Ciência
Apple remove emulador de Game Boy para iPhone da App Store

Lançado no domingo, 14 de abril, o iGBA oferecia um emulador de jogos de Game Boy para iOS
A Apple decidiu remover o emulador de Game Boy para iPhone da App Store logo após aprovar o aplicativo no fim de semana. O app chamado iGBA foi um dos primeiros a tirar proveito das novas regras adotadas após reguladores da UE forçaram a big tech a abrir seu ecossistema para lojas de aplicativos de terceiros.
Uma delas é a AltStore, que visa justamente oferecer emuladores para usuários de iPhone (algo bem mais comum no Android).
Emulador de Game Boy na App Store
- Lançado no domingo, 14 de abril, o iGBA oferecia um emulador de jogos de Game Boy para iOS.
- Como outros emuladores, o aplicativo permitia baixar jogos de Game Boy Advance e Game Boy Color para jogar no iPhone.
- O software é uma cópia com anúncios de um projeto de código aberto chamado GBA4iOS, que também oferece jogos de Game Boy no iOS.
- O aplicativo foi submetido à App Store sem a permissão do desenvolvedor do GBA4iOS, Riley Testut.
- O desenvolvedor disse em um post no Threads que não deu permissão para a Apple aprovar o iGBA.
- “Eu não dei permissão a ninguém para fazer isso, mas agora está no topo das paradas (apesar de estar cheio de anúncios e rastreamento)”, disse.

Apesar de permitir cópias baseadas no seu emulador GBA4iOS, como estabelece a licença GNU GPL v2, Testut adicionou uma restrição personalizada que proibia a distribuição na App Store de qualquer trabalho contendo o código original.
Emulador também violou regras da Apple
A Apple agiu e removeu o iGBA do ar por violar diretrizes da App Store sobre spam e direitos autorais, já que copiava e tentava se passar pelo trabalho de outro desenvolvedor (Via: Techcrunch).

A empresa Cupertino foi pressionada a tornar a App Store mais aberta graças à Lei dos Mercados Digitais da União Europeia. Após uma atualização nas regras para cumprir o novo regulamento, a Apple anunciou que também suportaria lojas de jogos em todo o mundo. O suporte adicional para emuladores de jogos, por sua vez, chegou este mês.
Ciência
O que são os “alinhamentos planetários” de 2025

Desde o fim do ano passado, a mídia vem anunciando alinhamentos planetários raros para o início de 2025
No entanto, diferentes matérias apontam diferentes datas e diferentes conjuntos de planetas. Além disso, a divulgação faz parecer que “alinhamento” é algo raro quando, na verdade, raro mesmo é poder ver vários planetas na mesma noite e ao mesmo tempo. E, para completar, o tal “alinhamento” de visibilidade é apenas aparente, uma percepção nossa aqui da Terra, o que é diferente de um alinhamento verdadeiro no espaço, o que também vai acontecer em janeiro e em fevereiro, em alguns momentos.
Os planetas do Sistema Solar
Desde que Plutão deixou de ser considerado um planeta, em 2006, o Sistema Solar passou a ser composto por oito deles (Mercúrio, Vênus, Terra, Marte, Júpiter, Saturno, Urano e Netuno), e todos fazem um movimento orbital (“revolução”) ao redor da única estrela do pedaço (o Sol). Mas cada planeta tem sua distância própria do Sol, o que faz com que cada órbita seja diferente das demais. O planeta mais próximo do Sol é Mercúrio; o mais distante, Netuno. A velocidade média do movimento orbital também é uma característica particular: quanto mais próximo do Sol, mais rapidamente o planeta viaja.
