Connect with us

Comportamento

Os países surpreendentes nos quais felicidade está aumentando entre os jovens

Published

on

Os países surpreendentes nos quais felicidade está aumentando entre os jovens

Foi publicada em março de 2024 a edição anual do Relatório Mundial da Felicidade.

Os países escandinavos, como a FinlândiaDinamarcaIslândia e Suécia, continuam no topo da lista. Até aí, nenhuma surpresa. Mas um novo grupo de países tem subido no ranking da felicidade, de forma silenciosa, mas constante.

A pesquisa indica que, nos últimos três anos, países da Europa central e oriental ultrapassaram alguns dos seus vizinhos da Europa ocidental, em termos de felicidade geral.

Em 2024, a República Checa e a Lituânia atingiram pela primeira vez o top 20. Elas estão em 18º e 19º lugar, respectivamente, seguidas de perto pela Eslovênia, em 21º.

O mais interessante é que, em muitos desses países, o avanço pode ser diretamente atribuído ao aumento da felicidade dos moradores mais jovens.

Advertisement

A Lituânia, por exemplo, ocupa o primeiro lugar entre a Felicidade dos Jovens do mesmo relatório, avaliada entre pessoas com menos de 30 anos de idade. A Sérvia ocupa a 3ª posição, a Romênia vem em 8º, a República Checa é a 10ª e a Eslovênia ocupa o 15º lugar. O Brasil é o 60º da lista.

Os números da Europa central e oriental não surpreendem os moradores locais, nem as pessoas que viajam frequentemente para aquela região.

“Existem mais empregos decentes no país, de forma que [agora] os jovens não estão se mudando para trabalhar em outros lugares da Europa”, afirma Tim Leffel, autor do livro The World’s Cheapest Destinations (“Os destinos mais baratos do mundo”, em tradução livre).

“Na primeira vez em que visitei a Romênia e a Bulgária, uma década atrás, algumas aldeias estavam repletas de idosos”, ele conta. “Agora, você vê muito mais mistura entre as idades. Quando os jovens permanecem, aumenta a esperança de todos no futuro.”

Com seu PIB per capita em franco crescimento desde o início dos anos 2000, muitos moradores da Europa central e oriental agora percebem que têm iguais chances de serem felizes — o que é um importante indicador do bem-estar em geral. De fato, o relatório concluiu que a desigualdade do bem-estar tem efeito ainda maior sobre a felicidade geral do que a desigualdade de renda.

Além do crescimento econômico, esses países estão investindo em infraestrutura, promovendo cenários culturais vibrantes e capitalizando sua estonteante beleza natural — desde as dunas de areia formadas pelo mar no istmo da Curlândia, que se estende pela Lituânia e pela Rússia, até a biodiversidade dos montes Cárpatos, na Romênia.

O resultado é uma sensação palpável de otimismo e entusiasmo entre os moradores locais.

Advertisement

Para entender melhor esse novo senso de felicidade, conversamos com moradores e viajantes recentes sobre suas experiências em alguns desses países e descobrimos onde os visitantes podem desfrutar sua própria experiência dessa sensação.

Lituânia
Foto de mulheres dançando no Festival Lituano da Música

CRÉDITO,GETTY IMAGES – Legenda da foto,Uma vez a cada quatro anos, o Festival Lituano da Música reúne os cidadãos do país para celebrar sua identidade nacional

Ocupando o 19º lugar no índice geral e a primeira posição entre os moradores com menos de 30 anos de idade, a Lituânia observou notáveis melhorias da qualidade de vida nas últimas décadas, segundo seus moradores.

“A maioria das pessoas da Lituânia se sente muito feliz, especialmente as gerações mais jovens”, afirma a lituana Jurga Rubinovaite, fundadora e CEO (diretora-executiva) do blog de viagens Full Suitcase.

“Mesmo com a guerra na Ucrânia e os comentários constantes no noticiário sobre a crescente possibilidade de expansão da guerra para os Estados bálticos, as pessoas parecem estar apreciando e aproveitando a vida como nunca antes”, ela conta.

