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Distrito Federal

Escola pública de Taguatinga celebra mais de 100 aprovações no ensino superior

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Centro de Ensino Médio 03 de Taguatinga investe na preparação de jovens para o ingresso no ensino superior. Em dois anos, foram mais de 200 estudantes selecionados em instituições públicas e privadas

Pelo segundo ano consecutivo, o Centro de Ensino Médio 03 (CEM 03) de Taguatinga se destaca pelo expressivo número de aprovações em vestibulares e programas de acesso à universidade. Com mais de 100 aprovações neste ano, sendo 51 alunos apenas na Universidade de Brasília (UnB), 30 para o Instituto Federal de Brasília (IFB), além de 26 aprovados no Programa Universidade para Todos (ProUni) com bolsas para outras instituições.

O sucesso dos alunos é reflexo do trabalho conjunto entre professores, equipe pedagógica e famílias, além do suporte oferecido pelo Núcleo de Apoio aos Vestibulandos (Nave), coordenado pela professora Regina Cotrim. “É uma iniciativa que está no Projeto Político Pedagógico (PPP) e é abraçado por toda a comunidade escolar que, de uma maneira ou de outra, sente-se envolvida. São tantos desafios na rede pública que, cada vez que a gente vence novas etapas, a gente se sente vitorioso”, compartilha a educadora.

Entre os aprovados, jovens com trajetórias inspiradoras que superaram obstáculos e encontraram na escola o suporte necessário para alcançar seus sonhos. Felipe Gomes, 18 anos, morador do Areal, foi aprovado em biotecnologia pela UnB, além de conquistar vagas em física no IFB e biomedicina na Universidade Católica de Brasília (UCB), com bolsa integral. “O suporte da escola foi essencial, especialmente, na orientação sobre as formas de ingresso na universidade. Sem essa ajuda, eu teria ficado perdido”, relata Felipe.

A estudante Carolina de Almeida Ribeiro, 18 anos, moradora de Águas Claras, também comemora sua aprovação em ciências políticas na UnB pelo Programa de Avaliação Seriada (PAS). Influenciada pelos pais, ela tinha o hábito de acompanhar temas políticos desde a adolescência. Carolina participou de projetos extracurriculares na escola, como debates filosóficos e simulações da Organização das Nações Unidas (ONU), que ajudaram a desenvolver suas habilidades. “A escola foi fundamental nesse processo. Agora, quero seguir na pesquisa acadêmica e fazer mestrado”, planeja.

Joelda Teixeira, 18, que veio da Bahia para Brasília, destacou a estrutura do CEM 03 e o apoio dos professores para entender os processos seletivos e se preparar para as provas. Aprovada em serviço social pelo vestibular e em administração pelo PAS, ela escolheu o primeiro curso e pretende estudar para concursos públicos. E compartilha sua reação quando viu o nome na lista de aprovados: “Senti alívio e orgulho. Nem eu acreditei que conseguiria passar de primeira”, comemora.

Outra caloura é Amanda Maia, 19, que vem de uma família com raízes quilombolas, uma herança que carrega com orgulho. “A maior parte da minha família é quilombola. Meus pais são daqui de Brasília, mas nossas raízes estão lá”, conta a estudante, que foi aprovada em engenharia civil no IFB pelo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). “Quando entrei na escola, eu não sabia o que era o Nave, mas a Regina estava sempre lá, disposta a ajudar todo mundo”, completa Amanda.

A filha da professora Regina, Manuela Cotrim, 18, também foi aprovada. Aluna da escola onde a mãe ensinava, conta que o incentivo veio desde cedo. “Minha mãe sempre falou sobre a importância do PAS, mas foi só no ensino médio que eu entendi o que significava e comecei a me dedicar”, conta. Apesar do estímulo, ela deixou claro que nunca sentiu uma pressão extra: “Ela sempre me apoiou, foi bem sincera quando disse que eu deveria seguir meu próprio caminho. Isso me deu confiança”, lembra. Manuela foi aprovada em arquitetura e urbanismo na UnB e em design de produtos no IFB.

A iniciativa

A ideia do projeto surgiu pela professora Regina Cotrim, que sempre teve uma relação próxima com o ambiente universitário e viu a educação como um instrumento de mudança social. Apesar de já trabalhar o tópico em suas aulas no ensino médio, foi após passar por uma cirurgia que a afastou da sala de aula que a educadora encontrou, no Nave, uma nova forma de continuar ajudando os alunos. Ela, então, propôs a iniciativa ao então diretor, que apoiou o projeto e sugeriu transformá-lo em um núcleo.

