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Entrevista

“Febre” do oceano está na origem da tragédia ambiental no RS, diz professor da UNIFESP

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No último dia 13, a água do mar em Fernando de Noronha registrou incríveis 33 graus Celsius. O que pode ser comemorado por turistas ávidos pelo mergulho em um paraíso natural é uma má notícia para o planeta e está por trás da maior tragédia ambiental do Rio Grande do Sul

A alta temperatura das águas no litoral brasileiro reflete a febre que atinge o oceano há 14 meses e teve impacto direto na maior tragédia ambiental do Rio Grande do Sul. O alerta é feito pelo biólogo Ronaldo Christofoletti, professor do Instituto do Mar da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) na Baixada Santista.

“O oceano está com 0.4 a 0.5 grau acima da sua temperatura média esperada. Se fosse comparar com o corpo humano, seria o equivalente a estarmos com 37.7 ou 37.8 graus, o que é febre. Um oceano febril é mais água evaporando, ele absorve menos temperatura. Agora vamos olhar esse cenário: mais água na atmosfera, mais energia e mais calor, uma bolha de ar quente e uma bolha de ar frio brigando, isso levou a muito mais chuva [no Rio Grande do Sul]”, explica Christofoletti em entrevista exclusiva ao Congresso em Foco.

Ronaldo Christofoletti: “Mesmo que o oceano volte para a sua temperatura normal agora, é sabido que, pelas mudanças climáticas, eventos extremos como esse do Rio Grande do Sul vão continuar aumentando”. Foto: Arquivo pessoal

Segundo o professor, o aquecimento do oceano, causado pelo excesso de emissão de gás carbônico, é fator fundamental para a compreensão das intensas chuvas que assolam o Rio Grande do Sul desde o início do mês.

“Ele foi o responsável pela evapotranspiração, pela água, e está sendo responsável por impedir que a água dos rios desemboque no mar. É preciso reconhecer a complexidade desse sistema e o quanto isso impacta nas vidas, na economia, na perda da agricultura, na perda das casas, na perda cultural. Em termos ambientais, a origem da catástrofe no Rio Grande do Sul está no oceano e se soma com a urbanização e impacto antrópico [relativo à ação humana]”, afirma.

Fato Novo com informações: Congresso em Foco

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1 Comentário

1 Comentário

  1. Marcos

    16 de junho de 2024 no 11:01

    Olá! Tudo bem?
    Parabéns pelo trabalho! Desejo que tenha sucesso!

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Entrevista

‘Democracia vive um tempo de crise’, diz dom Jaime Spengler, presidente da CNBB

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Em entrevista ao Brasil de Fato, religioso admite que celibato para padres poderia ser “revisado” e “revogado”

Na presidência da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) desde maio de 2023, representante da igreja Católica no Brasil, Dom Jaime Spengler tem feito um mandato discreto, no espírito de sua eleição considerada, à época, uma alternativa à polarização entre direita e esquerda que ultrapassou o processo eleitoral de 2022 e chegou aos corredores da organização.

Em entrevista ao Brasil de Fato, Spengler lamentou o momento político do país e afirmou que “a democracia vive um tempo de crise. Aquilo que limita a participação de muitos no necessário debate político, salta aos olhos. Junto com a crise da democracia, é latente uma desafiadora crise ética”.

Por e-mail, o presidente da CNBB falou também sobre o movimento de padres que pedem a liberação do casamento e o fim do celibato para os clérigos. “Este é um tema que sempre retorna. O celibato é uma norma disciplinar da Igreja de tradição latina, introduzida a mais ou menos mil anos. Neste horizonte poderia ser revisada, revogada”, explicou Spengler.

Também arcebispo de Porto Alegre (RS), o religioso falou ainda sobre as enchentes que tomaram conta da capital gaúcha, em maio deste ano, após fortes chuvas na região.

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Sgundo ele, a Arquidiocese de Porto Alegre foi atingida pelas enchentes. O religioso afirma que as inundações “foram sim fruto de fatores climáticos que necessitam urgentemente de atenção. Foram também expressão da negligência da própria sociedade.”

Dom Jaime Spengler nasceu em Gaspar (SC), no dia 6 de setembro de 1960. Em 1982 entrou para a Ordem dos Frades Menores em Rodeio (SC). O presidente eleito da CNBB estudou Filosofia no Instituto Filosófico São Boaventura, no Paraná, e Teologia no Instituto Teológico Franciscano, no Rio de Janeiro.

