Dados do Ministério da Saúde mostram que, de 2005 a 2025, foram registrados mais de 810 mil casos em gestantes. A médica Helaine Maria Besteti Pires Mayer Milanez alerta para a inadequada interpretação de exames de pré-natal e o subdiagnóstico da infecção.
O Brasil acompanha a tendência mundial de crescimento acelerado dos casos de sífilis, sendo a situação mais grave entre as gestantes. Dados do Ministério da Saúde indicam que, entre 2005 e junho de 2025, o país registrou 810.246 casos de sífilis em gestantes. A região Sudeste concentra a maioria dos diagnósticos ($45,7\%$).
A taxa nacional de detecção de sífilis congênita (transmissão da mãe para o bebê) atingiu 35,4 casos por mil nascidos vivos em 2024, evidenciando o avanço da transmissão vertical.
A ginecologista Helaine Maria Besteti Pires Mayer Milanez (Febrasgo) alertou que, diferentemente do HIV, o controle da sífilis ainda é um desafio no Brasil, apesar de ser uma doença de diagnóstico mais fácil e tratamento mais barato.
“Temos um problema sério no Brasil, tanto com relação à população adulta jovem e, consequentemente, na população em idade reprodutiva, e daí o aumento na transmissão vertical”, afirmou a médica.
Subdiagnóstico e Falha no Pré-natal 🩺
Helaine apontou que um dos principais problemas é o subdiagnóstico e a interpretação inadequada da sorologia no pré-natal:
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Interpretação Incorreta: Profissionais de saúde, ao verem o teste treponêmico positivo e o VDRL (teste não treponêmico) negativo, podem assumir que se trata de uma cicatriz e não tratar. A médica alerta que essa conduta é um grande erro, pois a maioria das grávidas com a doença estará com título baixo ou o não treponêmico positivo, mantendo o ciclo de infecção.
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Não Tratamento do Parceiro: O parceiro sexual muitas vezes não é tratado de forma adequada ou é ignorado, resultando na reinfecção da gestante e no risco de infecção fetal.
Mais de $80\%$ das mulheres grávidas e muitos homens têm a forma assintomática da doença (forma latente), o que faz com que, sem a interpretação correta dos exames, a doença evolua para a sífilis congênita na criança.
Grupos de Risco e Prevenção 🦠
Atualmente, as populações com maior prevalência de infecção por sífilis e HIV são:
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Jovens (15 a 25 anos): Abandonaram os métodos de barreira devido à redução do medo em relação às Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs), como o HIV, que se tornou uma doença crônica tratável.
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Terceira Idade: O aumento da vida sexual ativa, a falta de receio de gravidez e o abandono dos métodos de barreira contribuem para a disseminação.
A médica alertou ainda para o risco constante de contágio durante o Carnaval devido à menor utilização de métodos de barreira. Ela mencionou a existência da PrEP (Profilaxia Pré-Exposição), um medicamento antirretroviral tomado antes da exposição para prevenir o HIV (não sífilis), que está disponível gratuitamente no SUS.
A Febrasgo e o Ministério da Saúde promovem protocolos clínicos e diretrizes terapêuticas para a transmissão vertical, ressaltando que a ocorrência de sífilis congênita é um dos melhores marcadores da qualidade da atenção pré-natal.