Pingente de prata de Cinzas, encontrado na Suécia, é a única representação conhecida de uma mulher Viking grávida, gerando debate entre arqueólogos sobre o seu significado: se era um talismã de fertilidade ligado à deusa Freyja ou uma relíquia familiar de uma praticante de magia.
Artefato Viking Único Descoberto na Suécia
Um artefato singular do período Viking, conhecido como Pingente de Cinzas, continua a ser um foco de estudo e debate entre arqueólogos. Descoberto em 1920, na aldeia de Aska, no sul da Suécia, este pingente de prata dourada é notável por ser a única representação conhecida de uma mulher grávida na iconografia Viking. O objeto foi encontrado no túmulo de uma mulher da elite datado do século X (cerca de 800 a 975 d.C.) e atualmente integra a coleção do Museu de História Sueca.
O artefato possui aproximadamente 4 centímetros de diâmetro e é feito de prata dourada. A peça central é uma figura feminina que está de pé, com as pernas abertas e as mãos cruzadas sob uma proeminente barriga de grávida. Embora a parte superior do pingente apresente desgaste, linhas acima da cabeça da mulher sugerem a presença de uma coroa ou um cocar. A figura está adornada com uma capa abotoada no pescoço e um acessório de contas em forma de pérola, o que denota riqueza e possível status social.
Contexto da Descoberta e Detalhes da Sepultura
A descoberta foi realizada pelo arqueólogo sueco TJ Arne durante sua escavação em 1920 de um conjunto de túmulos no sítio de Aska. O pingente foi um dos dezenas de artefatos recuperados na sepultura da mulher, que incluíam outros oito pingentes, quatro anéis de prata, um tabuleiro de jogo de osso e uma moeda de prata de origem islâmica.
Com base na presença de rebites e pregos, os arqueólogos levantaram a hipótese de que a mulher foi enterrada em um caixão de madeira que se decompôs com o tempo. A análise de seus ossos indicou que ela era uma adulta jovem ou de meia-idade no momento da morte. O estado de gravidez da mulher no momento exato do falecimento — se estava grávida ou em trabalho de parto — permanece desconhecido.
A diversidade e a natureza dos objetos encontrados na sepultura da mulher sugerem o alto status da falecida. A presença de itens raros e exóticos, como a moeda islâmica, indica conexões de comércio ou riqueza significativa.
Diferentes Interpretações sobre o Significado do Pingente
O significado singular do Pingente de Cinzas na sociedade Viking tem gerado discordância entre os especialistas, com duas principais linhas de interpretação:
Ligação com a Deusa Freyja e o Parto
De acordo com a interpretação do Museu de História Sueca, o pingente pode representar a deusa nórdica Freyja, que era associada à fertilidade, à gravidez e ao parto.
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Freyja era conhecida por usar um colar especial chamado Brísingamen.
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As descrições desse colar mítico, que incluíam fechos de botão e fileiras de contas, parecem ter correspondência com os acessórios representados na figura do Pingente de Cinzas.
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Nessa perspectiva, o artefato teria funcionado como um talismã de proteção ou um símbolo de devoção para a mulher enterrada no túmulo.
Relíquia de Realeza ou Praticante de Magia
Outras análises sugerem que a mulher poderia ter exercido um papel proeminente na comunidade, possivelmente ligada à realeza local ou à prática ritualística.
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O arqueólogo Martin Rundkvist aponta que o sítio de Aska contém um grande monte achatado que pode ter servido como fundação para um “salão real”, sugerindo que as pessoas ali enterradas seriam da “pequena realeza”.
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Acredita-se que os pingentes de prata, incluindo o Pingente de Cinzas, foram transmitidos como relíquias de família por várias gerações, o que reforçaria o status hereditário dos sepultados.
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O arqueólogo Neil Price argumenta que, dada a variedade de itens descobertos no túmulo, incluindo um bastão de ferro com cabeça de lobo (frequentemente associado a rituais), a mulher poderia ter desempenhado um papel de destaque como praticante de magia ou ritual.
Implicações da Transição Religiosa
Um estudo do arqueólogo Hide Gustafsson notou que túmulos posteriores na área de Aska não possuem objetos rituais semelhantes. Essa observação levanta uma terceira e intrigante hipótese:
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A mulher Viking enterrada no monte poderia ter sido a última praticante pagã de sua linhagem antes que o Cristianismo fosse introduzido e se estabelecesse na região.
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Nesse cenário, o enterro do seu pingente de Freyja junto a ela marcaria o fim de uma tradição religiosa na área.
O Pingente de Cinzas, portanto, transcende sua função como joia, atuando como uma peça-chave para a compreensão da vida religiosa, social e das crenças sobre fertilidade e nascimento da elite Viking no século X. A peça continua a desafiar os arqueólogos a desvendar a história completa dessa mulher e o papel que ela desempenhou na sua sociedade.
Com informações: Live Science