Ela atribui esta sensação ao fato de que as pessoas são livres para estudar, trabalhar e viajar para onde quiserem desde 1990, quando a Lituânia conseguiu a independência da União Soviética.

“Minha mãe sempre diz, ‘minha vida nunca foi tão boa quanto agora’”, conta Rubinovaite.

“As gerações mais novas nunca souberam o que era a vida antes que a Lituânia recuperasse a independência, mas todos eles conhecem as histórias dos seus pais e avós. Acho que esta é uma das razões por que as pessoas estão mais felizes agora, porque elas reconhecem o que elas têm, mais do que nunca.”

Advertisement

Ela também menciona as políticas de maternidade e paternidade do país, que estão entre as mais longas do planeta (até 126 dias remunerados para as mães e 30 dias para os pais), além de grandes redes familiares para ajudar a cuidar das crianças.

Raminta Lilaitė-Sbalbi, moradora da Lituânia, encontra sua felicidade no vibrante cenário cultural da capital lituana, Vilnius. Ela gosta particularmente da proximidade da natureza, do seu espírito comunitário inclusivo e das oportunidades de expressão criativa e crescimento pessoal.

Lilaitė-Sbalbi indica eventos culturais importantes, como o Festival Lituano da Música, que faz parte do Patrimônio Mundial da Unesco e comemora seu 100º aniversário este ano, entre junho e julho.

“É uma oportunidade de presenciar, uma vez a cada quatro anos, um enorme concerto com centenas de corais e milhares de pessoas cantando juntas em um enorme palco ao ar livre”, explica ela.

“O festival tem profunda importância para todos nós, devido ao seu papel na preservação da identidade nacional lituana durante os tempos da ocupação soviética. Por isso, ele foi chamado de ‘revolução do canto’.”

Advertisement

A proximidade do país com a natureza também oferece um claro caminho para a felicidade, com melhor equilíbrio entre a vida pessoal e o trabalho.

“Os lituanos adoram sair ao ar livre”, afirma Rubinovaite. “Eles aproveitam todas as oportunidades que têm para sair da cidade e visitar as florestas, os lagos e seu belo litoral.”

Lilaitė-Sbalbi recomenda aos visitantes conhecer as trilhas de caminhada perto de Vilnius, como a Trilha Verde Strėva.

“Seu morro das fontes [abriga nascentes que] não congelam nem mesmo no inverno e há uma plantação de orquídeas lituanas em um pequeno morro”, ela conta. Lilaitė-Sbalbi também indica a Trilha Natural Karmazinai, um local fascinante de ritos pagãos e antigos cemitérios.

Romênia
Mulher idosa romena em foto em close

CRÉDITO,GETTY IMAGES – Legenda da foto, A Romênia foi um dos países que mais subiram no ranking da felicidade mundial na última década

Embora ocupe apenas a 32ª posição geral, a Romênia observou um dos maiores saltos do mundo em termos de felicidade na última década.

O país ocupava o 90º lugar no Relatório Mundial da Felicidade de 2013. E, também aqui, o salto foi impulsionado principalmente pelos jovens, que colocaram a Romênia na oitava posição entre as pessoas com menos de 30 anos de idade.

Advertisement

Especialistas atribuem este otimismo ao aumento da liberdade e das oportunidades.

Em março de 2024, a Bulgária e a Romênia se tornaram os mais novos Estados membros da área Schengen da União Europeia, que garante o livre movimento de cidadãos e visitantes sem controles nas fronteiras. A Romênia também recebeu grandes investimentos em infraestrutura, que melhoraram a qualidade de vida dos seus moradores e visitantes.

“As principais autoestradas e todas as cidades que você visitar – até lugares pequenos, como [a cidade de] Targu Mures – parecem estar em construção”, afirma Daniel Herszberg, fundador do website Travel Insighter.

