoas abraçam e outras simplesmente veem como algo ruim. Voltando ao pensamento na Grécia e na Roma antigas, alguns diziam que, quando você fi ca mais velho, você se torna sábio e deve ser ouvido, enquanto outros diziam que as pessoas mais velhas são um problema”, afirma Nancy A. Pachana, geropsicóloga clínica, neuropsicóloga e professora da Universidade de Queensland, na Austrália.
O primeiro imperador da China, Qin Shi Huang (259 – 210 a.C), por exemplo, passou anos procurando medicamentos mágicos para curar o envelhecimento. Chegou, inclusive, a organizar expedições para o Mar da China Oriental em busca das lendárias “Ilhas dos Imortais”, onde acreditava existirem plantas que garantiriam a vida eterna. No entanto, essa obsessão pode justamente ter causado a morte do líder aos 49 anos, já que alguns dos elixires que ele tomou provavelmente continham um ingrediente tóxico: mercúrio.
No Ocidente, também ficaram famosas as histórias de Nicolas Flamel, um escrivão da França medieval, e Elizabeth Báthory, condessa húngara que viveu entre os séculos 16 e 17. Há o mito de que o primeiro fabricou o “elixir da longa vida”; já Báthory virou lenda por supostamente ter assassinado mulheres jovens em seu castelo e se banhado no sangue delas para tentar manter sua própria juventude — ainda que, hoje, historiadores levantem dúvidas sobre se esse hábito mórbido existiu mesmo.
O interessante é que, mais de 400 anos após a morte da condessa, o sangue continua sendo visto como uma possível chave da longevidade. Entre 2016 e 2017, a Ambrosia, uma startup baseada nos Estados Unidos, chamou atenção ao começar a oferecer transfusões de plasma retirado de jovens adultos. Seu fundador, Jesse Karmazin, declarava que, segundo testes clínicos feitos por sua equipe, o líquido poderia reduzir o colesterol e até prevenir o Alzheimer. O preço de uma transfusão de 1,5L foi fixado em US$ 8 mil (R$ 45 mil).
Bryan Johnson tentou o mesmo tratamento no ano passado: recebeu uma transfusão de plasma do seu filho de 18 anos em uma clínica no Texas, Estados Unidos, cujo site promete “opções de tratamento antienvelhecimento, regenerativo e integrado”. Em um vídeo no YouTube, o empresário resume a inspiração científica por trás da tentativa: “Isso começou com um experimento muito louco em que dois camundongos foram costurados um ao outro para compartilharem o mesmo sistema circulatório. Era um velho e um jovem, e os resultados mostraram que o mais velho rejuvenesceu”.
“A principal compreensão desse tipo de experimento é que o microambiente vai influenciar a capacidade da célula de se proliferar ou a maneira como ela se comporta”, explica Rodrigo Calado, especialista em hematologia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP).
Membro do Centro de Terapia Celular da USP, o professor aponta que há, sim, diferenças entre o plasma de pessoas com idades distintas. “A mesma coisa acontece quando você transfunde uma bolsa de sangue de glóbulos vermelhos: uma bolsa mais jovem vai ter um comportamento diferente, vai durar mais tempo, vai ter uma infusão mais demorada do que uma bolsa que está mais velha”, aponta. Contudo, ainda não há como afirmar que a transfusão de plasma entre humanos seja como tomar o “elixir da vida”. “Primeiro que nem é permitido, do ponto de vista ético, você transfundir um plasma de alguém sem indicação médica. E o efeito que uma bolsa de plasma com 200 e poucos mL terá a curto ou a longo prazo é algo pouco compreendido”, diz.
Chamada parabiose, a técnica descrita acima é antiga: já no século 19 o zoólogo, fisiologista e político francês Paul Bert estudava esse tipo de cirurgia em animais. Segundo o Instituto Nacional de Envelhecimento dos Estados Unidos, algumas pesquisas de fato já mostraram que o sangue de camundongos jovens poderia reduzir ou reverter os efeitos do envelhecimento nos cérebros de cobaias mais velhas. Porém, em estudos mais recentes, o foco é trocar outras células além do plasma, e, a partir disso, analisar como atua o meio para onde esses componentes migraram.
