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Meio Ambiente

Da picada à pílula: Uma razão a mais para proteger a biodiversidade

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Cada veneno, cada toxina, cada composto bioativo é resultado de um processo evolutivo específico – são moléculas testadas e refinadas pela própria natureza

Você provavelmente conhece alguém que já tomou um medicamento que veio do veneno de uma cobra brasileira. O captopril, um dos remédios mais prescritos no mundo para hipertensão, nasceu de uma descoberta com o veneno da jararaca. E não é um caso isolado: o Ozempic, medicamento que virou febre para diabetes e emagrecimento, tem origem no veneno de um lagarto do deserto americano.

Essa conexão entre animais, peçonhentos ou não, e remédios que salvam vidas não é coincidência. É o resultado de uma lógica científica poderosa: a natureza já inventou muitos dos medicamentos de que precisamos, e agora nossa trabalho é encontrá-los, entendê-los e transformá-los com segurança em tratamentos. E nessa corrida pela cura, o Brasil tem uma vantagem única: somos oficialmente o campeão mundial da biodiversidade!

O pioneiro que mudou a medicina mundial

A história dessa revolução farmacológica começou no Brasil há mais de 120 anos. Em 1901, o médico Vital Brazil, diretor do Instituto Butantan, desenvolveu o primeiro soro antiofídico específico do mundo, estabelecendo um novo paradigma científico que conectaria para sempre a biodiversidade brasileira ao desenvolvimento de medicamentos revolucionários.

Diferente do soro genérico criado pelo francês Albert Calmette alguns anos antes, Vital Brazil descobriu que cada espécie de serpente exigia um antídoto diferente. Imunizando cavalos com venenos específicos e testando os soros resultantes em animais de laboratório, ele provou que o conceito de “especificidade antigênica” era fundamental – uma mesma toxina modificada de forma específica poderia salvar vidas.

A primeira rede de ciência cidadã do Brasil

Para conseguir serpentes suficientes para seus estudos e produção de soros, Vital Brazil criou o que hoje reconhecemos como o primeiro grande projeto de ciência cidadã do Brasil, e um dos primeiros do mundo.

Ele estabeleceu uma rede de colaboração com fazendeiros e profissionais de saúde no interior, na qual as pessoas mandavam as serpentes para o Instituto, e ele mandava o soro para as cidades. A partir de 1903, o sistema de permuta funcionava assim: em troca de serpentes capturadas por fazendeiros e trabalhadores rurais, o Butantan fornecia soros antiofídicos e orientações sobre como tratar picadas.

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O sistema era tão sofisticado que Vital Brazil negociou com o governo estadual o transporte ferroviário gratuito das serpentes, e mais tarde um acordo federal garantiu que as companhias ferroviárias fornecessem o transporte dos animais e passagens para o pessoal envolvido no serviço. Em 1911, essa rede já conseguia fornecer ao instituto mais de 3.300 cobras por ano, vindas de várias regiões.

Quando um presidente conservacionista visitou o Butantan

Uma das histórias mais marcantes dessa época foi a visita do ex-presidente americano Theodore Roosevelt ao Instituto Butantan, durante sua passagem pelo Brasil em 1913, antes da famosa expedição amazônica que ele relataria no livro “Nas Selvas do Brasil”.

Roosevelt ficou impressionado com o trabalho de Vital Brazil e escreveu em seu relato: “Ao chegarmos a São Paulo, visitamos o Instituto Serumterápico (como se chamava o Instituto Butantan, na época). O seu diretor é o Dr. Vital Brasil, que tem realizado trabalho verdadeiramente extraordinário e cujos experimentos não são relevantes apenas ao seu país, mas a toda a humanidade”.

Reprodução de carta enviada a Vital Brazil por Theodore Roosevelt, em 1913, pedindo permissão para usar em um artigo as fotos de serpentes que ganhou durante sua visita ao Instituto Serumtherapico (antigo nome do Instituto Butantan). Imagem: Acervo Instituto Butantan, Centro de Memória.

A admiração de Roosevelt pelo instituto se tornaria ainda maior quando, anos depois, em Nova York, um funcionário do zoológico do Bronx foi picado por uma cascavel. Foi o soro brasileiro que salvou a vida do homem – um caso que ganhou destaque no The New York Times e consolidou internacionalmente a reputação do Butantan como centro mundial de referência em toxinologia.

