Meio Ambiente
A resposta está nos genes: projeto faz da genética aliada da conservação
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Projeto pioneiro no Brasil investe em tecnologia e capacitação para que a genética seja usada em prol da conservação, monitoramento e manejo da biodiversidade brasileira
Presente em todos os seres vivos, o DNA guarda informações valiosas sobre a identidade de cada ser. E é nesse pacote de dados e genes que podem estar caminhos estratégicos para a conservação, monitoramento e manejo da biodiversidade brasileira. Essa é a aposta do projeto Genômica da Biodiversidade Brasileira, fruto de um Acordo de Cooperação Técnica entre o ICMBio e o Instituto Tecnológico Vale Desenvolvimento Sustentável (ITV DS). A iniciativa, 100% feita no país, investe em tecnologia, capacitação e no uso de ferramentas genéticas de ponta para ajudar na proteção das espécies que existem no Brasil.
O projeto Genômica da Biodiversidade Brasileira – ou simplesmente GBB, na sigla – começou a ser executado em 2023. Um dos passos iniciais foi a consulta a pesquisadores e servidores do ICMBio sobre quais as espécies e que informações seriam prioritárias. E no final de maio, foi realizado um evento para apresentar os primeiros genomas de referência de alta qualidade concluídos.
A lista, com 23 espécies, inclui desde a onça-pintada (Panthera onca), a harpia (Harpia harpyja) e o peixe-boi-da-Amazônia (Trichechus inunguis) até o macaco kaapori (Cebus kaapori), todas sob algum nível de ameaça de extinção, de acordo com a avaliação nacional do ICMBio, e de interesse para conservação.
O projeto, com ações previstas até 2027 e que deve se estender pelo menos até 2028, pretende fazer os genomas de referência de pelo menos 80 espécies, com um investimento previsto de 25 milhões de dólares.
“Esses genomas de altíssima qualidade vão ser um mapa genético para essas espécies. Imagina que você tem que montar um quebra-cabeça gigante com peças muito pequenas sem ter aquela imagem da caixa? É muito mais difícil. O genoma de referência é esse guia em altíssima resolução. Ele ajuda qualquer outro estudo sobre a espécie a entender essas pecinhas”, explica a analista ambiental, Amely Martins, coordenadora técnica do GBB pelo ICMBio.
Uma das informações que podem ser obtidas por meio dos genomas é a demografia histórica da espécie. Ou seja, como a população de determinado bicho ou planta flutuou ao longo do tempo. “Por exemplo, espécies com populações atuais muito pequenas, será que isso é parte do histórico da espécie ou uma consequência do agora, do Antropoceno?”, aponta a analista.
Os dados podem ajudar ainda a identificar populações geneticamente isoladas e auxiliar no manejo populacional ex situ (em cativeiro) e in situ (no ambiente natural).
A fila de espécies que terão seu genoma de referência feito pelo GBB foi feita em consulta às equipes dos Planos de Ação Nacional para conservação – os PANs –, uma política pública responsável por traçar as estratégias para reduzir o risco de extinção de espécies-alvo ameaçadas.
O trabalho é o primeiro dessa magnitude a ser realizado integralmente no Brasil, conta a coordenadora do ICMBio. “E com uma instituição pública de conservação indicando quais são os rumos para priorizar as espécies. Porque o objetivo é que essas informações possam subsidiar, num futuro muito próximo, ações concretas de conservação”, completa Amely.
Já foram coletadas 2.249 amostras e realizados 1.175 sequenciamentos. Além dos genomas de referência, já foram concluídos 336 genomas populacionais de 11 espécies, como uma das aves mais ameaçadas do mundo, a saíra-apunhalada (Nemosia rourei). A meta é chegar a mil genomas populacionais.
