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Eletrobras contraria plano energético e retoma projetos para erguer megausinas no Tapajós

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Há oito anos, as usinas do Tapajós estão fora do Plano Decenal de Energia, devido à sua inviabilidade ambiental. Efeitos danosos são inquestionáveis, diz especialista

Na contramão do planejamento de expansão energética do país, a Eletrobras decidiu retomar seu plano de erguer um conjunto de grandes hidrelétricas na Amazônia, em área com presença comprovada de povos indígenas e que já foi, inclusive, alvo de vedação ambiental por parte do governo federal.

((o))eco apurou que a companhia encaminhou, nesta semana, um pedido formal à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), para que o órgão renove o registro e o “aceite técnico” para a construção da hidrelétrica de São Luiz do Tapajós, o maior projeto hidrelétrico do país, que teria capacidade de gerar 8.040 megawatts (MW) de energia, só inferior à potência das usinas de Belo Monte e de Tucuruí, também construídas no Pará. Seu reservatório, previsto para ser formado numa área extremamente preservada da floresta, dona de diversas unidades de conservação, teria nada menos que 1.368 km², quase o equivalente ao tamanho do município de São Paulo.

A retomada do plano hidrelétrico da empresa também inclui outros projetos polêmicos. Assim como fez com a usina do Tapajós, a companhia solicitou autorização para seguir adiante com os estudos da usina Jatobá, com potência estimada em 1.649 MW. Foi apresentado, ainda, requerimento para renovar os estudos das usinas de Marabá (2.160 MW) e Tabajara (400 MW).

Os pedidos preveem o prazo de 36 meses de validade para que a companhia conclua suas análises e busque o licenciamento ambiental das usinas junto ao Ibama. Como a Aneel é um órgão voltado ao setor elétrico e não entra na seara do meio ambiente, a tendência é de que a agência aprove as solicitações, como já fez com outras demandas de prorrogação entregues recentemente pela gigante do setor elétrico.

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As investidas da Eletrobras, companhia que passou por um processo de privatização e que hoje tem o governo reduzido a uma fatia minoritária 46,58%, contrariam frontalmente o que está previsto no Plano Decenal de Energia (PDE), um estudo que é atualizado todos os anos pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), com o objetivo de identificar quais as necessidades de aumento de produção de energia no Brasil nos dez anos seguintes, a partir de projeções de crescimento da economia.

Plano Nacional de Energia

Desde 2017, as usinas do Tapajós estão fora das edições do plano decenal de energia, devido à sua inviabilidade ambiental. Em agosto do ano anterior, o Ibama decidiu arquivar o processo de licenciamento de São Luiz do Tapajós. Depois de analisar todo o material apresentado pela Eletrobras e as demais empresas que, por meio de um consórcio, tentavam avançar com o projeto, a então presidente do Ibama, Suely Araújo, decidiu pelo arquivamento do pedido, ao concluir que “o projeto apresentado e seu respectivo Estudo de Impacto Ambiental (EIA) não possuem o conteúdo necessário para análise da viabilidade socioambiental”, além de terem extrapolado o prazo legal previsto para apresentar os complementos que o órgão ambiental havia pedido.

Passados oito anos, portanto, esses projetos não constavam mais dos planos de expansão elétrica nacional, o qual passou a conviver, neste período, com projetos bilionários de geração eólica e solar, em complemento à geração hídrica, que continua a ser a principal do país.

Em seu pedido levado à Aneel, a Eletrobras argumenta que pretende encarar, novamente, os órgãos de anuência do licenciamento. “As ações para licenciamento demandaram também interações junto à Fundação Nacional dos Povos Indígenas – FUNAI e Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade – ICMBio, não tendo sido, até o presente momento, contudo, alcançado pleno consenso sobre o necessário ao avanço das medidas para autorização da implantação na localidade almejada”, declara a empresa.