Visita do ex-presidente estadunidense Theodore Roosevelt ao Instituto Butantan, em 1913. Da esquerda para direita: em primeiro, o Dr. Vital Brazil, em quarto, Theodore Roosevelt, e em sétimo, o Marechal Rondon. Imagem: Acervo Instituto Butantan/ Centro de memória.

Roosevelt não era apenas um político admirador da natureza e da ciência brasileira: foi também um dos maiores conservacionistas da história. Ao mesmo tempo que o Instituto Butantan começava sua missão no Brasil, Roosevelt criou 4 parques nacionais e assinou um documento, o “Antiquities Act de 1906”, que dava ao presidente a autoridade de criar Monumentos Nacionais (um tipo de área protegida) sem a aprovação do congresso. O presidente também se preocupava com a rapidez com que seu país consumia suas florestas, e assim criou em 1905 o Serviço Florestal dos Estados Unidos. Seu objetivo era tratar as terras públicas como um recurso a ser administrado, e não explorado. Usando um discurso totalmente inovador e muitas vezes sofrendo a oposição do Congresso, que via a proteção das grandes extensões de áreas naturais como um problema para a economia do país, Roosevelt ligou a conservação aos temas mais amplos da civilização e do nacionalismo estadunidenses, uma preocupação não apenas pública, mas também moral.

Embora nesta época o conceito de biodiversidade ainda não existisse formalmente, Roosevelt já compreendia que a vida silvestre é um patrimônio insubstituível que precisa ser protegido da destruição feita em nome do crescimento econômico. E hoje, as áreas protegidas nos Estados Unidos (e em vários outros lugares do mundo onde houve investimento do governo nesse sentido) geram milhões de dólares em turismo e serviços ambientais.

Do veneno da jararaca ao remédio para pressão

Uma das descobertas mais famosas sobre a importância de se pesquisar elementos da biodiversidade para descobrir novos medicamentos veio décadas depois da contribuição de Vital Brazil, quando pesquisadores brasileiros identificaram no veneno da jararaca a substância que baixava a pressão arterial.

A partir desse achado, a indústria farmacêutica desenvolveu o captopril, um medicamento que bloqueia uma enzima específica no corpo para baixar a pressão arterial. O captopril se tornou um dos remédios mais prescritos no mundo para hipertensão e deu origem a toda uma família de medicamentos similares.

O princípio por trás era simples, mas revolucionário: uma toxina que em grandes doses matava podia, em doses microscópicas e modificada quimicamente, curar.

A revolução do Ozempic também veio da biodiversidade

Hoje, essa mesma lógica está presente no Ozempic e similares, que também têm origem na biodiversidade – desta vez de um lagarto venenoso do deserto americano. Na década de 1980, pesquisadores estudando o veneno do monstro-de-gila descobriram uma substância similar ao hormônio que nosso intestino produz naturalmente após as refeições para controlar o açúcar no sangue e regular o apetite, mas que dura muito mais tempo no organismo.

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Cientistas pegaram o hormônio do lagarto, o modificaram quimicamente para funcionar ainda melhor em humanos e criaram um tratamento que não só controla o diabetes como promove perda de peso significativa. É a biodiversidade sendo usada para curar nossos problemas de saúde – uma nova versão do mesmo conceito que Vital Brazil aplicou com serpentes brasileiras há mais de 120 anos.

O Brasil: campeão mundial da biodiversidade

Essa multiplicidade de descobertas não é coincidência. O Brasil é oficialmente o campeão mundial da biodiversidade, liderando o planeta com 17,8% de todas as espécies de aves, 13,5% dos anfíbios, 14,4% dos répteis, 12,1% dos peixes e 12,7% das plantas vasculares do mundo. Muitas dessas espécies ocorrem apenas aqui, e em nenhum outro lugar do planeta!

Entre as florestas amazônica e atlântica, separadas pelos biomas mais abertos – Cerrado e Caatinga, e a mistura de fisionomias que forma o Pantanal, além de uma gama de ecossistemas terrestres e aquáticos, o país abriga milhões de espécies que desenvolveram, ao longo de milhões de anos de evolução, um arsenal químico sofisticado para sobreviver.

Para ter dimensão dessa riqueza: o Brasil possui mais espécies de plantas e anfíbios que qualquer outro país, ocupa a segunda posição em mamíferos e a terceira em aves, répteis e peixes. Cada veneno, cada toxina, cada composto bioativo é resultado de uma pressão evolutiva específica – são moléculas testadas e refinadas pela própria natureza em uma escala incomparável no planeta.