Em novembro de 2010, foi nomeado pelo papa Bento XVI como bispo titular de Patara. No ano seguinte, em fevereiro de 2011, o bispo foi ordenado na paróquia São Pedro Apóstolo, em Gaspar. Em 18 de setembro de 2013, o papa Francisco nomeou dom Jaime Spengler como novo arcebispo de Porto Alegre.

Confira a entrevista na íntegra:

Brasil de Fato: Gostaria de saber como o senhor tem visto a polarização política em nosso país. A eleição do senhor, em abril de 2023, também foi margeada por aspectos que refletiam a atmosfera política do país, com discussões sobre posicionamentos de bispos que estão mais à esquerda ou mais à direita.

Dom Jaime Sprengler: A polarização política tem marcado, sobretudo, a história recente do país, presente tanto no âmbito digital como físico. Isto não é privilégio do Brasil. Pode-se dizer que é o processo no qual a opinião se baseia em pontos de vista que não reconhecem aquilo que creem que seja o ponto de visto do outro. Ela se sustenta em dois grupos de pessoas que discordam, e cada um acreditando que o outro é totalmente culpado pelo que está em debate ou em questão; as posições defendidas por um e outro grupo são consideradas irremediáveis filosófica, política e moralmente. Alimentar a polarização produz obtusidades, fecha espaços de construção social, impede a promoção do necessário diálogo, especialmente quando em questão está o bem comum.

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Os bispos são pessoas que fazem parte da sociedade humana, são cidadãos e, consequentemente, se sentem corresponsáveis pelo bem comum. De forma ainda mais característica por acreditarem, testemunharem e anunciarem o Evangelho da Vida. Neste sentido, é inspiradora a expressão de Jesus: “Eu vim para que todos tenham vida e vida em abundância” (Jo 10,10). Por isso, onde a vida é ferida, desrespeitada ou até mesmo ignorada não podemos nos calar. Os bispos são eleitos, em cada tempo da história, para serem colaboradores da Igreja na obra da evangelização marcada por âmbitos característicos. Na história recente do Brasil, a Igreja tem demonstrado empenho decisivo em favor dos direitos humanos, da vida, da democracia, dos povos originários, dos urgentes e necessários cuidados e respeito pela Casa Comum.

Brasil de Fato: O que é democracia para o senhor? Como ela se manifesta e qual seu atual estágio em nosso país?

Recentemente, o Papa Francisco usou uma expressão simples que expressa com clareza e objetividade o que é a democracia: “Democracia é resolver ‘juntos’ os problemas de todos”. Ou, se quisermos, podemos usar outra forma para dizer o que seja democracia: é o ordenamento civil por meio do qual as forças sociais, jurídicas e econômicas cooperam proporcionalmente para a promoção do bem comum, em favor de toda a sociedade, com especial atenção aos mais fragilizados, ou numa outra expressão, aos que estão nas periferias existenciais – e que, na nossa realidade nacional, são uma multidão.

A realidade atual da nação exige coragem e determinação para avançar em maior rapidez e eficiência na construção, aplicação, acompanhamento e avaliação de políticas públicas capazes de integrar o maior número de pessoas no seio da sociedade, a fim de que justiça e paz possam se abraçar.

Brasil de Fato: Recentemente, tivemos a votação no Congresso Nacional de pautas que estão nas Casas Legislativas de grande parte do mundo, o aborto e a liberação da maconha. Parte da resistência ao avanço nessas pautas é feita por religiosos. O senhor acredita que a fé e a crença individual deva pautar a legislação de uma nação?

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Nossa sociedade está marcada pelos valores da tradição cristã; são, hoje, muitas as expressões desta tradição. Ora, a fé cristã é expressão de uma experiência de encontro com uma pessoa – Jesus Cristo. Neste sentido, vale recordar a celebre expressão de Bento XVI: “no início do ser cristão, não há uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo”.

As pautas citadas implicam diretamente na vida de pessoas que se orientam pela fé e crenças. A Igreja como uma instituição reconhecida, com direitos e deveres, tem a responsabilidade de participar dos debates públicos que envolvam temas relacionados à vida em todas as suas dimensões. O parlamento, espaço de debate e de construção de legislação, não pode não estar atento àquilo que a sociedade espera de seus representantes. Infelizmente, há um sentimento difuso de descrédito em relação aos poderes públicos; as razões de tal situação são variadas. A própria democracia vive um tempo de crise. Aquilo que limita a participação de muitos no necessário debate político, salta aos olhos. Junto com a crise da democracia, é latente uma desafiadora crise ética.