Em fevereiro de 2019, a startup Ambrosia anunciou que parou de realizar transfusões de plasma. A declaração veio após a Food and Drug Administration, agência do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos comparada à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) no Brasil, emitir um comunicado desaconselhando pessoas a fazer esse tipo de terapia para tratar o envelhecimento ou doenças como demência, Parkinson, esclerose múltipla ou Alzheimer. O órgão justificou: “Não há benefício clínico comprovado na infusão de plasma de doadores jovens para curar, mitigar, tratar ou prevenir essas condições, e existem riscos associados ao uso de qualquer produto de plasma”.
Depois, Johnson admitiu no X, antigo Twitter, que a transfusão que recebeu do filho não lhe trouxe nenhum benefício detectável, mas disse que “métodos alternativos” com o plasma ainda poderiam ser “promissores”. Não foi a primeira vez que deu o braço a torcer: no site em que vende suplementos vitamínicos inspirados em sua dieta “de rejuvenescimento”, ele adicionou um asterisco à afirmação de que seu pó de cacau (US$ 64 por 340g) é “comprovado clinicamente” como capaz de “promover a saúde cardíaca a longo prazo”. “Essas declarações não foram avaliadas pela FDA. Este produto não se destina a diagnosticar, tratar, curar ou prevenir qualquer doença”, diz o aviso, no rodapé da página.
A fonte (interna) da juventude
Para entender o que a ciência realmente já sabe sobre o envelhecimento e o rejuvenescimento, é necessário compreender dois pontos. Um deles é o processo de senescência das células, que é quando elas atingem uma condição metabólica distinta das outras, que as faz perder suas funções comuns. O outro ponto é o envelhecimento do organismo como um todo.
Neste caso, é um processo fundamentalmente regulado por hormônios, e pode ser percebido inclusive na nossa aparência (pense na puberdade, quando perdemos o aspecto infantil devido ao crescimento de pelos e outras mudanças). Além disso, quando falamos do envelhecimento do nosso organismo, inflamações nos órgãos também entram em jogo, como a exposição excessiva ao Sol, que danifica a pele, ou o abuso do álcool, que afeta o fígado.
A ciência tem avançado no estudo da senescência de células específicas. Em uma pesquisa publicada na revista científica eLife em 2022, cientistas da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, afirmaram ter rejuvenescido células de pele humana em 30 anos. Isso foi possível graças à Reprogramação Transitória da Fase de Maturação, um método inspirado nas descobertas de Shinya Yamanaka em 2007. O pesquisador japonês ganhou o Nobel de Medicina junto com o cientista inglês John Gurdon após demonstrar que células humanas maduras — e, portanto, especializadas em uma única função — podem ser reprogramadas para se tornar pluripotentes.
Em outras palavras, podemos fazer uma estrutura retroceder até o estágio no qual ela é capaz de dar origem a qualquer tipo de tecido do corpo. Porém, no estudo de dois anos atrás, os pesquisadores contaram uma vantagem: eles conseguiram reprogramar as células de pele humana para deixá-las biologicamente mais jovens, mas ainda capazes de recuperar sua função celular especializada. Eles as fizeram “voltar no tempo” só o sufi ciente para reduzir a expressão de proteínas tóxicas; é como passar uma “borracha” nos remendos que se acumulam no DNA conforme as células envelhecem.