A flor-da-lua-amazonica (Strophocactus wittii) é um cacto e uma epífita. Crescendo em troncos de árvores, esta planta floresce uma única noite, e é polinizada por uma mariposa. É encontrada em uma região da Amazônia onde os rios têm as águas escuras e ácidas, na floresta de várzea. Um exemplo de nossa biodiversidade única e especial. Imagem: Erika Hingst-Zaher

As descobertas continuam no Butantan

O Instituto Butantan mantém viva a tradição de transformar biodiversidade em medicina. Pesquisadores da instituição descobriram recentemente que a crotoxina, uma proteína do veneno da cascavel, pode ser usada contra a esclerose múltipla ao regular a acetilcolina, um neurotransmissor importante para o sistema nervoso.

Outras pesquisas mostram que substâncias de sapos podem proteger contra o Alzheimer, que peptídeos de escorpiões ajudam a regenerar células nervosas, e que compostos de fungos da Caatinga, o único bioma exclusivamente brasileiro, podem ajudar na cicatrização.

O longo caminho até a farmácia

O caminho entre a descoberta de uma substância natural e sua chegada às farmácias é longo e caro – pode levar décadas e custar bilhões. É preciso isolar os compostos ativos, testar a segurança, entender os mecanismos de ação, fazer modificações químicas para melhorar a eficácia, conduzir estudos pré-clínicos e depois clínicos com milhares de voluntários.

O captopril levou anos para sair do veneno da jararaca para as prateleiras; o Ozempic teve desenvolvimento semelhante. Cada etapa é fundamental para garantir que o que era tóxico na natureza se torne terapêutico na medicina.

O lado sombrio: rituais perigosos

O mesmo veneno de sapo que pesquisadores estudam cuidadosamente para possíveis tratamentos neurológicos é consumido por pessoas que pagam fortunas para experimentar rituais que prometem cura espiritual, fortalecimento das defesas naturais do organismo ou alívio de transtornos mentais. Desde o kambô, uso da secreção da perereca amazônica Phyllomedusa bicolor aplicada na pele, até o veneno seco do sapo-do-deserto fumado em rituais psicodélicos, essas práticas têm se espalhado sem supervisão médica ou estudos de segurança adequados.

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Phyllomedusa bicolor, a perereca usada no ritual do kambô. Imagem: Fabio Olmos

O problema para os humanos é que venenos não processados contêm centenas de proteínas e compostos desconhecidos que podem levar de alucinações até problemas cardíacos, convulsões e outros efeitos inesperados. O problema para os anfíbios é que seu uso pode ameaçar a sobrevivência das espécies empregadas nos rituais. A diferença entre medicina e veneno está literalmente na dose e no processo científico rigoroso.

A tragédia da perda acelerada

O ponto mais trágico da história dessa busca de medicamentos que salvam vidas é a perda acelerada de nossa biodiversidade, que se intensifica justamente quando mais precisamos dela. Dados recentes mostram um cenário complexo: embora o desmatamento na Amazônia tenha caído 30,6% em 2024, janeiro de 2025 registrou aumento de 68% no desmatamento em relação ao mesmo período do ano anterior. Mais alarmante ainda, a degradação florestal atingiu níveis recordes, impulsionada principalmente por incêndios.

O que mais assusta é que estamos nos aproximando rapidamente de pontos de inflexão irreversíveis. Um estudo recente publicado na revista Nature alertou que a Amazônia pode atingir seu ponto de não retorno em 2050, quando entre 10% e 47% de suas florestas estarão expostas a perturbações que podem resultar em mudanças irreversíveis.

Extinções já consumadas

A rolinha do planalto, Columbina cyanopis, foi vista pela última vez em 1941 até sua redescoberta em 2015 por Rafael Bessa, autor da foto, em uma região do cerrado mineiro. É considerada criticamente ameaçada, e uma das aves mais raras do planeta. Foto: Rafael Bessa.

A pressão da ocupação e alteração desenfreada dos ecossistemas se repete em todos os biomas brasileiros. Enquanto lutamos para preservar o que resta, na Mata Atlântica e na Caatinga algumas espécies já desapareceram para sempre.

