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Saúde

Ataques cardíacos diurnos são mais danosos: Neutrófilos agressivos são os culpados

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Novo estudo publicado no Journal of Experimental Medicine liga o ritmo circadiano dos neutrófilos à gravidade das lesões cardíacas, abrindo caminho para terapias imunológicas temporárias

Cardiologistas observam há décadas que ataques cardíacos que ocorrem durante o dia causam mais danos ao tecido cardíaco do que aqueles que acontecem à noite. Um novo estudo, publicado em 12 de dezembro no Journal of Experimental Medicine, parece ter encontrado a peça-chave desse enigma: as células imunológicas chamadas neutrófilos.

O estudo estabeleceu uma conexão direta entre neutrófilos mais “agressivos” durante o dia e a maior lesão observada em ataques cardíacos diurnos, sugerindo que o sistema imunológico tem um papel fundamental na gravidade do dano.

A Ritmicidade do Dano Celular

Os neutrófilos são as células de socorro do sistema imunológico, as primeiras a chegar ao local de uma lesão. Pesquisas anteriores já indicavam que estas células causam mais inflamação e danos colaterais aos tecidos durante o dia, e são comparativamente mais calmas à noite.

O novo estudo ligou essa ritmicidade biológica (relógio circadiano) ao dano cardíaco em humanos e ratos:

  1. Dados Humanos: A análise de registros clínicos de mais de 2.000 pacientes com ataque cardíaco mostrou que aqueles internados durante o dia apresentavam contagens mais altas de neutrófilos e maiores danos cardíacos.

  2. Testes em Ratos: Em camundongos, o ritmo de maior lesão cardíaca pela manhã desapareceu quando os níveis de neutrófilos foram esgotados por tratamento com anticorpos. O dano geral também foi reduzido, demonstrando o papel causal dessas células.

Os cientistas também desativaram geneticamente um gene que controla o relógio circadiano nos ratos. O ritmo de lesão cardíaca desapareceu novamente, e o dano geral ao coração foi reduzido. Crucialmente, essa modificação não prejudicou a capacidade dos ratos de combater infecções, desvinculando o dano inflamatório da proteção imunológica.

Colocando os Neutrófilos em ‘Modo Noturno’

A descoberta mais promissora do estudo é a possibilidade de “acalmar” os neutrófilos durante o dia, sem diminuir sua contagem ou comprometer a imunidade de defesa.

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Os pesquisadores se concentraram em um receptor nas células chamado CXCR4. Este receptor é normalmente ativado à noite para retardar a atividade dos neutrófilos. A equipe testou duas abordagens:

  1. Modificação Genética: Ratos modificados para ter altas concentrações do receptor CXCR4 apresentaram células calmas mesmo durante o dia, aliviando a lesão cardíaca.

  2. Tratamento Farmacológico: Usando uma droga que ativa o receptor CXCR4, os pesquisadores conseguiram reduzir a atividade dos neutrófilos durante o dia, simulando o “modo noturno” natural do corpo.

O tratamento com este medicamento antes de um ataque cardíaco induzido em ratos reduziu o dano tecidual e melhorou a função cardíaca semanas após o evento. Em outro modelo de camundongos (com doença falciforme, onde neutrófilos causam inflamação e obstrução), a droga reduziu os bloqueios e melhorou o fluxo sanguíneo.

Andrés Hidalgo, imunologista da Universidade de Yale e autor sênior do estudo, observou que os neutrófilos diurnos tendem a se espalhar para áreas não feridas do coração e da pele, ampliando o local da lesão. Os neutrófilos noturnos, por outro lado, ficam confinados ao centro da zona danificada.

Implicações para o Futuro Tratamento

As descobertas sugerem que um medicamento capaz de modular a agressividade dos neutrófilos – acalmando a inflamação sem comprometer a capacidade de defesa – seria o “Santo Graal da terapia imunológica”, como notou o imunologista Tim Lammermann, que não participou do estudo.

A possibilidade de ajustar o relógio biológico de uma única célula imunológica para minimizar o dano inflamatório abre um novo caminho para o tratamento de ataques cardíacos e outras doenças inflamatórias. No entanto, a tradução dessa abordagem para testes em humanos exigirá estudos cuidadosos para determinar o momento ideal de administração do medicamento e seus potenciais riscos.