Há outras linhas de pesquisa além da reprogramação celular. A Aptah Bio, empresa baseada no Vale do Silício, nos Estados Unidos, afirma ter desenvolvido uma tecnologia capaz de “rejuvenescer células pela correção de múltiplos RNAs defeituosos e proteínas tóxicas simultaneamente, em um estado de diferenciação completo”, segundo o site da companhia. Inicialmente, a ideia da empresa era buscar uma solução para doenças como o Alzheimer e o glioblastoma, um tumor maligno cerebral. ”Na realidade, a gente está resolvendo o Alzheimer rejuvenescendo as células, e isso poderia ser aplicado para todas as células do corpo, para um cenário muito maior do que a gente imaginava”, conta o cofundador e CEO Rafael Bottos.
Segundo o engenheiro e empreendedor brasileiro, uma pesquisa recente da Aptah Bio conseguiu rejuvenescer neurônios humanos. O estudo foi feito no Canadá com dois pacientes de 75 anos, um com Alzheimer e outro sem a doença. “Existem dados públicos que mostram a faixa de degradação dos RNAs, dos 15 anos de idade até quase os 100. Então, quando tratamos nossas células, vimos que as rejuvenescemos em, no mínimo, 30 anos em sete dias”, diz Bottos.
“Recuperamos a comunicação dos neurônios que estavam sem conversar.” O artigo que descreve a técnica foi submetido à revista científica Nature, e atualmente está sendo revisado por um grupo de cientistas independente. A esperança é que, se aprovado no futuro, o medicamento possa ser produzido em larga escala.
“Talvez daqui a 10 anos, 15 anos, todo mundo poderá usar a nossa droga de forma preventiva”, aposta o cofundador da empresa. Bottos trabalha na Aptah Bio com um conselho de cientistas de diversas especializações. Entre eles, está o geneticista George Church, professor na Universidade Harvard e no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), que é referência no ramo da longevidade. Além disso, o empresário diz estar em contato com o também brasileiro Alysson Muotri, professor e pesquisador da Universidade da Califórnia em San Diego (UCSD) que ganhou notoriedade por pesquisas com mini-cérebros e estuda o impacto da microgravidade na saúde neurológica de astronautas.
“A gente pode tentar modificar o que é influência externa do ambiente, mas o que é intrínseco da célula e do organismo é mais difícil ser modificado” — Rodrigo Calado, especialista em hematologia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP
Em 2019, uma pesquisa de Muotri em colaboração com a Nasa mostrou que células cerebrais envelhecem muito mais rapidamente no espaço. “Hoje, o maior desafio da exploração espacial não é tecnológico, mas biológico”, destaca Bottos.
Essas pesquisas com neurônios e células da pele humana nos aproximam das “Ilhas dos Imortais” ou do elixir da vida que o imperador Qin Shi Huang tanto procurou? Não exatamente. Na visão de Rodrigo Calado, apesar dos avanços nos últimos anos, ainda parece muito improvável que algum ser humano viva por séculos; que dirá para sempre. Afinal, os mecanismos de envelhecimento do corpo que são regulados por hormônios não dependem apenas de como cuidamos da saúde.
Há condições favoráveis à longevidade que já vêm marcadas no DNA; é por isso que uma tartaruga-gigante-de-aldabra (Aldabrachelys gigantea) da ilha de Santa Helena, no Caribe, chegou aos 191 anos e conquistou o recorde de animal terrestre vivo mais velho do planeta. “A gente pode tentar modificar o que é infl uência externa do ambiente, mas o que é intrínseco da célula e do organismo é mais difícil ser modificado. E tentativas de alterar isso podem levar a complicações, como o câncer”, explica Rodrigo Calado.
Bottos também não acredita na imortalidade. “Acho que por mais que você tome cuidado com a parte biológica e a alimentação, você não vai evitar [todo e] qualquer tipo de dano na sua célula. Seria impossível”, diz. O foco da Aptah Bio não é transformar humanos em seres imortais, reforça. “A ideia é que todo mundo no mundo possa usar a nossa droga para viver melhor enquanto estiver aqui na Terra.” A professora e geropsicóloga Nancy A. Pachana tem um ponto de vista similar: “Prefiro usar a tecnologia para ajudar as pessoas a viverem a melhor vida possível. Ajudá-las a lembrar de tomar seus remédios, fazer escolhas saudáveis no supermercado, ou oferecer ajuda a quem vive com demência [por exemplo]. Prefiro isso do que confiar em uma tecnologia que é quase uma fantasia”.
