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Desigualdades de gênero no mercado brasileiro vão além da empregabilidade, aponta relatório de transparência salarial – Brasil de Fato

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Dado foi revelado o 3º Relatório de Transparência Salarial, dos ministérios do Trabalho e das Mulheres

No Brasil, as mulheres trabalhadoras recebem, em média, 20,9% menos que os homens, cumprindo exatamente as mesmas funções. O dado foi revelado pelo 3º Relatório de Transparência Salarial, divulgado no começo de abril pelo Ministério do Trabalho e Emprego, em parceria com o Ministério das Mulheres.

Por outro lado, destaca a subsecretária de Estatísticas e Estudos do Trabalho, do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), Paula Montagner, o relatório constata o aumento para 40,6% no número de mulheres no mercado de trabalho e uma expansão da massa salarial das trabalhadoras entre 2023 e 2024.

“A primeira coisa que chamou a atenção foi que a gente, entre 2023 e 2024, gerou 1 milhão de novos postos celetistas para essas empresas [que participaram do relatório]. Gerou mais para as empresas de 100 empregados ou mais. E metade disso foi ocupado por mulheres, metade por homens. Essa é uma coisa que é importante. A segunda coisa que a gente viu foi que aumentou a massa de rendimento das mulheres”, afirma.

Rosane Silva, secretária Nacional de Autonomia Econômica do Ministério das Mulheres, destaca que os avanços registrados pelo 3º relatório comprovam o acerto do governo federal em apoiar e articular a aprovação da Lei nº 14.611, de 3 de julho de 2023, que ficou conhecida como a Lei de Igualdade Salarial.

“A Lei de Igualdade Salarial, a Lei 14.611 de 2023, começa a dar os seus primeiros resultados positivos. Portanto, foi um acerto do presidente Lula, foi um acerto do governo federal em apresentar a lei que regulamenta que as empresas precisam mostrar o seu relatório de salário de mulheres e homens e, a partir disso, a gente conseguir ir medindo essa diferença e construindo políticas que vá reduzindo essa desigualdade pra gente chegar a uma igualdade plena”, afirma a secretária.

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Adriana Marcolino, diretora técnica do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), avalia que, embora tenha havido avanços em matéria de empregabilidade das mulheres nos últimos anos, a desigualdade persistente mostra que é preciso políticas complexas e intersetoriais para intervir nessa realidade.

“O primeiro grande papel desse relatório é apresentar à sociedade que o problema existe, é concreto, real e persistente. E que, portanto, não há soluções fáceis e rápidas para sua alteração. O que a gente tem visto é que, de fato, mesmo a participação das mulheres e das mulheres negras aumentando no mercado de trabalho, há uma persistência das desigualdades”, avalia Marcolino.

Racismo estrutural

Essa disparidade é ainda maior quando se considera a raça. Em 2024, mulheres negras ganhavam 47,5% do que os homens não negros. Em 2023, o percentual era de 50,3%. Números considerados “absurdos” pela diretora técnica do Dieese.

“É muito absurdo, é inacreditável que a gente como sociedade não olhe para um número desse, diga: ‘Não, basta, chega, temos que mobilizar a sociedade de modo potente para transformar essa realidade’. Eu acho que é importante destacar que o assalariamento das mulheres no mercado de trabalho brasileiro começa ali na década de 70, depois aumenta na década de 90 e 80 e a gente tem aí um crescimento pequeno, mas contínuo desde então. Agora, a participação das mulheres negras no mercado de trabalho é grande desde a transição do trabalho escravo ao trabalho assalariado”, destaca Marcolino.

“As mulheres negras sempre estiveram de forma muito presente no mercado de trabalho. Acontece que mesmo ao longo de todo esse período, desde o início do trabalho assalariado no Brasil, não houve nenhuma política que de fato garantisse que essas mulheres pudessem acessar o mercado de trabalho em condições dignas. E quando a gente olha então para esse conjunto de elementos, a gente precisa de um conjunto de políticas para inserir as mulheres no mercado de trabalho, mas não é possível que nessas políticas a gente não tenha uma um recorte de raça, porque quando se coloca essas duas questões juntas, gênero e raça, a gente vê como as mulheres negras estão numa situação de ainda maior desvantagem”, completa.

Política de cuidados

As especialistas convergem sobre a necessidade de políticas intersetoriais para a superação da desigualdade salarial e de outro problema grave que afeta as mulheres: a dupla, e às vezes tripla jornada.