Outra característica interessante do Sistema Solar é que os movimentos orbitais compartilham, aproximadamente, o mesmo plano. Para entender o que isso significa, imagine que o Sol é uma bola de futebol no centro do campo, e os diferentes planetas são pequenas bolinhas de gude em movimento ao redor dele: os movimentos de revolução das bolinhas ocorre sobre o mesmo plano (a superfície do campo), sem que, ao longo do percurso, “voem” ou “afundem” de forma significativa. No Sistema Solar, os planos orbitais dois oito astros não são exatamente iguais, mas as diferenças são realmente pequenas.
E é exatamente isso que faz com que, sempre (vou repetir: sempre!) que se observar um planeta, aqui da Terra, ele estará em uma posição do céu que fica na vizinhança imediata de plano imaginário chamado “eclíptica”, que é justamente o plano descrito pelo movimento aparente do Sol, como visto aqui da Terra, ao longo do dia. Com isso, pode-se concluir facilmente que planetas “alinhados” sobre a eclíptica não é um evento raro. É um evento cotidiano e obrigatório.
Mas por que isso está chamando atenção agora? Porque o que não é frequente é que tenhamos a possibilidade de contemplar vários planetas ao mesmo tempo, na mesma noite, cada um em um local diferente do céu, para que possamos “ligar os pontos” entre eles e perceber que (como deve mesmo ser, sempre) eles estão “alinhados”.
O “Desfile Planetário”
Por conta do movimento de rotação terrestre (aquele que ela executa ao redor de seu próprio eixo), os astros parecem nascer a leste e se pôr a oeste. O Sol é o exemplo mais óbvio, mas, caso você nunca tenha reparado, isso também vale para a Lua, para os planetas e para as demais estrelas. Agora, como cada planeta tem uma órbita com um tamanho específico e uma velocidade média que lhe é particular, isso faz com que seja difícil calhar um dia (ou uma noite, no caso) em que, do ponto de vista de alguém na Terra, vários planetas estejam em regiões apropriadas das suas órbitas para que surja uma janela temporal de oportunidade para a observação simultânea de um conjunto deles.
Essa possibilidade de observação conjunta dos planetas não tem um nome específico na Astronomia, mas o termo “desfile planetário” (ou “planetary parade”, disseminado nas publicações em inglês) tem ganhado as manchetes. O motivo é que, enquanto os planetas estão visíveis no céu, todos eles estarão “em marcha” de leste a oeste – por conta da rotação da Terra – e, como discutimos, “perfilados” nos arredores da eclíptica.
Cabe ressaltar, ainda, que apenas cinco planetas do Sistema Solar são visíveis a olho nu: Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e Saturno. Portanto, quanto mais membros desse subgrupo estiverem no “desfile”, mais ímpeto costuma ter a divulgação do evento. Nas noites em que Urano e Netuno estão no céu, também é possível observá-los, mas somente com auxílio de telescópios.
Alinhamento aparente
O alinhamento dos planetas nas cercanias da eclíptica durante os “desfiles” é apenas aparente, surgindo por conta de todos os planetas se moverem, como vimos, aproximadamente no mesmo plano no espaço. No entanto, existem momentos em que o alinhamento de astros de fato ocorre: como ensina a geometria escolar, dois pontos definem uma reta; assim, a Terra está sempre “alinhada” com qualquer um dos demais planetas, se considerarmos cada planeta um ponto no espaço. Quando as linhas imaginárias que ligam a Terra a dois ou mais planetas se aproximam, o que vemos daqui é um “encontro” celeste (ou uma “conjunção”, tecnicamente falando): do nosso ponto de vista, os astros parecem chegar bem perto do outro, embora no espaço estejam bastante afastados.
Caso um dos astros passe efetivamente na frente do outro, podemos testemunhar os “trânsitos” ou as “ocultações” astronômicas: o primeiro termo se refere ao evento no qual o astro mais próximo da Terra tem um tamanho aparente menor que o mais distante, e, portanto, não o encobre totalmente; o segundo é o contrário, quando o astro à frente bloqueia completamente nossa visão do outro que ficou atrás.