Medo do inevitável
Bryan Johnson afi rma ainda não ter perdido a esperança de se tornar imortal. O americano até criou uma comunidade chamada “Don’t Die” (“não morra”), na qual convida membros a participarem de fóruns online e eventos. A intenção é derrotar “todas as causas de morte humana” e “construir tudo o que promova a prosperidade”. “Queremos ter a escolha entre vida contínua ou morte, explorar corajosamente o futuro, fazer da Terra um planeta sustentável para aqueles que escolhem a vida e garantir o futuro da existência humana com o avanço da inteligência artificial”, diz o site da iniciativa.
Talvez muitos humanos queiram vidas mais longas porque pertencemos a uma espécie insatisfeita por natureza. Existir por mais tempo significa, no papel, a ilusão de poder viver uma vida mais completa. De consumir e viajar mais, ver a tecnologia avançar e assistir de camarote ao fim de outros ciclos da vida na Terra. E também de ser lembrado por mais tempo — quem sabe, como a pessoa que conseguiu driblar a morte por alguns anos.
No entanto, o interesse em evitar a morte ou o envelhecimento nem sempre toma contornos dignos de uma ficção científica otimista. Na verdade, para muitos, esse é um desejo ligado a preocupações mais profundas. Uma pesquisa feita em 2015 pelo Instituto Qualibest e encomendada pelo laboratório Pfizer aponta que 90% da população brasileira têm medo de ficar mais velha. O maior temor de quem respondeu (989 pessoas ao todo) foram as complicações de saúde, sendo que a incidência mais alta desse sentimento apareceu nos grupos entre 18 e 35 anos.
Já um levantamento de 2024 conduzido pela agência de pesquisa de mercado OnePoll e encomendado pela Forbes Health descobriu que 47% dos americanos temem ficar mais velhos. Como no estudo mais antigo com brasileiros, esse pavor se mostrou mais forte entre os jovens, sendo relatado por 56% dos participantes de 18 a 25 anos. Entre os maiores receios dos 2 mil voluntários estão o declínio da saúde (63%), a perda de pessoas queridas (52%) e problemas financeiros (38%).
Um questionário divulgado em abril pela Luvly, plataforma americana de beleza e bem-estar, investigou o medo do envelhecimento com foco em mulheres com mais de 30 anos. Das 2 mil entrevistadas, 56% temem ficar mais velhas. O motivo mais citado foi a mudança da aparência (36% do total), seguido do medo de ser negligenciada pela sociedade (12%).
Essas pesquisas, aliás, demonstram uma diferença entre o pavor de ficar mais velho e a obsessão em permanecer jovem: embora os dois possam andar juntos, o primeiro está muito associado ao temor de doenças ou da própria mortalidade, enquanto o segundo geralmente está ligado às pressões estéticas do etarismo. “Uma amiga minha, que é apresentadora, diz: ‘Se eu não aplicasse Botox, não teria um emprego’. Então, não se trata apenas de ‘ah, quero me sentir bonita’”, reflete Nancy A. Pachana.
Esse também parece ser o caso da empresária e influencer norte-americana Kim Kardashian. Ela, que chegou a participar de um jantar com Johnson para discutir a mortalidade e já con-fessou se preocupar com o envelhecimento “todos os dias”, causou polêmica ao afirmar que, aos 43 anos, só tem mais uma década para “ser bonita” e investir na carreira de atriz. “Isso é tudo o que tenho em mim; daí vou tirar uma folga”, lamentou, em um episódio do reality show The Kardashians lançado em junho.
