Conecte-se conosco

Brasil

Coletivo do Bixiga quer resgatar e valorizar história afrobrasileira

Publicado

em

Produção audiovisual não é para falar do bairro, mas de pessoas

O coletivo Negros do Bixiga realizou nesse sábado (3), em São Paulo, mais uma edição do passeio que aproxima participantes de pessoas e locais fundamentais para a memória e para sustentar a pulsação vigorosa da cultura negra da região. A rota de afroturismo tem dez paradas, dura aproximadamente cinco horas e começou a ser trilhada em 2018.

Conforme explicou à Agência Brasil o idealizador do projeto, Wellinton Souza, a região em que o Bixiga fica é chamada oficialmente de Bela Vista. Mas, quando alguém utiliza o nome Bixiga está subjacente o vínculo afetivo que mantém com o lugar. “Bixiga é um nome de pertencimento”, sintetiza ele.

O curador ressalta que a iniciativa gera um debate importante: o de que nem sempre o termo periferia se refere a uma localidade distante do centro da cidade, podendo remeter à falta de garantia de direitos básicos. Souza lembra que a fundação do Bixiga coincide com a história do Quilombo Saracura, algo que voltou à tona recentemente, de forma mais intensa, com a necessidade de preservação diante dos danos que as obras da Linha 6 – Laranja do metrô poderiam ocasionar.

Morador do Bixiga há 17 anos, Souza observa que, permitindo que pessoas de fora de São Paulo compreendam que o discurso prevalecente é de que a região é associada à imigração italiana, perspectiva que o afroturismo busca transformar. “É mais bonito e mais vendável contar a história branca”, critica.

Favelização

Outro exemplo de apagamento existente na capital, bastante conhecido, é o do processo de favelização da comunidade de Paraisópolis, que vive na penúria ao lado do bairro Morumbi, de classes média e alta.

Uma segunda comparação comum é a da tentativa de destruição do passado das populações negra e indígena que viveram escravizadas e deixaram sua marca no bairro da Liberdade. Também localizado na zona central da cidade, o bairro é fortemente identificado como um endereço da cultura japonesa.

“Lá a história negra ficou apagada, abafada. No Bixiga, isso também acontece, mas não com as pessoas que moram no bairro. Esse apagamento histórico não é feito por pessoas que moram no Bixiga, mas por conta da sociedade. Pessoas que não conhecem o bairro, que vêm de fora, até mesmo de outros bairros de São Paulo, conhecem por ser um bairro italiano, um bairro branco, não por ser um bairro negro. É um universo paralelo, um multiverso, quando você vem para um restaurante italiano, para a Achiropita, e quando você vem para um ensaio da [escola de samba] Vai-Vai, um samba do bairro”, afirma.

Anúncio

“São coisas diferentes, o público é diferente, a história que é contada é diferente, as narrativas são outras, o pertencimento é outro”, acrescenta.

Também em 2018, os integrantes do projeto engrenaram a produção de um documentário com diversas figuras importantes para narrar essas histórias sobre o Bixiga, trabalho que se estende até os dias de hoje.

Uma pessoa que contribui com seus relatos é uma mulher de 83 anos que recupera recordações da Pastoral Afro da Paróquia da Nossa Senhora Achiropita, a primeira pastoral afro do Brasil, segundo Souza.

“Essa produção audiovisual não é para falar do bairro, é para falar das pessoas. Mas, como a pessoa tem uma ligação muito afetiva com o bairro, acaba falando dele de uma forma diferente”, diz.

Outra fonte de importantes reminiscências, também abordada no contexto de uma “oralidade que não está presente no livro da história e não é ensinada”, é um musicista que morou em pensões e mencionou que a rua Santa Madalena foi, outrora, caracterizada por um conjunto de cortiços, algo que talvez não se imagine ao se ver os prédios que o substituíram. Desse modo, destaca Souza, é que o coletivo vai juntando valiosos retalhos, recortes históricos de diversas épocas.

Para este domingo (4), o coletivo organizou uma conversa com a escritora, artesã, professora e pedagoga Maria Aline Soares. O tema foi a literatura e o território como lugar de afirmação e memória negra. O evento teve início às 15h, na Livraria Simples.


Fonte: Agência Brasil

Anúncio

Continue lendo
Anúncio

1 comentário

1 comentário

  1. Reginald Gorczany

    05/05/2025 em 04:32

    Your blog is a testament to your dedication to your craft. Your commitment to excellence is evident in every aspect of your writing. Thank you for being such a positive influence in the online community.

