Riscos
Mulher de feições asiáticas e cabelo castanho-escuro se olha no espelho enquanto aplica um produto com uma gaze

CRÉDITO,GETTY IMAGES – Legenda da foto,Produtos cosméticos e ambiente à nossa volta alteram microbioma da pele humana

Até aqui, tudo bem. Mas o que acontece quando o delicado equilíbrio do microbioma da pele é rompido?

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A “disbiose” da pele foi relacionada a condições como dermatite atópica (uma espécie de eczema), rosácea, acne e psoríase.

A própria presença de caspa no couro cabeludo é associada a um gênero específico de fungo. Os fungos Malassezia furfur e Malassezia globosa produzem ácido oleico, que danifica as células do stratum corneum no couro cabeludo, produzindo uma reação inflamatória e coceira.

Nestes casos, é difícil definir se o estado da doença é causado pelo microbioma da pele ou se o próprio microbioma da pele foi alterado em função da doença. Mas existe um fenômeno pelo qual podemos culpar as bactérias ruins, ao menos parcialmente: o envelhecimento da pele.

À medida que envelhecemos, os tipos de bactérias da nossa pele se alteram. A tendência é de termos menos espécies “boas”, que nos protegem contra as infecções e ajudam a manter a pele úmida e hidratada.

Por outro lado, nós ficamos com níveis mais altos das bactérias patogênicas prejudiciais — e isso tem implicações para a saúde da pele.

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“As pessoas mais idosas tendem a ter pele mais seca, que é associada a menores quantidades dos tipos de bactérias que ajudam na produção de lipídios”, explica Wilkinson.

“Isso gera maior risco de infecções dérmicas, por reduzir a integridade da pele. As pessoas mais idosas são mais propensas ao surgimento de feridas espontâneas porque elas perdem aquela integridade da pele.”

Infelizmente, as bactérias “ruins” da pele podem também interferir na cura de feridas.

Pesquisas da professora de dermatologia e microbiologia Elizabeth Grice, da Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos, demonstraram que ratos feridos sem microbioma da pele levam muito mais tempo para se curar.

Paralelamente, o trabalho da Escola de Medicina Hull York, desenvolvido pelos colegas de Wilkinson, demonstrou que as bactérias da pele de uma pessoa podem prever se ela irá ou não se curar de uma ferida crônica.

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As feridas crônicas que não se curam são uma condição da pele que pode levar à morte. Elas afetam uma a cada quatro pessoas com diabetes e uma a cada 20 pessoas com mais de 65 anos.

“Esperamos, em algum momento no futuro muito próximo, poder usar este tipo de estratégia para identificar quais pacientes terão maior risco de desenvolver uma ferida que não se cura e oferecer intervenção precoce, antes que ela chegue ao estágio em que as pessoas podem precisar amputar uma perna ou em que elas desenvolvem uma infecção realmente desagradável”, afirma Wilkinson.

De fato, certas linhagens de Staphylococcus aureus são associadas a certos atrasos de cura. Mas os mecanismos exatos por que essa bactéria patogênica interfere com a cura não são totalmente conhecidos.

“[As bactérias] Staphylococcus aureus produzem enzimas que podem ajudá-las a invadir e digerir o tecido em volta delas”, segundo Wilkinson. “Mas elas também podem interferir na nossa função imunológica, fazendo com que o nosso próprio sistema se volte contra nós.”

“O principal causador das dificuldades de cura de feridas crônicas é o fato de que as feridas ficam presas naquela fase inflamatória e não conseguem sair dela. Por isso, ter ali as bactérias Staphylococcus aureus simplesmente mantém esse ciclo perpétuo de inflamação.”

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Outros estudos concluíram que alguns micróbios da pele, na verdade, podem ser benéficos para a cura de feridas.

Existem também evidências que indicam que o microbioma da pele pode nos proteger contra parte dos efeitos prejudiciais da radiação ultravioleta. Quando a radiação UV atinge a pele, ela pode danificar o nosso DNA, mas as células da pele possuem um mecanismo de proteção embutido.

“Essencialmente, elas deixam de se reproduzir e a pele passa por uma série de verificações para reparar aquele DNA danificado”, explica O’Neill. “Se ela não conseguir se reparar, as células basicamente serão mortas.”

Mas, em um recente estudo não publicado, O’Neill concluiu que, se você retirar o microbioma, as células da pele continuam se dividindo, mesmo com DNA danificado.