Tais pautas não podem ser conduzidas por ideologias ou interesses espúrios. Urge coragem e determinação para promover o necessário debate, levando em consideração valores éticos, avanços científicos e elementos antropológicos da tradição judaico-cristã, quais sustentáculos da nossa cultura.

A ideia do sofrimento, por exemplo, das inúmeras mulheres que sofrem formas distintas de abuso é altamente importante considerar. O argumento sobre o desrespeito pelo corpo da mulher toca um aspecto do convívio social merecedor de especial atenção. Mas é também importante o respeito pelo corpo da criança, que segundo dados da própria ciência é outro em relação ao da mãe. Estes poderiam ser alguns aspectos que tornam o debate em torno do aborto delicado.

No que tange ao projeto, dito, de liberação da maconha há também aspectos delicados. Não faltam estudos que apontam para graves danos cerebrais, neurológico, sobretudo em usuários adolescentes e jovens da referida planta. No passado tive oportunidade de cooperar num centro de recuperação de dependentes químicos. Afirmar o uso recreativo da maconha aponta para um limite delicado. É preciso maior honestidade no debate em torno desta temática. Uma família que possui no seu núcleo um viciado sabe – e sofre – as consequências de tal hábito.

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Poder-se-ia, neste contexto, invocar a liberdade. Mas, o que é a liberdade? Não certamente poder realizar o que cada um decide. Tal compreensão leva a caminhos, no mínimo, perigosos. Liberdade é, antes de tudo, libertação contínua da nossa inalienável dignidade: sede de vida e de amor que vence ódio e morte. A liberdade pressupõe discernimento e responsabilidade; são elementos adquiridos quando se busca a honestidade e se reconhece a própria limitação.

Brasil de Fato: Como o senhor vive a experiência das enchentes que tomaram conta do Rio Grande do Sul? Ela chegou até o senhor? Dois meses após as enchentes, há uma análise sobre o que aconteceu?

As fortes chuvas que se abateram o Rio Grande do Sul em fins de abril e durante o mês de maio, produziram muita destruição e morte. O número de municípios, e consequentemente de comunidades, famílias, pessoas atingidas foi enorme. A região metropolitana de Porto Alegre, território da Arquidiocese, foi duramente atingida.

As enchentes foram sim fruto de fatores climáticos que necessitam urgentemente de atenção. Foram também expressão da negligência da própria sociedade. Tais fenômenos sempre aconteceram ao longo do tempo. Entretanto a frequência maior de tais fenômenos chama a atenção de muitos – também em várias cidades do Brasil; e a comunidade científica não se cansa de lançar alertas. Há cidades no Rio Grande do Sul que nos últimos 12 meses, sofreram três enchentes seguidas e devastadoras.

A região metropolitana conta com um complexo sistema de proteção contra cheias, cuja construção teve seu início na década de 70. Todavia o projeto não foi totalmente concluído, além de carecer de manutenção ao longo dos anos. O número de flagelados foi enorme. Empresas, fábricas, comércios grandes e pequenos situados nas regiões mais baixas foram fortemente atingidas.

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A tragédia fez com que viesse o melhor de uma multidão – no Brasil e no exterior. Não recordo de haver testemunhado um mutirão de solidariedade tão expressivo na história recente do Brasil; sinal de que entre nós existem pessoas boas, que testemunham compaixão e solidariedade. Digno de destaque o número de voluntários provenientes de distintas regiões de nosso Brasil, dispostos a colaborar no que fosse necessário: atendimento primário aos flagelados, atendimento à saúde, preparo de alimentação, seleção e distribuição dos donativos que chegaram, colaboração no árduo e delicado trabalho de limpeza. O empenho das Forças Armadas, da Defesa Civil, Bombeiros, a dedicação de tantos jovens ficará certamente como uma característica marcante na história da região. Vimos a fraternidade personalizar-se, pois como disse o Papa Francisco “perante o sofrimento, onde se mede o verdadeiro desenvolvimento dos nossos povos, descobrimos e experimentamos a oração sacerdotal de Jesus: ‘Que todos sejam um só (Jó 17, 21)’”.

Precisamos também reconhecer que no meio da tragédia, infelizmente, veio também o pior de alguns: roubos, desvios, saques, o tráfico buscando marcar territórios, oportunistas no meio da tragédia buscando tirar vantagens para si, em vistas de ‘projetos pessoais’ futuros.