Como as conjunções podem envolver diferentes astros – dois ou mais planetas, um planeta e a Lua, um planeta e uma estrela, a Lua e uma estrela etc. – acabam sendo eventos frequentes. Conjunções específicas, é claro, são mais raras. Em julho de 2021, por exemplo, entre os dias 10 e 13, tivemos um encontro triplo, no horizonte oeste, após o pôr do Sol: Marte e Vênus bem próximos um do outro, e ambos próximos à Lua; outra interessante aconteceu em dezembro de 2020, envolveu os dois maiores planetas do Sistema Solar (Júpiter e Saturno), algo que somente se repetirá em 2040.
Janeiro e de fevereiro
Agora que entendemos as conjunções (alinhamentos espaciais reais) e os alinhamentos aparentes dos planetas ao redor da eclíptica (que são mais evidentes quando há vários planetas no céu), estamos prontos para nos debruçarmos sobre o calendário dos eventos do início de 2025.
Ao longo de janeiro, Vênus, Marte, Júpiter e Saturno estarão visíveis no céu. Urano e Netuno também marcam presença, mas não os veremos a olho nu. Considerando as horas do início da noite, Vênus e Saturno estarão próximos um do outro a oeste, formando uma conjunção entre os dias 17 e 19; Marte estará nascendo a leste com sua típica aparência avermelhada e Júpiter será o mais alto no céu (do conjunto dos visíveis).
Algumas matérias na mídia estão dando destaques para datas no final de janeiro, como 21 ou 26, mas não há nada absolutamente especial nelas. Esse destaque maior pode ser consequência do fato de que a última semana de janeiro é período de Lua nova, o que pode ajudar a perceber mais facilmente o brilho dos planetas.
Em fevereiro, logo no dia 1º, também no início da noite, a oeste, a Lua tem conjunção marcada Vênus. Urano (não visível a olho nu) e Saturno estarão ali pelos arredores, Júpiter seguirá sendo o mais alto do grupo dos visíveis e Marte estará mais a nordeste. Nas noites do dia 6 e do dia 9, a Lua faz conjunção, respectivamente, com Júpiter e com Marte.
Já nos últimos dias de fevereiro, Mercúrio pode se tornar visível logo após o pôr do Sol. Mas, agora, o cenário fica mais complicado, pois Mercúrio e Saturno estarão bem rentes ao horizonte oeste (com Vênus mais brilhante e mais para cima, também na mesma região do céu), e em um horário logo após o Sol se pôr. Portanto, pode ser que nem mesmo seja possível observar esses dois planetas a olho nu, seja por conta do crepúsculo ainda muito luminoso, ou seja por bloqueios causados por relevos do terreno, construções ou nebulosidade. De qualquer modo, tecnicamente falando, é fato que, nos últimos dias de fevereiro, após o pôr do Sol, os sete planetas do Sistema Solar estarão acima da linha do horizonte, e isso sim é algo mais raro.
Raro quanto?
Como os meses de janeiro e fevereiro deste ano abrigam noites com vários planetas visíveis e algumas conjunções, fica difícil determinar um prazo geral para quando tudo isso voltará a se repetir exatamente dessa forma. Mas é importante reforçar que a possibilidade de ver planetas no céu noturno é relativamente comum, e presenciar conjunções também não é difícil, já que várias ocorrem todos os anos.
Não consegui encontrar nenhuma tabela completa com as datas em que todos os sete planetas estarão novamente no céu ao mesmo tempo. Mas verifiquei que isso ocorrerá novamente (mas talvez não só) em maio de 2161, em novembro de 2176 e em maio de 2492. Reduzindo o número de planetas para a aparição conjunta, o evento fica mais frequente: em 2018 e em 2022, tivemos o pacote dos cinco; e, se considerarmos apenas quatro do grupo visível a olho nu, então, ainda este ano, poderemos presenciar Mercúrio, Vênus, Júpiter e Saturno, em agosto.
