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Cultura

Enredo da Unidos de Padre Miguel fala sobre o candomblé no Brasil

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Escola retorna ao Grupo Especial após cinco décadas

Vencedora da Série Ouro do Carnaval de 2024 no Rio de Janeiro, a Unidos de Padre Miguel volta a desfilar no Grupo Especial após 52 anos. Com o enredo Egbé Iyá Nassô, a escola leva para o Sambódromo da Marquês de Sapucaí a história do Terreiro Casa Branca do Engenho Velho. Fundado em Salvador, na Bahia, pela ialorixá Francisca da Silva — a Iyá Nassô — o espaço é considerado o primeiro terreiro de candomblé do Brasil, além de também ser o primeiro tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em 1984.

“Contamos a saga de uma mulher africana, membro da corte do Império de Oyó, que veio para o Brasil na condição de escravizada e que manteve a religiosidade, não se afastou da mãe África. Depois de muita luta contra preconceitos e perseguições, ela inaugura o primeiro terreiro de candomblé do Brasil, a Casa Branca do Engenho Velho”, conta o carnavalesco Alexandre Louzada.

Com 40 anos de trajetória no Carnaval carioca, Louzada estreia neste ano na Unidos de Padre Miguel.

“Dizemos que ela plantou o primeiro axé aqui no Brasil, que ela fundou, na verdade, o modelo de candomblé ketu no país”, complementa o arquiteto Lucas Milato, que continua pelo seu segundo ano como carnavalesco da escola de samba. Responsável pelo culto a Xangô, um dos principais orixás das religiões afro-brasileiras, no palácio do Alafin de Oyó, Iyá Nassô teve a colaboração de outras duas ialorixás na construção da casa de candomblé na capital baiana: Iyá Adetá e Iyá Akalá, também celebradas no samba da Unidos de Padre Miguel.

Rio de Janeiro (RJ), 31/01/2025 - Lucas Milato e Alexandre Louzada, carnavalescos da Unidos de Padre Miguel, no barracão da escola, na Cidade do Samba, zona portuária. Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

Rio de Janeiro (RJ), 31/01/2025 – Lucas Milato e Alexandre Louzada, carnavalescos da Unidos de Padre Miguel, no barracão da escola – Tânia Rêgo/Agência Brasil

Iyá Nassô

“A Iyá Nassô era de Oyó e a Iyá Adetá de Ketu. Elas trazem com elas todas essas influências africanas desses dois reinos extremamente importantes para a África, mas que entraram num processo de declínio por conta de invasões, então elas precisaram vir para o Brasil, já na condição de escravizadas, e aqui precisaram buscar formas de manifestar a sua religião, a sua fé”, explica Lucas em entrevista à Agência Brasil no barracão da Unidos de Padre Miguel, na Cidade do Samba.

Para Alexandre, o que aproxima o assunto da escola de samba nascida na Vila Vintém, no bairro de Padre Miguel, na zona oeste do Rio de Janeiro, e justifica a preferência da diretoria da agremiação pela história do surgimento do candomblé no território nacional é que, assim como o Terreiro da Casa Branca do Engenho Velho, a Unidos de Padre Miguel se trata de um grande “egbé”, palavra em iorubá que significa “comunidade”. “O que escrevemos é que ‘egbé’ significa casa, uma grande comunidade, e a Unidos de Padre Miguel não é diferente. Ela vive e respira dentro de uma grande comunidade”, ressalta o carnavalesco.

Além disso, assim como o início da religião afro-brasileira no Brasil, a escola é liderada principalmente por mulheres. Como traz Lucas, muitos pilares da Unidos de Padre Miguel são femininos, enquanto a Casa Branca do Engenho Velho é um terreiro de candomblé conduzido, criado e fundado por mulheres. “Até hoje ela se sustenta por essa força feminina, então esse enredo conquistou o coração da nossa diretoria por isso, porque é um enredo que valoriza muito a figura feminina, não só nas religiões de matriz africana, mas também na comunidade como um todo”.

“É uma história que a nossa história oficial não conta”, reflete Alexandre, ao lado de Lucas. “Trazemos à tona personagens esquecidos pela história, porque na época colonial houve esse apagamento cultural, não só dos que vieram da África para o Brasil, como da própria África, então hoje existe um movimento muito forte de resgate dessa cultura africana, porque somos um país de maioria com descendência africana”, acrescenta. Segundo o Censo Demográfico de 2022, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 55,51% da população nacional se identifica como negra, sendo 45,34% como parda e 10,17% como preta.