Merece, contudo, destaque, reconhecimento, gratidão a solidariedade de muitos. Rezo para que todos que de uma forma ou de outra se engajaram no socorro e atendimento das necessidades dos flagelados sejam recompensados não com o dobro, mas com a medida do Evangelho: cem vezes mais. É em situações semelhantes que se pode perceber em que consiste a humanidade do ser humano. Todo auxílio é, sim, sempre auxílio em favor de alguém. Mas é também expressão do que cada ser humano é, traz no seu interior, ou ‘construiu’ ao longo da própria existência.

Brasil de Fato: Como o senhor dialoga com o movimento dos padres que pedem a liberação do casamento e o fim do celibato? O Papa chegou a dizer que colocaria essa discussão na agenda da Igreja.

Este é um tema que sempre retorna. O celibato é uma norma disciplinar da Igreja de tradição latina, introduzida a mais ou menos mil anos. Neste horizonte poderia ser revisada, revogada. Trata-se de uma forma de vida que certamente exige disciplina, determinação, coragem, fé. É também, de algum modo, uma opção de vida.

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Creio que se faz necessário promover espaços amplos de diálogo sobre este tema. É uma realidade que merece particular atenção. Há certamente na norma disciplinar aspectos positivos. Há também aspectos antropológicos que não podem ser desconsiderados num possível espaço de diálogo e estudo sobre o tema.

Na celebração do Sínodo da Amazônia se chegou a falar sobre este tema. Contudo, o debate não avançou. Imagino ser necessário coragem e parresia para avançar. Não se trata simplesmente de ser a favor ou contra. A ordenação sacerdotal é para sempre, mesmo quando o padre, por acaso, deixar a Igreja, pedindo dispensa das obrigações do ministério. Dentro da Igreja Católica, sacerdotes das igrejas que seguem ritos orientais podem contrair matrimônio. Por isso, não há contradição no caso de sacerdotes contraírem matrimônio.

Brasil de Fato: Por fim, como o senhor tem visto a resistência à agenda implementada pelo Papa Francisco, que prevê um maior engajamento da Igreja na luta pelo Meio Ambiente, aliança com movimentos sociais e uma agenda econômica crítica ao capitalismo.

A questão do cuidado pela “Casa Comum” envolve a todos, sem distinções. Uma pergunta que poderia nortear o engajamento nesta causa é a seguinte: que mundo desejamos deixar para as novas gerações. Não faltam sinais de que o Meio Ambiente está necessitado de atenção particular. E sou testemunha do quanto recentemente padecemos por isso [recordando as tragédias no RS].

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil possui um histórico de engajamento nessa causa. Bastaria aqui recordar o histórico recente das Campanhas da Fraternidade que tiveram como tema aspectos que compõem o Meio Ambiente e a necessidade de cuidado particular para com a Casa Comum. A Comissão Episcopal para a Ação Sociotransformadora tem uma excelente trajetória neste âmbito. Existe uma Comissão especial para a Ecologia Integral e Mineração que se dedica ainda mais especificamente sofre o tema em questão. No contexto latino-americano estão sendo constituídas redes de atuação em distintas âmbitos, como por exemplo, a Rede Eclesial Gran Chaco e Aquífero Guarani.

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Para o próximo ano de 2025, a Campanha da Fraternidade promovida anualmente pela CNBB, com particular ênfase durante o período da Quaresma, terá como tema “Fraternidade e Ecologia Integral”, cujo lema será “Deus viu que tudo era muito bom” (Gn 1,31). Desejamos recordar com isso, que tudo está interligado e com isso o ser humano não pode se isentar dos cuidados com esta “casa comum”.

A cooperação entre as melhores forças da sociedade que acreditam na urgência de promover uma agenda consistente em torno do tema “Meio Ambiente”, “Casa Comum” é um imperativo. No próximo ano teremos, em Belém, a COP30 espaço privilegiado para estudos, debates possíveis e necessárias decisões sobre os desafios do clima. Esta será uma oportunidade privilegiada para que também as Igrejas expressem o engajamento nesta causa. Sendo o Brasil o anfitrião de tal evento, podemos afirmar que temos responsabilidade ainda maior; o Brasil também tem responsabilidades diante dos desafios que tocam a vida do planeta. Imagino que o legado de Francisco de Assis há de inspirar e auxiliar a todos para que não só redescubramos, mas verdadeiramente reconheçamos, respeitemos e promovamos a dignidade e o valor de toda criatura.