Com um orçamento de infraestrutura já aprovado de 17 bilhões de euros (cerca de R$ 95 bilhões) para o período 2021-2027, a Romênia vem sistematicamente implementando melhorias, incluindo a construção de 1,7 mil quilômetros de estradas, em velocidade muito maior do que o esperado originalmente.

Mesmo em meio à modernidade do progresso, as tradições romenas ainda atraem moradores e visitantes.

“A Romênia se orgulha da sua rica diversidade cultural, desde os saxões e os sículos [e outras minorias húngaras] até as culturas romenas e romanis”, explica Alexandra Nima, atual moradora do país.

“A Transilvânia, especificamente, é um lugar que vale a pena considerar se você estiver em busca de ambientes acessíveis, calmos e bucólicos, repletos de arte e belas vistas.”

Herszberg concorda. Ele sugere viajar de carro pela Transilvânia para observar o melhor daquela região.

Advertisement

Comece por Cluj-Napoca, a segunda cidade mais populosa do país, para conhecer seus castelos medievais — incluindo o Castelo Bonțida Bánffy, conhecido como o “Versalhes da Transilvânia”, 30 km ao norte da cidade.

Em seguida, siga para o sul por 270 km, até a pequena cidade de Brasov, rodeada pelos montes Cárpatos. Lá, você pode conhecer suas muralhas saxônias medievais e a dinâmica cultura das suas cafeterias.

República Checa
Imagem de rua na República Checa

CRÉDITO,GETTY IMAGES – Legenda da foto,A comunidade e a cultura são fatores importantes para a felicidade na República Checa

Ocupando o 18º lugar na felicidade geral e a 10ª posição entre os menores de 30 anos, a República Checa vivencia um ressurgimento da sua comunidade e cultura nos últimos anos, que causou o aumento dos seus níveis de felicidade.

“Os apartamentos e outras moradias costumam ser menores por aqui, o que aumenta a importância do acesso aos ‘espaços terceirizados’, como parques, bares e cafés”, afirma Michael Rozenblit, fundador do site de viagens The World Was Here First. Ele mora na capital checa, Praga, há dois anos.

“Quando o dia de trabalho termina, você vê famílias, casais e grupos de amigos descendo para os espaços verdes da cidade, como se fossem para um quintal comunitário”, ele conta. E, mesmo no tempo frio, Rozenblit afirma que o convívio em bares e cafés é essencial para a cultura checa.

Este equilíbrio entre o trabalho e a vida pessoal é apoiado pelas políticas governamentais, que incluem dias de férias garantidos por lei, assistência médica abrangente e licença-maternidade e paternidade.

Advertisement

“A maior parte dos programas de benefícios aos empregados inclui acesso a esportes, atividades físicas e até regalias, como massagens e bem-estar”, explica a norte-americana Mariko Amekodommo, que agora mora em Praga, onde conduz seu próprio negócio de culinária, Mariko Presents. “As pessoas são muito felizes aqui porque têm um ótimo padrão de vida.”

Amekodommo e Leffel recomendam ao visitante que se aventure fora de Praga, para ter a verdadeira sensação da cultura e da paisagem local.

“Uma pequena viagem de 30 minutos de trem para fora da cidade pode levar você a belos castelos, um monastério criado com ossos humanos e à natureza intocada”, afirma Amekodommo. “Uma caminhada de 15 minutos a partir do centro da cidade pode levar você a um ambiente mais tranquilo, entre moradores locais.”

Leffel visitou recentemente as regiões checas de Plzeň e do Triângulo dos Spas. Ele recomenda aos viajantes visitar cidades pequenas, como Olomouc, Brno e Plzeň. “Elas oferecem uma visão diferente da forma de viver na República Checa”, segundo ele.

Particularmente para os amantes da cerveja, não pode faltar uma visita à cervejaria Pilsner Urquell, em Plzeň. Para Leffel, “é uma peregrinação, como visitar Bordeaux [França] para um amante dos vinhos ou uma viagem para a Etiópia, para um amante do café”.