“A discussão da economia do cuidado é muito importante porque ela vai fazer a gente olhar para esse lado em que ocupações são majoritariamente trabalhadas por mulheres, muitas vezes sem nenhuma remuneração”, ressalta a subsecretária do MTE, Paula Montagner.

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Já Marcolino destaca a Política Nacional de Cuidados, aprovada em 2024 pelo Congresso Nacional, como um instrumento a mais na luta pela igualdade de condições entre homens e mulheres.

“As mulheres ainda são aquelas que têm a maior jornada na tarefa de cuidados. E o que isso resulta na sua inserção no mercado de trabalho? Primeiro que as mulheres acabam mesclando períodos no trabalho remunerado e fora dele, porque eventualmente elas precisam sair do mercado de trabalho para dar conta das tarefas de cuidado. A outra questão é que muitas vezes as mulheres precisam fazer jornadas menores de trabalho remunerado para conseguir compatibilizar com a jornada de cuidados”, destaca a diretora do Dieese, recorrendo uma vez mais ao recorte racial.

“Particularmente as mulheres negras, que acabam tendo que optar por soluções informais para conseguir inclusive fazer essa organização da vida pessoal e da dimensão do trabalho remunerado.”

Lei da Igualdade Salarial

O relatório de transparência salarial está previsto na Lei nº 14.611, de 3 de julho de 2023, que ficou conhecida como a Lei de Igualdade Salarial. A legislação determina que empresas com mais de 100 empregados publiquem relatórios de transparência salarial. O MTE e o Ministério das Mulheres lançaram um plano que vai auxiliar na implementação da lei e no alcance da igualdade no trabalho. Como explica Montagner.

“Nós estamos lançando um plano nacional de políticas públicas que envolvem ações de direito, do Ministério de Igualdade Racial, do Ministério dos Direitos Humanos, do Ministério das Mulheres, do Ministério do Trabalho, da Previdência, do Ministério do Desenvolvimento Econômico e Social, e, na verdade, é a soma de todas essas ações que vão gerar boas práticas e que vão gerar esta informação chegando em todo o território e chegando com credibilidade”, argumenta a funcionária.

A secretária do Ministério das Mulheres, Rosane Silva, explica que o plano está dividido em 80 ações, visando mitigar as desigualdades enfrentadas pelas mulheres no mercado de trabalho, considerando questões como responsabilidades familiares e critérios de ascensão.

“Ele [o plano] está dividido em três eixos. Um eixo de entrada das mulheres no mercado de trabalho, um segundo eixo de permanência de mulheres neste mercado e um terceiro eixo que é a ascensão profissional das mulheres, porque a gente sabe que muitas vezes as mulheres não conseguem entrar, quando elas entram, elas acabam não permanecendo porque tem um conjunto de outras situações que as mulheres vivem, como a o tema do cuidado, as responsabilidades familiares, que leva muitas vezes as mulheres ter que abrir mão do seu emprego formal para poder cumprir a função da do cuidado da família, seja das crianças, dos doentes, dos idosos, mas até mesmo o cuidado cotidiano das suas casas. E também muitas vezes as mulheres entram, permanecem, mas elas acabam não ascendendo profissionalmente”, explica Silva.

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Segundo Montagner, o MTE começou a notificar as empresas que não fizeram o download do relatório para que o façam. “A gente está num processo de dar espaço e garantir para as empresas que nossa briga não é pela multa, nossa briga é pela mudança de cultura. A gente quer que todas as empresas parem, olhem para a situação dos seus trabalhadores e entendam que essa desigualdade é prejudicial. Ela não ajuda a gente a crescer e a crescer por igual para que todo mundo caminhe no mesmo passo”, finaliza.


Fonte: Brasil de Fato

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Ministra das Mulheres defende atuação integrada entre União, estados e municípios para combater a violência de gênero

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Durante o III Encontro Nacional com Gestoras das Casas da Mulher Brasileira, a ministra das Mulheres, Márcia Lopes, defendeu a necessidade de uma atuação integrada e intersetorial entre os diferentes níveis da Federação para o enfrentamento à violência de gênero. Segundo a ministra, o cumprimento do dever do Estado e a resposta às demandas das mulheres dependem da articulação entre o governo federal, estados e municípios, em consonância com o pacto federativo da Constituição de 1988

A ministra Márcia Lopes destacou a centralidade das mulheres nas políticas públicas — visto que elas são a maioria da população — e a urgência de uma resposta integrada e transversal do Estado.