Durante a 15ª Conferência das Nações Unidas sobre Biodiversidade (COP15), realizada no final de 2022, foi estabelecido o Marco Global da Biodiversidade de Kunming-Montreal, assinado pelo Brasil. Esta nova convenção incorporou indicadores e metas relacionadas ao patrimônio genético e reconheceu a necessidade de preservar não apenas as espécies, mas a sua diversidade genética. “E nós não temos como preservar a diversidade genética se não conhecemos a diversidade genética do Brasil”, resume a analista Amely Martins.
“Não é só sobre saber o tamanho da biodiversidade pra ter o prazer de dizer que o Brasil é campeão de biodiversidade, mas é para que a gente tenha condição de fazer a gestão da biodiversidade e conservá-la. Se não temos informação sobre o tamanho dessa biodiversidade e dessas populações, estaremos navegando às escuras, então essa iniciativa é muito bem-vinda e espero que venham mais parcerias”, afirma o diretor de Conservação e Uso Sustentável da Biodiversidade, Bráulio Dias, do Ministério do Meio Ambiente.
O genoma de um dos macacos mais ameaçados do país
Um dos genomas de referência já concluídos pelo GBB tem um dono ilustre: o kaapori (Cebus kaapori), espécie ainda pouco estudada pela ciência e um dos primatas mais ameaçados do país – e até do mundo. Espécie amazônica, o kaapori vive nas florestas bem conservadas entre os estados do Pará e do Maranhão, numa área sobreposta ao Arco do Desmatamento.
Classificado como Criticamente Em Perigo de extinção pelo ICMBio, o kaapori é uma das espécies-alvo do Plano de Ação Nacional (PAN) para a Conservação dos Primatas Amazônicos. “E tanto no PAN quanto na avaliação da espécie é indicado que a espécie precisa de estudos populacionais sobre o impacto das ameaças e estudos genéticos”, conta Amely, que também integra o time de analistas do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Primatas Brasileiros (CPB/ICMBio).
O genoma de referência é o primeiro passo para um estudo de genômica populacional, ou seja, para entender a variabilidade genética das diferentes populações de kaapori conhecidas. Esse levantamento pode indicar se há grupos isolados e como o desmatamento pode estar afetando a manutenção da espécie.
Além disso, a partir do genoma é possível ter uma ideia da demografia histórica da espécie e entender quão preparada a espécie está para lidar com impactos como os das mudanças climáticas.
“Por exemplo, uma diversidade genética muito baixa pode indicar que a espécie está muito pouco preparada para lidar com mudanças climáticas porque ela não tem um arcabouço genético para lidar com seleção natural”, explica a coordenadora do GBB.
Esses dados também servirão para avaliar a qualidade e representatividade genética dos animais hoje mantidos sob cuidados humanos. Uma resposta positiva para estes dois pontos seria um sinal verde para estruturar o manejo ex situ da espécie, com o estabelecimento de uma população de segurança em cativeiro.
Entre os primatas, outro que também já ganhou seu genoma de referência foi o cuxiú (Chiropotes utahickae), que ocorre do Pará até o norte de Mato Grosso. A espécie amazônica, classificada como Vulnerável ao risco de extinção, é uma das cinco do gênero que ocorre no Brasil. O cuxiú também faz parte da relação de espécies-alvo do PAN dos Primatas Amazônicos.
Da Amazônia para Mata Atlântica, um primata que está na lista de prioridades do GBB é o sagui-da-serra-escuro (Callithrix aurita). O pequeno macaco, que ocorre apenas nas florestas serranas entre Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo, corre o risco de desaparecer devido não apenas ao desmatamento e fragmentação do seu habitat, mas também pelo apagamento genético. Esta última ameaça é resultado da chegada de saguis invasores – oriundos do nordeste e do interior do país, conhecidos popularmente como mico-estrela (Callithrix spp.) – e da hibridação com eles.
Essa mistura genética aos poucos apaga os vestígios do sagui-da-serra e, com ele, da espécie como um todo.