Brasil de Fato: O senhor acha que a Igreja no Brasil dialoga com essa agenda?

Com certeza. Se trata aqui de reconhecer que tal agenda faz parte da obra da evangelização. Nenhum batizado que se reconhece seguidor, discípulo de Jesus – “o homem que passou por entre nós fazendo o bem” e “que fazia bem todas as coisas” – pode, em sã consciência, afirmar que tal agenda não lhe diz respeito.

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Entrevista

Eleitores estão exigindo políticas e soluções mais progressistas, diz candidata de esquerda dos EUA

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Para Claudia de la Cruz, do Partido para o Socialismo e Libertação, ataque em comício de Trump pode resultar em mais repressão aos progressistas no país

A violência sempre esteve no cerne da forma de os Estados Unidos fazerem política, seja interna ou externamente, desde massacres de populações originárias, minorias até o sistema bipartidário que favorece o poder econômico e aliena o povo. A saída para esse ciclo vicioso é o fortalecimento da classe trabalhadora, tanto política como economicamente.

Essa é uma das ideias que a candidata minoritária à presidência dos Estados Unidos, Claudia de la Cruz, do Partido para o Socialismo e a Libertação (PSL) expressou ao Brasil de Fato, após os tiros que foram disparados no comício do republicano Donald Trump no sábado. Se o candidato da extrema direita saiu praticamente ileso, as suas chances eleitorais podem ter sido turbinadas para o pleito de novembro.

De la Cruz é filha de pais imigrantes da República Dominicana, ativista da organização nova iorquina People’s Forum, responsável por ações de educação popular, cultural e que também serve como laboratório de mídia para a classe trabalhadora da cidade. Sua candidatura busca trazer visibilidade para pautas determinadas, expor ideias políticas diferentes das apresentadas pelos candidatos dos dois partidos principais.

Nesta entrevista, ela falou sobre os ataques no comício de Trump. Acompanhe abaixo:

Brasil de Fato: Qual a sua opinião sobre o ataque ocorrido na Pensilvânia durante um comício de Trump? O que você acha que isso expressa em termos políticos?

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Claudia de la Cruz: A classe dominante vive uma crise política e não podemos analisar o que aconteceu na Pensilvânia ao ex-presidente Trump como um acontecimento isolado. Há muita coisa ainda desconhecida e sob investigação, mas o impacto inicial dos acontecimentos coloca Trump numa posição política favorável.

Até os democratas mudaram os seus ataques contra Trump para expressar solidariedade com ele e comentaram dizendo que “não há espaço para violência política nos Estados Unidos”. Algo que ignora completamente que a violência política tem feito parte da política dos Estados Unidos: desde formas suaves como a supressão de eleitores até à violência política mais extrema no assassinato de líderes políticos negros, como o Pantera Negra Fred Hampton, ou o encarceramento de líderes indígenas como Leonard Peltier, ou o tentativa de assassinato de políticos na história passada. É importante reconhecer que a violência está no cerne da política nos Estados Unidos.

Em última análise, a maior preocupação é que as implicações deste evento signifiquem mais ataques e repressão para nós, que estamos empenhados na construção do movimento, para a esquerda e para as pessoas da luta, independentemente de quem ganhe as eleições em novembro.

Como avalia a atuação da extrema direita em todo o mundo? Alguns deles agora consideram Trump um “messias”. Como analisa essa tática política?

Os republicanos estão fazendo o que costumam fazer, culpando os democratas e o discurso contra Trump como catalisadores do ataque. Não há indicação de que o atirador estivesse no campo democrata ou de esquerda; na verdade, ele era um republicano registrado.

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Mas é útil aos republicanos considerar Trump como o “sobrevivente” de uma tentativa violenta. Uma espécie de messias. Na verdade, esse rótulo combina bem com a narrativa de Trump, que se apresenta como anti establishment e “a favor do povo americano”.

Qual você acha que deveria ser a posição da esquerda dos Estados Unidos em relação ao ataque?

Deveríamos analisar isto no contexto da situação econômica e política em que nos encontramos: o financiamento do genocídio (palestino), o apoio à guerra na Ucrânia, o movimento contra a China, o financiamento contínuo da máquina de guerra à custa da classe trabalhadora de todos os dias.