Segundo a Eletrobras, “observada a complexidade do avanço das tratativas necessárias”, a companhia “tem examinado com cautela as ações necessárias ao almejado desenvolvimento do empreendimento”. A empresa afirma que a renovação das autorizações pelo “prazo adicional de 36 meses” vai permitir novos estudos, “até que se alcance clareza sobre a viabilidade da continuidade de sua execução à luz das dificuldades já salientadas”.

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A reportagem questionou a Eletrobras sobre o motivo de ter retomado projetos que foram estudados por mais de uma década e que não se mostraram viáveis do ponto de vista ambiental. Por meio de nota, a empresa declarou que “a Eletrobras segue em busca de investimentos em fontes renováveis, que incluem projetos hidrelétricos”.

Segundo a companhia, as autorizações vão permitir que a Eletrobras “realize os estudos de viabilidade técnica”. “Como os projetos ainda estão na fase de estudos, não há nenhuma decisão tomada sobre o tema.”

Suely Araújo, que arquivou os pedidos em 2016, quando presidia o Ibama, afirmou à reportagem que o projeto da São Luiz do Tapajós não tem qualquer viabilidade. “Seus efeitos danosos sobre o meio ambiente e sobre as populações indígenas são gigantescos. Isso ficou bem claro quando o Ibama analisou o processo no qual se requeria a Licença Prévia para o empreendimento. A inconsistência técnica do projeto apresentado e respectivo Estudo de Impacto Ambiental estavam patentes”, disse.

Atual coordenadora de políticas públicas do Observatório do Clima, Araújo lembrou que a Funai também se manifestou, à época, pela inviabilidade do projeto, em razão de impactos irreversíveis e da necessidade de remover grupos indígenas de seus territórios tradicionais. “Minha decisão em 2016, como presidente do Ibama, respaldada pelos diretores da autarquia, foi pelo arquivamento do processo e eu não teria qualquer dúvida de fazer isso novamente”, declarou.

Em março, a Eletrobras conseguiu convencer a Aneel a renovar o prazo para estudos de outras três usinas no Rio Jamanxim, um dos principais afluentes do Tapajós. A empresa foi autorizada a seguir com os levantamentos relacionados às hidrelétricas do Jamanxim, Cachoeira do Caí e Cachoeira dos Patos, todas consideradas extremamente danosas para a preservação ambiental.

Em termos práticos, a Eletrobras converteu esses projetos em grandes centros de estudos. Pelo menos R$ 130 milhões já foram gastos em levantamentos que nunca se consumaram em empreendimentos, mas que a companhia insiste em avançar.

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Confiança do consumidor sobe pelo segundo mês consecutivo

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Segundo os dados, em médias móveis trimestrais, o índice ficou praticamente estável, variando 0,1 ponto, para 91,1 pontos

O Índice de Confiança do Consumidor (ICC) do FGV IBRE subiu 1,8 ponto em julho, para 92,9 pontos, em sua segunda alta consecutiva. Os dados foram divulgados nesta quinta-feira (25/7) pela Fundação Getulio Vargas (FGV).

Em médias móveis trimestrais, o índice ficou praticamente estável, variando 0,1 ponto, para 91,1 pontos. “Em julho, a confiança dos consumidores aumentou pela segunda vez consecutiva, motivada principalmente pela melhora nas expectativas para os próximos meses, com forte alta do indicador de situação financeira futura das famílias”, disse Anna Carolina Gouveia, economista do FGV IBRE.

Para Gouveia, a avaliação dos consumidores sobre a situação presente, por outro lado, ficou estável no mês e continua caminhando de lado.

“O aumento da confiança continua sendo impulsionado, majoritariamente, pelas faixas de renda mais baixas. Esse resultado parece estar alinhado com um mercado de trabalho mais aquecido e controle da inflação, fatores preponderantes para formar a percepção dos consumidores dessa faixa.”, afirma a economista do FGV IBRE.