Agora, quando se trata de um alinhamento espacial verdadeiro de todos os planetas do Sistema Solar, aí sim é algo extremamente raro, estimado em uma vez a cada 13 trilhões de anos, aproximadamente. Mas o Sistema Solar tem cerca de 4 a 5 bilhões de anos de idade, e o Sol, futuramente, vai bagunçar um pouco as coisas quando eliminar Mercúrio e Vênus (e, quem sabe, a Terra) ao se tornar uma gigante vermelha daqui a mais ou menos 5 bilhões de anos. Em outras palavras, se arredondamos a existência do Sistema Solar como conhecemos para cerca de 10 bilhões de anos, então é bem provável que os oito planetas simplesmente nunca passem por um alinhamento espacial verdadeiro em conjunto.
Mesmo assim, acredito que vale a pena dedicar um tempo à noite, agora no início de 2025, para “caçar” planetas em uma busca atenta em meio ao céu estrelado. Fazer isso em conjunto com pessoas queridas pode ser ainda mais divertido. Uma dica interessante é que existem bons aplicativos que disponibilizam mapas virtuais do céu, onde se pode ajustar a data, o local e o horário da sua observação, que podem ajudar bastante na “busca planetária”. O Stellarium é um dos que eu mais gosto. Boas observações e muito céu limpo!
Marcelo Girardi Schappo é físico, com doutorado na área pela Universidade Federal de Santa Catarina. Atualmente, é professor do Instituto Federal de Santa Catarina, participa de projeto de pesquisa envolvendo interação da radiação com a matéria e coordena projeto de extensão voltado à divulgação científica de temas de física moderna e astronomia. É autor de livros de física para o Ensino Superior e de divulgação científica, como o “Armadilhas Camufladas de Ciências: mitos e pseudociências em nossas vidas” (Ed. Autografia)
Ciência
A start-up alemã que tenta enganar a morte

Por US$ 200 mil, empresa especializada em criônica congela pacientes logo após a morte na esperança de que, em algum momento no futuro, eles possam ser ressuscitados, quando o avanço tecnológico permitir a cura da doença que lhes tirou a vida
A ambulância estacionada em uma área verde no centro de Berlim é pequena, parece de brinquedo. Tem uma faixa laranja nas laterais e um emaranhado de fios pendurados no teto.
É uma das três ambulâncias adaptadas e operadas pela Tomorrow.Bio, o primeiro laboratório de criônica da Europa, cuja missão é congelar pacientes após a morte e, um dia, trazê-los de volta à vida — tudo isso com um custo de US$ 200 mil (cerca de R$ 1,2 milhão).
À frente da empreitada está Emil Kendziorra, cofundador da Tomorrow.Bio, que trocou a carreira na área de pesquisa de câncer após descobrir que o avanço na busca pela cura da doença era “muito lento”.
Embora o primeiro laboratório de criônica do mundo tenha sido inaugurado há quase meio século no Estado americano do Michigan — provocando uma divisão entre aqueles que acreditam que este é o futuro da humanidade, e outros que o rejeitam como algo inviável —, Kendziorra afirma que o interesse pela técnica tem aumentado recentemente.
Até o momento, a Tomorrow.Bio congelou (ou criopreservou) “três ou quatro” pessoas e cinco animais de estimação e conta com quase 700 cadastrados. Em 2025, deve expandir suas operações para cobrir todo o território dos EUA.
Quando um médico confirma que um paciente cadastrado está nos últimos dias de vida, a companhia envia uma ambulância ao local em que ele está e aguarda que ele seja legalmente declarado morto, quando tem início, no veículo, o procedimento de criônica.
Ninguém jamais foi ressuscitado com sucesso após a criopreservação — e, mesmo que isso acontecesse, o potencial resultado poderia ser o retorno à vida com graves danos cerebrais.
O fato de não haver atualmente nenhuma prova de que organismos com estruturas cerebrais tão complexas quanto as dos seres humanos possam ser revividos com sucesso evidencia o conceito como “absurdo”, diz Clive Coen, professor de neurociência da Universidade King’s College London, no Reino Unido.