“Esse genoma vai ajudar nos estudos populacionais e de hibridação dos Callithrix, e uma base para detectar esses híbridos melhor e mais rápido e com isso orientar ações de manejo in situ. E se no futuro nós precisarmos fazer um resgate genético, com esse genoma de referência nós conseguimos fazer esse resgate para ver os bichos que têm a maior carga da espécie pura, digamos assim”, detalha Amely.
Outros primatas como o mico-leão-preto (Leontopithecus chrysopygus) e o macaco-aranha-da-testa-branca (Ateles marginatus) também estão na lista dos próximos genomas de referência a serem feitos.
DNA Ambiental
Outro eixo do GBB é o monitoramento da biodiversidade por meio do DNA ambiental (eDNA, do inglês environmental DNA), que é obtido a partir de amostras do solo, da água e do ar.
“Todo animal que vive no ambiente deixa rastros da existência dele, restos do próprio corpo e nesses restos, tem partículas do DNA. Nós encontramos partículas de DNA na água, no solo até no ar!”, explica a coordenadora do GBB pelo ICMBio, Amely Martins.
As amostras do ambiente são analisadas em laboratório, onde primeiro são identificados e sequenciados todos os vestígios de DNA. Em seguida, essa informação é cruzada com os bancos de DNA disponíveis para dar nome aos genes – numa abordagem chamada de metabarcoding, que permite a detecção de fragmentos de DNA de múltiplas espécies simultaneamente.
Assim é possível, de forma não-invasiva, ter uma dimensão da riqueza de espécies que passaram por aquele ambiente ou até mesmo identificar a presença de espécies exóticas e invasoras.
“Quando você faz isso ao longo dos anos, você consegue monitorar se há mudanças na composição e na riqueza de espécies e se uma área protegida está sendo eficiente”, acrescenta a coordenadora.
O trabalho com o eDNA já começou a ser executado em conjunto com o Programa Nacional de Monitoramento da Biodiversidade (Monitora), do ICMBio, com projetos piloto em duas unidades de conservação. Um na Floresta Nacional do Tapajós, no Pará, com foco em animais terrestres; e outro na Reserva Extrativista do Rio Cajari, no Amapá, voltado para os igarapés e para fauna e flora aquática. Ambos tiveram início em 2024, em junho e setembro, respectivamente, e as análises seguem em andamento, com apenas resultados parciais.
Em 2025, a expectativa é que o uso do eDNA no Monitora seja expandido para cinco unidades de conservação na zona marinha-costeira: a Área de Proteção Ambiental (APA) Costa dos Corais; as reservas extrativistas Jequiá, Corumbau e Cassurubá; e o Parque Nacional Lagoa do Peixe. O trabalho nas UCs litorâneas usará marcadores para identificar mamíferos terrestres e aquáticos, aves – principalmente na Lagoa do Peixe, ponto de parada importante de aves migratórias – invertebrados e peixes ósseos e cartilaginosos.
Um investimento na ciência brasileira
Artigo publicado no periódico Cell Genomics aponta que até então o custo para sequenciamento de um genoma de alta resolução no Brasil era 3,3 vezes maior do que nos Estados Unidos. Como consequência, genomas de espécies brasileiras são em sua maioria sequenciados no exterior, apontam os autores.
“Dada a importância global da biodiversidade contida nesse país de escala continental, é necessário um investimento governamental e privado contínuo em genômica da biodiversidade como meio de formulação de políticas públicas e implementação das melhores práticas para conservação, garantindo resiliência evolutiva de longo prazo e preparação para futuras mudanças climáticas”, defendem os pesquisadores no texto.
Nesse sentido, o GBB tem tudo para deixar um legado importante para ciência brasileira, com investimentos não apenas na aquisição de equipamentos, mas também na capacitação dos pesquisadores brasileiros.