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Em julho, a alta da confiança foi influenciada pelas expectativas em relação aos próximos meses enquanto nas avaliações sobre o momento atual ocorreu estabilidade. O Índice de Expectativas (IE) avançou em 3,0 pontos, para 101,1 pontos, em sua segunda alta consecutiva. Por outro lado, o Índice da Situação Atual (ISA) estabilizou em 81,6 pontos, mantendo-se no maior nível desde novembro de 2023 (82,0 pontos).

Entre os quesitos que compõem o ICC, o que mede as perspectivas para as finanças futuras das famílias foi o que apresentou a maior contribuição para a alta da confiança no mês ao avançar 6,7 pontos, para 107,1 pontos, maior nível desde agosto de 2023 (107,5 pontos).

No mesmo sentido, o que mede o ímpeto de compras de bens duráveis aumentou pela segunda vez consecutiva, agora em 2,7 pontos, para 84,0 pontos. Apenas as perspectivas para a situação futura da economia apresentaram resultado negativo no mês ao recuar 0,9 ponto, para 109,4.

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‘Nosso futuro está em risco’, diz Bela Gil em debate sobre agrotóxicos no Armazém do Campo

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Em mesa com pesquisadora Larissa Bombardi, apresentadora defendeu que combate a veneno nas lavouras deve entrar na pauta

Dos dez agrotóxicos mais vendidos no Brasil, cinco são proibidos na União Europeia. Esse e outros dados foram apresentados pela pesquisadora Larissa Bombardi no lançamento do livro Agrotóxicos e colonialismo químico (Editora Elefante, 2023), realizado nesta quarta-feira (24) no Armazém do Campo, em São Paulo.

“Como pode a gente valer menos? Como pode que sejamos sub-humanos? Porque é isso que esses dados estão mostrando”, questionou a pesquisadora.

O evento teve a presença da apresentadora Bela Gil e do comunicador popular Guilherme Terreri, também conhecido como Rita von Hunty, que dividiram a mesa com Larissa. A conversa teve como ponto de partida a ideia de que os agrotóxicos não são um assunto de interesse somente dos agricultores, mas de toda a sociedade.

“A gente está colocando em risco a nossa vida, o nosso futuro”, frisou Bela Gil. “A gente sabe que o nosso sistema alimentar influencia muito a questão climática”.

No livro, Larissa apresenta dados e mapas que permitem uma compreensão sociológica dos impactos dos agrotóxicos. Enquanto os efeitos desses venenos prejudicam a saúde da população, o sistema que os utiliza – a produção de commodities – causa danos ao meio ambiente e ao modo de vida dos povos do campo.

Conforme a pesquisa, as principais vítimas são as mulheres, crianças, indígenas e camponeses que vivem em áreas próximas às áreas de monocultura. “A noção de que esse é um debate de um setor econômico, de um setor produtivo, não é”, ressaltou Terreri. “Esse é um debate sobre a saúde do nosso povo e do nosso território”, ressalta o educador.

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A cada ano, um milhão de pessoas em todo o mundo são intoxicadas de forma involuntária por meio do contato com agrotóxicos. No Brasil, entre 2010 e 2019, o Ministério da Saúde registrou a intoxicação de 56.870 pessoas por essas substâncias, segundo a ONG WWF. Apesar disso, em 2022, o senador Blairo Maggi protocolou em 2022 um projeto de lei que propunha, entre outras medidas, a mudança do nome “agrotóxico” para “pesticidas”.

“É uma disputa também não só do uso, mas da ideologia, de mudar o pensamento do consumidor para passar a ideia de que essas coisas que fazem mal, fazem bem”, avalia o designer Gabriel Bispo, que assistiu à conversa. “É uma coisa muito mais profunda do que a gente imagina”.