Da Vila Vintém à Sapucaí

“A Unidos de Padre Miguel é uma escola muito esperada pelo grande público, porque ela teve o seu reinado, vamos dizer assim, na Série Ouro por vários anos. É diferente de muitas escolas que ascendem ao grupo especial, porque ela já tem uma torcida própria”, comenta Alexandre. “Ela sempre foi tão esperada a ser vencedora e várias vezes bateu na trave. Agora, isso se torna realidade, então ela é uma escola que chega ao grupo especial gozando de uma simpatia maior do que em outros casos que já aconteceram de escolas que ascenderam ao grupo especial”.

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No carnaval de 2023, a escola encerrou em segundo lugar na Série Ouro. O mesmo resultado se repetiu nos desfiles de 2020, 2018, 2016 e 2015. Apesar de a Unidos de Padre Miguel já ter desfilado antes na primeira divisão do carnaval do Rio de Janeiro, considerando o formato atual da Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro (Liesa), essa é a primeira vez que a agremiação disputa no Grupo Especial.

A expectativa agora é “ser campeã, botar todas elas para trás”, diz Alexandre. “Esse tem que ser o pensamento certo de um carnavalesco. Sabemos da dificuldade, sabemos que estrear no Grupo Especial é uma coisa muito difícil, porque vamos enfrentar grandes feras do carnaval, mas a gente vai com fé, porque nos foi dado condições de fazer um carnaval para disputar de igual para igual”.

“Geralmente, cria-se um paradigma de que a escola que subiu tem que brigar para não descer. Na verdade, não queremos ter esse pensamento. Queremos brigar para ser campeões, para conquistar um lugar no G6, o grupo das seis escolas que retornam para o Desfile das Campeãs”, continua Lucas. “Esse desfile criamos com uma expectativa muito grande, porque obviamente marca esse grande retorno da escola ao grupo especial, mas, acima de tudo, acho que é um grande presente que estamos dando para a comunidade da Vila Vintém, que esteve conosco todos esses anos”.


*Agência Brasil

Brasil

Bumba Meu Boi: Espetáculo Auto do Guriatã Homenageia Mestre Humberto de Maracanã

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🎭 Musical contemporâneo celebra a obra do maranhense Humberto de Maracanã em São Paulo. O Auto do Guriatã apresenta a narrativa do Bumba Meu Boi com acessibilidade e oficinas gratuitas, promovendo um diálogo entre a rica tradição do Maranhão e a cena cultural paulistana.


Cultura Popular Maranhense Ganha Palco em São Paulo

Entre os dias 3 e 6 de dezembro, a cidade de São Paulo sediou o Auto do Guriatã, um espetáculo musical contemporâneo que revisita e enaltece a tradição do Bumba Meu Boi. A montagem, realizada pelo Núcleo Maracá, é uma ópera popular que tem como fio condutor o repertório e a genialidade de Humberto de Maracanã, um dos nomes mais emblemáticos da cultura popular brasileira. A circulação do projeto na capital paulista incluiu apresentações abertas ao público e uma série de oficinas gratuitas.

As atividades foram projetadas para democratizar o acesso, incluindo recursos de acessibilidade como Língua Brasileira de Sinais (Libras) e audiodescrição nas apresentações. Além da capital, o projeto estendeu sua programação ao interior paulista, com uma sessão especial no Festival Curau, na cidade de Piracicaba.

A Narrativa Simbólica e o Repertório do Mestre

O espetáculo Auto do Guriatã se estrutura em torno da narrativa central do Bumba Meu Boi: o ciclo que envolve o roubo, a morte e a ressurreição do animal. A história é protagonizada por Pai Francisco, que tenta satisfazer o desejo de sua esposa grávida, Catirina, culminando na perda e posterior cura do Boi.

Essa trama ancestral ganha uma roupagem operística e contemporânea através das toadas compostas por Mestre Humberto de Maracanã. O repertório, que retrata simbolicamente o ciclo da vida e da arte, faz parte do álbum homônimo, Auto do Guriatã, produzido por André Magalhães e com lançamento programado nas plataformas digitais.