Advertisement

O enorme legado checo no setor da cerveja foi recentemente reconhecido internacionalmente. A cidade de Žatec foi inscrita na lista do Patrimônio Mundial da Unesco, devido à sua longa tradição de cultivo e processamento de lúpulo, um ingrediente essencial da fabricação de cerveja hoje em dia.

Continue Reading
Advertisement
Click to comment

Leave a Reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Comportamento

Padrões alimentares pouco saudáveis geram US$ 8 trilhões em custos ocultos

Published

on

Relatório da FAO revela que 70% desses custos são causados por impactos de saúde associados a doenças crônicas, especialmente nos sistemas agroalimentares mais sofisticados; baixa ingestão de cereais, frutas e vegetais e alto consumo de carnes processadas e sódios estão entre maiores riscos

A Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, FAO, lançou na semana passada um relatório sobre os custos ocultos para sistemas agroalimentares em todo o mundo.

As perdas são de US$ 12 trilhões por ano. E 70% desses gastos são gerados por padrões pouco saudáveis de dieta.

Desigualdades sociais e degradação ambiental

A pesquisa da FAO ouviu pessoas de 156 países. No caso das dietas ruins, o maior problema é a associação com doenças crônicas, em níveis alarmantes, incluindo doenças coronárias, diabetes e derrames, o que excede os gastos relacionados às desigualdades sociais e à degradação ambiental.

O Estado da Alimentação e Agricultura 2024, Sofa na sigla em inglês, aproveita os dados da edição de 2023 com mais análises de pano de fundo e o custo real que expõe a escala completa de custo e benefício associada à produção de alimentos, distribuição e consumo incluindo os que não aparecem nos preços de mercado.

Advertisement
Comunidade em Madagáscar quer proteger-se da degradação

UN News/Daniel Dickinson

Mudanças transformadoras

O relatório atualiza as estimativas de custo com uma divisão entre tipos de sistemas agroalimentares e propõe uma via para mudança transformadora nos sistemas agroalimentares como um todo.

O estudo também detalha como os custos ocultos globais são grandemente puxados pelos custos não declarados de saúde, seguidos por gastos ambientais em sistemas agroalimentares mais industrializados em países de renda média alta e de renda alta.

A FAO examinou os impactos para a saúde e identificou 13 fatores de risco em dietas que incluem insuficiência de frutas, cereais e vegetais. Dietas com excesso de sódio e de carnes processadas com diferenças notáveis entre vários sistemas agroalimentares.

Políticas sob medida, desafios e oportunidades

A pesquisa também introduz uma tipologia que caracteriza os sistemas em seis grupos: crises prolongadas, tradicional, expansão, diversificada, formal e industrial. Esse quadro permite um conhecimento mais específico dos desafios e oportunidades próprios de cada sistema e que permite políticas de desenvolvimento mais sob medida.

As dietas baixas em grãos são um dos maiores fatores de risco entre os sistemas agroalimentares em crises prolongadas como em conflitos associados à insegurança alimentar. Também em sistemas tradicionais que são típicos de baixa produtividade, tecnologia limitada e cadeias de valor mais curtas. E a principal preocupação é a baixa ingestão de frutas e vegetais.

Já a dieta rica em sódio está mais presente em sistemas tradicionais e formais assim como padrões alimentares que incluem alto consumo de carnes processadas que tendem a passar de sistemas tradicionais para industrializados.

Advertisement
Consumo de alimentos processados é um fator de risco

© UNICEF/Zhanara Karimova

Emissões de CO2 e poluição da água

Além dos riscos de padrões de dieta pouco saudáveis, a FAO analisou o impacto ambiental de práticas agrícolas insustentáveis.

Custos associados a emissões de CO2 e poluição de águas entre outros fatores são mais altos em países com sistemas diversificados de agricultura chegando a US$ 720 bilhões.

Em países com conflitos prolongados, as perdas ambientais podem chegar a 20% do Produto Interno Bruto, PIB.