Quatro aves brasileiras foram recentemente declaradas extintas pela BirdLife International: a ararinha-azul (Cyanopsitta spixii), o caburé-de-pernambuco (Glaucidium mooreorum), o limpa-folha-do-nordeste (Philydor novaesi) e o gritador-do-nordeste (Cichlocolaptes mazarbarnetti). A ararinha-azul, eternizada no filme “Rio”, teve seu último exemplar selvagem avistado em 2000, embora existam cerca de 150 indivíduos em cativeiro aguardando projetos de reintrodução.

O tietê-de-coroa, Calyptura cristata, em ilustração do ornitólogo e artista inglês William Swainson, que esteve no Brasil entre 1806 e 1816 acompanhando o explorador Langsdorff. Esta é uma das poucas imagens que existem desta ave, viva. O ultimo registro foi feito em 1996, e não há fotos – apenas exemplares taxidermizados em museus de história natural.

Esforços heróicos de instituições como o Museu Biológico do Instituto Butantan, o Museu de Zoologia da USP e a SAVE Brasil, dentre muitas outras, tentam reverter essa tragédia através de programas de conservação ex-situ, criação de áreas protegidas e projetos de reintrodução.

Cada espécie que desaparece representa não apenas a perda de milhões de anos de evolução, mas também de potenciais medicamentos que nem conhecemos ainda – uma biblioteca farmacológica sendo queimada antes mesmo de ser lida.

O Butantan: guardião da biodiversidade e da ciência

Além de ter como responsabilidades a guarda de uma importante área verde representada pelo seu parque urbano, com mais de 80 hectares de Mata Atlântica preservados em meio à metrópole paulistana, da comunicação para a conservação representada pelo Museu Biológico com seus milhares de visitantes anuais, especialmente crianças, e da produção de vacinas e soros, o Instituto Butantan segue sua missão de estudar sistematicamente a biodiversidade brasileira.

A Floresta do Butantan – área verde de 80 hectares no meio da metrópole paulistana, que preserva trechos de Cerrado e Mata Atlântica, com árvores centenárias, um patrimônio natural a ser mantido. Fundamental para muitas espécies de aves, de mamíferos, de borboletas, e para a saúde das pessoas. Imagem: Divulgação

Pesquisadores testam venenos de serpentes contra a esquistossomose, investigam como compostos de abelhas podem combater parasitas, e estudam moléculas de joaninhas com propriedades antimicrobianas. É uma corrida contra o tempo: a cada espécie que desaparece por desmatamento ou mudanças climáticas, perdemos potenciais medicamentos que nem conhecemos ainda.

Nossa maior esperança está na biodiversidade

A lição que vem desde Vital Brazil é simples mas poderosa: a natureza já inventou muitos dos remédios de que precisamos. Nosso trabalho é encontrá-los, entendê-los e transformá-los com segurança em tratamentos que salvem vidas.

Em um mundo onde novas doenças surgem constantemente – muitas delas por causa das mudanças que temos causado nos processos ecológicos – e antigas infecções desenvolvem resistência, nossa maior vantagem não está em explorar as últimas reservas de petróleo na foz do rio Amazonas, como muitos parecem pensar.

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Nossa maior esperança está na nossa biodiversidade – desde que tenhamos a sabedoria de preservá-la e a ciência para decifrá-la.

As opiniões e informações publicadas nas seções de colunas e análises são de responsabilidade de seus autores e não necessariamente representam a opinião do site ((o))eco e Fato Novo. Buscamos nestes espaços garantir um debate diverso e frutífero sobre conservação ambiental.

 


Fonte: ECO

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2 Comentários

1 comentário

  1. kurtkoy escort

    23/09/2025 em 12:59

    Emeğinize sağlık, bilgilendirmeler için teşekkür ederim.

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Brasil

COP30 em Belém eleva desinformação climática a problema de direitos humanos e governança global

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A COP30 em Belém reposicionou a Amazônia no centro da diplomacia climática, expondo a crise da integridade da informação como um obstáculo global à ação e à sobrevivência planetária. A especialista Maryellen Crisóstomo afirma que a desinformação climática é uma violação do direito humano à informação (Artigo 19 da Declaração Universal dos Direitos Humanos) e uma tática de captura corporativa. As declarações da Cúpula dos Povos e dos 20 países signatários na COP30 convergiram ao denunciar o papel das grandes corporações (mineração, agronegócio, Big Techs) na manutenção de narrativas que atrasam a descarbonização e criminalizam defensores ambientais, exigindo transparência algorítmica e reconhecimento dos saberes ancestrais no combate à crise

A realização da COP30 em Belém recolocou a Amazônia no centro da governança e diplomacia climática global, mas também expôs a urgência de combater a desinformação climática, vista como um problema que transcende o campo comunicacional e atinge a dimensão dos direitos humanos e da justiça climática.