Desde que teve início, em 2023, o programa concedeu 75 bolsas de pesquisa e envolve atualmente 289 cientistas de mais de cem instituições nacionais e internacionais, desde universidades até ONGs, zoológicos e órgãos governamentais. Entre os colaboradores estão participantes dos Planos de Ação Nacional (PANs) para conservação de diferentes espécies. “A ideia é fazer um trabalho colaborativo para fortalecer não só a conservação, mas a ciência nacional”, acrescenta a coordenadora do GBB.
Ao todo, o programa já realizou nove eventos de capacitação e treinou mais de 230 profissionais no uso e interpretação de ferramentas genômicas na conservação. A expectativa é que eles entendam como incluir a ferramenta genética para responder perguntas e subsidiar ações, ao mesmo tempo em que crie uma demanda para novos projetos relacionados à genômica.
“Precisamos criar essa capacidade no Brasil, porque vamos estar empregando cientistas brasileiros em todas as etapas do processo. Nós temos pessoas super capacitadas para fazer isso no país, o que precisamos é de investimento para ciência brasileira. Precisamos de equipamento, de computadores e de gente capacitada. Aí depois que a coisa está pronta, o maior gargalo é ter gente que faça as análises. E estamos capacitando brasileiros para fazer isso”, resume a coordenadora do GBB pelo ICMBio.
“O GBB se firma como uma das maiores iniciativas de genômica aplicada à biodiversidade no Brasil, unindo ciência, tecnologia e conservação em uma rede colaborativa que deixará um legado duradouro para o mundo”, destaca também o diretor científico do ITV DS, Guilherme Oliveira.
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Brasil
COP30 em Belém eleva desinformação climática a problema de direitos humanos e governança global
Publicado
6 horas atrásem
06/12/2025
A COP30 em Belém reposicionou a Amazônia no centro da diplomacia climática, expondo a crise da integridade da informação como um obstáculo global à ação e à sobrevivência planetária. A especialista Maryellen Crisóstomo afirma que a desinformação climática é uma violação do direito humano à informação (Artigo 19 da Declaração Universal dos Direitos Humanos) e uma tática de captura corporativa. As declarações da Cúpula dos Povos e dos 20 países signatários na COP30 convergiram ao denunciar o papel das grandes corporações (mineração, agronegócio, Big Techs) na manutenção de narrativas que atrasam a descarbonização e criminalizam defensores ambientais, exigindo transparência algorítmica e reconhecimento dos saberes ancestrais no combate à crise
A realização da COP30 em Belém recolocou a Amazônia no centro da governança e diplomacia climática global, mas também expôs a urgência de combater a desinformação climática, vista como um problema que transcende o campo comunicacional e atinge a dimensão dos direitos humanos e da justiça climática.
O Direito à Informação como Pilar da Ação Climática ⚖️
A integridade da informação ambiental é considerada um direito humano estruturante e sua violação foi amplamente denunciada durante a COP30.
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Direito Universal: À luz do Artigo 19 da Declaração Universal dos Direitos Humanos, o acesso à comunicação e à informação é essencial, especialmente em um ecossistema digital polarizado e vulnerável à manipulação.
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Violação e Conflito: Sem informação e o reconhecimento efetivo do direito à propriedade coletiva dos territórios, povos e comunidades são expostos a conflitos com megaempreendimentos (monoculturas, mineração para transição energética, energia eólica e solar), o que configura uma violação da Convenção 169 da OIT (Artigo 6º), conforme denunciado na Cúpula dos Povos.
Declaração de Belém: O Reconhecimento da Desinformação 📜
No contexto da COP30, foi assinada a Declaração sobre a Integridade da Informação sobre Mudança do Clima por 20 países, reconhecendo que a desinformação se tornou um obstáculo global que corrói a confiança pública e atrasa medidas urgentes.
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Obstáculos Denunciados: A Declaração aponta explicitamente para:
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Ataques a jornalistas e cientistas.
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Incentivo à má informação e circulação de conteúdos enganosos em plataformas digitais.