Em 2022, a famosa causou controvérsia ao dizer ao The New York Times que chegaria ao ponto de comer um “pote de cocô todos os dias” se isso a fizesse parecer mais jovem. E, em julho, revelou ter injetado no rosto substâncias derivadas de sêmen de salmão na esperança de que isso ajude sua pele a se regenerar e a produzir mais colágeno. O tratamento tem sessões em torno de US$ 500, e também já foi testado pela atriz Jennifer Aniston, estrela da sitcom Friends (1994-2004). No entanto, não possui aprovação da FDA.
As redes sociais poderiam explicar parte da aversão ao envelhecimento atualmente, especialmente entre as gerações mais novas. Mas há mais coisas nessa conta — como os próprios avanços nas áreas de estética e biotecnologia. “Hoje em dia, você pode parecer jovem se gastar dinheiro em produtos muito caros, ou se fizer alguma cirurgia plástica. Acho que essa ideia de confiar na tecnologia para permanecer jovem tem dado às pessoas algum tipo de concepção errada de que é possível retardar o envelhecimento”, reflete Chao Fang, professor de sociologia e vice-diretor do Centro de Envelhecimento e Curso de Vida da Universidade de Liverpool, na Inglaterra.
Como envelhecer bem
Abordar o envelhecimento de forma mais positiva é tão importante quanto esforços para tornar esse processo mais saudável. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), com apenas quatro anos, as crianças já começam a se dar conta dos estereótipos de idade em suas próprias culturas. Então, internalizam esses sentimentos, o que pode levá-las não só a reproduzir preconceitos com os outros, mas também a sofrer em qualquer fase da vida. Um estudo publicado na revista Aging & Mental Health em 2023, por exemplo, observou um impacto gravíssimo do etarismo sobre a saúde mental.
“Aqueles que possuem uma capacidade limitada de ficar contentes e de se senti-rem bem com a vida, o que são marcas registradas do etarismo internalizado, possuem maior risco de ter pensamentos suicidas”, concluíram os autores, após aplicarem um questionário a 454 pessoas com idades entre 65 e 91 anos nos Estados Unidos.
Essa percepção não tem a ver apenas com a maneira como cada um enxerga a si mesmo — mas também em como vemos os outros. Um levantamento da consultoria Ernst & Young Brasil e da plataforma Maturi fez apontamentos preocupantes sobre como o mercado de trabalho brasileiro lida com profissionais mais velhos. Após duas pesquisas — uma feita em 2022 com 191 empresas de 13 setores, e outra conduzida em 2023 com 4.840 participantes com idade de 58 anos, em média —, os autores constataram, entre outras percepções, que as organizações são etaristas. Os profissionais com mais de 50 anos não costumam ser considerados como força de trabalho. Das empresas ouvidas, 42% haviam contratado somente de uma a 10 pessoas nessa faixa de idade nos últimos cinco anos, e 9% não haviam admitido ninguém com esse perfi l durante o mesmo período.
Além disso, 47% estavam desempregados ou sem ocupação que gerasse renda, e 93% buscavam recolocação. Essas conclusões se tornam ainda mais inquietantes uma vez que dados do Censo Demográfico 2022 mostram um envelhecimento do Brasil: o total de pessoas com 60 anos ou mais cresceu 56% desde 2010. Hoje, esse público representa 15,6% da população.
As sociedades deveriam combater sistemas etaristas por meios políticos ou legais, na visão de Pachana. “Não pode ser apenas ações individuais, porque se uma empresa tenta mandar pessoas embora quando elas têm, digamos, 55 anos, dizendo que estão muito velhas, existe uma questão sistêmica”, analisa a professora da Universidade de Queensland, que também é autora do livro Ageing: A Very Short Introduction (sem edição no Brasil), publicado pela Oxford Press em 2016.