Pacto Federativo e Intersetorialidade 🤝

A ministra enfatizou que a solução para os problemas do Brasil não está concentrada apenas em Brasília, mas exige o cumprimento do pacto federativo e a articulação entre as esferas de governo.

  • Compromisso de Todas as Áreas: “Nós não vamos dar conta da política para as mulheres sem o compromisso e a presença de todas as áreas de governo,” afirmou a ministra, ressaltando que isso deve se aplicar aos níveis federal, estadual e municipal.

  • Transversalidade: As políticas para as mulheres devem ser intersetoriais e transversais, contando com a participação de todas e todos os gestores.

O evento, realizado em Campo Grande (MS), reuniu gestoras de 13 estados e do Distrito Federal para discutir avanços, desafios e estratégias de fortalecimento da rede de proteção às mulheres em situação de violência.

A Casa da Mulher Brasileira: Um Modelo Integrado 🏛️

Campo Grande é a sede da primeira unidade da Casa da Mulher Brasileira, inaugurada em 2015, que serve como um modelo de atendimento integrado e centrado na vítima.

  • Funcionamento: O equipamento funciona 24 horas por dia, todos os dias da semana.

  • Serviços Especializados: Oferece diversos serviços no mesmo local, priorizando a escuta e a segurança da mulher, com o objetivo de possibilitar um projeto de vida autônomo.

  • Apoio Multidisciplinar: Inclui acolhimento e triagem, apoio psicossocial, alojamento de passagem, serviços de saúde, central de transportes, promoção da autonomia econômica e áreas jurídicas (Delegacia, Promotoria, Defensoria e Juizados/Varas de Violência Doméstica).


Com informações: Ministério das Mulheres, PT

 

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Milhares de pessoas protestam em capitais brasileiras contra o feminicídio e a violência de gênero

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Manifestações organizadas pelo movimento nacional Mulheres Vivas reuniram milhares de pessoas em diversas capitais brasileiras no domingo, 7 de dezembro de 2025, em resposta ao aumento da violência de gênero. Os atos ocorreram após uma série de feminicídios recentes e em um contexto onde o Brasil registrou 1.492 feminicídios em 2024, o maior número desde 2015, ano da tipificação penal.


Mobilização Nacional e Presenças Notáveis 🇧🇷

Os protestos aconteceram em capitais como São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Curitiba, Belo Horizonte, Fortaleza, Recife, Teresina, Manaus e Boa Vista, com manifestantes erguendo cartazes com apelos por justiça e mensagens como “misoginia mata” e “nenhuma a menos”.

  • Brasília: O ato na capital federal contou com a presença de seis ministras do governo, incluindo Cida Gonçalves (Mulher), Anielle Franco (Igualdade Racial) e Gleisi Hoffmann (Relações Institucionais), além da primeira-dama Janja Lula da Silva e diversas lideranças populares.

  • São Paulo: A manifestação começou em frente ao Masp, onde a Polícia Militar acompanhou o protesto após a deputada Érika Hilton ter criticado o anúncio do governo de Tarcísio de Freitas de não fornecer proteção policial.

  • Belo Horizonte e Curitiba: Milhares de pessoas marcharam em Belo Horizonte da Praça Raul Soares até a Praça da Estação, enquanto em Curitiba, o coro “Mulheres Vivas” ecoou no Largo da Ordem, denunciando a impunidade.


Dados Alarmantes e Casos Recentes 🚨

Os protestos ganharam urgência diante dos dados crescentes de violência e dos casos recentes que chocaram o país:

  • Recorde de Feminicídios: Em 2024, o Brasil atingiu o número recorde de 1.492 feminicídios.

  • Aumento em São Paulo: O estado de São Paulo, por exemplo, contabilizou 53 feminicídios em 2025, um aumento de 10% nos assassinatos de mulheres por razão de gênero desde janeiro.

  • Onda de Violência: A mobilização foi convocada após crimes como o assassinato da cabo do Exército Maria de Lourdes Freire Matos (25 anos) em Brasília, que foi confessado pelo soldado Kelvin Barros da Silva; o caso de Tainara Souza Santos, que teve as pernas mutiladas após ser atropelada e arrastada por Douglas Alves da Silva; e a morte a tiros de duas funcionárias do Centro Federal de Educação Tecnológica (Cefet-RJ), no Rio de Janeiro.

O movimento pede a responsabilização de agressores e o fim do avanço da violência de gênero no país.


