No programa 20 Minutos Análise transmitido nesta terça-feira (15/04), o jornalista Breno Altman, fundador de Opera Mundi, fez uma avaliação sobre a estratégia de guerra comercial promovida pelo governo de Donald Trump nos Estados Unidos, e seu objetivo de, a partir dela, confrontar a ascensão da China no tabuleiro da geopolítica.
Segundo Altman “a guerra comercial contra Pequim deve ser compreendida em um contexto geopolítico mais amplo. Os Estados Unidos buscam manter e recuperar sua hegemonia sobre o mundo, tendo como maior ameaça o desenvolvimento chinês e seu poder de tração sobre o Sul Global”.
“O desejo aparente de Trump é o de reverter a desindustrialização dos Estados Unidos e voltar a controlar as principais cadeias de valor, atraindo-as e as mantendo dentro do território que preside”, acrescentou o jornalista.
Possíveis erros de cálculo
Em seguida, Altman passou a enumerar as razões pelas quais, segundo ele, o projeto de Trump poderia fracassar, devido a “debilidades evidentes”.
Uma dessas razões é o tempo que precisaria para alcançar os resultados almejados. “Basta ver, por exemplo, que o setor agrícola, especialmente os produtores de soja, estão gritando sem parar, ameaçados de ir à falência sem o mercado chinês”, ilustrou o jornalista.
Outra possível debilidade do plano norte-americano, segundo Altman, é que “a China pode já ser forte o suficiente para aguentar a perda comercial imediata, que é inegável, mas ter suficiente flexibilidade para absorver em seu mercado interno e junto a outros clientes os bens que deixará de exportar aos Estados Unidos”.
“Com uma economia planificada e livre de amarras fiscais, o governo chinês pode implantar ou acelerar projetos de infraestrutura que consumam localmente as mercadorias que antes tinham como destino os Estados Unidos”, analisou.
‘Sem fim previsível’
Na conclusão, Breno afirma que “o confronto entre Estados Unidos e China está longe de ter uma solução facilmente previsível”, e ressalta que “os Estados Unidos, decadentes, ainda possuem enormes reservas de poder e riqueza, e as empregará até as últimas consequências, como fizeram quase todos os impérios”, enquanto “a China, ascendente, está sendo levada a um inevitável conflito, por ora comercial e geopolítico, para o qual estaria preparada, segundo seus próprios cálculos, apenas a partir de 2049”.
“O fato é que esse conflito não irá parar por uma razão bastante simples: não resta outro caminho para os Estados Unidos. Sem uma inflexão radical dos termos e fluxos das atuais relações econômicas mundiais, a principal potência capitalista do planeta não teria como evitar ou retardar seu ocaso”, completou o jornalista.