Relatório do Ipea e Fórum Brasileiro de Segurança Pública revela aumento de 10 vezes nas mortes de motociclistas nos últimos 30 anos
O Atlas da Violência 2025 , publicado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) , revela um aumento contínuo na violência no trânsito brasileiro , com destaque para o crescimento alarmante nas mortes de motociclistas .
Entre 2010 e 2019 , ocorreram 392 mil mortes no trânsito em todo o país , um aumento de 13,5% em relação à década anterior. Mesmo com ações globais como a Década de Ação pela Segurança no Trânsito da ONU , a taxa de mortalidade por 100 mil habitantes subiu 2,3% no período analisado.
Motociclistas são os maiores vítimas do trânsito
O relatório destaca que as mortes de motociclistas cresceram mais de 10 vezes nos últimos 30 anos , impulsionadas principalmente pelo aumento da frota de motocicletas e pela falta de políticas públicas específicas para o grupo.
Segundo Diogo Figueiredo , gerente de capacitação e treinamentos da CEPA Mobility Brasil , o crescimento da frota motociclística não foi acompanhado por investimentos proporcionais em infraestrutura, educação no trânsito e fiscalização :
“Isso se deve em grande parte ao aumento da frota de motocicletas sem o investimento proporcional em infraestrutura e gestão do trânsito, falta de fiscalização e, principalmente, o despreparo do motociclista, sem a devida educação para o trânsito.”
Motos como meio de trabalho amplia exposição ao risco
O uso de motocicletas como fonte de renda , por meio de entregas e serviços, também contribui para o aumento de acidentes. A pressão por agilidade e cumprimento de prazos tem levado muitos motociclistas a adotar comportamentos de risco , como excesso de velocidade e manobras perigosas .
Para reduzir esse cenário, Diogo Figueiredo aponta ações prioritárias:
- Ampliação de campanhas educativas voltadas aos motociclistas
- Incentivo a programas de formação e reciclagem
- Investimento em infraestrutura viária adequada
- Fiscalização mais rigorosa e aplicação efetiva da legislação de trânsito
Corte de recursos compromete segurança no trânsito
Apesar do agravamento do cenário, o país tem enfrentado redução de investimentos em segurança viária , o que compromete ações preventivas e estruturais.
Entre os fatores destacados estão:
- Redução da Cide-Combustíveis (MP nº 1163/2023) , que impactou diretamente os recursos para transporte e segurança viária
- Queda na aplicação do Fundo Nacional de Segurança e Educação de Trânsito (Funset) , mesmo sendo financiado por multas
- Extinção do seguro DPVAT , que financiava atendimentos no SUS e indenizava vítimas de acidentes
- Rejeição da proposta de substituição do DPVAT pelo SPVAT (Lei Complementar nº 211/2024) , deixando um vácuo na proteção social a quem sofre acidentes
Essas medidas, somadas à falta de priorização institucional da segurança no trânsito , explicam o aumento das mortes nas vias brasileiras , especialmente entre motociclistas.
Datas comemorativas expõem contradição
As comemorações do Dia do Motorista (25/07) e do Dia do Motociclista (27/07) deveriam reforçar políticas públicas voltadas à segurança viária. No entanto, o atual cenário revela uma contradição entre a celebração dessas categorias e a falta de proteção efetiva no trânsito .
Mobilização e políticas estruturantes são necessárias
O relatório reforça a necessidade de ações coordenadas entre os governos federal, estaduais e municipais , com priorização de:
- Infraestrutura segura para motociclistas
- Educação no trânsito desde a educação básica
- Fiscalização mais eficaz
- Políticas específicas para trabalhadores motociclistas
“É preciso repensar o modelo de mobilidade urbana e investir em políticas que protejam os mais vulneráveis”, afirma o estudo.
Com informações: Ipea / Fórum Brasileiro de Segurança Pública – Atlas da Violência 2025