O Direito à Informação como Pilar da Ação Climática ⚖️

A integridade da informação ambiental é considerada um direito humano estruturante e sua violação foi amplamente denunciada durante a COP30.

  • Direito Universal: À luz do Artigo 19 da Declaração Universal dos Direitos Humanos, o acesso à comunicação e à informação é essencial, especialmente em um ecossistema digital polarizado e vulnerável à manipulação.

  • Violação e Conflito: Sem informação e o reconhecimento efetivo do direito à propriedade coletiva dos territórios, povos e comunidades são expostos a conflitos com megaempreendimentos (monoculturas, mineração para transição energética, energia eólica e solar), o que configura uma violação da Convenção 169 da OIT (Artigo 6º), conforme denunciado na Cúpula dos Povos.

Declaração de Belém: O Reconhecimento da Desinformação 📜

No contexto da COP30, foi assinada a Declaração sobre a Integridade da Informação sobre Mudança do Clima por 20 países, reconhecendo que a desinformação se tornou um obstáculo global que corrói a confiança pública e atrasa medidas urgentes.

  • Obstáculos Denunciados: A Declaração aponta explicitamente para:

    • Ataques a jornalistas e cientistas.

    • Incentivo à má informação e circulação de conteúdos enganosos em plataformas digitais.

    • Falta de transparência algorítmica.

  • Captura Corporativa: A Cúpula dos Povos reforça que este cenário está inserido em um contexto mais amplo de captura corporativa, financeirização da natureza, e avanço do extremismo, onde grandes corporações (mineração, energia, agronegócio e Big Techs) utilizam estratégias como greenwashing e descredibilização da ciência para manter o status quo.

Caminhos para a Governança Sustentável 💡

Tanto a ONU (por meio do Pacto Digital Global de 2024) quanto a Declaração sobre Integridade da Informação conclamam Estados e empresas de tecnologia a assumir responsabilidade compartilhada:

  • Responsabilidade das Plataformas: Exige-se que as empresas avaliem os impactos de sua arquitetura, forneçam dados para pesquisas independentes e implementem políticas de responsabilidade informacional.

  • Saberes Ancestrais: A Cúpula dos Povos oferece uma contribuição estrutural ao afirmar que o combate à desinformação passa pelo reconhecimento dos saberes ancestrais (indígenas, quilombolas, ribeirinhos) como tecnologias sociais para o enfrentamento da crise climática.

A especialista conclui que o avanço em estratégias climáticas depende de o multilateralismo restabelecer a integridade informacional. Para que as ações sejam eficazes, o direito humano à informação deve ser garantido em todas as suas dimensões, sendo o combate à desinformação uma estratégia de justiça climática e sobrevivência planetária.


Com informações: Diplomatique

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Meio Ambiente

Makoto Shinkai: “O Tempo com Você” Ganha Relevância como Crítica à Crise Climática e Desigualdade Urbana

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🌧️ Filme de Makoto Shinkai, sucesso de bilheteria e conhecido internacionalmente como Weathering With You, transcendeu a classificação de romance fantástico. A obra é revisitada como um retrato da vulnerabilidade urbana e da injustiça social, questionando a atribuição de responsabilidades da crise climática à juventude em um cenário de fenômenos meteorológicos extremos e falhas estruturais.


Da Fantasia ao Retrato Social: A Leitura Contemporânea do Filme

Lançado no Brasil em 2020 após o sucesso global de Your Name, o filme “O Tempo com Você” (Weathering With You) do diretor Makoto Shinkai estabeleceu-se como um marco na animação japonesa, mas com um diferencial notável. Embora mantenha o elemento de romance fantástico, a obra oferece uma crítica social mais direta e intensa. O filme aborda temas complexos como a desigualdade em ambientes urbanos, os impactos da instabilidade climática e os desafios enfrentados por adolescentes forçados a sobreviver sem estrutura de apoio.