Brasil, Austrália e Índia

Os custos sociais incluindo pobreza e subnutrição são mais prevalentes em sistemas agroalimentares tradicionais e representam de 8% a 18% do PIB, respectivamente.
O relatório da FAO recomenda adaptar os contextos locais e focalizar nas prioridades das partes em jogo.

O documento analisa casos em países como Austrália, Brasil, Colômbia, Etiópia, Índia e Reino Unido.

Custo de dietas saudáveis tem aumentado no mundo

© Unsplash/Mariana Medvedeva

Dietas mais saudáveis, inovações e sustentabilidade

Dentre as recomendações estão: incentivos financeiros e regulatórios para práticas sustentáveis de produção, promoção de dietas mais saudáveis, redução de emissões de CO2 e nitrogênio, dar autonomia aos consumidores sobre impactos em suas escolhas alimentares.

Outras propostas são assegurar a transformação rural e inclusiva, fortalecimento  da governança e da sociedade civil, acelerar inovações e criar sistemas mais sustentáveis.

Advertisement

Fonte: ONU

Continue Reading

Comportamento

Proibição de celular: escolas focam na formação e no apoio familiar

Published

on

Do exercício da autonomia ao desenvolvimento de habilidades para o uso consciente da tecnologia digital, instituições de ensino em SP compartilham como têm atuado diante do dilema do uso de celular

A proibição de celular na escola foi defendida por 83% dos brasileiros (de um total de 10 mil pessoas) que participaram de uma consulta pública realizada pela Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro. Já 6% foram contra e 11% parcialmente favoráveis.

Essa consulta destaca que há uma crescente preocupação com o impacto das telas no aprendizado e na saúde mental de crianças e adolescentes. Tanto que diferentes escolas têm adotado abordagens que vão além de regras rígidas, investindo na construção de uma cultura de uso consciente e na formação de estudantes mais autônomos e saudáveis.

Uso consciente

No Colégio Nossa Senhora das Graças (Gracinha), na cidade de SP, a restrição ao uso de celulares entre os estudantes do fundamental 2 foi acompanhada pelo lançamento do movimento Gracinha Offline, em agosto, promovido pela Organização das Famílias do Gracinha (OFAG).

“Queremos resgatar atividades que envolvam as crianças e afastem a atenção das telas”, explica Claudia Taddei, mãe e integrante da OFAG.

Segundo Claudia, a parceria entre escola e famílias tem sido essencial, com a realização de uma pesquisa comunitária e a organização de vivências práticas voltadas ao desenvolvimento da consciência sobre o uso equilibrado de dispositivos.

Advertisement

Sandra Cirillo, orientadora educacional da escola, destaca que a dependência dos dispositivos aumentou significativamente após a pandemia, exigindo mudanças profundas. “Identificamos situações em que alunos apresentavam sofrimento emocional quando seus celulares eram retirados, o que evidenciou a gravidade do problema e a necessidade de intervenções estratégicas.”

A escola proibiu o uso dos aparelhos durante as aulas e uniu forças com as famílias para promover diálogos e encontros com especialistas, buscando fomentar um uso mais consciente da tecnologia. “Nosso objetivo é que as soluções sejam construídas em conjunto, respeitando a realidade de cada família”, enfatiza Sandra.

Desafios e medidas para enfrentá-los

No Colégio Magno, também localizado na cidade de São Paulo, a diretora Claudia Tricate relata os desafios em encontrar um equilíbrio entre tecnologia digital e ambiente escolar.

“Acreditávamos que permitir o uso consciente dos celulares para fins pedagógicos seria o caminho ideal, mas percebemos que os adolescentes ainda enfrentam dificuldades em se autorregular. O apoio das famílias foi fundamental para estabelecer um controle mais eficaz, sem recorrer a medidas drásticas, como o confisco”, conta a diretora Claudia Tricate.

A escola limitou o acesso ao Wi-Fi para redes sociais durante as aulas, preservando espaços para que os estudantes desenvolvam autonomia no gerenciamento do próprio tempo, preparando-os para a vida adulta.