Para ele, as declarações de que a nanotecnologia (manipulação de elementos em escala nanométrica) ou a conectômica (mapeamento dos neurônios do cérebro) vão preencher a lacuna atual entre a biologia teórica e a realidade também são promessas exageradas.
As críticas não frearam as ambições da empresa.
A start-up foi inspirada em pacientes cujos corações pararam em temperaturas congelantes e, posteriormente, foram reanimados e voltaram a bater.
Foi o que aconteceu com Anna Bagenholm, que em 1999 passou duas horas clinicamente morta durante férias de esqui na Noruega, mas depois foi reanimada.
Durante o procedimento, os corpos são resfriados a temperaturas abaixo de zero e abastecidos com fluido crioprotetor.
“Quando a temperatura cai abaixo de zero grau, você não quer congelar o corpo, você quer criopreservar. Do contrário, haveria cristais de gelo por toda parte, e o tecido seria destruído”, explica Kendziorra.
“Para neutralizar esse efeito, você substitui toda a água, tudo o que poderia congelar no corpo, pelo agente crioprotetor.”
Trata-se de uma solução cujos componentes principais são o dimetilsulfóxido (DMSO) e o etilenoglicol (usado em produtos como anticongelantes).
“Depois de fazer isso, você esfria com uma curva de resfriamento muito específica, muito rápido, até cerca de -125 °C, e depois muito lentamente, de -125°C para -196°C.”
Quando atinge a última temperatura, o paciente é transferido para uma unidade de armazenamento na Suíça, onde, segundo Kendziorra, acontece a “espera”.
“O plano”, diz ele, “seria que, em algum momento no futuro, a tecnologia médica teria avançado o suficiente para que o câncer [ou] o que quer que tenha levado à morte do paciente seja curável, e o próprio procedimento de criopreservação possa ser revertido”.
Se isso vai acontecer em 50, 100 ou mil anos, ninguém sabe.
“No fim das contas, isso não importa”, ele afirma.
“Desde que você mantenha a temperatura, é possível manter esse estado por períodos de tempo praticamente indefinidos.”
Para quem não faz parte da área de criônica, o conceito pode soar como algo entre delirante e distópico.
Embora Kendziorra “não tenha conhecimento de nenhum motivo pelo qual isso não seria possível em princípio”, o número atual de seres humanos que foram revividos com sucesso após a criopreservação é zero.
Estudos comparativos em animais que demonstrem seu potencial também são escassos.
Atualmente, é possível preservar o cérebro de um camundongo por meio da infusão de fluido embalsamador, oferecendo esperança de que os cérebros humanos também possam um dia ser mantidos intactos para um possível reavivamento futuro — mas esse processo ocorre enquanto o coração do animal ainda está batendo, matando-o então.
Kendziorra acredita que a resistência se deve principalmente à estranheza causada pela ideia de trazer alguém de volta do mundo dos mortos, mas que a maioria dos procedimentos médicos é vista com desconfiança antes de se tornar comum.
“Pegar um coração e colocá-lo em outro ser humano, à primeira vista, parece muito estranho”, diz ele sobre o transplante de órgãos.
“Mas fazemos isso todos os dias.”
Ele acredita que a criônica poderia simplesmente ser mais um procedimento a ser adicionado a essa lista.
Ele também acredita que a pesquisa que mostra que o verme C. elegans pode ser criopreservado e voltar à sua função plenamente é uma prova animadora de que um organismo inteiro pode transcender a morte.
Há também algumas evidências de revitalização de órgãos entre roedores. Em 2023, pesquisadores da Universidade de Minnesota Twin Cities armazenaram criogenicamente rins de ratos por até 100 dias antes de reaquecê-los e retirá-los dos fluidos crioprotetores, transplantando-os de volta em cinco ratos. A função completa foi restaurada em 30 dias.