Com informações:  Opera Mundi

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Brumadinho: 70% dos domicílios relatam adoecimento físico e mental sete anos após a tragédia

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Estudo da UFMG confirma que a população de Brumadinho ainda sofre impactos estruturais e persistentes do rompimento da barragem da Mina Córrego do Feijão, com 70% dos domicílios relatando algum tipo de adoecimento e 75% enfrentando problemas na qualidade e fornecimento de água.

Impactos na saúde e insegurança sanitária persistem em Brumadinho

Aproximando-se do marco de sete anos do rompimento da barragem de rejeitos da Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG), um novo estudo da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), realizado por pesquisadores do Projeto Brumadinho, revela a persistência de impactos socioambientais profundos na vida dos moradores. A tragédia, que resultou na morte de 272 pessoas e em um desastre ambiental sem precedentes, continua a afetar a saúde e o cotidiano da população.

O levantamento indica que 70% dos domicílios no município relataram algum tipo de adoecimento físico ou mental, o que sugere que os problemas de saúde se tornaram estruturais e recorrentes.

Adoecimento e pressão na rede de saúde

Os dados do estudo destacam que sintomas como estresse, insônia, ansiedade, hipertensão e episódios depressivos continuam frequentes entre os moradores. O cenário psicológico é reforçado pelo dado de que 52% dos adultos da cidade passaram por algum tipo de tratamento psicológico ou psiquiátrico desde o desastre.

Nayara Porto, presidente da Associação dos Familiares de Vítimas e Atingidos pelo Rompimento da Barragem Mina Córrego do Feijão (Avabrum), manifestou tristeza com os resultados, afirmando que a pesquisa “confirma que a população de Brumadinho continua sofrendo”. A presidente citou relatos de familiares que desenvolveram doenças crônicas como diabetes, lúpus, câncer, dermatites crônicas e problemas cardíacos, além de um visível aumento no uso de ansiolíticos.

Ao mesmo tempo em que a demanda por acompanhamento especializado e o relato de piora de doenças crônicas aumentam, a pesquisa aponta que 76% dos domicílios enfrentam dificuldades para acessar consultas, exames e tratamentos. A rede pública de saúde local está pressionada pelo volume de atendimentos e pelas alterações na mobilidade urbana causadas pelo desastre.

Medo de contaminação e a “lama invisível”

A insegurança sanitária é um dos pilares da persistência do sofrimento na rotina dos moradores. O levantamento revela que 77% das famílias convivem com o medo constante de contaminação dos alimentos.

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Um dos fatores centrais para essa desconfiança é a presença contínua de metais pesados – como manganês, arsênio, chumbo, mercúrio e cádmio – em diferentes matrizes ambientais, conforme aponta o estudo.

A água permanece como o principal vetor de risco e desconfiança:

  • 85% dos domicílios relatam impactos negativos no uso da água para consumo.

  • 75% dos moradores afirmam que o fornecimento e a qualidade da água estão comprometidos.

Josiane Melo, diretora da Avabrum, utilizou o conceito de “lama invisível” para traduzir a desconfiança generalizada sobre o consumo de bens produzidos no território, destacando que “é inadmissível conviver com insegurança hídrica, adoecimento e medo tantos anos depois” do desastre. Ela concluiu que o estudo demonstra que “a vida não voltou ao lugar”.

Perdas econômicas e a necessidade de diversificação

O desastre de 2019 também gerou perdas econômicas expressivas para o município. O professor Ricardo Machado Ruiz, um dos autores do estudo, explicou que a mineração desempenhava um papel central na economia local.

Segundo a análise, no longo prazo, Brumadinho poderia perder entre R$ 7 bilhões e R$ 9 bilhões de Produto Interno Bruto (PIB) se nenhuma medida de reparação fosse aplicada. Com o acordo firmado em 2021 e a aplicação dos recursos previstos, o prejuízo estimado cai para algo entre R$ 4,2 bilhões e R$ 5,4 bilhões. Contudo, o dano econômico não desaparece, e a região passa a depender da estrutura de reparação.

O professor Ruiz detalhou que a reparação absorveu trabalhadores e ajudou a reduzir os efeitos econômicos imediatos do rompimento. No entanto, o desastre enfraqueceu pequenos negócios e atividades informais, e o futuro da economia local depende da diversificação. “Se nada for feito para substituir aquela atividade mineradora, ainda restará essa perda bilionária dentro do município”, finalizou o pesquisador.


Com informações:  Agência Brasil

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