Já a paulistana Escola Tarsila do Amaral adota uma abordagem focada nas interações offline, especialmente com as crianças mais novas. De acordo com Patrícia Bignardi, coordenadora pedagógica, a proposta da escola valoriza as experiências lúdicas e as conexões sociais sem o uso de dispositivos.

“Procuramos estimular brincadeiras e atividades sem tecnologia desde cedo, promovendo uma introdução gradual ao mundo digital.” Patrícia alerta para os riscos de iniciar o uso excessivo de telas na infância, quando vídeos são frequentemente utilizados para entreter as crianças em situações como refeições fora de casa ou viagens, substituindo interações mais ricas, como conversas ou brincadeiras.

Advertisement

Ela também reconhece que, com adolescentes, o desafio de regular o uso dos dispositivos se intensifica conforme aumentam sua autonomia e acesso à tecnologia.

A Escola Vera Cruz, em SP, por sua vez, decidiu implementar uma medida experimental: dias inteiros sem celulares e smartwatches, tanto para alunos quanto para profissionais. Daniel Helene, coordenador pedagógico do fundamental 2, explica que a proposta foi desenvolvida em conjunto com os estudantes, envolvendo-os ativamente nas decisões.


“Com essa iniciativa, queremos que os alunos percebam os benefícios de um tempo desconectado e aprimorem habilidades sociais e emocionais que vão além do universo digital.” Daniel ressalta que a participação das famílias tem sido essencial para que essa experiência se consolide, abrindo espaço para discussões sobre como equilibrar o uso da tecnologia na rotina escolar e familiar.  


Essas experiências mostram que, como indicado no início desta matéria, a questão do celular vai muito além de proibições e regras rígidas. Como observa Sandra, do Gracinha, o desafio envolve também a saúde mental e o desenvolvimento socioemocional dos alunos: “a formação de vínculos sociais e a capacidade de lidar com frustrações e conflitos são essenciais para o crescimento. A escola precisa ir além do ensino de conteúdos, ajudando os alunos a desenvolverem habilidades para interagir com o mundo, o que inclui a adoção de um uso responsável da tecnologia.”


Fonte: Revista Educação

Advertisement

Continue Reading

Comportamento

Oito em cada 10 brasileiros de nove a 17 anos que usam internet têm celular próprio

Published

on

Número é da pesquisa TIC Kids Online Brasil 2024, que mapeia hábitos e riscos da presença de crianças e adolescentes no ambiente virtual; dados também mostram que, em geral, quanto maior a faixa etária, maior assiduidade no uso de redes sociais

O uso frequente de celular por crianças e adolescentes tem levantado uma série de debates — incluindo a discussão sobre a proibição da utilização dos dispositivos em sala de aula. Números da pesquisa TIC Kids Online Brasil 2024, que mapeia hábitos e riscos dessa população no ambiente virtual, demonstram que essa presença digital tem sido, de fato, ampla: hoje, 93% das crianças e jovens de nove a 17 anos são usuários de internet no país, e 81% deles possuem celular próprio.

A desigualdade entre classes socioeconômicas, porém, continua: enquanto nas classes AB quase a totalidade da população dessa faixa etária possui aparelho celular (97%), o número cai para 80% na classe C e 77% nas D e E. A pesquisa TIC Kids Online foi divulgada ontem, 23, no 9º Simpósio Crianças e Adolescentes na Internet, realizado em São Paulo. O levantamento é realizado desde 2012.

A edição deste ano também mostrou que, entre os usuários de internet de nove a 17 anos, 86% utilizam a rede para fazer trabalhos escolares e 76% usam redes sociais. Os números aumentam de acordo com a faixa etária: entre adolescentes de 15 a 17 anos, 90% declaram usar redes sociais; já no caso de crianças de nove e 10 anos, esse número cai para 47%.