Um dos meios para combater estruturas etaristas é parar de rotular o envelhecimento ou as pessoas idosas como um “fardo”, acrescenta Chao Fang. “Precisamos adotar narrativas mais inclusivas ou mais positivas nas políticas”, defende. E, embora não haja nenhuma solução rápida para esses problemas, o professor da Universidade de Liverpool observa mais um caminho para abraçarmos o envelhecimento a nível tanto individual quanto coletivo: a convivência intergeracional.
Em muitas sociedades antigas, os jovens conviviam mais com os idosos, e, com isso, podiam ver os pontos positivos do envelhecimento, como os ganhos em sabedoria e respeitabilidade. “Na sociedade contemporânea, muitos jovens provavelmente só veem seus avós uma vez por ano. Claro que eles não sabem como é o envelhecimento. E, quando não conhecemos algo muito bem, isso pode criar um senso de incerteza”, aponta. Ou seja: no fundo, o pavor de ficar mais velho é nada além do que o medo do desconhecido.
Por isso, o caminho mais seguro para um envelhecimento feliz passa por tentar somar os anos da forma menos melancólica possível. Enxergar o envelhecimento — e, por tabela, a morte — como algo natural é apenas se convencer do óbvio: ninguém conseguirá sair desta (com o perdão do trocadilho) vivo para contar história. Até mesmo quem se esforçou muito na tentativa de provar o contrário.
Fato Novo com informações: Revista Galileu
Ciência
Como o código de barras, que completa 50 anos, revolucionou o comércio global
Publicado
2 semanas atrásno
24 de agosto de 2024Por
Fato novo
Invenção não mudou apenas momento de finalizar a compra. Ao tornar produtos legíveis por máquina, itens que vendiam bem podem ser reabastecidos rapidamente, exigindo menos espaço nas prateleiras
O primeiro código de barras moderno foi escaneado há 50 anos – em um pacote de 10 chicletes, em um supermercado, em Troy (EUA).
Cinquenta anos remete a um tempo antigo para a maioria das tecnologias, mas essa ainda está em alta. Mais de 10 bilhões de códigos de barra são lidos todos os dias em todo o mundo. E novos tipos de símbolos, como os códigos QR, criaram ainda mais usos para a tecnologia.
Eu teria sido como a maioria das pessoas, sem nunca pensar duas vezes na humilde codificação, se minha pesquisa como acadêmico de mídia na Universidade Clemson (EUA) não tivesse tomado alguns rumos estranhos. Em vez disso, passei um ano da minha vida vasculhando os arquivos e artigos de jornais antigos para saber mais sobre as origens deste método visual legível por máquinas – e acabei escrevendo um livro sobre a história cultural do código de barras.
Embora ele não tenha anunciado o fim dos tempos, como os teóricos da conspiração chegaram a temer, deu início a uma nova e revolucionária era no comércio global.
Os códigos de barras foram uma invenção da indústria de alimentos
Apesar de o mundo ter mudado muito desde meados da década de 1970, o Código Universal de Produto (UPC) – no qual a maioria das pessoas pensa quando ouve a palavra “código de barras” – não mudou. Ele foi escaneado pela primeira vez (no histórico pacote de chicletes) em 26 de junho de 1974 e continua, basicamente, idêntico aos bilhões de códigos de barras lidos em lojas de todo o mundo, atualmente.
Quando o primeiro UPC foi escaneado, era o resultado de anos de planejamento do setor de supermercados dos Estados Unidos. No final da década de 1960, os custos de mão de obra estavam aumentando rapidamente e o inventário (contagem, identificação e classificação dos produtos) estava se tornando cada vez mais difícil de rastrear. Os executivos do ramo esperavam que o novo método de leitura digital pudesse ajudá-los a resolver esses dois problemas, e acabaram acertando.
No início da década de 1970, o setor criou um comitê que desenvolveu o padrão de dados UPC e escolheu o símbolo de código de barras da IBM (empresa de tecnologia da informação), em vez de meia dúzia de designs alternativos. Tanto o padrão de dados quanto o símbolo ainda são usados até hoje.