Nos anos subsequentes ao lançamento, a narrativa de “O Tempo com Você” ganhou relevância adicional. Com a crescente frequência de eventos climáticos extremos e a percepção de limitações governamentais para lidar com eles, o filme passou a ser analisado como um registro sensível e politizado sobre as juventudes que carregam o peso de crises estruturais em cidades altamente desiguais, como a capital japonesa, Tóquio.

Tóquio: Chuva Constante e Vidas em Vulnerabilidade

A história se inicia com Hodaka, um jovem de 16 anos que foge de casa. O roteiro não detalha exaustivamente as razões da fuga, mas sugere um histórico de violência doméstica, indicado por marcas em seu corpo. Ele chega a Tóquio, uma cidade dominada por chuvas incessantes, um elemento que vai além do decorativo e interfere diretamente na vida cotidiana, na mobilidade, nas interações sociais e no ritmo urbano.

Hodaka vive a realidade de jovens que rompem com a segurança doméstica: busca por abrigos, escassez de alimentos e o enfrentamento constante à insegurança. A Tóquio do filme é retratada como um espaço de oportunidades limitadas para quem carece de condições financeiras e de uma rede de apoio.

É nesse ambiente que ele conhece Hina Amano. A adolescente, responsável por cuidar do irmão mais novo, tenta manter a casa com trabalhos temporários. A descoberta da habilidade de Hina de interromper a chuva temporariamente transforma sua rotina. Juntos, os jovens exploram esse “dom” como um serviço pago para quem deseja realizar atividades ao ar livre. O filme trata essa habilidade como um recurso que, embora gere ganhos imediatos, também provoca desgaste direto na saúde e na integridade física de Hina.

O Peso da Solução Individual na Crise Coletiva

Essa dinâmica é central para a crítica social da obra, pois demonstra como indivíduos vulneráveis são frequentemente pressionados a oferecer soluções singulares para problemas que são, intrinsecamente, coletivos e estruturais.

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A Crítica Social: Quem Paga Pela Crise Climática?

“O Tempo com Você” aborda a crise climática de forma tangível, sem recorrer a alegorias distantes ou discursos moralizantes. A Tóquio apresentada vive em risco constante de alagamentos, interrupções de serviços e súbitas instabilidades ambientais. A inação ou a incapacidade da cidade em lidar com esses fenômenos faz com que os efeitos recaiam de forma desproporcional sobre as camadas mais pobres e precarizadas da população.

A narrativa questiona a tendência social de atribuir responsabilidades desproporcionais aos grupos mais frágeis. O dom de Hina, que poderia ser visto como uma benção, rapidamente se transforma em uma exigência social. Sua capacidade de alterar o clima é tratada como uma solução mágica para danos ambientais acumulados, resultantes de anos de decisões políticas inadequadas.

Makoto Shinkai levanta três pontos centrais na discussão:

  • Pessoas comuns são obrigadas a enfrentar crises que não causaram.

  • Os mais pobres e vulneráveis são sempre as primeiras vítimas de desastres ambientais.

  • Discursos sobre responsabilidade individual frequentemente desviam o foco dos atores com real poder de influência nas políticas climáticas (corporações, governos).

O filme, ao evidenciar a injustiça de atribuir à juventude a solução para problemas estruturais que ultrapassam gerações, se posiciona de forma oposta a interpretações que o classificam como uma culpabilização dos jovens.

Estética e Escolhas Narrativas

O diretor Makoto Shinkai mantém a excelência visual que marcou seus trabalhos anteriores. A animação se destaca pelos cenários urbanos hiper-detalhados, pela iluminação precisa e pela minuciosa representação da água, dos reflexos nas ruas e da atmosfera de chuva. A estética, no entanto, não é meramente um adorno, mas uma parte crucial da narrativa, mostrando a cidade como um espaço real que impõe dificuldades.

O final do filme se tornou o ponto mais discutido. Hodaka, o protagonista, toma a decisão de salvar Hina, mesmo sabendo que essa escolha resultará na continuidade das chuvas incessantes sobre Tóquio, impedindo a normalização climática. Enquanto alguns críticos ocidentais interpretaram a decisão como individualista, uma análise social e política sugere que o filme questiona a prática de sacrificar a vida dos mais vulneráveis em nome de um bem-estar coletivo que não se mostrou capaz de protegê-los. A pergunta final do filme permanece: quem deve, de fato, suportar o peso da crise climática?