Com informações: Live Science.

 

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Saúde

TDAH: Psiquiatra destaca que conhecimento aprofundado é essencial para diagnóstico e acolhimento

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O Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade é um distúrbio complexo do neurodesenvolvimento que vai além da inquietação, exigindo avaliação que considere fatores biológicos e comorbidades para evitar rótulos equivocados

O Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH) é um tema de crescente popularidade nas redes sociais, o que ajudou a ampliar sua visibilidade. No entanto, o psiquiatra Daniel Vasques, médico consultor da Libbs, alerta que essa popularidade pode gerar mais preocupações do que respostas, visto que muitos sintomas do TDAH podem ser causados por outras condições, como ansiedade, insônia e estresse.

Estima-se que entre $5\%$ e $8\%$ da população mundial tenha TDAH, e $70\%$ das crianças com o transtorno apresentam outra condição associada (comorbidade), como ansiedade ou dificuldades de aprendizagem.

Complexidade do TDAH

O TDAH é um distúrbio do neurodesenvolvimento, ligado a alterações no funcionamento e na maturação do cérebro. Essas alterações interferem na capacidade de atenção, no controle dos impulsos e na regulação emocional.

Vasques explica que o transtorno é mais complexo do que a ideia popular de “inquietação e impulsividade”, pois envolve fatores biológicos, genéticos e ambientais que interferem em sua manifestação. Conhecer essas nuances é crucial para um diagnóstico preciso e para evitar rótulos equivocados.

Tipos de Manifestação e Critérios de Diagnóstico

O primeiro desafio para o diagnóstico é a identificação dos sintomas, que se dividem de acordo com os três tipos de manifestação do transtorno:

  1. Predominantemente Desatento: Sintomas como falta de atenção a detalhes, erros por descuido e não terminar tarefas.

  2. Predominantemente Hiperativo-Impulsivo: Sintomas como agitar pés e mãos, remexer-se constantemente e não conseguir esperar sua vez.

  3. Combinado: Presença simultânea de sintomas de desatenção e hiperatividade-impulsividade.

Para confirmar o diagnóstico, os sintomas devem ser intensos, persistentes, estar presentes por tempo prolongado e causar prejuízo nas atividades diárias em mais de um ambiente (como em casa e no trabalho/escola).

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O especialista conclui que o cuidado com o TDAH não é focado em corrigir comportamentos, mas sim em criar um ambiente acolhedor e estruturado que promova o bem-estar do paciente.


Com informações: Daniel Vasques, médico consultor da Libbs

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Saúde

AVC: Saiba reconhecer os sinais e por que cada minuto conta

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Neurologista do Hospital Orizonti detalha o mnemônico SAMU para identificação rápida de um Acidente Vascular Cerebral e alerta: “Tempo é cérebro”

O Acidente Vascular Cerebral (AVC) é uma das doenças cardiovasculares mais devastadoras, sendo a segunda maior causa de morte no Brasil e uma das principais causas de incapacidade no mundo. Segundo a neurologista Paolla Magalhães, do Hospital Orizonti, no Brasil um novo caso de AVC ocorre a cada seis minutos.

Diante da urgência, a rapidez no atendimento é fundamental para mudar o desfecho do paciente. A médica ressalta que “Tempo é cérebro”: quanto mais rápido o tratamento for iniciado, maior é a chance de recuperação funcional.

Reconhecendo os Sinais: O Mnemônico SAMU

Para facilitar o reconhecimento dos sintomas, a especialista recomenda o mnemônico SAMU:

Letra Sinal Ação
S Sorria Peça para a pessoa sorrir. Observe se um lado do rosto está torto ou sem movimento.
A Abrace Peça para a pessoa levantar os dois braços. Verifique se um dos braços cai ou se a pessoa não consegue levantá-lo.
M Música Peça para a pessoa cantar um trecho ou falar uma frase simples. Observe se a fala está embolada ou confusa.
U Urgência Ao identificar um ou mais sinais, ligue imediatamente para o SAMU (192) ou leve a pessoa ao pronto atendimento.

