O Pix já se consolidou como a principal forma de pagamento instantâneo no Brasil, mas o setor de meios de pagamento busca agora ampliar seu alcance em transações presenciais. A proposta em debate é permitir que o consumidor use o cartão físico — de débito ou crédito — para iniciar uma transação Pix diretamente na maquininha, sem precisar abrir aplicativo ou depender do smartphone.
Na prática, o cliente escolheria entre crédito, débito ou Pix no momento do pagamento, como já ocorre hoje, mas com a opção Pix sendo processada instantaneamente, com liquidação imediata e sem uso de QR Code ou chave. A ideia é aproveitar a ampla rede de terminais de pagamento já instalada no país — mais de 12 milhões de maquininhas — para reduzir barreiras tecnológicas.
Inclusão digital e conectividade como motivação
A iniciativa visa beneficiar principalmente:
- Consumidores em áreas com conexão instável ou inexistente;
- Pessoas que não possuem smartphones com NFC;
- Idosos e públicos menos familiarizados com apps.
“Essa integração reduziria a dependência do celular e ampliaria a inclusão de milhões de brasileiros que já usam cartões, mas ainda não aderiram plenamente ao Pix”, explica representante da Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs).
Em abril de 2025, durante o Congresso de Meios de Pagamento (Cmep), a Abecs defendeu a interoperabilidade entre o Pix e arranjos privados autorizados pelo Banco Central, propondo que o chip do cartão possa acionar o sistema de pagamento instantâneo diretamente no terminal.
O que o setor pede ao Banco Central
Para viabilizar a mudança, o setor solicita que o Banco Central (BC) edite regras que permitam ao Pix “conversar” oficialmente com os arranjos de cartão. Essa integração também ajudaria a distinguir claramente entre pagamento e transferência, um ponto crítico diante da reforma tributária em tramitação, que pode tratar essas operações de forma distinta.
No entanto, o BC informou que, atualmente, sua agenda de evolução do Pix não contempla essa interoperabilidade com arranjos de cartão. A autoridade monetária mantém foco em outras frentes, como a expansão do Pix por aproximação em carteiras digitais — funcionalidade já disponível no Google Pay (Android), mas ainda não liberada no iPhone devido a negociações em curso com a Apple.
Impacto para lojistas e consumidores
Para comerciantes, a adoção do Pix via cartão traria dois ganhos principais:
- Liquidação imediata dos valores, como no Pix tradicional;
- Redução de custos, já que as taxas seriam inferiores às do crédito rotativo.
Já para o consumidor, a experiência se tornaria mais simples, rápida e acessível, especialmente em regiões onde o uso de smartphones é limitado.
Paralelo: avanço do Pix Parcelado
Enquanto o Pix com cartão físico ainda depende de definições regulatórias, outra inovação avança: o Pix Parcelado, previsto para 2026.
Há divergência entre o BC e os bancos sobre o modelo ideal:
- Bancos preferem que as parcelas sejam liquidadas via fatura do cartão de crédito;
- Banco Central defende que o parcelamento ocorra por débito direto em conta, para preservar a natureza do Pix e evitar dependência do crédito tradicional.
Na proposta em análise, o comércio receberia o valor à vista, e o cliente parcelaria o pagamento com seu banco ou fintech, com juros e prazos definidos conforme seu perfil de risco.
Alertas de defesa do consumidor
Entidades como o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) manifestaram preocupação com os riscos de superendividamento, especialmente entre famílias de baixa renda.
“Associar a marca Pix — hoje percebida como simples, rápida e gratuita — a um produto de crédito pode gerar confusão e levar consumidores a assumir dívidas sem pleno entendimento”, alerta o Idec.
A entidade pede salvaguardas claras, como:
- Informação transparente sobre juros e custos;
- Limites de parcelamento;
- Monitoramento contínuo dos impactos sociais.
A proposta de Pix com cartão físico representa um passo potencialmente transformador para a inclusão financeira e digital no Brasil. Embora ainda não esteja na agenda oficial do BC, o debate ganha força no setor privado e pode se tornar realidade nos próximos anos — especialmente se alinhado a critérios de segurança, transparência e equidade.
Com informações: Revista Fórum