Diálogo entre Tradição e Modernidade no Palco

A montagem do Núcleo Maracá é marcada pela reunião de figuras respeitadas da cultura popular e artistas da cena contemporânea. O elenco e a equipe contam com nomes como Tião Carvalho, Graça Reis, Ana Maria Carvalho e Sapopemba, que interagem com músicos modernos como Renata Amaral, que também assina a idealização e direção geral do projeto, e outros colaboradores como Lincoln Antonio, Ariel Coelho e Aline Fernandes.

Renata Amaral, diretora da obra, destacou que as toadas do mestre maranhense possuem uma estrutura que se assemelha a uma opereta, justificando a escolha por uma montagem teatral para “honrar sua memória e genialidade”.

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Um dos pontos de ruptura na tradição propostos pelo espetáculo é a escalação da Mestra Graça Reis para o papel do Amo, personagem central do Bumba Meu Boi que, historicamente, é interpretado por homens. Segundo Renata Amaral, essa decisão busca evidenciar “um lugar de potência” para as mulheres dentro do folclore e “atualizar o discurso sobre relações de poder dentro da nossa tradição popular”.

O Legado de Humberto de Maracanã

A escolha do repertório se deve ao impacto duradouro da obra de Mestre Humberto de Maracanã. Suas toadas foram gravadas e interpretadas por artistas de reconhecimento nacional, como Maria Bethânia, Alcione e Zeca Baleiro. A comunidade do Boi de Maracanã, que reúne mais de mil integrantes, contribuiu ativamente para o projeto, participando das oficinas e oferecendo um contato direto com os cantos, toques e danças que compõem essa manifestação cultural centenária.

Nascido em São Luís, no Maranhão, em 1939, Humberto foi consolidado como mestre do Boi de Maracanã aos 34 anos, tornando-se uma das maiores referências do gênero. Sua composição “Maranhão, Meu Tesouro, Meu Torrão” é amplamente reconhecida como um hino do São João maranhense. Seu trabalho e sua contribuição foram celebrados com prêmios de relevância nacional, incluindo o Prêmio Culturas Populares do Ministério da Cultura (MinC) e o 23º Prêmio da Música Brasileira.

As diversas oficinas de Bumba Meu Boi realizadas em espaços culturais como o Instituto de Artes da Unesp, a Casa Mestre Ananias, a EMEF Desembargador Amorim Lima e a Vila Itororó, tiveram como objetivo aproximar o público paulistano da riqueza e da complexidade do Bumba Meu Boi maranhense, promovendo o intercâmbio cultural e a preservação dessa manifestação tradicional.


Cim informações da: Revista Fórum

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Cultura

Apresentador “Ordinario.com” volta com tudo em megaevento com Amado Batista

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Ao lado de Senna Produções, do DJ Dudu e de grandes nomes da música nacional, o carismático locutor comanda evento histórico na Fábrica 040 no dia 06 de dezembro, em Santa Maria-DF

Santa Maria e entorno se preparam para uma noite inesquecível. No próximo sábado, 06 de dezembro de 2025, a Fábrica 040 – Polo JK, em Santa Maria, será palco de um dos maiores eventos sertanejos do ano. E à frente de tudo isso está um nome que ecoa com força nas rádios, nos stories e, principalmente, nos corações dos moradores da região: Ordinario.com.

Filho legítimo de Santa Maria, bairro que respira cultura, Ordinario.com não é apenas um locutor ou apresentador, ele é voz, memória e representação viva da alma local. Conhece cada esquina, cada história e, sobretudo, entende como poucos o que o povo de Santa Maria e entorno quer: festa com raiz, com respeito e com brilho.

E é justamente essa conexão profunda com a cultura local que faz do seu retorno ao grande palco um marco. Ele está de volta em grande estilo, unindo forças com a Senna Produções, reconhecida como uma das maiores promotoras de eventos da Região, e com o DJ Dudu, aclamado como um dos maiores DJ desta geração.

O evento contará com um line-up estelar, pensado para agradar todos os gostos do universo sertanejo e beyond. Além do próprio Ordinario.com comandando a festa com seu carisma e energia contagiante, o público poderá curtir os shows de Fred & Rodrigo, Pedro Paulo & Matheus e o lendário Amado Batista, o “cantor das multidões”, cuja voz carrega décadas de história da música popular brasileira.

A pista também será dominada por grandes nomes, além de DJ Dudu, estarão presentes DJ René Ricohet e Locutor Marcão Alencar, com sua voz marcante. Para fechar com chave de ouro, o palco receberá ainda Lukas & Gustavo, Paulo Lima e Jean Almeida.