A neurologista faz um alerta crucial: nunca se deve dar medicação em casa. Medicamentos que afinam o sangue (como ácido acetilsalicílico) podem ser fatais em casos de AVC hemorrágico (causado por sangramento), que não pode ser diferenciado do AVC isquêmico (causado por entupimento de vasos) apenas pelos sintomas.

Prevenção é a Chave

A médica Paolla Magalhães enfatiza que $90\%$ dos AVCs poderiam ser evitados com a adoção de um estilo de vida saudável. As principais formas de prevenção incluem:

  • Controle Rigoroso: Manter a pressão arterial e a glicose controladas.

  • Atividade Física: Praticar no mínimo $150\text{ minutos}$ de atividade física por semana.

  • Alimentação: Adotar uma alimentação balanceada.

  • Sono: Garantir uma boa qualidade do sono, entre $7\text{ e }9\text{ horas}$ por noite.

  • Tabagismo: Evitar o uso do tabaco.

Embora o principal grupo de risco sejam idosos com comorbidades (hipertensão, diabetes e colesterol alto), a especialista alerta para o aumento de casos também na população mais jovem.

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Com informações: Hospital Orizonti

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Comportamento

Psicóloga explica como o ideal social de um dezembro perfeito intensifica ansiedade, luto e frustrações

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A psicóloga e psicanalista Camila Grasseli aborda o fenômeno da “dezembrite” e o papel das redes sociais em transformar o balanço de fim de ano em um gatilho para a tristeza e a sensação de inadequação

O mês de dezembro, com seu ritmo acelerado de festas, confraternizações e a pressão por metas cumpridas e promessas de renovação, pode se converter em um período de grande tormento emocional para muitas pessoas. Esse fenômeno, já apelidado de “dezembrite” no brasil, descreve os efeitos da “depressão de fim de ano” intensificados pela exigência social de felicidade e bem-estar.

A psicóloga e psicanalista Camila Grasseli, professora do centro Universitário UniBH, explica que a necessidade de se encaixar nesse padrão de festividades ensolaradas gera sofrimento.

  • Balanço e Ausências: A especialista destaca que os últimos dias de dezembro provocam um balanço de todo o ano. Nesse momento, “as ausências, projetos não concluídos, perda de entes queridos e frustrações ficam mais evidentes”, atuando como gatilhos para tristeza e solidão.

  • Redes Sociais e Contraste: As redes sociais intensificam a sensação de inadequação, ao exibirem um “Natal perfeito” com mesas fartas e famílias sorridentes, o que não condiz com a realidade de quem vive lutos, separações ou a simples distância física de familiares.

  • Luto e Frustração: Para quem está enlutado ou fragilizado, passar por essas datas é como abrir uma ferida não cicatrizada, o que pode agravar a dor. As pressões culturais e as expectativas por vivências perfeitas criam um terreno fértil para a ansiedade e a depressão.

Sinais de Alerta e Recomendações

A persistência do desânimo após as festas (uma tristeza contínua em janeiro), a sensação de incapacidade, a falta de interesse por atividades cotidianas e o agravamento de sintomas como sono perturbado ou angústia intensa são sinais de que o sofrimento pode não ser apenas passageiro.

A psicóloga oferece duas recomendações principais para proteger a saúde mental:

  1. Não-Obrigatoriedade: “Não se obrigue a participar de festas ou encontros natalinos ou de réveillon, caso não esteja com vontade. A não-obrigatoriedade que a gente se impõe pode ser extremamente saudável.”

  2. Busque Alternativas: Para quem estará sozinho, a sugestão é buscar uma reunião com amigos ou colegas que compartilham o mesmo espírito, priorizando o que se deseja fazer, sem forçar sorrisos ou seguir convenções sociais.

Camila Grasseli lembra que, embora a “dezembrite” não seja um diagnóstico clínico, o desconforto emocional que se repete anualmente merece atenção profissional para que o indivíduo possa “entender o que está por trás desses sentimentos” e legitimar sua dor.


Com informações: Centro Universitário UniBH

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