O tamanho reduzido do campo de estudo (e, portanto, do financiamento) significa que, na opinião de Kendizorra, “muitas coisas que atualmente não têm comprovação de funcionamento, podem funcionar — só que ninguém tentou”.
Da mesma forma, uma vez testadas, elas podem não funcionar de forma alguma, como é o caso de uma série de pesquisas médicas que se aplicam a roedores ou vermes, mas não a seres humanos.
A criônica é parte do campo de estudo em expansão de prolongamento da vida, agora dominada principalmente por debates sobre longevidade, que prometem mais anos de vida com boa saúde.
Embora haja uma infinidade de extratos e suplementos, podcasts e livros sobre o assunto, as pesquisas práticas — pelo menos, além de praticar exercícios físicos regularmente e se alimentar bem — continuam escassas.
Coen tem uma visão negativa da criônica, descrevendo-a como “uma fé equivocada em anticongelantes e um mal-entendido sobre a natureza da biologia, da física e da morte”.
Uma vez que o coração para de bater, nossas células começam a se decompor, causando danos enormes. Quando um corpo é aquecido novamente a partir de um estado criopreservado, “toda a decomposição que estava ocorrendo durante a fase inicial após a morte vai começar novamente”.
Ele sugere que a melhor abordagem é a criogenia: criopreservação de longo prazo de materiais, como tecidos e órgãos, em temperaturas muito baixas que podem “ser armazenados e usados posteriormente”.
Outros acreditam que o segredo para prolongar a vida é reverter a própria morte. No hospital de um médico “ressurreicionista” em Nova York, em 2012, priorizar os cuidados subsequentes depois que um paciente tinha uma parada cardíaca levou a uma taxa de ressuscitação de 33%, em comparação com uma média de metade deste percentual nos EUA e no Reino Unido.
Preocupações éticas em relação à ultrarrefrigeração de cérebros (um serviço que a Tomorrow.Bio também oferece) e corpos rondam o campo.
Os corpos dos clientes da empresa alemã são armazenados em uma fundação sem fins lucrativos na Suíça, o que, segundo Kendziorra, garante sua proteção — mas é difícil imaginar como isso poderia funcionar na prática séculos depois, quando um descendente de repente se vê responsável pelo corpo há muito tempo congelado de seu antepassado.
Embora os defensores da criônica esperem que uma cura para a doença que matou o paciente tenha sido encontrada quando ele voltar à vida, não há garantia — nem que outro fator não reduziria imediatamente seu tempo na Terra pela segunda vez.
Há também a questão do custo excessivo e o impacto nos demais familiares do paciente, que poderia ver parte de sua herança ter sido gasta neste tiro no escuro final.
“Eu diria que a liberdade de fazer a escolha por si mesmo supera todas as outras considerações éticas em potencial”, diz Kendziorra.
“Há uma quantidade enorme de pessoas que compram seu segundo superiate aos 85 anos, que têm, sei lá, mais três anos de vida.”
Com base nisso, um investimento de US$ 200 mil em um possível retorno do mundo dos mortos parece, segundo ele, um negócio justo.
Ele afirma que a maioria de seus clientes tem 60 anos ou menos, e financia os custos por meio do seguro de vida (que pode ser providenciado pela empresa ou de forma independente).
Para Louise Harrison, de 51 anos, a inscrição “foi motivada pela curiosidade”.
“Fiquei fascinada com a ideia de possivelmente voltar à vida no futuro — parecia uma forma de viagem no tempo”, explica.
“Ter uma pequena chance de voltar, em vez de não ter chance nenhuma, parecia ser uma escolha lógica.”
Harrison, que paga cerca de US$ 87 (R$ 525) por mês pelo cadastro e pelo seguro de vida, diz que sua decisão foi recebida com olhares de reprovação.