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Falta de transparência algorítmica.
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Captura Corporativa: A Cúpula dos Povos reforça que este cenário está inserido em um contexto mais amplo de captura corporativa, financeirização da natureza, e avanço do extremismo, onde grandes corporações (mineração, energia, agronegócio e Big Techs) utilizam estratégias como greenwashing e descredibilização da ciência para manter o status quo.
Caminhos para a Governança Sustentável 💡
Tanto a ONU (por meio do Pacto Digital Global de 2024) quanto a Declaração sobre Integridade da Informação conclamam Estados e empresas de tecnologia a assumir responsabilidade compartilhada:
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Responsabilidade das Plataformas: Exige-se que as empresas avaliem os impactos de sua arquitetura, forneçam dados para pesquisas independentes e implementem políticas de responsabilidade informacional.
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Saberes Ancestrais: A Cúpula dos Povos oferece uma contribuição estrutural ao afirmar que o combate à desinformação passa pelo reconhecimento dos saberes ancestrais (indígenas, quilombolas, ribeirinhos) como tecnologias sociais para o enfrentamento da crise climática.
A especialista conclui que o avanço em estratégias climáticas depende de o multilateralismo restabelecer a integridade informacional. Para que as ações sejam eficazes, o direito humano à informação deve ser garantido em todas as suas dimensões, sendo o combate à desinformação uma estratégia de justiça climática e sobrevivência planetária.
Com informações: Diplomatique
Meio Ambiente
Makoto Shinkai: “O Tempo com Você” Ganha Relevância como Crítica à Crise Climática e Desigualdade Urbana
Publicado
1 dia atrásem
05/12/2025
🌧️ Filme de Makoto Shinkai, sucesso de bilheteria e conhecido internacionalmente como Weathering With You, transcendeu a classificação de romance fantástico. A obra é revisitada como um retrato da vulnerabilidade urbana e da injustiça social, questionando a atribuição de responsabilidades da crise climática à juventude em um cenário de fenômenos meteorológicos extremos e falhas estruturais.
Da Fantasia ao Retrato Social: A Leitura Contemporânea do Filme
Lançado no Brasil em 2020 após o sucesso global de Your Name, o filme “O Tempo com Você” (Weathering With You) do diretor Makoto Shinkai estabeleceu-se como um marco na animação japonesa, mas com um diferencial notável. Embora mantenha o elemento de romance fantástico, a obra oferece uma crítica social mais direta e intensa. O filme aborda temas complexos como a desigualdade em ambientes urbanos, os impactos da instabilidade climática e os desafios enfrentados por adolescentes forçados a sobreviver sem estrutura de apoio.
Nos anos subsequentes ao lançamento, a narrativa de “O Tempo com Você” ganhou relevância adicional. Com a crescente frequência de eventos climáticos extremos e a percepção de limitações governamentais para lidar com eles, o filme passou a ser analisado como um registro sensível e politizado sobre as juventudes que carregam o peso de crises estruturais em cidades altamente desiguais, como a capital japonesa, Tóquio.
Tóquio: Chuva Constante e Vidas em Vulnerabilidade
A história se inicia com Hodaka, um jovem de 16 anos que foge de casa. O roteiro não detalha exaustivamente as razões da fuga, mas sugere um histórico de violência doméstica, indicado por marcas em seu corpo. Ele chega a Tóquio, uma cidade dominada por chuvas incessantes, um elemento que vai além do decorativo e interfere diretamente na vida cotidiana, na mobilidade, nas interações sociais e no ritmo urbano.
Hodaka vive a realidade de jovens que rompem com a segurança doméstica: busca por abrigos, escassez de alimentos e o enfrentamento constante à insegurança. A Tóquio do filme é retratada como um espaço de oportunidades limitadas para quem carece de condições financeiras e de uma rede de apoio.
