A Europa inclusive foi a garantidora do Acordo de Minsk, com a França e Alemanha, firmado para restabelecer a normalidade das regiões separatistas da Ucrânia, depois do conflito da anexação da Crimeia, que foi o começo dos conflitos separatistas a partir de 2014 e 2015.
A Europa intermediou negociações entre a Ucrânia e a Rússia e o Acordo de Minsk garantiu a autonomia das regiões dentro da Ucrânia e o respeito à fala do idioma russo na região. Só que esses acordos nunca foram cumpridos e os próprios europeus reconheceram isso posteriormente, algo que é dito o tempo todo pelos russos: que aquele acordo tinha sido usado apenas para ganhar tempo e rearmar a Ucrânia para lutar contra a Rússia.
Então, os ucranianos dependem dos europeus porque eles foram os grandes garantidores e estimuladores de tudo que aconteceu na Ucrânia e na Rússia depois de 2013 e 2014. Obviamente que os norte-americanos estão por trás disso também, mas em termos de aliança com a Ucrânia, os principais aliados são os europeus.
Zelensky já chegou a admitir que os EUA não pretendem incluir a Ucrânia na OTAN – um dos principais motivos pelo qual a guerra foi iniciada. Ainda há alguma chance de Kiev entrar na aliança militar ocidental?
Uma condição que a Rússia impõe para que haja um acordo de paz duradoura é que a Ucrânia não faça parte da OTAN. Se essa possibilidade não for descartada, os russos não vão negociar um acordo de paz e esse conflito vai se arrastar por mais tempo, a ponto de colocar em risco a própria existência da Ucrânia.
Então, dificilmente a Ucrânia vai conseguir entrar na OTAN e a intenção do governo republicano de hoje nos Estados Unidos, de Trump, que vai governar nos próximos quatro anos, é de não permitir que a Ucrânia faça parte da OTAN. Então, é possível que haja sim uma reversão da proposta de 2008 de incorporar a Geórgia e Ucrânia na aliança.
Quais são as possibilidades reais de um acordo de paz ser alcançado ainda este ano?
A possibilidade de um acordo de paz em 2025 é bastante real. Algo que não era muito pensado antes do Trump começar a agir diplomaticamente para resolver o conflito porque o que parece é que os Estados Unidos e a Rússia vão negociar o acordo entre eles e vão resolver o problema da Ucrânia. A participação da Ucrânia e da Europa vai ser de figurante.
Após uma negociação entre as duas grandes potências militares, vai haver uma consulta ou uma espécie de endosso por parte dos europeus e dos ucranianos.
Não é possível que a Europa sustente um esforço de guerra sem o apoio dos Estados Unidos, e provavelmente a partir de agora os EUA vão divulgar uma série de informações que até então não foram divulgadas a respeito dos gastos com a guerra da Ucrânia e a das motivações por trás das ações da liderança ucraniana e das lideranças europeias.
E isso vai provavelmente implodir a legitimidade tanto dos europeus quanto dos ucranianos no governo atual de Kiev para poder pleitear algum tipo de solução diferente do que essa negociação entre Estados Unidos e Rússia pode trazer.