“As pessoas costumam me dizer: ‘Que horror, tudo e todos que você conhece vão ter ido embora’. Mas isso não me desanima — perdemos pessoas ao longo da vida, mas geralmente encontramos um motivo para continuar vivendo.”
A Tomorrow.Bio espera que seu lançamento nos EUA atraia aqueles que têm uma curiosidade semelhante sobre como será o nosso mundo no futuro.
De acordo com o Cryonics Institute, empresa americana lançada em 1976 que é pioneira em criônica, 2 mil pessoas se cadastraram e 263 estão “em suspensão”.
“Observamos um crescimento constante nos últimos anos, à medida que a ideia parece estar pegando”, eles afirmam.
Relatórios sugerem que a recente pandemia de covid-19 deixou as pessoas mais conscientes da morte e das tentativas para preservá-la.
Talvez por esse motivo, a Tomorrow.Bio estabeleceu algumas metas ambiciosas: ser capaz de preservar a estrutura neural da memória, da identidade e da personalidade dentro de um ano, e a preservação reversível de temperaturas abaixo de zero, ou o “santo graal”, até 2028.
“Não posso dizer quão alta é a probabilidade” de que as coisas saiam como planejado, diz Kendziorra.
“Mas estou bastante confiante em dizer que a probabilidade é maior do que a cremação, se não houver mais nada.”
Leia a íntegra desta reportagem (em inglês) no site BBC Future.
Fonte: BBC
Ciência
ICB-USP avança no entendimento da leptospirose com descobertas sobre mecanismos de evasão do sistema imune

Entre os achados, pesquisadores identificaram enzimas que degradam componentes críticos do sistema complemento, essencial para a defesa do organismo contra o patógeno
Pesquisadores do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP), liderados pela professora Lourdes Isaac, do Departamento de Imunologia, e em colaboração com o grupo da Dra. Angela Silva Barbosa, do Laboratório de Bacteriologia do Instituto Butantan, revelaram mecanismos sofisticados utilizados pela bactéria Leptospira para escapar do sistema imunológico humano, abrindo novas perspectivas para o desenvolvimento de vacinas e terapias. Conhecida como “doença da urina do rato”, a leptospirose representa um grave problema de saúde pública, especialmente em países tropicais como o Brasil. Condições como enchentes recorrentes, saneamento básico deficiente e o clima quente e úmido favorecem a transmissão da bactéria.
Entre os achados mais relevantes, financiados pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), estão proteases secretadas por Leptospiras, como a termolisina e a leptolisina, que degradam componentes essenciais do sistema complemento – um conjunto de mais de 40 proteínas do sistema imune responsável por eliminar microrganismos. Essa ação enfraquece o controle da infecção, inclusive dificultando a fagocitose, processo crucial no qual células imunes englobam e destroem patógenos. Além disso, foi demonstrado que a Leptospira sequestra proteínas reguladoras do sistema complemento, como o Fator H, a C4BP (C4b binding protein) e a vitronectina, utilizando-as para dificultar a resposta imune.
Esses mecanismos foram detalhadamente caracterizados em modelos experimentais e clínicos e publicados em revistas científicas, como o artigo aceito recentemente pela Microbes and Infection. O grupo liderado pela pesquisadora do Instituto Butantan foi responsável pela identificação e caracterização da leptolisina, uma das proteases investigadas.
Impactos e potencial terapêutico – Testes realizados em hamsters imunizados com a termolisina demonstraram uma resposta protetora significativa contra aLeptospira patogênica. Está em andamento a avaliação do seu potencial vacinal. “Essas descobertas são passos iniciais para o desenvolvimento de candidatos a vacinas e terapias”, afirma Lourdes Isaac.
Embora vacinas veterinárias estejam disponíveis, ainda não há imunizações eficazes e universais para humanos. Vacinas desenvolvidas em países como Cuba, França, Japão e China atendem apenas variedades locais da bactéria. “A leptospirose é frequentemente confundida com outras doenças, como a dengue, devido à similaridade dos sintomas iniciais, o que dificulta o diagnóstico precoce”, explica a professora.