Com base nas notas de reuniões que encontrei no Arquivo Goldberg da Stony Brook University, as pessoas que desenvolveram o sistema UPC achavam que estavam fazendo um trabalho importante. Entretanto, elas não tinham ideia de que estavam criando algo que sobreviveria por tanto tempo.
Alguns jornais publicaram artigos curtos sobre o evento de lançamento, mas não foram exatamente notícias de primeira página. A importância só se tornou aparente anos mais tarde, à medida que os códigos de barras se tornaram uma das infraestruturas de dados digitais de maior sucesso no mundo.
Os códigos de barras criaram uma revolução no espaço de prateleiras
A invenção não mudou apenas a experiência de finalização de uma compra. Ao tornar os produtos legíveis por máquina, eles permitiram grandes melhorias no rastreamento de estoque. Isso significava que os itens que vendiam bem poderiam ser reabastecidos rapidamente quando os dados indicassem, exigindo menos espaço nas prateleiras para qualquer produto individual.
Como escreveu o especialista em código de barras Stephen A. Brown, a redução da necessidade de espaço nas prateleiras permitiu uma rápida proliferação de novos produtos. Você pode culpar os códigos pelo fato de seu supermercado vender 15 tipos de pasta de dente quase indistinguíveis.
Da mesma forma, as superlojas de hoje, provavelmente, não existiriam sem a enorme quantidade de dados de inventário que os sistemas produzem. Como disse o professor Sanjay Sharma, do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), “se os códigos de barras não tivessem sido inventados, todo o layout e a arquitetura do comércio seriam diferentes”.
Outros setores aderiram rapidamente
O mecanismo nasceu no setor de supermercados, mas não ficou confinado aos corredores de alimentos por muito tempo. Em meados da década de 1980, o sucesso do sistema UPC incentivou outros setores a adotar os códigos de barras. Por exemplo, em um período de três anos, o Walmart, o Departamento de Defesa e o setor automotivo dos Estados Unidos começaram a usá-los para rastrear objetos nas cadeias de suprimentos.
As empresas privadas de transporte também adotaram o mecanismo para capturar dados de identificação. A FedEx e a UPS (setores de remessas) até criaram seus próprios símbolos de código de barras.
Como explicou o sociólogo Nigel Thrift, no final da década de 1990, eles tornaram-se “um elemento crucial na história da nova forma de mundo”. Ajudaram a permitir a rápida globalização de formas que seriam difíceis de imaginar se não existissem.
Preto e branco e despercebido por toda parte
Para alguém que ficou tão interessado nesta história – como eu, que fiz uma tatuagem no meu braço do código de barras do International Standard Book Number do meu último livro -, a passagem silenciosa do 50º aniversário do código de barras parece quase poética.
Cresci em um mundo onde eles estavam por toda parte: nos produtos que comprei, ingressos de shows que digitalizei, pacotes que recebi.
Por décadas, eles têm sido um cavalo de batalha operando no pano de fundo de nossas vidas. Os humanos modernos os escaneiam inúmeras vezes todos os dias, mas raramente pensamos neles porque não são chamativos e simplesmente funcionam – na maioria das vezes, pelo menos.
À medida que os códigos de barras continuam a se movimentar em sua velhice, eles são um lembrete de que as tecnologias aparentemente enfadonhas costumam ser muito mais interessantes e importantes do que a maioria das pessoas imagina.
Este artigo foi escrito por Jordan Frith, professor de comunicação da Universidade Clemson, nos Estados Unidos. O texto foi publicado originalmente no site The Conversation.