Mas mais do que um simples festa, este é um evento que a cidade e a região merecem, e ninguém melhor do que Ordinario.com para conduzir essa celebração. Ele não apenas apresenta; ele traduz, conecta e emociona.

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“A gente tá fazendo isso com o coração. Santa Maria merece brilhar. E no dia 06, a Fábrica 040 vai virar o centro do Brasil”, afirmou Ordinario.com em entrevista exclusiva.

Com uma estrutura impecável, segurança reforçada, praça de alimentação variada e cenografia imersiva, o evento promete ser o ponto alto da temporada de festas de fim de ano na capital federal.

Ordinario.com está de volta. E dessa vez, ele não veio sozinho — trouxe a festa inteira com ele.


Serviço:
Evento: 50 Anos de Carreira do Mais Amado do Brasil
Data: 06 de dezembro de 2025 (sábado)
Local: Fábrica 040 – Polo JK, Santa Maria, Brasília/DF
Atrações: Ordinario.com, DJ Dudu, Fred & Rodrigo, Pedro Paulo & Matheus, Amado Batista, DJ René Ricohet, Lukas & Gustavo, Paulo Lima, Jean Almeida, Locutor Marcão Alencar
Realização: Senna Produções

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Cultura

Dia Nobre lança “Boca do Mundo” e destaca a força coletiva de mulheres na luta contra a violência

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O primeiro romance de Dia Nobre, “Boca do Mundo“, é a obra escolhida pela Amora Livros para novembro e aborda a intersecção entre violência de gênero, memória e cura. Historiadora de formação, a autora, que tem raízes no Cariri e no sertão de Pernambuco, foca nas vozes das mulheres que reelaboram a brutalidade cotidiana em um povoado ficcional chamado Urânia. O livro utiliza o simbolismo da encruzilhada e do imaginário ancestral, como a serpente, como metáforas para a resistência, o recomeço e o poder da união feminina

A historiadora e escritora Dia Nobre lançou seu primeiro romance, Boca do Mundo, obra que aborda a violência de gênero, a memória e as estratégias de sobrevivência feminina. O livro foi selecionado pelo clube de assinatura Amora Livros, dedicado à literatura contemporânea escrita por mulheres.

Crédito: Divulgação

Violência, Cura e o Feminino Complexo 💬

Dia Nobre construiu uma narrativa que recusa a estetização da violência. Seu foco é no modo como as mulheres criam estratégias de sobrevivência em meio à brutalidade, retomando o controle de seus corpos e histórias.

  • Fuga da Vitimização: A autora se propôs a deslocar o foco da violência em si para a voz das mulheres, como a personagem Tereza, que foge de uma situação de agressões domésticas.

  • Complexidade Feminina: Dia Nobre critica a representação frequentemente estereotipada de mulheres na literatura escrita por homens, onde lhes faltam “camadas”, sendo reduzidas ao papel de objeto sexual, megera ou, simplesmente, vítima.

  • Força Coletiva: A história ganha movimento quando as quatro personagens principais — Abigail, Hermínia, Urânia (o espaço que narra) e Tereza — se encontram na encruzilhada, símbolo central do livro. Para a autora, a união entre mulheres é uma força coletiva capaz de resistir à violência patriarcal.

Raízes no Sertão e Misticismo 🌵

A obra, ambientada em um sertão ficcional no estado de Pernambuco, é profundamente influenciada pelas vivências de Dia Nobre no Cariri (onde se formou em História pela URCA) e no sertão pernambucano.

  • Religiosidade: O universo da escrita é permeado pela religiosidade e pelas cosmogonias afro-indígenas e do catolicismo popular da região, como as romarias ao Padre Cícero.

  • Urânia, a Terra que Fala: O povoado ficcional de Urânia funciona como um personagem ativo que narra e interfere nos acontecimentos, metamorfoseando-se em seres encantados.

  • A Metáfora da Serpente: A figura da serpente e o fenômeno da ecdise (troca de pele) são eixos centrais, simbolizando a resistência, a adaptação e o renascimento das mulheres que deixam para trás um passado de violência.

  • Hermínia, a “Santa das Espancadas”: Inspirada em um culto popular que surgiu após o feminicídio de Maria Isabel da Conceição em 1929, a personagem representa a força protetora e a fé como um recurso de enfrentamento, denunciando, ao mesmo tempo, a insuficiência das políticas públicas.


Com informações: Diplomatique

 

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