A maioria dos casos apresenta sintomas leves, mas a doença pode evoluir para formas graves, como insuficiência renal, hepática e pulmonar, além de meningite. Um quadro particularmente preocupante é a síndrome hemorrágica pulmonar associada à leptospirose, que provoca hemorragias nos pulmões e dificuldade respiratória, com uma taxa de mortalidade de aproximadamente 50%.
Próximos passos da pesquisa – O grupo de pesquisa do ICB-USP agora investiga o papel do sistema complemento na resposta inflamatória exacerbada observada nas formas mais graves da doença. Em colaboração com o professor Amaro Duarte Nunes, do Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina da USP, estão sendo analisados tecidos de pacientes que faleceram devido à síndrome hemorrágica pulmonar associada à leptospirose, com o objetivo de identificar se houve ativação do sistema complemento nesses órgãos.
“Queremos entender se o sistema complemento, além de controlar a infecção, também contribui para a intensa resposta inflamatória observada em quadros graves, como a síndrome hemorrágica pulmonar associada à leptospirose”, explica a professora Lourdes Isaac. Esses estudos buscam determinar até que ponto essa ativação piora o quadro clínico e, com base nos resultados, os pesquisadores consideram explorar o uso de inibidores do sistema complemento como uma abordagem terapêutica.
Desafios globais e realidade local – Estima-se que a leptospirose afete mais de 1 milhão de pessoas anualmente em todo o mundo, resultando em cerca de 60 mil mortes. Segundo o Boletim Epidemiológico da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, entre 2010 e 2020 foram registrados no Brasil 39.270 casos e 3.419 óbitos. A transmissão ocorre principalmente pelo contato com água ou solo contaminados pela urina de roedores infectados, os principais vetores da bactéria Leptospira.
A doença é frequentemente associada a enchentes, que expõem as pessoas ao risco de infecção pela água contaminada. Contudo, alguns grupos ocupacionais também estão em risco, como trabalhadores rurais, médicos veterinários, perfuradores de poços, profissionais de redes de esgoto, funcionários de indústrias de processamento de carne e agricultores que cultivam arroz em áreas alagadiças.
A precariedade de saneamento básico em muitas regiões agrava o cenário, favorecendo a proliferação de roedores e aumentando a exposição das populações mais vulneráveis. Além disso, a capacidade da Leptospira de sobreviver por meses em condições úmidas e quentes reforça a importância de medidas preventivas adequadas, especialmente durante enchentes e alagamentos.
Artigos publicados:
Microbes and Infection (2025) – Proteolytic activity of secreted proteases from pathogenic leptospires and effects on phagocytosis by murine macrophages.
Cell Immunol (2024) – Complement system component 3 deficiency modulates the phenotypic profile of murine macrophages.
Microbes Infect (2024) – Murine C3 of the complement system affects infection by Leptospira interrogans.
Immunogenetics (2024) – Analysis of Complement Factor H gene polymorphisms and their association with clinical manifestations of leptospirosis.
Scand J Immunol (2023) – Human leptospirosis: In search for a better vaccine.
Front Cell Infect Microbiol (2022) – Leptolysin, a Leptospira secreted metalloprotease of the pappalysin family with broad-spectrum activity.
Front Immunol (2020) – The Role of Properdin in Killing of Non-Pathogenic Leptospira biflexa.
Microbes Infect (2020) – Contribution of Complement System pathways to the killing of Leptospira spp.
Front Cell Infect Microbiol (2018) – Role of Murine Complement Component C5 in Acute in Vivo Infection by Pathogenic Leptospira interrogans.
Front Cell Infect Microbiol (2018) – Leptospira interrogans Secreted Proteases Degrade Extracellular Matrix and Plasma Proteins From the Host.
ATENDIMENTO À IMPRENSA
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19 de julho de 2024 at 15:25
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