Fato Novo com informações: Revista Galileu
Ciência
Para matar mamutes, primeiros americanos faziam armadilhas em vez de atirar lanças
Publicado
2 semanas atrásno
23 de agosto de 2024Por
Fato novo
Arqueólogos reproduziram lanças usadas há 13 mil anos para observar como as armas se comportavam em diferentes técnicas de caça. Resultado apontou para armadilhas, e não para o arremesso de lanças
Desenhos em cavernas que retratam a caça de mamutes costumam mostrar ataques feitos com lanças. Mas essa não era a única forma que os antigos humanos tinham para abater esses animais. Pesquisadores da Universidade da Califórnia em Berkeley, nos Estados Unidos, descobriram que os primeiros humanos das Américas usavam pedras cortantes para caçar bichos que habitavam o continente há 13 mil anos.
Em um artigo divulgado na última quarta-feira (21) no periódico PLOS ONE, os cientistas apresentaram os achados de um estudo que reexaminou várias evidências históricas. O estudo revelou que, durante a Era Glacial, os humanos empregavam armadilhas para capturar presas como mamutes.
Um dos primeiros grupos humanos a se estabelecer no continente norte-americano foi o povo de Clóvis, que surgiu no final da Era Glacial. Esse nome foi atribuído devido à descoberta predominante de seus artefatos na cidade de Clovis, nos Estados Unidos. Eles são conhecidos por suas lanças afiadas, denominadas “pontas de Clovis”. Você pode ver um exemplo delas abaixo.
Anteriormente, acreditava-se que esse povo utilizava essas armas como lanças de longo alcance para a caça. No entanto, ao reexaminar artefatos arqueológicos e conduzir o primeiro estudo experimental com armas de pedra, os pesquisadores descobriram que os humanos podem ter colocado suas lanças no chão e inclinado a arma para cima, criando uma espécie de armadilha para empalar os animais. Essa técnica teria permitido que a força da investida penetrasse de forma mais profunda no corpo da presa.
Isso era fundamental para as caçadas na chamada “Era do Gelo”. Nesse período, a Terra era povoada por uma megafauna, incluindo grandes animais como bisões gigantes, leões e mamutes. Portanto, para caçar essas criaturas, os humanos precisavam de técnicas de ataque sofisticadas e eficazes para derrubar esses gigantes.
O estudo experimental envolveu a criação de réplicas das lanças, nas quais a ponta de pedra estava fixada por amarras entre um tronco de madeira e uma haste de osso, e a realização de testes com diversas técnicas de caça.
Os experimentos revelaram que, embora as lanças fossem eficazes em perfurar o couro dos animais, elas se quebravam ao serem atiradas e colidirem com uma tábua de carvalho, que simulava o impacto com os ossos dos animais.
“O tipo de energia que você pode gerar com o braço humano não é nada comparado ao tipo de energia gerada por um animal atacando. É uma ordem de magnitude diferente”, disse Jun Sunseri, professor de antropologia da Universidade da Califórnia e coautor do artigo, em comunicado. “Essas lanças foram projetadas para fazer o que estão fazendo para proteger o usuário.”
As pontas de Clovis eram confeccionadas com materiais como rochas sílex (rocha sedimentar muito dura) ou jaspe (pedra na cor vermelha). Milhares delas foram recuperadas nos Estados Unidos, incluindo algumas encontradas dentro de esqueletos de mamutes preservados. No entanto, essas pontas são as únicas evidências bem conservadas das lanças. Embora sejam ocasionalmente encontradas hastes de osso, a madeira na base da lança e os laços que integravam o sistema completo, se deterioram rapidamente com o tempo.
“A sofisticada tecnologia Clovis, que se desenvolveu independentemente na América do Norte, é um testemunho da engenhosidade e das habilidades que os primeiros povos indígenas empregaram na convivência com a megafauna agora extinta”, disse Kent Lightfoot, que também assina o estudo.
Os pesquisadores pretendem desenvolver uma réplica de mamute utilizando um bloco de gel balístico montado em um objeto de grande massa em movimento. Com o auxílio de um tipo de escorregador ou pêndulo, eles esperam simular como teria sido o impacto de uma lança com ponta de Clóvis contra um mamífero grande e ágil durante um ataque.
Fato Novo com informações: Revista Galileu
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