Doença ocular é principal causa de transplante de córnea; São Paulo responde por 35% das cirurgias no país
O ceratocone está se tornando uma epidemia no Brasil , com aumento de 276% no número de casos graves entre 2015 e 2025. A doença, que afina, enfraquece e altera o formato da córnea dando-lhe aparência cônica, é a maior causa de transplante de córnea no país.
Crescimento preocupante nos casos
Segundo levantamento do Instituto Penido Burnier nos relatórios da ABTO (Associação Brasileira de Transplante de Órgãos):
- Janeiro a março de 2015 : 3.031 transplantes realizados, 10.048 inscritos na fila (total: 13.079)
- Mesmo período de 2025 : 3.959 cirurgias realizadas, 31.792 inscritos na fila (total: 35.651)
O estado de São Paulo lidera o ranking, respondendo por 35% de todas as cirurgias . Segundo a Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo , os diagnósticos da doença aumentaram de 160 em 2024 para 542 em 2025 no período de janeiro a abril.
Fatores que contribuem para o aumento
O oftalmologista Leôncio Queiroz Neto , diretor executivo do hospital e membro do CBO (Conselho Brasileiro de Oftalmologia), aponta causas multifatoriais:
Aquecimento global e poluição que aumentaram o número de pessoas alérgicas, levando ao hábito de coçar os olhos , principal fator de risco.
Principais fatores de risco:
- Predisposição a doenças alérgicas (urticária, asma, rinite)
- Síndrome de Down (que leva ao esfregar frequente dos olhos)
- Olho seco severo
Avanços na cirurgia
Queiroz Neto explica que além da maior população, São Paulo lidera por dominar a técnica lamelar de transplante, que substitui apenas a parte comprometida da córnea. Esta técnica permite que uma única córnea devolva a visão para 2 pessoas , com recuperação mais rápida e menor risco de rejeição.
Sintomas e diagnóstico
O ceratocone geralmente surge na puberdade e adolescência , podendo ocorrer também em adultos. É frequentemente confundido com astigmatismo no início. A tomografia da córnea é crucial para detecção precoce.
Principais sintomas:
- Visão embaçada e embaralhada
- Troca frequente de óculos
- Coceira e irritação nos olhos
- Aumento progressivo de miopia e astigmatismo
- Sensibilidade à luz e ofuscamento
- Halos ao redor das luzes, especialmente à noite
- Dificuldade para dirigir à noite
- Desconforto causado pela irregularidade da superfície da córnea
Tratamentos disponíveis
Fase inicial: óculos e colírios para reduzir coceira
Progressão da doença: lentes de contato rígidas que aplanam o cone da córnea
Crosslink: única técnica que interrompe a progressão, utilizando luz ultravioleta associada à riboflavina (vitamina B2) para aumentar em até três vezes a resistência da córnea
Opções avançadas:
- Anel intraestromal: implante entre as camadas da córnea que aplana o cone
- Lente escleral: mais confortável que as lentes rígidas, apoiada na esclera (parte branca do olho)
O especialista ressalta que o ceratocone é mais agressivo na infância , mas também responde melhor aos tratamentos quando diagnosticado precocemente.
Com informações: Leôncio Queiroz Neto