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Subsídios e benefícios fiscais custam ao Brasil mais que o dobro do que BPC e Bolsa Família

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Valor que governo deixar de arrecadar em incentivos ultrapassa R$ 615 bilhões; Bolsa Família e BCP custam R$ 268 bilhões

O gasto do governo federal com benefícios fiscais e subsídios em taxas de juros deve superar o dobro do custo anual de todas parcelas do Bolsa Família e do Benefício de Prestação Continuada (BPC) pagas a mais de 25 milhões de pessoas neste ano. Juntos, esses programas sociais custarão R$ 268 bilhões à União, segundo o Orçamento. O chamado “gasto tributário” deve superar os R$ 615 bilhões – 129% a mais.

O valor desse gasto tributário foi revelado pela ministra do Planejamento, Simone Tebet (MDB). Ele considera o custo do governo com renúncias fiscais, que ultrapassam os R$ 520 bilhões, mais o gasto com subsídios financeiros e creditícios. Esses subsídios são descontos em taxas de juros de empréstimos usando recursos públicos.

Tebet falou sobre esse gasto ao ser questionada sobre o aumento do gasto do governo com BPCs neste ano, informado pelo governo na segunda-feira (22). Combinado com regras do novo arcabouço fiscal, o crescimento forçou o Executivo a bloquear cerca de R$ 11,2 bilhões em gastos não obrigatórios previstos para este ano.

A ministra falou que o governo está comprometido com o controle de gastos para o cumprimento de suas metas fiscais. Ela ressaltou que o problema das contas públicas do país não está ligado aos programas sociais, mas sim aos incentivos fiscais.

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“O problema dos gastos no Brasil não é o pobre no orçamento. São os privilégios dos ricos que precisam ser checados ponto a ponto nos gastos tributários”, afirmou ela. “O problema do orçamento brasileiro não está no Bolsa Família, nos programas sociais bem aplicados.”


Arcabouço

arcabouço fiscal estabelece um limite de gasto baseado no valor da arrecadação do governo. Quanto ele arrecada, mais pode gastar.

Neste ano, o limite é de R$ 2,105 trilhões, baseado na arrecadação de 2023. Se a arrecadação tivesse sido maior, a despesa poderia crescer mais.

Hoje, por conta do aumento dos gastos com BPC, a despesa está prevista em R$ 2,116 trilhões. O valor supera o limite e forçou o corte de gastos.

Mesmo com o corte, o governo pretende gastar R$ 28,8 bilhões a mais do que o que arrecadar em 2024.

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Arrecadação

O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) já enviou uma série de medidas para aumentar a arrecadação da União ao Congresso Nacional. Elas visam, principalmente, reduzir benefícios tributários dados à fatia mais rica da população.

Por iniciativa do governo, a Receita Federal passou a cobrar imposto de renda sobre rendimentos de fundos offshores, para os quais ricos enviam recursos para fora do país, e também sobre fundos exclusivos de super-ricos, que têm mais de R$ 10 milhões de saldo.

Ainda assim, os gastos tributários seguem crescendo, segundo dados da Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil (Unafisco Nacional). A entidade considera em sua conta, além dos benefícios previstos em lei, as omissões da Receita na taxação das grandes fortunas e dos chamados lucros distribuídos em forma de dividendos.

Na conta da Unafisco Nacional, o total dos gastos tributários para o ano de 2024 é de R$ 789,6 bilhões – 46,9% mais do que em 2023, quando chegou a R$ 537,5 bilhões.

Privilégios

Parte desses gastos, aliás, são considerados pela Unafisco privilégios tributários. São gastos com setores ou grupos específicos sem contrapartida adequada, notória ou comprovada para o desenvolvimento econômico sustentável ou redução das desigualdades.

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Os dois principais privilégios são justamente a omissão para a cobrança do imposto sobre fortunas e sobre dividendos. Eles acarretam um gasto tributário anual de R$ 160 bilhões e R$ 76 bilhões, respectivamente.

O Bolsa Família, pago a cerca de 20,8 milhões de pessoas, vai custar R$ 168 bilhões ao governo em 2024. Já o BPC, pago a outras 5,9 milhões de pessoas sem fonte de renda, custa outros R$ 100 bilhões.

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Fato Novo com informações e imagens: Brasil de Fato

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