Deixa uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Brasil

Ministra das Mulheres defende atuação integrada entre União, estados e municípios para combater a violência de gênero

Publicado

em

Por

Durante o III Encontro Nacional com Gestoras das Casas da Mulher Brasileira, a ministra das Mulheres, Márcia Lopes, defendeu a necessidade de uma atuação integrada e intersetorial entre os diferentes níveis da Federação para o enfrentamento à violência de gênero. Segundo a ministra, o cumprimento do dever do Estado e a resposta às demandas das mulheres dependem da articulação entre o governo federal, estados e municípios, em consonância com o pacto federativo da Constituição de 1988

A ministra Márcia Lopes destacou a centralidade das mulheres nas políticas públicas — visto que elas são a maioria da população — e a urgência de uma resposta integrada e transversal do Estado.

Pacto Federativo e Intersetorialidade 🤝

A ministra enfatizou que a solução para os problemas do Brasil não está concentrada apenas em Brasília, mas exige o cumprimento do pacto federativo e a articulação entre as esferas de governo.

  • Compromisso de Todas as Áreas: “Nós não vamos dar conta da política para as mulheres sem o compromisso e a presença de todas as áreas de governo,” afirmou a ministra, ressaltando que isso deve se aplicar aos níveis federal, estadual e municipal.

  • Transversalidade: As políticas para as mulheres devem ser intersetoriais e transversais, contando com a participação de todas e todos os gestores.

O evento, realizado em Campo Grande (MS), reuniu gestoras de 13 estados e do Distrito Federal para discutir avanços, desafios e estratégias de fortalecimento da rede de proteção às mulheres em situação de violência.

A Casa da Mulher Brasileira: Um Modelo Integrado 🏛️

Campo Grande é a sede da primeira unidade da Casa da Mulher Brasileira, inaugurada em 2015, que serve como um modelo de atendimento integrado e centrado na vítima.

  • Funcionamento: O equipamento funciona 24 horas por dia, todos os dias da semana.

  • Serviços Especializados: Oferece diversos serviços no mesmo local, priorizando a escuta e a segurança da mulher, com o objetivo de possibilitar um projeto de vida autônomo.

  • Apoio Multidisciplinar: Inclui acolhimento e triagem, apoio psicossocial, alojamento de passagem, serviços de saúde, central de transportes, promoção da autonomia econômica e áreas jurídicas (Delegacia, Promotoria, Defensoria e Juizados/Varas de Violência Doméstica).


Com informações: Ministério das Mulheres, PT

 

Anúncio

Continue lendo

Brasil

Milhares de pessoas protestam em capitais brasileiras contra o feminicídio e a violência de gênero

Publicado

em

Por

Manifestações organizadas pelo movimento nacional Mulheres Vivas reuniram milhares de pessoas em diversas capitais brasileiras no domingo, 7 de dezembro de 2025, em resposta ao aumento da violência de gênero. Os atos ocorreram após uma série de feminicídios recentes e em um contexto onde o Brasil registrou 1.492 feminicídios em 2024, o maior número desde 2015, ano da tipificação penal.


Mobilização Nacional e Presenças Notáveis 🇧🇷

Os protestos aconteceram em capitais como São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Curitiba, Belo Horizonte, Fortaleza, Recife, Teresina, Manaus e Boa Vista, com manifestantes erguendo cartazes com apelos por justiça e mensagens como “misoginia mata” e “nenhuma a menos”.

  • Brasília: O ato na capital federal contou com a presença de seis ministras do governo, incluindo Cida Gonçalves (Mulher), Anielle Franco (Igualdade Racial) e Gleisi Hoffmann (Relações Institucionais), além da primeira-dama Janja Lula da Silva e diversas lideranças populares.

  • São Paulo: A manifestação começou em frente ao Masp, onde a Polícia Militar acompanhou o protesto após a deputada Érika Hilton ter criticado o anúncio do governo de Tarcísio de Freitas de não fornecer proteção policial.

  • Belo Horizonte e Curitiba: Milhares de pessoas marcharam em Belo Horizonte da Praça Raul Soares até a Praça da Estação, enquanto em Curitiba, o coro “Mulheres Vivas” ecoou no Largo da Ordem, denunciando a impunidade.


Dados Alarmantes e Casos Recentes 🚨

Os protestos ganharam urgência diante dos dados crescentes de violência e dos casos recentes que chocaram o país:

  • Recorde de Feminicídios: Em 2024, o Brasil atingiu o número recorde de 1.492 feminicídios.

  • Aumento em São Paulo: O estado de São Paulo, por exemplo, contabilizou 53 feminicídios em 2025, um aumento de 10% nos assassinatos de mulheres por razão de gênero desde janeiro.

  • Onda de Violência: A mobilização foi convocada após crimes como o assassinato da cabo do Exército Maria de Lourdes Freire Matos (25 anos) em Brasília, que foi confessado pelo soldado Kelvin Barros da Silva; o caso de Tainara Souza Santos, que teve as pernas mutiladas após ser atropelada e arrastada por Douglas Alves da Silva; e a morte a tiros de duas funcionárias do Centro Federal de Educação Tecnológica (Cefet-RJ), no Rio de Janeiro.