É nesse ambiente que ele conhece Hina Amano. A adolescente, responsável por cuidar do irmão mais novo, tenta manter a casa com trabalhos temporários. A descoberta da habilidade de Hina de interromper a chuva temporariamente transforma sua rotina. Juntos, os jovens exploram esse “dom” como um serviço pago para quem deseja realizar atividades ao ar livre. O filme trata essa habilidade como um recurso que, embora gere ganhos imediatos, também provoca desgaste direto na saúde e na integridade física de Hina.
O Peso da Solução Individual na Crise Coletiva
Essa dinâmica é central para a crítica social da obra, pois demonstra como indivíduos vulneráveis são frequentemente pressionados a oferecer soluções singulares para problemas que são, intrinsecamente, coletivos e estruturais.
A Crítica Social: Quem Paga Pela Crise Climática?
“O Tempo com Você” aborda a crise climática de forma tangível, sem recorrer a alegorias distantes ou discursos moralizantes. A Tóquio apresentada vive em risco constante de alagamentos, interrupções de serviços e súbitas instabilidades ambientais. A inação ou a incapacidade da cidade em lidar com esses fenômenos faz com que os efeitos recaiam de forma desproporcional sobre as camadas mais pobres e precarizadas da população.
A narrativa questiona a tendência social de atribuir responsabilidades desproporcionais aos grupos mais frágeis. O dom de Hina, que poderia ser visto como uma benção, rapidamente se transforma em uma exigência social. Sua capacidade de alterar o clima é tratada como uma solução mágica para danos ambientais acumulados, resultantes de anos de decisões políticas inadequadas.
Makoto Shinkai levanta três pontos centrais na discussão:
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Pessoas comuns são obrigadas a enfrentar crises que não causaram.
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Os mais pobres e vulneráveis são sempre as primeiras vítimas de desastres ambientais.
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Discursos sobre responsabilidade individual frequentemente desviam o foco dos atores com real poder de influência nas políticas climáticas (corporações, governos).
O filme, ao evidenciar a injustiça de atribuir à juventude a solução para problemas estruturais que ultrapassam gerações, se posiciona de forma oposta a interpretações que o classificam como uma culpabilização dos jovens.
Estética e Escolhas Narrativas
O diretor Makoto Shinkai mantém a excelência visual que marcou seus trabalhos anteriores. A animação se destaca pelos cenários urbanos hiper-detalhados, pela iluminação precisa e pela minuciosa representação da água, dos reflexos nas ruas e da atmosfera de chuva. A estética, no entanto, não é meramente um adorno, mas uma parte crucial da narrativa, mostrando a cidade como um espaço real que impõe dificuldades.
O final do filme se tornou o ponto mais discutido. Hodaka, o protagonista, toma a decisão de salvar Hina, mesmo sabendo que essa escolha resultará na continuidade das chuvas incessantes sobre Tóquio, impedindo a normalização climática. Enquanto alguns críticos ocidentais interpretaram a decisão como individualista, uma análise social e política sugere que o filme questiona a prática de sacrificar a vida dos mais vulneráveis em nome de um bem-estar coletivo que não se mostrou capaz de protegê-los. A pergunta final do filme permanece: quem deve, de fato, suportar o peso da crise climática?
Com informações da: Revista Fórum
Ciência
Sucuris Gigantes: Tamanho Médio das Cobras Permanece o Mesmo Há Mais de 12 Milhões de Anos
Publicado
1 dia atrásem
05/12/2025
🐍 Fósseis de sucuris do Mioceno revelam que a espécie manteve seu tamanho corporal desde o seu surgimento, há cerca de 12,4 milhões de anos. O novo estudo questiona a relação entre o clima antigo e a evolução do tamanho das cobras, mostrando a resiliência das anacondas.
