Em Belo Horizonte, atropelamentos cresceram 14% em 2025; no Rio, aumento foi de 95%. Com trânsito entre os mais violentos do mundo, Brasil não tem política pública de indenização desde o fim do DPVAT em 2020. Vítimas pedem auxílio e liberação de R$ 2,6 bi em recursos bloqueados
O número de atropelamentos no Brasil segue em alta, com dados alarmantes em capitais como Belo Horizonte e Rio de Janeiro. Em Belo Horizonte, os atropelamentos cresceram 14% nos primeiros quatro meses de 2025, segundo a Secretaria de Justiça e Segurança Pública de Minas Gerais (Sejusp). No Rio de Janeiro, a média de vítimas atendidas no Hospital Geral de Inova Iguaçu aumentou 95% no mesmo período, comparado a 2024.
Em 2024, hospitais do Sistema Único de Saúde (SUS) registraram 32,8 mil internações por traumatismo em pedestres, com custos médicos que ultrapassaram R$ 61,9 milhões, segundo estimativa do Ministério da Saúde.
“O Brasil tem um dos trânsitos mais violentos do mundo”
A afirmação é de Lucio Almeida, presidente do Centro de Defesa das Vítimas de Trânsito (CDVT), ONG que atua em todo o país. Para ele, os atropelamentos são resultado de imprudência de motoristas, infrações de trânsito e, acima de tudo, da falta de respeito à vida humana.
“Infelizmente, muitos atropelados acabam ficando com sequelas para o resto da vida, e sem nenhum amparo por parte do governo, já que não existe mais nenhuma política pública de assistência às vítimas de acidente de trânsito”, alerta.
Fim do DPVAT e abandono das vítimas
Até 2020, o DPVAT (Seguro Obrigatório de Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores) garantia indenização a vítimas de trânsito, independentemente de culpa, em casos de morte, invalidez permanente e despesas médicas.
Sua extinção, em 2020, deixou um vácuo assistencial. Desde então, as indenizações são pagas com recursos de um fundo residual do próprio DPVAT, mas sem garantia de continuidade.
Luta por um novo amparo público
O CDVT, junto com a classe política e a Defensoria Pública da União (DPU), pressiona por uma nova política de proteção às vítimas, com propostas que incluem:
- Indenização por morte aos familiares;
- Reembolso parcial ou integral de despesas médicas e reabilitação;
- Auxílio-funeral em casos fatais.
“Seja motorista, passageiro ou pedestre, todos têm direito a um respaldo digno em caso de acidente”, defende Almeida.
R$ 2,6 bilhões parados
Um dos principais pontos da campanha é a liberação de R$ 2,6 bilhões já arrecadados pelo DPVAT e mantidos bloqueados por empresas seguradoras. O Tribunal de Contas da União (TCU) já determinou a destinação desses recursos para indenizações.
“Com esse valor, seria possível indenizar todas as vítimas de 2023 e 2024, por exemplo”, afirma o presidente do CDVT.
DPU entra com ação judicial
A Defensoria Pública da União entrou com uma ação judicial para garantir o pagamento de indenizações a vítimas que se acidentaram entre novembro de 2023 e dezembro de 2024, período em que o seguro ainda estava em vigor, mas os pagamentos foram negados ou travados.
Chamado por políticas de segurança e justiça
Com cerca de 4,7 mil mortes por atropelamento em 2024, o Brasil precisa urgentemente de políticas de segurança viária, educação no trânsito e amparo às vítimas. A pressão de organizações como o CDVT e a DPU busca não apenas justiça, mas a reconstrução de um sistema que proteja a vida no trânsito.
Com informações: CDVT e Ministério da Saúde