O movimento pede a responsabilização de agressores e o fim do avanço da violência de gênero no país.


Com informações:  Opera Mundi

Anúncio

Continue lendo

Brasil

Brumadinho: 70% dos domicílios relatam adoecimento físico e mental sete anos após a tragédia

Publicado

em

Por

Estudo da UFMG confirma que a população de Brumadinho ainda sofre impactos estruturais e persistentes do rompimento da barragem da Mina Córrego do Feijão, com 70% dos domicílios relatando algum tipo de adoecimento e 75% enfrentando problemas na qualidade e fornecimento de água.

Impactos na saúde e insegurança sanitária persistem em Brumadinho

Aproximando-se do marco de sete anos do rompimento da barragem de rejeitos da Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG), um novo estudo da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), realizado por pesquisadores do Projeto Brumadinho, revela a persistência de impactos socioambientais profundos na vida dos moradores. A tragédia, que resultou na morte de 272 pessoas e em um desastre ambiental sem precedentes, continua a afetar a saúde e o cotidiano da população.

O levantamento indica que 70% dos domicílios no município relataram algum tipo de adoecimento físico ou mental, o que sugere que os problemas de saúde se tornaram estruturais e recorrentes.

Adoecimento e pressão na rede de saúde

Os dados do estudo destacam que sintomas como estresse, insônia, ansiedade, hipertensão e episódios depressivos continuam frequentes entre os moradores. O cenário psicológico é reforçado pelo dado de que 52% dos adultos da cidade passaram por algum tipo de tratamento psicológico ou psiquiátrico desde o desastre.

Nayara Porto, presidente da Associação dos Familiares de Vítimas e Atingidos pelo Rompimento da Barragem Mina Córrego do Feijão (Avabrum), manifestou tristeza com os resultados, afirmando que a pesquisa “confirma que a população de Brumadinho continua sofrendo”. A presidente citou relatos de familiares que desenvolveram doenças crônicas como diabetes, lúpus, câncer, dermatites crônicas e problemas cardíacos, além de um visível aumento no uso de ansiolíticos.

Ao mesmo tempo em que a demanda por acompanhamento especializado e o relato de piora de doenças crônicas aumentam, a pesquisa aponta que 76% dos domicílios enfrentam dificuldades para acessar consultas, exames e tratamentos. A rede pública de saúde local está pressionada pelo volume de atendimentos e pelas alterações na mobilidade urbana causadas pelo desastre.

Medo de contaminação e a “lama invisível”

A insegurança sanitária é um dos pilares da persistência do sofrimento na rotina dos moradores. O levantamento revela que 77% das famílias convivem com o medo constante de contaminação dos alimentos.

Anúncio

Um dos fatores centrais para essa desconfiança é a presença contínua de metais pesados – como manganês, arsênio, chumbo, mercúrio e cádmio – em diferentes matrizes ambientais, conforme aponta o estudo.

A água permanece como o principal vetor de risco e desconfiança:

  • 85% dos domicílios relatam impactos negativos no uso da água para consumo.

  • 75% dos moradores afirmam que o fornecimento e a qualidade da água estão comprometidos.

Josiane Melo, diretora da Avabrum, utilizou o conceito de “lama invisível” para traduzir a desconfiança generalizada sobre o consumo de bens produzidos no território, destacando que “é inadmissível conviver com insegurança hídrica, adoecimento e medo tantos anos depois” do desastre. Ela concluiu que o estudo demonstra que “a vida não voltou ao lugar”.

Perdas econômicas e a necessidade de diversificação

O desastre de 2019 também gerou perdas econômicas expressivas para o município. O professor Ricardo Machado Ruiz, um dos autores do estudo, explicou que a mineração desempenhava um papel central na economia local.

Segundo a análise, no longo prazo, Brumadinho poderia perder entre R$ 7 bilhões e R$ 9 bilhões de Produto Interno Bruto (PIB) se nenhuma medida de reparação fosse aplicada. Com o acordo firmado em 2021 e a aplicação dos recursos previstos, o prejuízo estimado cai para algo entre R$ 4,2 bilhões e R$ 5,4 bilhões. Contudo, o dano econômico não desaparece, e a região passa a depender da estrutura de reparação.

O professor Ruiz detalhou que a reparação absorveu trabalhadores e ajudou a reduzir os efeitos econômicos imediatos do rompimento. No entanto, o desastre enfraqueceu pequenos negócios e atividades informais, e o futuro da economia local depende da diversificação. “Se nada for feito para substituir aquela atividade mineradora, ainda restará essa perda bilionária dentro do município”, finalizou o pesquisador.


Com informações:  Agência Brasil

Anúncio

Continue lendo
Anúncio


Em alta

Copyright © 2021-2025 | Fato Novo - Seu portal de notícias e informações reais e imparciais.

Verified by MonsterInsights