Com informações da: Revista Fórum

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Ciência

Sucuris Gigantes: Tamanho Médio das Cobras Permanece o Mesmo Há Mais de 12 Milhões de Anos

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🐍 Fósseis de sucuris do Mioceno revelam que a espécie manteve seu tamanho corporal desde o seu surgimento, há cerca de 12,4 milhões de anos. O novo estudo questiona a relação entre o clima antigo e a evolução do tamanho das cobras, mostrando a resiliência das anacondas.


Pesquisa Revela Estabilidade Milenar no Tamanho das Sucuris

Um novo estudo publicado no Jornal de Paleontologia de Vertebrados trouxe uma descoberta que desafia expectativas sobre a evolução dos répteis gigantes: o tamanho médio do corpo das sucuris gigantes tem permanecido praticamente inalterado desde que as cobras apareceram no registro fóssil, há aproximadamente 12,4 milhões de anos, durante o Mioceno Médio.

Esta conclusão surpreendeu os pesquisadores, que esperavam que as sucuris antigas fossem ainda maiores, seguindo a tendência de outras espécies da época. Segundo o estudo, enquanto outros animais, como crocodilos e tartarugas gigantes, foram extintos, em parte devido ao resfriamento global e à diminuição de habitats, as sucuris demonstraram uma notável “super-resiliência” ao longo do tempo geológico.

Análise Fóssil e Expectativas do Tamanho Antigo

As sucuris (anacondas) são um grupo de cobras constritoras que inclui a espécie de serpente mais pesada do mundo atualmente. As sucuris modernas chegam a medir, em média, de 4 a 5 metros de comprimento, podendo as maiores atingir até 7 metros. A incerteza científica residia em saber se, durante o Mioceno, as sucuris eram significativamente maiores ou se o seu tamanho colossal já havia sido alcançado e mantido.

Para determinar o tamanho das cobras antigas, a equipe de pesquisa, incluindo o coautor Andrés Alfonso-Rojas, paleontólogo de vertebrados da Universidade de Cambridge, empregou métodos rigorosos:

  • Medição de Fósseis: Foram analisadas 183 vértebras fossilizadas de sucuris, provenientes de pelo menos 32 cobras individuais, coletadas na Venezuela.

  • Reconstrução do Estado Ancestral: Os cientistas utilizaram essa técnica para prever o comprimento corporal das sucuris antigas, baseando-se nas características de espécies de cobras relacionadas.

Os cálculos indicaram que as sucuris tinham um comprimento médio de cerca de 5,2 metros quando surgiram no Mioceno, há 12 milhões de anos. Este resultado é consistentemente próximo ao tamanho médio das sucuris modernas, refutando a expectativa inicial de que espécimes de 7 a 8 metros seriam encontrados, especialmente considerando as temperaturas globais mais elevadas daquele período.

Fatores de Manutenção do Gigantismo

O período do Mioceno Médio e Superior (cerca de 12,4 milhões a 5,3 milhões de anos atrás) foi marcado por temperaturas elevadas, vastas zonas úmidas e grande disponibilidade de alimentos. Essas condições permitiram que muitas espécies atingissem tamanhos muito superiores aos seus descendentes atuais, um fenômeno conhecido como gigantismo. No entanto, as sucuris parecem ter mantido sua dimensão gigante sem diminuir, mesmo após o arrefecimento global e a redução de seus habitats.

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A pesquisa aponta que o clima e a variação de habitat podem não ter sido os fatores primários que mantiveram as cobras grandes nos milênios seguintes. Outras possibilidades consideradas:

  • Disponibilidade de Alimentos: Embora a falta de competição alimentar possa ter ajudado as sucuris a crescerem inicialmente, o seu tamanho não diminuiu mesmo com a chegada de outros predadores na América do Sul durante o Plioceno e o Pleistoceno, sugerindo que a disponibilidade de presas não foi o fator determinante para a manutenção do gigantismo das sucuris.

  • Adaptação e Resiliência: A estabilidade do tamanho corporal pode indicar que a sucuri atingiu um tamanho ótimo logo no início de sua história evolutiva, conferindo-lhe vantagens ecológicas que garantiram sua sobrevivência sem a necessidade de alterações morfológicas significativas para se adaptar às mudanças ambientais posteriores.

Ainda é necessário maior investigação para compreender plenamente por que as sucuris, diferentemente de outros gigantes antigos, conseguiram manter seu tamanho colossal através de milhões de anos de mudanças climáticas e ecológicas.


Com Informações de: Live Science

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