Uso excessivo e desafios da mediação

A pesquisa indica uma tendência dos adultos responsáveis em dar mais autonomia na utilização do dispositivo de acordo com o avançar da idade. Ainda assim, a posse do aparelho celular alerta para um maior desafio de mediação. Foi o que afirmou a professora Inês Vitorino, que integra o Grupo de Pesquisa da Relação Infância, Adolescência e Mídia (Grim) da Universidade Federal do Ceará (UFC), durante o painel de exposição dos dados no simpósio em São Paulo.

Advertisement

“Isso significa que essa criança pode estar sozinha no contato também com estranhos; que pode acessar conteúdos inadequados. Claro que podem estar com restrições técnicas feitas pelos pais, mas a gente sabe que essas restrições não são, muitas vezes, nem do conhecimento hegemônico e nem do uso da maioria”, afirmou.

 

<em>Painel apresentou resultados da TIC Kids Online no 9º Simpósio Crianças e Adolescentes na Internet (Foto: Juliana Fontoura/revista Educação); posse de celular traz desafio de mediação</em>

Painel apresentou resultados da TIC Kids Online Brasil no 9º Simpósio Crianças e Adolescentes na Internet (Foto: Juliana Fontoura/revista Educação); posse de celular traz desafio de mediação

Segundo o estudo, 34% dos responsáveis relatam usar recursos para bloquear ou filtrar alguns tipos de sites. Nesse caso, também há diferenças significativas de acordo com a idade: para crianças de nove e 10 anos, o número é de 45%; 11 e 12 anos, 48%; já para os mais velhos, o número cai, sendo 24% para aqueles de 15 a 17 anos e 26% para aqueles que têm 13 e 14 anos.

Ao longo do painel, a professora Inês Vitorino também alertou para o desafio da curadoria de conteúdos. Isso porque, de acordo com o estudo, além da utilização da internet para fazer trabalhos escolares, crianças e adolescentes também usam a rede amplamente para ouvir música (86%) e assistir a vídeos, programas, filmes ou séries (84%), além de jogar online (78%).

Segundo a professora, em muitos casos, o conteúdo que chega para a criança ou adolescente não é adequado à idade, não tem filtros etários e nem uma política de recomendação colaborativa.

“A política de recomendação que essas crianças recebem é uma curadoria feita de forma empresarial, conforme os interesses que prevalecem em cada uma dessas companhias e dessas plataformas”, afirmou Inês Vitorino.

Sobre o uso excessivo, o estudo mostrou que 24% dos usuários de internet entre 11 e 17 anos declararam ter tentado passar menos tempo na rede, mas que não conseguiram. Além disso, 22% afirmaram que se pegaram navegando sem estar realmente interessados no que viam, e 15% relataram que deixaram de comer ou dormir por causa da internet.

Situações ofensivas

A pesquisa também mapeou a experiência de situações desagradáveis por crianças e adolescentes no ambiente virtual. Segundo o estudo, 29% relataram ter vivenciado situações do tipo (ofensivas, que não gostaram ou chatearam). Em contrapartida, apenas 8% dos responsáveis relataram que acreditam que a criança ou adolescente viveu uma situação incômoda na internet.

Advertisement

Entre os usuários de 11 e 17 anos que relataram ter vivido alguma situação ofensiva, 31% afirmaram que contaram o ocorrido para o pai ou responsável; 29% disseram que o fizeram para amigo ou amiga da mesma idade; já 13% não contaram para ninguém.

Sobre a pesquisa

A TIC Kids Online Brasil 2024 ouviu 2.424 crianças e adolescentes de nove a 17 anos e o mesmo número de responsáveis. Os dados foram coletados entre março e agosto de 2024.

Os resultados foram expostos no 9º Simpósio Crianças e Adolescentes na Internet no dia 23 de outubro, em São Paulo. O evento foi promovido pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br) e o Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br), e correalizado pelo Instituto Alana, pelo Centro de Ensino e Pesquisa em Inovação da FGV Direito SP (CEPI FGV Direito SP) e pela SaferNet Brasil.


Fonte: Revista Educação

Advertisement
Continue Reading

Mais vistas