Documento da Advocacia-Geral da União aponta indícios de uso de informação privilegiada para lucrar com a alta do dólar, horas antes da medida de Trump
A Advocacia-Geral da União (AGU) apresentou uma petição ao Supremo Tribunal Federal (STF) no sábado (19/7), na qual aponta possíveis indícios de conexão entre a articulação internacional do deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e uma operação bilionária no mercado cambial brasileiro , ocorrida poucas horas antes do anúncio do presidente dos EUA, Donald Trump , sobre tarifas de 50% sobre produtos brasileiros.
Operação suspeita no câmbio
A suspeita surgiu após uma denúncia do operador Spencer Hakimian , da gestora norte-americana Tulu Capital , que identificou transações envolvendo entre US$ 3 bilhões e US$ 4 bilhões em contratos futuros de dólar, feitas por volta das 13h32 (horário da Costa Leste dos EUA) — cerca de três horas antes do anúncio de Trump .
Segundo dados obtidos pelo Terminal Bloomberg , os dólares foram revendidos com lucro após a coletiva do presidente norte-americano, quando o real brasileiro sofreu forte desvalorização . Com o uso de alavancagem financeira , prática comum em operações cambiais, os ganhos estimados podem ter alcançado entre 25% e 50% em apenas três horas .
AGU pede investigação
A AGU considera que a sequência de eventos — a articulação de Eduardo Bolsonaro com o governo Trump, o anúncio das tarifas e o movimento especulativo no câmbio — pode indicar uma ação coordenada , não apenas para desestabilizar instituições brasileiras , mas também para obter vantagem financeira direta .
“Os elementos revelados pela imprensa se inserem em um contexto no qual os fatos já em apuração vão além dos ilícitos penais já indicados, relacionados à obstrução da Justiça, e também podem envolver ganhos financeiros ilícitos”, afirma a AGU na petição.
O órgão destaca que o próprio STF já havia registrado no inquérito que as tarifas impostas por Trump poderiam ter como objetivo criar uma grave crise econômica no Brasil , visando pressionar o Poder Judiciário brasileiro e impactar as relações diplomáticas entre os países .
Ação articulada contra o Brasil
A petição da AGU vincula a operação financeira suspeita à campanha internacional liderada por Eduardo Bolsonaro junto ao governo Trump. O objetivo, segundo a AGU, seria criar instabilidade econômica e institucional no Brasil , como forma de coagir decisões do STF , especialmente no contexto do inquérito que investiga a conduta do parlamentar.
“A AGU enfatiza que o inquérito, instaurado a pedido da Procuradoria-Geral da República, para apurar a conduta delitiva do Deputado Federal licenciado Eduardo Nantes Bolsonaro, decorre do uso de instrumentos comerciais internacionais como mecanismo de coação premeditada contra a Justiça brasileira”, afirma o documento.
Investigação em andamento
Além de pedir a ampliação do inquérito no STF, a AGU também mobilizou a Procuradoria-Geral Federal (PGF) para apurar possíveis responsabilidades no caso. A PGF, por sua vez, está trabalhando em conjunto com a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para verificar se houve violação das regras do mercado financeiro , especialmente uso de informação privilegiada (insider trading) .
A Procuradoria-Geral da República (PGR) também foi acionada, já que é responsável por conduzir o inquérito principal que investiga a participação de Eduardo Bolsonaro em articulações para pressionar o STF e interferir em relações internacionais do Brasil .
Contexto da articulação internacional
Eduardo Bolsonaro tem sido investigado por suposta tentativa de usar pressão internacional como ferramenta de chantagem política . Ele esteve nos Estados Unidos nos dias que antecederam o anúncio das tarifas e participou de reuniões com autoridades norte-americanas**, o que levantou suspeitas de envolvimento em decisões comerciais que impactaram diretamente a economia brasileira.
Agora, a AGU pede que o STF avalie a possibilidade de conivência entre a divulgação antecipada dessas tarifas e movimentos financeiros no mercado cambial , com benefícios obtidos por agentes que anteciparam a desvalorização do real .
Próximos passos
As investigações estão em andamento e podem levar a responsabilizações criminais, civis e administrativas . Caso sejam comprovados os indícios de manipulação de mercado e uso de informações privilegiadas, o caso pode configurar crimes de ordem econômica e financeira , com implicações na esfera internacional.
A petição da AGU foi anexada ao inquérito que apura a conduta de Eduardo Bolsonaro , com base em suspeitas de obstrução da Justiça e tentativa de interferência em decisões do STF .
Com informações: Ivan Longo / Agência Brasil
Fonte: Revista Fórum