A baixa autoestima dos estudantes da escola pública é um dos desafios que o projeto busca combater. “Muitos deles enfrentam vulnerabilidade social e acreditam que a universidade não é um espaço para eles. A intenção foi empoderar esses alunos e mostrar que eles têm direito ao ensino superior de qualidade. Muitos deles são os primeiros da família a ingressar na universidade”, afirma a professora.

Leonardo Pinelli, professor de Artes no CEM 03 desde 2021, destaca a importância de mantê-los motivados, “já que o desestímulo é constante”. Para ele, o diferencial da escola está no projeto Nave, no engajamento dos professores e no apoio das famílias. “A verdadeira conquista será vê-los formando, pois entrar na universidade é difícil, mas sair é ainda mais desafiador”, reflete. Cenário este que já é realidade: “Este ano, formou o meu primeiro ex-aluno em medicina”, celebra Regina.

A iniciativa oferece um conjunto de atividades que auxiliam os alunos na jornada até a faculdade. Entre as principais atividades, estão a mentoria individual, visitas às universidades, permitindo que os estudantes se familiarizem com o ambiente acadêmico; aulas de reforço, palestras motivacionais e orientação sobre inscrições e processos seletivos, com mutirões para auxiliar na escolha dos cursos e falar sobre programas de acesso.

“É claro que muitas escolas já fazem isso, não é exclusividade nossa. Mas acredito que a gente tem o privilégio de ter uma professora dedicada 100% a esse projeto. Eu sei a nota dos alunos desde o primeiro ano, acompanho seu progresso e ajudo a traçar estratégias para melhorar suas chances de aprovação. E pensar numa escola como a nossa, com, mais ou menos, 1.200 alunos. Somos um centro pequeno e estamos fazendo essa revolução aqui”, descreve Regina, orgulhosa.

Atualmente, o Nave é um projeto interno do CEM 03, mas a proposta já inspira outras instituições. Professores de diferentes escolas têm levado a metodologia do projeto para suas unidades, criando redes de apoio a vestibulandos por todo o DF. Para aqueles que desejam conhecer mais sobre o projeto ou promover palestras sobre o tema, o contato pode ser feito pelo Instagram da professora Regina Cotrim (@professorareginacotrim), onde também há um link para a página oficial do projeto.

Personagem da notícia

“Filha da UnB”

A professora Regina Cotrim, 54 anos, trabalha há 22 anos na Secretaria de Educação do Distrito Federal (SEEDF), dedicando-se a garantir que alunos da rede pública ingressem no ensino superior. Formada em antropologia e sociologia, prestou concurso para a SEEDF em 2002, incentivada pelo marido, e assumiu a carreira docente em 2003. O que começou como um “plano C” acabou se tornando sua missão de vida.

Nascida em 1970, no Hospital Universitário de Brasília (HUB-UnB), Regina se considera “filha da UnB”. Sua mãe era dona de casa e seu pai, docente da universidade, onde a professora cresceu e desenvolveu uma verdadeira paixão pela instituição. Na infância, estudou em uma escola de freiras, passou um período em um colégio público e, pelo esforço incansável de seu pai, teve acesso a instituições particulares, como Marista e Objetivo.

Ao final do ensino médio, seu maior objetivo era ingressar na UnB. Apesar de sonhar com relações internacionais, optou pelo bacharelado em antropologia e pela licenciatura em sociologia na universidade, o que lhe abriu portas para novas oportunidades, inclusive, fora do Brasil. Mas com a abertura de concurso público, resolveu tentar uma vaga na SEEDF e se entregou à docência, aprendendo a ser professora em sala, junto aos alunos, para os quais transmitiu seu amor pela UnB.

Regina lecionou por 17 anos em Ceilândia, e sempre defendeu a democratização do ensino. No entanto, em 2009, enfrentou um câncer de tireoide, cuja cirurgia afetou sua capacidade vocal. Mesmo com limitações, seguiu em sala de aula, mas teve de se afastar novamente devido à saúde. Longe da lousa, criou o Nave, em 2023, com o sonho de que todos os estudantes brasileiros tenham acesso à educação de qualidade.


*Correio Braziliense

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