Há uma profunda crise económica que os trabalhadores estão vindo, os direitos civis estão sendo revertidos, há um ataque frontal aos imigrantes, aos direitos das mulheres – e todos estes são projetos de ambos os partidos da classe dominante. As pessoas estão acordando e protestando, exigindo políticas e soluções mais progressistas para estas questões. E, mais uma vez, as implicações deste tiroteio significarão mais repressão para aqueles que exigem esses direitos básicos.

A nossa posição deve ser a de continuar a construir o trabalho de coligação, aprofundar a consciência do nosso povo para compreender o que está acontecendo e as suas implicações, e a nossa necessidade de construir o nosso próprio movimento independente e instrumentos políticos.

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Você acha que uma retórica violenta e o apoio à desregulamentação de armas por parte da campanha de Trump talvez possam ter alguma relação com o episódio?

Eu não acho. Não creio que existam quaisquer leis ou políticas “para impedir” a ocorrência de qualquer outro destes eventos. Em última análise, o tiroteio será usado para elevar e fortalecer a campanha de Trump e não estará ligado a quaisquer exigências feitas pelo povo.

Qual é a solução que a sua campanha propõe para a violência política nos Estados Unidos?

Ambos os partidos representam duas facções da mesma classe dominante e não constituem uma oposição real entre si. A verdadeira e única solução para a violência política é a transferência de poder (político e económico!) para os trabalhadores.

Trump e Biden, os seus doadores bilionários, os banqueiros e as empresas de Wall Street exercem violência política – em diferentes níveis e momentos – mas sempre contra o povo. A nossa campanha acredita que precisamos acabar com a ditadura dos bilionários e livrar-nos deste sistema bipartidário, construir um partido socialista como uma opção política de terceiro partido para a nossa classe e como a solução real para a construção de uma verdadeira democracia neste país, e acabar de uma vez por todas com a violência tão inerente ao capitalismo.

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Distrito Federal

“Muita ambição para pouco cargo”, diz Rollemberg sobre candidatos da direita no DF

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Na análise política do ex-governador do DF, Ibaneis Rocha corre risco de perder vaga no Senado para dobradinha de Bia Kicis com Michelle

O atual secretário de Economia Verde, Descarbonização e Bioindústria do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Rodrigo Rollemberg (PSB), fez uma análise do cenário político do Distrito Federal, em entrevista hoje ao programa CB.Poder. Segundo ele, há um congestionamento de candidatos da direita, ligados ao bolsonarismo na capital federal. “O que eu acho é que tem muita ambição para pouco cargo. Não estão vendo a realidade”, disse na entrevista à TV Brasília e ao Correio Braziliense.

O ex-governador do DF cogitou que, devido à grande quantidade de candidatos do mesmo grupo político ao GDF e ao Senado, Ibaneis Rocha (MDB) pode ficar sem cadeira. “Bia Kicis e Michelle (Bolsonaro) podem sair juntas ao Senado”, apontou. 

Segundo ele, a direita no DF é forte, porém não imbatível. “O governo Ibaneis não é bem avaliado na Saúde. Há uma crise grave”, disparou. Disse acreditar na força da esquerda, citando nomes que poderiam concorrer ao Palácio do Buriti. Do PSB, citou Ricardo Cappelli, atual presidente da ABDI, e Valdir Oliveira, que está no Sebrae Nacional.

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“O primeiro fez um importante trabalho pelo DF quando assumiu a gestão na Segurança na defesa da democracia; e o segundo foi um competente secretário de Desenvolvimento Econômico do meu governo”, comentou. De outros partidos de esquerda, Rollemberg citou Leandro Grass (PV) e Leila Barros (PDT).


Apesar da certa resistência da família, como ele contou, Rollemberg não descartou o próprio nome para concorrer ao GDF. “É muito cedo ainda para falar de eleições no DF, de favoritos. Eu venho sendo muito estimulado a participar. É gratificante sentir isso nas ruas. Mas não é decisão pessoal, mas de um grupo maior”, disse ao ser perguntado se concorreria.

Nas últimas eleições, Rollemberg teve 52 mil votos para deputado federal. Mas a vaga ficou com Gilvan Máximo, que teve cerca de 20 mil. A situação é alvo de ação no Supremo Tribunal Federal. Os ministros ainda vão definir se Rollemberg poderá assumir ainda o mandato.

O STF formou maioria para retirar o mandato de sete deputados federais com base na inconstitucionalidade das regras de distribuição das sobras eleitorais. O caso voltará a ser julgado após um pedido de vistas do ministro André Mendonça.

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