Pesquisa Revela Estabilidade Milenar no Tamanho das Sucuris
Um novo estudo publicado no Jornal de Paleontologia de Vertebrados trouxe uma descoberta que desafia expectativas sobre a evolução dos répteis gigantes: o tamanho médio do corpo das sucuris gigantes tem permanecido praticamente inalterado desde que as cobras apareceram no registro fóssil, há aproximadamente 12,4 milhões de anos, durante o Mioceno Médio.
Esta conclusão surpreendeu os pesquisadores, que esperavam que as sucuris antigas fossem ainda maiores, seguindo a tendência de outras espécies da época. Segundo o estudo, enquanto outros animais, como crocodilos e tartarugas gigantes, foram extintos, em parte devido ao resfriamento global e à diminuição de habitats, as sucuris demonstraram uma notável “super-resiliência” ao longo do tempo geológico.
Análise Fóssil e Expectativas do Tamanho Antigo
As sucuris (anacondas) são um grupo de cobras constritoras que inclui a espécie de serpente mais pesada do mundo atualmente. As sucuris modernas chegam a medir, em média, de 4 a 5 metros de comprimento, podendo as maiores atingir até 7 metros. A incerteza científica residia em saber se, durante o Mioceno, as sucuris eram significativamente maiores ou se o seu tamanho colossal já havia sido alcançado e mantido.
Para determinar o tamanho das cobras antigas, a equipe de pesquisa, incluindo o coautor Andrés Alfonso-Rojas, paleontólogo de vertebrados da Universidade de Cambridge, empregou métodos rigorosos:
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Medição de Fósseis: Foram analisadas 183 vértebras fossilizadas de sucuris, provenientes de pelo menos 32 cobras individuais, coletadas na Venezuela.
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Reconstrução do Estado Ancestral: Os cientistas utilizaram essa técnica para prever o comprimento corporal das sucuris antigas, baseando-se nas características de espécies de cobras relacionadas.
Os cálculos indicaram que as sucuris tinham um comprimento médio de cerca de 5,2 metros quando surgiram no Mioceno, há 12 milhões de anos. Este resultado é consistentemente próximo ao tamanho médio das sucuris modernas, refutando a expectativa inicial de que espécimes de 7 a 8 metros seriam encontrados, especialmente considerando as temperaturas globais mais elevadas daquele período.
Fatores de Manutenção do Gigantismo
O período do Mioceno Médio e Superior (cerca de 12,4 milhões a 5,3 milhões de anos atrás) foi marcado por temperaturas elevadas, vastas zonas úmidas e grande disponibilidade de alimentos. Essas condições permitiram que muitas espécies atingissem tamanhos muito superiores aos seus descendentes atuais, um fenômeno conhecido como gigantismo. No entanto, as sucuris parecem ter mantido sua dimensão gigante sem diminuir, mesmo após o arrefecimento global e a redução de seus habitats.
A pesquisa aponta que o clima e a variação de habitat podem não ter sido os fatores primários que mantiveram as cobras grandes nos milênios seguintes. Outras possibilidades consideradas:
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Disponibilidade de Alimentos: Embora a falta de competição alimentar possa ter ajudado as sucuris a crescerem inicialmente, o seu tamanho não diminuiu mesmo com a chegada de outros predadores na América do Sul durante o Plioceno e o Pleistoceno, sugerindo que a disponibilidade de presas não foi o fator determinante para a manutenção do gigantismo das sucuris.
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Adaptação e Resiliência: A estabilidade do tamanho corporal pode indicar que a sucuri atingiu um tamanho ótimo logo no início de sua história evolutiva, conferindo-lhe vantagens ecológicas que garantiram sua sobrevivência sem a necessidade de alterações morfológicas significativas para se adaptar às mudanças ambientais posteriores.
Ainda é necessário maior investigação para compreender plenamente por que as sucuris, diferentemente de outros gigantes antigos, conseguiram manter seu tamanho colossal através de milhões de anos de mudanças climáticas e ecológicas.
Com Informações de: Live Science
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