“É evidente que este é um mecanismo de proteção muito importante contra tumores”, segundo ele. “E, claramente, o microbioma parece compor grande parte deste mecanismo.”

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Pesquisas com camundongos também indicaram que o microbioma pode nos ajudar a modular a reação do nosso sistema imunológico à exposição aos raios UV, participando da sua preparação para combater possíveis infecções.

Sabe-se que a radiação UV suprime a nossa reação imunológica e também pode danificar a pele, oferecendo às bactérias patogênicas a oportunidade de invadir os nossos corpos. Aparentemente, os micróbios da pele ajudam a induzir a reação inflamatória à radiação ultravioleta, preparando nossos corpos para combater a infecção.

Relação entre a pele e o intestino

Existem algumas evidências que indicam que o microbioma da pele pode influenciar o intestino.

Um estudo recente demonstra, por exemplo, que as lesões da pele podem gerar mudanças significativas da microbiota intestinal, aumentando a susceptibilidade das pessoas às inflamações dos intestinos.

Estudos também demonstram que Malassezia restricta, um membro fúngico da microbiota da pele, é associada à doença de Crohn e pode exacerbar a colite.

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“Todos sabem que existe um eixo entre o intestino e a pele, em que a má alimentação pode prejudicar a pele, mas a ideia de que algo que esteja errado com o microbioma da pele talvez possa causar diarreia é completamente maluca”, afirma Bernhard Paetzold, um dos fundadores e principal cientista da S-Biomedic. Sua empresa procura tratar condições como a acne restaurando o microbioma da pele.

“Mas, muito recentemente, começamos a entender que esta diafonia é bidirecional e, na verdade, existe um eixo pele-intestino”, explica ele.

Existe até uma teoria de que o microbioma da pele pode prejudicar o cérebro, mas esta é uma questão que ainda está sendo debatida.

Um estudo recente, por exemplo, pediu a 20 voluntários saudáveis que realizassem uma série de testes cognitivos, enquanto era medida sua atividade cerebral. A conclusão foi que a remoção das bactérias da pele da testa aumentou o nível de atenção dos participantes.

À medida que aprendemos mais sobre o microbioma da pele e seu papel na saúde e no nosso bem-estar, surge cada vez mais entusiasmo entre os cientistas sobre o papel que ele pode desempenhar em outros aspectos das nossas vidas.

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Tratamentos
Imagem ilustrativa de uma mulher segurando seus órgãos internos / intestinos

CRÉDITO,GETTY IMAGES – Legenda da foto,Evidências apontam que microbioma da pele pode influenciar intestino

Será que poderemos melhorar nossa saúde substituindo nossas bactérias ruins da pele pelas espécies boas — com uma espécie de transplante de micróbios da pele, por assim dizer?

É possível que sim. Mas, para isso, é preciso eliminar a comunidade microbiana já existente no nosso corpo, o que poderia causar outros problemas, como o risco de gerar resistência a antibióticos.

Os micróbios da nossa pele também são fortemente influenciados pelo nosso ambiente. Por isso, precisaríamos considerar como o mundo à nossa volta colabora com a diversidade de bactérias, fungos e vírus no nosso corpo.

Os próprios cosméticos que usamos podem alterar a composição da microbiota da pele, de formas que só agora estamos começando a compreender.

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Algumas empresas acreditam que talvez seja possível estimular o crescimento dos micróbios “saudáveis”, tratando a pele com “prebióticos” e “probióticos”, para alimentar as bactérias boas, ou aplicando proteínas bacterianas ou lipídios diretamente ao rosto.

Existem poucas evidências publicadas sobre a sua eficácia, mas existem alguns sinais de que este procedimento pode ajustar o equilíbrio entre diferentes bactérias da pele.

Wilkinson também pesquisa se os vírus específicos que infectam as bactérias, conhecidos como bacteriófagos, e as moléculas que elas produzem podem ser usadas para eliminar Staphylococcus aureus de forma dirigida, sem prejudicar o restante do microbioma.

“A ideia é que, eliminando as bactérias patogênicas e permitindo a restauração da microbiota natural, é possível acelerar o reparo de feridas”, explica ela.

“Tudo é muito estimulante para nós e esperamos que isso, eventualmente, leve a mudanças substanciais da nossa forma de tratamento dessas infecções”, conclui.

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